Americana Equinix planeia instalar terceiro ‘data center’ em Lisboa

Prestes a concluir a construção do segundo centro de dados no Prior Velho, a Equinix Portugal admite ao ECO a construção de um terceiro em 2027.

A norte-americana Equinix pretende instalar um terceiro data center na zona de Lisboa. O investimento está pensado para 2027, mas o calendário é “flexível”. Até porque a empresa ainda está a concluir a construção do seu segundo data center em Portugal, com inauguração prevista para junho, revela ao ECO o líder da empresa.

De acordo com o managing director da Equinix Portugal, Carlos Paulino, a construção do segundo data center da Equinix no país, localizado no Prior Velho, ao lado do primeiro, está prestes a terminar, num investimento que ascenderá a 100 milhões de euros se contabilizadas “todas as fases”.

Cumprimos o alinhamento que tínhamos e o nosso alinhamento corrente tem já em mente o próximo desenvolvimento em Portugal.

Carlos Paulino

Managing director da Equinix Portugal

Designado LS2 International Business Exchange, a Equinix Portugal planeava abrir esta nova infraestrutura no primeiro trimestre de 2025, mas o prazo irá derrapar ligeiramente, confirma o gestor, apontando que este centro estará ready for service em junho deste ano.

“Nós arrancámos com a nossa operação em Lisboa no ano 2000, com o nosso primeiro edifício”, designado LS1. “A verdade é que temos o edifício completo. Estamos a chegar aos 100% de ocupação, motivo pelo qual, em 2018, decidimos e começámos a construção do edifício ao lado, para continuidade do nosso negócio”, explica.

Não há duas sem três

Dito isto, “cumprimos o alinhamento que tínhamos e o nosso alinhamento corrente tem já em mente o próximo desenvolvimento em Portugal”, anuncia Carlos Paulino. “Já estamos a pensar” em deixar “a solução pronta para arrancarmos o próximo” data center, uma ideia que ainda não saiu do papel, mas que será “necessariamente na zona de Lisboa”.

Questionado sobre qual o montante previsto para este novo data center, que deverá adotar a designação LS3, Carlos Paulino diz que a empresa ainda não tem “uma estimativa de valor”.

A notícia do terceiro data center da Equinix em Lisboa surge num momento em que o país se tenta posicionar para captar mais investimento em data centers, sobretudo estrangeiro.

O país é visto como apetecível para a instalação de data centers pela disponibilidade de terrenos para construção, pelo acesso aos cabos submarinos que cruzam oceanos e ligam continentes, pela disponibilidade de energia renovável a preços acessíveis e pela baixa propensão a fenómenos climáticos extremos.

Concretamente na região de Lisboa há outros investimentos em curso nesta área. É o caso da AtlasEdge, que prevê construir dois data centers em Carnaxide, onde deverá investir 500 milhões de euros ao longo dos próximos anos. Também a Merlin Properties está a construir um novo data center em Vila Franca de Xira, em conjunto com a Edged Energy, que está previsto ficar operacional em 2027.

Já esta semana, no podcast À Prova de Futuro, do ECO, o diretor de tecnologia da Microsoft Portugal, Manuel Dias, disse que a tecnológica poderia, eventualmente, avançar com a construção de um data center no país: “Teríamos imenso, imenso prazer em poder fazer isso em Portugal”, apesar de não haver nenhum projeto previsto neste momento.

A procura por este tipo de infraestruturas tem aumentado, sobretudo nestes últimos anos, à medida que mais empresas adotam a cloud, o tráfego de dados aumenta e cresce a penetração na sociedade das tecnologias de inteligência artificial (IA), que necessitam de muito elevadas capacidades de computação.

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Parlamento debate hoje moção de censura com chumbo garantido. O que se segue?

Entre a moção de censura do Chega chumbada há duas semanas e a do PCP que vai hoje a votos, a polémica sobre o caso Montenegro escalou. CPI, moção de confiança ou uma nova de censura, o que se segue?

O Parlamento debate esta quarta-feira a moção de censura ao Governo apresentada pelo PCP. Com chumbo garantido, a atenção irá recair nas explicações que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, dará sobre a polémica empresa familiar Spinumviva. O tom do debate marcará os próximos passos e poderá dar pistas sobre se o Executivo avança ou não com a apresentação de uma moção de confiança, que à partida ditará a sua queda.

Após uma reunião com figuras próximas do PSD e de um Conselho de Ministros extraordinário, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou ao país no sábado que a empresa familiar passaria a ser detida exclusivamente pelos filhos e desafiou os partidos da oposição a apresentarem uma moção de censura.

“Em termos políticos e governativos, insto daqui os partidos políticos, representados na Assembleia da República, a declarar sem tibiezas se consideram, depois de tudo o que já foi dito e conhecido, que o Governo dispõe de condições para continuar a executar o programa do Governo, como resultou há uma semana da votação da moção de censura”, afirmou, numa declaração lida na residência oficial do primeiro-ministro, acompanhado na sala por todos os ministros, numa mostra simbólica de união.

Poucos minutos depois, o PCP satisfazia o pedido de Luís Montenegro e a anunciava que iria entregar uma moção de censura ao Governo. Logo nessa noite conheceu-se o desfecho da votação que terá lugar esta tarde na Assembleia da República, com o PS a indicar que iria votar contra.

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, defendeu que o Governo “não está em condições de responder aos problemas” de Portugal e “não merece confiança”, mas sim censura. No texto da moção de censura, o PCP acusa ainda o executivo de ser um “fator de descredibilização” e identifica a sua política como “o principal problema” do país, levando partidos como a Iniciativa Liberal (bastante críticos das declarações do primeiro-ministro) a votar contra. Enquanto o Chega se abstém, o Bloco de Esquerda irá votar a favor.

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, chegou a indicar no sábado que, com o chumbo da moção de censura, o Executivo sentia a sua autoridade reafirmada e considerava não haver motivo para apresentar uma moção de confiança. No entanto, horas mais tarde vieram sinais em sentido contrário de membros do Governo. Na reunião da conferência de líderes de terça-feira, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, adiantou que o Governo não coloca de parte a hipótese de apresentar uma moção de confiança, de acordo com a Lusa.

Na véspera do debate, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro, reuniram na terça-feira à tarde no Palácio de Belém, indicou a Presidência da República na sua página oficial. O encontro ocorreu depois de, segundo a SIC, Luís Montenegro só ter telefonado a Marcelo Rebelo de Sousa depois de ter feito a declaração ao país e o Presidente da República já não ter atendido o telefone ao primeiro-ministro.

Quais são as opções em cima da mesa, após o chumbo da moção de censura desta quarta-feira?

  1. Governo apresenta moção de confiança: O Governo pode optar por apresentar uma moção de confiança, mesmo após o chumbo da moção de censura do PCP. O maior partido da oposição, o PS, já sinalizou que não aprovará uma moção de confiança ao Executivo, tal como o Chega. A não aprovação por maioria simples implica a demissão do Governo.
  2. PS mantém CPI mesmo que o Governo caia: O PS anunciou que irá exercer o seu direito potestativo e avançar com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao caso. O texto ainda não é conhecido, mas os socialistas já sinalizaram que, mesmo que o Executivo caia, a CPI é para continuar.
  3. PS apresenta uma moção de censura: o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, não descarta apresentar uma moção de censura ao Governo no futuro. Mesmo com o pedido de uma CPI, Pedro Nuno Santos afirmou que não vai “abdicar de nenhuma figura regimental nem da moção de censura mas só a apresentará quando for o momento adequado para o fazer”. O líder socialista garantiu ainda que o “PS não tem medo de eleições”.

Em causa está a polémica em torno da Spinumviva e sobre um potencial conflito de interesses com os clientes. Entre estes destaca-se o grupo Solverde, uma vez que, entre 2018 e 2022, ou seja, antes de ser presidente do PSD e primeiro-ministro, Montenegro liderou as negociações com o anterior Governo para estender o contrato de concessão dos casinos de Espinho e do Algarve ao mesmo grupo.

Por outro lado, foi conhecido que a empresa da família de Montenegro recebe mensalmente avenças mensais de vários clientes, entre os quais a Solverde, que paga mensalmente 4.500 euros por prestação de serviços de consultadoria na área de proteção de dados.

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Compra de dívida pública por serviços do Estado no final do ano é “uma não questão”, diz presidente do CFP

Presidente do Conselho de Finanças Públicas defende que operações não têm impacto sobre a dívida pública na ótica de Maastricht. Ministro foi chamado ao Parlamento para explicar o tema.

A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP) considera que o aumento das aplicações em Certificados Especiais de Dívida de Curto Prazo (CEDIC) por entidades do Estado na reta final do ano é “uma não questão”. O tema irá levar o ministro das Finanças ao Parlamento, mas Nazaré da Costa Cabral desvaloriza o tema por considerar que não impacta a trajetória da dívida pública portuguesa na ótica de Maastricht, a que conta para Bruxelas, uma vez que instrumentos são pagos rapidamente.

Vejo isto como uma não questão, porque acho que estas operações não têm impacto nenhum sobre a dívida pública na ótica de Maastricht, que é aquela que interessa para efeitos de avaliação da trajetória”, afirmou Nazaré da Costa Cabral, em entrevista ao ECO.

Vejo isto como uma não questão, porque acho que estas operações não têm impacto nenhum sobre a dívida pública na ótica de Maastricht, que é aquela que interessa para efeitos de avaliação da trajetória.

Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas

Questionada sobre como é que avalia a utilização destes instrumentos, a presidente do CFP realça que se trata “de uma operação de emissão de dívida de curto prazo, para alocação de saldos de tesouraria, que estão disseminados por várias entidades públicas”.

São títulos que rapidamente são pagos, têm de facto uma maturidade muito, muito curta e, portanto, para a evolução da nossa dívida pública do ponto de vista de Maastricht não tem qualquer tipo de impacto”, vincou.

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, foi chamado à Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP), devido à aprovação de um requerimento do PS, para explicar a trajetória da dívida pública portuguesa e o aumento das aplicações em CEDIC, instrumentos de subscrição exclusiva por investidores do setor público. Em causa está o facto de as entidades do setor público administrativo e as empresas públicas terem voltado a aplicar os seus excedentes de tesouraria na subscrição destes instrumentos, com maturidade máxima de um ano, no valor de 15.819 milhões de euros.

O tema voltou ao debate político após a notícia do Público (acesso pago), que deu conta que a prática que ocorre desde 2021 e foi criticada pelo atual ministro das Finanças no passado repetiu-se entre o final de setembro e o final de dezembro. O aumento de 184% fez disparar o volume total de subscrições para 24.059 milhões de euros no final de 2024.

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) classificou a redução da dívida ocorrida entre 2023 e 2024, durante o Governo de António Costa, de “artificial”, nomeadamente devido aos CEDIC, que reduzem o valor consolidado da dívida pública reportado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

No requerimento, o grupo parlamentar socialista indica que quer conhecer a identidade dos investidores públicos que fizeram aplicações em CEDIC, e se “existiu algum tipo de ingerência política na distribuição de dividendos e resultados transitados das entidades em questão“.

O rácio da dívida pública caiu para 95,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, abaixo dos 97,9% do ano anterior e o valor mais baixo desde junho de 2010, e ligeiramente menos do que os 95,9% previstos pelo Governo.

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“Falta em Portugal a apropriação nacional de uma regra orçamental que sirva o país”, defende Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas recomenda que atores políticos consensualizem uma regra, na qual se revejam e digam há "este limite, isto é para cumprir, que não seja só uma letra morta".

A presidente do Conselho das Finanças Públicas defende, em entrevista ao ECO, que o país precisa da apropriação de uma regra orçamental adaptada às suas necessidades, “exigente”, mas cumprível, na qual todos os actores políticos se revejam, ao invés de replicar simplesmente as recomendações de Bruxelas. O objetivo é criar um sentimento de pertença a esta ‘linha mestre’, de forma a aumentar o grau de responsabilização. Nazaré da Costa Cabral aponta ainda o dedo à “falta de vontade política” para a institucionalização de uma revisão da despesa do Estado.

O que falta em Portugal é a apropriação nacional de uma regra orçamental que sirva o país, que seja uma regra que nos crie alguma exigência, alguma disciplina em termos financeiros, em termos de condução das nossas finanças públicas, mas que seja uma regra em que todos se revejam“, afirma a presidente do CFP.

As declarações de Nazaré da Costa Cabral ocorrem numa altura em que o Governo prepara uma revisão da Lei de Enquadramento Orçamental (LEO), que deverá ser apresentada ainda no primeiro trimestre, segundo o timing sinalizado em dezembro pelo ministro das Finanças.

O que falta em Portugal é a apropriação nacional de uma regra orçamental que sirva o país, que seja uma regra que nos crie alguma exigência, alguma disciplina em termos financeiros, em termos de condução das nossas finanças públicas, mas que seja uma regra em que todos se revejam.

Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas

A responsável do CFP realça que o novo sistema orçamental europeu tem como âncora a trajetória de redução da dívida pública, utilizando como indicador operacional a da despesa líquida, mas considera que há um debate que é preciso fazer em Portugal sobre o tema.

Temos o hábito de pegar na Lei de Enquadramento Orçamental e transpormos as regras europeias. É como se tivéssemos que estar sempre dependentes daquilo que Bruxelas diz e, portanto, só fazemos aquilo que diz nos exatos termos em que diz e para os efeitos em que diz. Portugal, como país soberano que quer ser, independente até do ponto de vista financeiro, deve assumir uma atitude de adotar a sua própria regra orçamental“, argumenta.

Nazaré da Costa Cabral sustenta que uma vez que a LEO é uma proposta do Governo, mas vai ser discutida no Parlamento, “os atores políticos deveriam acordar uma verdadeira regra orçamental para o conjunto das instituições públicas, que depois naturalmente também alimentasse regras específicas para os subsectores do Estado, nomeadamente para o setor regional ou para o setor das administrações locais“.

Temos o hábito de pegar na Lei de Enquadramento Orçamental e transpormos as regras europeias. É como se tivéssemos que estar sempre dependentes daquilo que Bruxelas diz.

Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas

“Uma regra orçamental adaptada àquilo que são os interesses orçamentais e financeiros do país, que seja exigente, cumprível, mas que seja, acima de tudo, uma regra na qual todos os atores se revejam e digam: nós temos este limite, isto é para cumprir. Que não seja só uma letra morta que está ali para cumprir um formalismo qualquer, uma exigência legal. Não, é uma lei para ser cumprida. Muitas vezes o que vemos é: ‘bom é uma regra europeia, não é uma regra nacional, vem de Bruxelas’”, aponta.

Ou seja, que a reforma das finanças públicas conduzisse a um regime “coerente” de regras orçamentais. “Esse é que é o grande desafio agora das nossas finanças“, adverte.

Novas autoridades? “Se permitir melhorias de gestão é um modelo bem-vindo”

O CFP teve “algumas interações” com o grupo de trabalho do Governo que está a trabalhar na revisão da LEO, até porque há um conjunto de matérias relacionadas com a transposição de uma diretiva europeia, que dizem respeito às competências das instituições orçamentais independentes, como é o caso da liderada por Nazaré da Costa Cabral.

O que importa ficar clarificado é qual é que vai ser a intervenção do CFP, nomeadamente ao nível da execução do próprio plano de médio prazo e no âmbito do relatório de progresso que o Governo vai ter que fazer todos os anos para dar nota dos termos dessa execução“, explica. Entre os pontos estão compreender se a instituição terá de endossar as previsões do Governo, se é que vão existir, subjacentes, mas também se irá, por exemplo, avaliar a execução do plano e o comportamento da despesa líquida do Estado, sinalizando, nomeadamente, a existência de desvios.

Tal como o ECO noticiou, o ministro das Finanças está a desenhar uma reforma do Ministério das Finanças e vai criar três novas autoridades que operam do lado da despesa: a autoridade orçamental, a autoridade financeira e a autoridade da Administração Pública. Questionada sobre se vê vantagens na alteração nas entidades do Terreiro do Paço, Nazaré da Costa Cabral salienta não ter informação detalhada sobre quais são os objetivos, mas supõe que na LEO exista referência às novas entidades.

“É um bocadinho feito à semelhança do que aconteceu quando a Autoridade Tributária substituiu a anterior Direção-Geral dos Impostos e a Direção-Geral dos Direitos Aduaneiros. Suponho que o modelo será um bocadinho inspirado nesse figurino. Se permitir melhorias de gestão, de eficiência ao nível da gestão da administração pública é um modelo bem-vindo. Mas é preciso esperar para ver exatamente o que é que vai sair desta reforma“, disse.

Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

“Falta de vontade política” na revisão de despesa

A presidente do CFP critica a “falta de vontade política” para levar a cabo “um verdadeiro sistema de revisão de despesa” do Estado, isto é, um exercício orçamental que analisa de forma detalhada e sistemática a despesa base do Estado, com o objetivo de gerir o nível agregado de despesas, identificar medidas de poupança ou de reafetação de verbas, criando margem orçamental e melhorando a sua eficácia.

Temos tido exercícios de revisão da despesa que são muito segmentados. Pega-se em pequenas coisinhas e faz-se um exercício de revisão na despesa específica para uma determinada área da despesa. Não é isso que se pretende quando se fala de revisão da despesa, é sim institucionalizá-la no conjunto dos serviços e departamentos da Administração Pública e ao nível de todos os programas orçamentais“, explica.

A revisão da despesa pública tem ficado aquém dos objetivos, segundo os alertas também de instituições como o Tribunal de Contas. Recentemente, a instituição concluiu que, após mais de dez anos após a primeira experiência, “este tipo de exercício não registou um nível de desenvolvimento que permita utilizá-lo como um instrumento significativo de apoio à gestão financeira pública”. No parecer à Conta Geral do Estado de 2023, contudo, assinala que se começaram “a criar relações efetivas, enquadradas em referenciais técnicos sólidos, com as entidades que se pretende que venham a desempenhar papéis relevantes nos processos de revisão da despesa”.

Temos tido exercícios de revisão da despesa que são muito segmentados. Não é isso que se pretende quando se fala de revisão da despesa, é sim institucionalizá-la no conjunto dos serviços e departamentos da Administração Pública e ao nível de todos os programas orçamentais.

Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas

O Ministério das Finanças está a trabalhar num novo exercício de revisão da despesa e, no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), prevê poupar 336,9 milhões de euros até 2027 com a identificação de despesa ineficiente e ineficaz e a ponderação de opções de poupança na saúde, no funcionamento das Administrações Públicas e de subvenções públicas.

Nazaré da Costa Cabral, que tem alertado para a necessidade destes exercícios serem consequentes nas suas conclusões, assinala que uma condição prévia para um exercício eficaz é programas de despesa com mecanismos de custeio de atividades associados. “Só quando tivemos esta identificação é que é possível identificar gastos desnecessários, gastos que não são prioritários e determinar a eliminação daquilo que efetivamente não é tão necessário ou daquilo que é mesmo supérfluo. Aí é que está o cerne de uma verdadeira revisão de despesa“, realça.

Para a responsável do CFP, existem agora “condições únicas” para avançar com este processo. “O Governo tem estado a trabalhar com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), esta tem prestado apoio técnico nesta nesta matéria, e há condições financeiras, porque há uma linha do Plano de Recuperação e Resiliência (PRRR) dedicada justamente a esta questão”, indica.

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CFP quer ter voz nas projeções de pensões: “Segurança Social está sempre a ser condicionada por interpretações”

Nazaré da Costa Cabral alerta para falta de confiança nas projeções do sistema de pensões, defende papel do CFP no tema e considera que regra sobre portefólio do FEFFS deve ser avaliada.

O Conselho das Finanças Públicas (CFP) considera que não existe confiança nas projeções do sistema de pensões, pelo que quer capitalizar a sua independência para ser parte ativa das mesmas e desfazer a ideia de “podem ser instrumentalizadas” e “estão a servir um determinado interesse”.

Em entrevista ao ECO, a presidente da instituição defende que não pode existir discricionariedade na utilização dos excedentes previdenciais e que a regra que determina a alocação de 50% do portefólio do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) em dívida portuguesa deve ser avaliada.

A presidente do CFP, Nazaré da Costa Cabral, considera que para “um conhecimento bastante isento e rigoroso do sistema previdencial da Segurança Social” é essencial ter “projeções rigorosas e certeiras da situação” do sistema de pensões, recordando que o último relatório do Tribunal de Contas sobre a sustentabilidade do sistema é crítico das projeções oficiais feitas pelo Ministério do Trabalho.

O que verificamos é que a Segurança Social está sempre a ser, digamos, condicionada por interpretações. As projeções não geram total confiança, sejam elas ou de grupos de trabalho ou as próprias oficiais. Não geram suficiente confiança nem na opinião pública em geral, na imprensa, por exemplo, e não geram nos atores políticos. Há sempre a ideia de que podem ser instrumentalizadas e estão a servir um determinado interesse“, argumenta.

O que verificamos é que a Segurança Social está sempre a ser, digamos, condicionada por interpretações. As projeções não geram total confiança, sejam elas ou de grupos de trabalho ou as próprias oficiais. Há sempre a ideia de que podem ser instrumentalizadas e estão a servir um determinado interesse.

Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas

Neste sentido, recorda a recomendação do Livro Verde sobre o reforço da sustentabilidade do sistema previdencial de trazer o Conselho das Finanças Públicas para o centro deste sistema de projeções. “Isto é, enquanto entidade independente, reconhecida pela capacidade técnica que tem poderia passar a ter responsabilidades e competências ao nível das projeções no sistema de pensões“, aponta.

Nazaré da Costa Cabral adianta que a instituição que lidera tem desenvolvido trabalho “nos últimos tempos” para “quer ao nível dos seus recursos humanos, quer da aposta na dimensão tecnológica apetrechar-se para poder desenvolver projeções de pensões no futuro”, e defende que os estatutos dão mandato ao CFP para o fazer.

Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

“Se uma entidade independente como o CFP pudesse ter condições para fazer projeções nesta área seria uma vantagem, porque fazer projeções de pensões é um exercício técnico. Não tem de ser sistematicamente objeto de instrumentalização política e muito menos de natureza ideológica“, afirma.

Vincando a “vontade de o fazer”, contudo, adverte que há fatores externos que ultrapassam a instituição como o “acesso à informação, nomeadamente a dados, incluindo microdados”. Para a responsável do CFP, “aquilo que o país neste momento precisa é de ter um modelo de pensões que seja bem adequado àquele que é o sistema da Segurança Social, àquela que é realidade no seu mercado de trabalho, um modelo que em que as especificações do mesmo sejam devidamente conhecidas para que possam ser trabalhadas”.

“Cerne do problema da sustentabilidade da Segurança Social é o seu sistema de pensões”

Nazaré da Costa Cabral aponta o conhecimento das eventualidades como determinante para responder aos desafios da sustentabilidade. “O cerne do problema da sustentabilidade da Segurança Social é o seu sistema de pensões. Defendo há muito que deveria haver uma clara separação na Taxa Social Única (TSU) daquela que é a taxa alocada ao financiamento na eventualidade de pensões de velhice, eventualmente invalidez também”, aponta.

Para a responsável do CFP, só assim é possível compreender se essa taxa está adequadamente ajustada àquilo que é o custo técnico e todos os outros custos associados à própria eventualidade de velhice. “Um modelo como temos de taxa única para todas as eventualidades não permite isso. Além de que torna a velhice muito condicionada pelas outras eventualidades, nomeadamente pelo desemprego. O desemprego é uma eventualidade muito volátil, tipicamente cíclica e, portanto, o custo do desemprego está sempre de certa maneira a contaminar a velhice“, adverte.

O desemprego é uma eventualidade muito volátil, tipicamente cíclica e, portanto, o custo do desemprego está sempre de certa maneira a contaminar a velhice.

Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas

Alerta ainda para a necessidade de identificar “se o valor da taxa alocada à eventualidade de velhice está bem determinado”, de forma a determinar “se existe um equilíbrio atuarial ou não no sistema”.

“Aí das duas uma: ou esse equilíbrio atuarial está garantido e podemos estar tranquilos ou então temos de fazer qualquer coisa ou ao nível da taxa ou do ajuste da idade de reforma, que é o que tem vindo a ser feito. A permanente elevação da idade de acesso à pensão de velhice é um sinal de que o sistema não está atuarialmente equilibrado”, refere.

Nazaré da Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Regras de gestão do portefólio do FEFFS têm de ser avaliadas

A presidente do CFP realça a “importância sistémica” do FEFFS, alertando que este “tem de ser preservado e olhado com toda a cautela” quer a montante, quer a jusante. “Muitas vezes olhamos para o FEFFS e pensamos que ele é a almofada financeira do nosso sistema, que está ali para garantir o tal respaldo quando o sistema previdencial entrar em em défice. Só que o FEFFS não é só isso, é uma reserva que permite equalizar os índices de contribuição das várias gerações que nele se cruzam“, recorda.

Neste sentido, realça que este é alimentado a partir dos excedentes do sistema previdencial e “deveria mensalmente ser alimentado a partir de uma parte da quota do trabalhador – de dois a quatro pontos percentuais (pp.) da quota do trabalhador, algo que não tem sido cumprido inteiramente nos últimos anos”.

Assim, considera que “o excedente do previdencial nunca é demais, nunca pode ser usado para outros fins espúrios ao próprio sistema previdencial“, sendo “dos trabalhadores” e, por isso, “não pode ser desbaratado, porque não está ali na disponibilidade do decisor”.

O excedente do previdencial nunca é demais, nunca pode ser usado para para outros fins espúrios ao próprio sistema previdencial.

Nazaré da Costa Cabral

Presidente do Conselho das Finanças Públicas

Nazaré da Costa Cabral deixa ainda um alerta sobre a política de investimento do FEFFS: “Deve ser gerido de forma profissional como, aliás, tem sido, a sua política de investimento deve estar muito bem pensada. É importante que o Instituto Gestão de Fundos de Capitalização tenha condições para planear antecipadamente como é que vai investir o bolo financeiro que tem ao seu dispor“, indica.

“Claro que tem que ter princípios e aspetos que têm que ser conciliados. Por um lado, a gestão do risco, mas, por outro lado, a tentativa de obtenção do maior retorno possível”, sinaliza.

Quando questionada sobre a regra que determina que, pelo menos, 50% do portefólio deve estar alocado à dívida pública portuguesa deve ser alterada, salienta que “é uma decisão política, mas tem de ser avaliada e estudada“.

“Foi justificada num determinado contexto muito particular, nos idos anos de 2012 em que Portugal estava só sob a égide de um programa de assistência financeira. Foi usado para dar segurança da dívida pública. Neste momento, temos de pensar se esse modelo se mantém como o mais adequado, na perspetiva também de aquilo que é a rentabilização do fundo e do que pode ser o retorno para os pensionistas do futuro“, considera.

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Marcelo recebeu Montenegro esta tarde em Belém

  • Lusa
  • 4 Março 2025

O Presidente da República esteve reunido com o primeiro-ministro esta terça-feira no Palácio de Belém, indicou a Presidência da República, na véspera do debate da moção de censura do PCP.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve reunido com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, esta tarde de terça-feira no Palácio de Belém, indicou a Presidência da República, na véspera do debate da moção de censura do PCP.

O Presidente da República reuniu com o primeiro-ministro, ao fim da tarde de hoje, no Palácio de Belém“, lê-se numa nota divulgada na página oficial da Presidência da República.

A reunião entre Marcelo e Luís Montenegro realizou-se na véspera do debate, no parlamento, da moção de censura do PCP e depois de, segundo o Observador, o Presidente da República não ter atendido o telefone ao primeiro-ministro no sábado à noite.

De acordo com o Observador, Luís Montenegro só telefonou a Marcelo Rebelo de Sousa depois de ter feito a declaração ao país na qual admitiu avançar com uma moção de confiança, tendo o Presidente da República optado por não atender o telefonema por estar “com outros afazeres”.

A Assembleia da República discute e vota esta quarta-feira, a partir das 15:00, uma moção de censura ao Governo, destinada ao chumbo, tendo em conta que o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, já anunciou que não pretende viabilizá-la.

A moção, com o título “Travar a degradação nacional, por uma política alternativa de progresso e de desenvolvimento”, foi anunciada pelo PCP após o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter feito uma declaração ao país no sábado à noite na qual admitiu avançar com uma moção de confiança ao Governo se os partidos da oposição não esclarecessem se consideram que o executivo “dispõe de condições para continuar a executar” o seu programa.

Montenegro fez esta declaração após ter sido noticiado pelo semanário Expresso que a empresa Spinumviva – até sábado detida pela sua mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, e filhos -, recebe uma avença mensal de 4.500 euros do grupo Solverde, que representou como advogado antes de ser presidente do PSD.

TA // PSC

Lusa/Fim

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Lisboa acompanha bolsas internacionais e fecha a perder com Galp a recuar 6,47%

  • Lusa
  • 4 Março 2025

A bolsa de Lisboa acompanhou hoje as principais bolsas europeias e mundiais, terminando a sessão a perder 1,64% para 6.700.33 pontos, com os 'pesos pesados' Galp e BCP a sofrerem as maiores perdas.

A bolsa de Lisboa acompanhou esta terça-feira as principais bolsas europeias e mundiais, terminando a sessão a perder 1,64% para 6.700.33 pontos, com os ‘pesos pesados’ Galp e BCP a sofrerem as maiores perdas.

Entre as 15 cotadas que integram o PSI, nove recuaram face à abertura e cinco ganharam, tendo a Sonae mantido a cotação nos 1,02 euros, naquela que foi a primeira sessão bolsista desde o início das tarifas dos EUA contra os três principais parceiros comerciais (México, Canadá e China).

A Galp Energia, dona da Petrogal, a principal empresa exportadora em Portugal para os Estados Unidos da América, fechou a terça-feira de Carnaval com perdas de 6,47%, encerrando nos 14,95 euros. Também com perdas significativas esteve o BCP, que recuou 3,7% para 0,52 euros.

Em sentido inverso, houve duas cotadas com variações acima de 1,00%: a REN (3,63%, para 2,57 euros) e a NOS (1,04% para 4,36 euros). Nas principais bolsas europeias, o cenário foi ‘vermelho’, com perdas em todos os principais índices. Frankfurt perdeu 3,54%, Milão 3,41%, Madrid 2,55% e Paris 1,85%. Fora do Euro, também Londres recuou (1,27%).

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Versace veste Prada? O negócio de 1,5 mil milhões que vem agitar a moda

  • Rita Ibérico Nogueira
  • 4 Março 2025

A Prada está em vias de comprar a Versace por 1,5 mil milhões de euros, unindo no mesmo grupo as duas icónicas casas italianas. O negócio pode consolidar a Prada como líder do setor.

A indústria da moda está em vias de testemunhar uma das suas aquisições mais significativas dos últimos anos. Segundo o Financial Times, a Prada está a ultimar um acordo para a compra da Versace à Capri Holdings por cerca de 1,5 mil milhões de euros, num negócio que poderá ser fechado ainda este mês de março. A confirmar-se, esta operação uniria duas das mais icónicas casas de moda italianas sob o mesmo grupo, numa fusão que promete transformar o setor.

As negociações entre a Prada e a Capri Holdings, detentora de marcas como Michael Kors e Jimmy Choo, têm sido intermitentes, mas fontes próximas do processo afirmam que as partes estão agora mais próximas de um entendimento. Inicialmente, a Capri pedia cerca de 3 mil milhões de euros pela Versace, mas a possibilidade de um acordo em torno dos 1,5 mil milhões reflete não apenas as condições de mercado, mas também a urgência da Capri em vender a marca.

A Versace, fundada em 1978 por Gianni Versace, foi adquirida pela Capri em 2018 por cerca de 1,85 mil milhões de euros, incluindo dívidas. Desde então, o grupo norte-americano tem procurado um comprador adequado, especialmente depois do colapso da sua fusão, em Novembro passado, com a Tapestry – proprietária da Coach, Kate Spade e Stuart Weitzman -, devido a questões concorrenciais nos Estados Unidos.

Miuccia Prada, fundadora da Prada, e Donatella Versace, à frente da Versace.

Prada: crescimento e consolidação
A Prada tem mantido um desempenho financeiro sólido, apesar dos desafios que o mercado de luxo atravessa. O grupo, que inclui também a Miu Miu e a marca de calçado britânica Church’s, tem beneficiado do crescimento da Miu Miu, que tem vindo a conquistar novos públicos com as suas propostas arrojadas.

A aquisição da Versace seria um passo estratégico para a Prada ganhar escala e diversificar o seu portefólio. O contraste entre a elegância discreta da Prada e o estilo exuberante da Versace permitiria criar uma dinâmica interessante dentro do grupo, permitindo-lhe captar diferentes segmentos do mercado de luxo.

Miuccia Prada, co-fundadora e acionista de controlo da Prada, comentou na última semana, durante a apresentação da coleção da marca em Milão, que “toda a gente está de olho” na Versace, sugerindo que a negociação pode estar perto da sua conclusão.

Caso o negócio se concretize, a Prada consolidar-se-á como o maior grupo de moda de luxo de Itália, reforçando a sua posição num setor altamente competitivo. Esta fusão pode também influenciar outras casas de moda, estimulando novas aquisições e reconfigurando o mapa do luxo global.

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Três casos de reinvenção. Covid deixou marca nas operações das empresas

Durante a pandemia, várias empresas apostaram em outras áreas de negócio. Cinco anos depois do grande confinamento, continuam a colher os frutos dessa transformação. Conheça alguns exemplos.

A pandemia foi uma ameaça para a maioria das empresas portuguesas, como refletiu a quebra de 10,3% nas exportações logo em 2020, mas para outras acabou por ser uma oportunidade, levando-as a apostar noutras áreas de negócio. Passados cinco anos do ‘grande confinamento’, algumas ainda continuam a colher os frutos dessa transformação. Conheça os exemplos da Casa São Bernardo, da askblue e da Lavoro.

Para sobreviverem a esta crise que assombrou grande parte do tecido industrial português, também os empresários nacionais foram obrigados a adaptar-se e a abrirem novas avenidas de crescimento. Foi o caso da produtora de calçado de segurança Lavoro, que se reinventou durante a pandemia e ainda hoje está a faturar com essa transformação.

A fabricante de Guimarães, no distrito de Braga, viu na crise pandémica uma oportunidade de negócio e adaptou as linhas de produção para começar a produzir calçado especializado para os profissionais de saúde. Uma aposta que mantém até aos dias de hoje.

“Antes da pandemia já tínhamos um chinelo ortopédico em pele para os profissionais de saúde, mas com a Covid-19 adaptámos esse modelo para um chinelo feito com matérias antimicrobianas, que é possível ser lavado a 60 graus”, explica Ana Oliveira, diretora de marketing da Lavoro, que produz anualmente 600 mil pares de calçado de proteção individual.

A pandemia acabou por ser uma oportunidade para a Lavoro, que viu o número de colaboradores e a faturação aumentar.

Ana Oliveira

Diretora de marketing da Lavoro

Esta aposta no chinelo antimicrobiano continua a dar frutos com a fabricante nortenha a preparar uma encomenda de dez mil unidades para o setor hospitalar sueco, sem revelar o valor do negócio. “A pandemia acabou por ser uma oportunidade para a empresa, que viu o número de colaboradores aumentar de 240 para 284 pessoas em cinco anos (2020 – 2025) e a faturação de 18 para 22 milhões”, detalha a porta-voz da Lavoro.

Chinelos antimicrobianos da Lavoro começaram a ser produzidos na pandemiaLavoro

Para além deste chinelo, a fabricante liderada por Teófilo Leite aproveitou o know-how e acrescentou ao portefólio dois sapatos antimicrobianos com propriedades semelhantes (antimicrobiano e lavável) direcionados para a restauração e hotelaria. “Depois da pandemia, este setor registou um boom e estamos a ter muita procura por este tipo de produtos e está a ser uma das nossas apostas dentro de portas”, detalha a diretora de marketing da Lavoro.

“Com estas apostas, crescemos a nível de faturação e clientes”, afirma a diretora de marketing da empresa, que perspetiva produzir 40 mil pares deste calçado antimicrobiano, que representará quase 6% da faturação.

Casa São Bernardo ainda fatura com entregas ao domicílio

Fundada em 1995 em Lisboa por Isabel Beltrão, a Casa São Bernardo produz e vende comida para fora. Durante a pandemia, a Casa São Bernardo começou a entregar comida ao domicílio face às restrições impostas. “Quase passamos de uma loja para um serviço de logística”, conta ao ECO Duarte Beltrão, diretor-geral da Casa São Bernardo e que pertence à segunda geração à frente da empresa.

O gestor conta que, antes do Covid-19, o serviço de entregas ao domicílio já existia, principalmente para a terceira idade, mas pesava apenas 2% do volume de negócios, número que escalou durante a pandemia para os 20% da faturação, sendo que nos dias de hoje pesa 15%.

Com a adesão ao serviço de entregas ao domicílio durante a pandemia, Duarte Beltrão sentiu a necessidade de comprar mais duas viaturas, uma delas com refrigeração, porque entregam comida congelada. Contas feitas, antes da pandemia a frota era composta por três carrinhas e agora por cinco.

Depois do Covid, conseguimos manter os clientes e temos todos os dias um volume significativo de entregas ao domicílio.

Duarte Beltrão

Diretor geral da Casa São Bernardo

“Depois do Covid, conseguimos manter os clientes e temos todos os dias um volume significativo de entregas ao domicílio”, afiança o gestor da Casa São Bernardo, que conseguiu fintar a pandemia que destruiu quase 99 mil empregos num ano.

A juntar-se às entregas ao domicílio, a Casa São Bernardo apostou no serviço de catering corporativo durante a pandemia. “Já no fim da pandemia, quando algumas medidas abrandaram, começámos a perceber que os serviços de catering, nomeadamente para empresas, começaram a crescer e a procura de novas oportunidades surgiu com frequência –o paradigma tinha mudado”, constata o gestor, acrescentando que “desde então têm sido crescentes as novas oportunidades e novos clientes”. Antes da pandemia, o catering pesava 2% na faturação, hoje já pesa 28%.

Duarte Beltrão, diretor-geral da Casa São BernardoCasa São Bernardo

Para além da venda take away e o catering, a Casa São Bernardo tem um pequeno restaurante nas instalações que, na ótica de Duarte Beltrão, “serve com um cartão de visita”.

A Casa São Bernardo emprega 39 pessoas e fechou o ano passado com uma faturação de 2,7 milhões de euros. Na altura da pandemia empregava 32 pessoas e faturava 1,6 milhões de euros. Para o filho da fundadora, que assumiu a gestão do negócio, “este crescimento no volume de negócios deve-se a adaptação e apostas nestas duas áreas de negócios”.

Está nos planos abrir mais três lojas Casa São Bernardo na área de Grande Lisboa até 2031, um investimento de três milhões de euros, contabiliza o gestor que fez programas executivos na AESE Business School que “acabaram por ser úteis nesta mudança de estratégia na empresa familiar”.

askblue: pandemia surgiu como um acelerador

A Covid também deixou marca nas operações da askblue. A empresa portuguesa de consultoria tecnológica e de negócio com capitais 100% capitais portugueses, desenvolveu, na pandemia, aplicações e serviços para as empresas gerirem espaços de trabalho ou lugares de estacionamento, já que muitos colaboradores passaram a estar em regime híbrido, não tendo lugares ou datas fixas para estar nas instalações.

Passados cinco anos do surgimento da pandemia, a tecnológica liderada por Pedro Nicolau continua a disponibilizar essas soluções. “A pandemia surgiu como um acelerador, já que os clientes continuam a ter interesse em gerir os espaços e os recursos humanos“, conta ao ECO Élia Faustino, head of strategy & consulting da askblue.

A pandemia surgiu como um acelerador, já que os clientes continuam a ter interesse em gerir os espaços e os recursos humanos.

Élia Faustino

Head of strategy & consulting da askblue

Este tipo de aplicações e serviços foram e são usados por empresas de várias setores de atividade como distribuição, seguros, alimentar, banca, aviação e energia. “Criamos produtos que não estavam confinados ao período da pandemia e os mesmos continuam a ser usados ainda hoje”, explica a head of strategy & consulting da Askblue.

Élia Faustino, head of strategy & consulting da Askblue Askblue

Fundada em 2013 e com escritórios em Lisboa, Coimbra, Ilha Terceira, São Paulo e Goiânia (Brasil) e Londres (Reino Unido), a askblue tem quase 50 clientes, emprega 410 pessoas e faturou 19 milhões de euros em 2023.

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Bolsa em Wall Street arranca no ‘vermelho’ a digerir tarifas sobre México e Canadá

  • Lusa
  • 4 Março 2025

A bolsa dos EUA começou o dia em queda, na primeira sessão após a entrada em vigor de tarifas de 25% sobre as importações canadianas e mexicanas e de 10% sobre as chinesas.

A bolsa dos EUA começou esta terça-feira em queda, na primeira sessão após a entrada em vigor de tarifas de 25% sobre as importações canadianas e mexicanas e de 10% sobre as chinesas, os três maiores parceiros dos EUA.

Cerca de cinco minutos depois do toque do sino na Bolsa de Nova Iorque, o Dow Jones recuava 0,98% para 42.770 pontos, o alargado S&P 500 perdia 0,92% para 5.795 pontos e o tecnológico Nasdaq recuava 1,03% para 18.161 pontos. Por sua vez, o ‘índice de medo’ Vix, que mede a volatilidade do mercado, subiu para 8,47%.

Na segunda-feira, com a confirmação das tarifas sobre as importações de Canadá, México e China, os investidores entraram em força a vender títulos, resultado num dos piores dias da bolsa nova-iorquina em meses.

Os resultados definitivos da sessão indicam que o índice seletivo Dow Jones Industrial Average recuou 1,48%, o tecnológico Nasdaq perdeu 2,64% e o alargado S&P500 baixou 1,76%, naquela que foi a sua maior perda diária desde dezembro. Entre os títulos mais atingidos na sessão de hoje, estão as fabricantes automóveis GM (-4,47%) e a Ford (-2,34%).

Dentro do Dow 30, destacavam-se as perdas dos bancos JP Morgan (-4,5%) e do Goldman Sachs (-3,65%), assim como da Boeing (-5,54%), da 3M (-3,63%) e da American Express (-3,29%). Já o barril de petróleo do Texas caiu 1,43% para 67,43 dólares, e a onça de ouro valorizou-se 0,63% para 2.917 dólares.

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Hyundai Santa Fe: Quando o tamanho importa (e impressiona)<span class='tag--premium'>premium</span>

O histórico Santa Fe reinventou-se, passando de um todo-o-terreno para um familiar espaçoso. O resultado é um SUV que desafia expectativas, mas que questiona o seu próprio propósito.

Este artigo integra a 12.ª edição do ECO magazine. Pode compraraqui.No mundo dos SUV de grande dimensão, o Hyundai Santa Fe sempre ocupou um lugar de destaque.Agora, na sua quinta geração, este veterano com quase 25 anos de história surge completamente renovado, desafiando as convenções e levantando questões intrigantes sobre o seu verdadeiro propósito. À primeira vista, o novo Santa Fe na versão HEV 1.6 Calligraphy Pack MY25, testada pelo ECO, impressiona pelo seu designfuturista, fazendo até lembrar clássicos como o Land Rover Defender. A frente, dominada por faróis LED em formato “H” e uma grelha arrojada, não deixa a nova estrela da marca sul-coreana passar despercebida. O mesmo sucede com a traseira, mas não pelas mesmas razões, por força das óticas estarem mais baixas do que é

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Governo avisa que pode avançar com moção de confiança depois de PS anunciar CPI a Montenegro

  • ECO
  • 4 Março 2025

O ministro Pedro Duarte avisou que o executivo ainda poderá apresentar uma moção de confiança. Pedro Nuno Santos anunciou esta segunda-feira que vai pedir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI).

Na reunião da conferência de líderes que agendou para quarta-feira o debate da moção de censura do PCP, o ministro Pedro Duarte avisou que o executivo ainda poderá apresentar uma moção de confiança.

Na conferência de líderes foi reorganizada toda agenda parlamentar até final de março. No encontro, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, adiantou que o Governo não coloca de parte a hipótese de apresentar uma moção de confiança.

Pedro Duarte, que participou na reunião à distância, disse que o calendário pode ter ser novamente alterado. Isto porque a moção de censura do PCP, que vai ser debatida já esta quarta-feira, tem o chumbo determinado à partida, pelo voto contra do PS.

Pedro Nuno Santos anunciou esta segunda-feira que vai pedir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso da empresa familiar do primeiro-ministro, depois de ter reunido com o secretariado do PS para analisar a atual situação política. O líder socialista afirmou que o país está “a viver uma crise política” e que o “principal fator de instabilidade” é Luís Montenegro.

“O PS apresentará, na Assembleia da República, um requerimento potestativo para a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito”, disse o secretário-geral socialista, na sede do partido no Largo do Rato. “Não o fazemos com gosto, sei bem quão duro é uma CPI. Infelizmente, o senhor primeiro-ministro não nos dá alternativa, esta é mesmo a última figura regimental ao nosso dispor para assegurar que temos o direito a saber a verdade”, justificou.

A prioridade socialista passa por “proteger o regime e as instituições”, com “sentido de Estado” e sem querer “provocar crises políticas”.

“Não é matéria do foro privado, é matéria de Estado”, diz Pedro Nuno Santos, que lembra que Montenegro “esteve a receber avenças de empresas ao mesmo tempo que era primeiro-ministro” durante dez meses. “Isto é inaceitável”, sublinhou, antes de acrescentar que a “empresa é Luís Montenegro”. O socialista classificou ainda como “grave” a notícia de que o primeiro-ministro não tinha declarado todas as contas bancárias à Entidade da Transparência.

O líder socialista disse ainda que pediu uma audiência ao Presidente da República e conversou, antes de falar aos jornalistas, com Marcelo Rebelo de Sousa sobre esta decisão do partido. O chefe de Estado tinha lamentado, esta terça-feira, que Luís Montenegro só lhe tinha telefonado meia hora após a declaração ao país no passado sábado, onde anunciou que empresa familiar seria totalmente entregue aos filhos.

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