O que são ‘defence bonds’? Portugal vai emitir? Há interesse do mercado?

- Alberto Teixeira
- 16 Setembro 2025
Líder da agência que gere a dívida pública revelou que está a analisar a possibilidade de emitir defence bonds. Mas o que são estas obrigações? O mercado teria interesse?
O que são ‘defence bonds’? Portugal vai emitir? Há interesse do mercado?

- Alberto Teixeira
- 16 Setembro 2025
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O que são defence bonds?
Defence bonds ou safe bonds são um tipo de obrigações relacionadas com defesa e segurança que podem ser emitidos por um país, entidade supranacional (como a União Europeia) ou até uma instituição privada. Como o próprio nome indica, os fundos levantados através da emissão de defence bonds são canalizados para financiar ativos de defesa e segurança, incluindo militares.
São obrigações temáticas, como as green bonds ou as social bonds, o que permitem aos investidores identificar facilmente a sua afetação, explica Paulo Rosa, economista-chefe do Banco Carregosa.
Jens Peter Sørensen, analista chefe do Danske Bank, acrescenta que as defence bonds estão a tornar-se parte do universo ESG: Environmental, Social e Governance. Já se discute a possibilidade de mudar a sigla para ESSG para incluir o fator Segurança, que ganhou maior relevância nos últimos anos, na sequência da guerra na Ucrânia.
As defence bonds não são uma novidade, ainda assim. “Durante a II Guerra Mundial, países como os EUA e o Reino Unido recorreram a war bonds [obrigações de guerra] para financiar o esforço de guerra”, lembra Paulo Rosa. “Mobilizaram milhões de cidadãos e canalizaram as suas poupanças para suportar o esforço militar e financiar diretamente os seus exércitos”, conta.
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Portugal vai mesmo emitir?
Ainda não sabemos. O presidente do IGCP, a agência responsável pela gestão da dívida pública, referiu que está ainda a analisar a possibilidade de emitir defence bonds. Na semana passada, ouvido na Comissão do Orçamento, Finanças e Administração Pública, Pedro Cabeços adiantou aos deputados que já teve “algumas reuniões” para “perceber como funcionam” estas obrigações e se “enquadram” na estratégia de financiamento da República.
O ECO questionou o Ministério das Finanças e ainda o próprio IGCP sobre a hipótese levantada por Pedro Cabeços, mas não obteve uma resposta até à publicação deste artigo.
O que sabemos é que Portugal se comprometeu junto da NATO a aumentar as suas despesas com a Defesa para 5% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2035 – 3,5% em despesas militares tradicionais em e 1,5% em despesa de infraestrutura de dupla utilização — e isso irá colocar pressão sobre as nossas finanças públicas nos próximos anos.
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Mas e a União Europeia?
Um conjunto de fatores – incluindo o prolongamento da guerra na Ucrânia e a necessidade de fazer face a uma eventual ameaça da Rússia e a reformulação da política externa dos EUA – levou a Comissão Europeia a definir o reforço significativo do investimento na área da Defesa e Segurança como uma das prioridades para os próximos anos.
Com efeito, os Estados-membros vão ter de canalizar milhões e milhões de euros dos seus orçamentos nacionais com o objetivo de cumprirem este desígnio europeu e também os compromissos firmados no âmbito da aliança da NATO.
É neste contexto que os países estão a discutir a possibilidade de emissões conjuntas a nível europeu, as chamadas European Defense Bonds – a exemplo do que aconteceu com as emissões para o programa NextGenerationEU, para responder à crise provocada pela pandemia.
Portugal e a maioria dos outros países poderiam ter interesse nestas emissões conjuntas de defence bonds europeias. Por um lado, beneficiariam do rating AAA atribuído à União Europeia (UE), contribuindo para baixar o custo de financiamento e tirariam pressão sobre os orçamentos nacionais – sem pôr em causa prioridades dos governos em matéria de políticas sociais.
Por outro lado, como frisa Paulo Rosa, “a participação num instrumento europeu de defesa reforçaria a integração e a solidariedade na União Europeia, transmitindo um sinal claro de compromisso comum perante ameaças externas”.
A Comissão acabou de disponibilizar uma linha de financiamento no valor de 150 mil milhões de euros no âmbito da programação Ação para a Segurança da Europa (SAFE), tendo reservado um envelope de 5,8 mil milhões para Portugal, mas os analistas consideram que não será suficiente para responder ao esforço que os Estados-membros terão pela frente.
Para aliviar a pressão sobre as contas públicas, os Estados-membros poderão contar com uma flexibilização das regras orçamentais para as despesas nestas áreas – que não serão contabilizados para o défice e para a dívida.
Proxima Pergunta: O mercado teria interesse?
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O mercado teria interesse?
“Provavelmente sim”, responde Paulo Rosa.
Sejam emissões realizadas por Portugal ou pela União Europeia, o mercado tem interesse em defence bonds por várias razões e atrairiam investidores tão variados como bancos e companhias seguradoras como fundos soberanos e bancos centrais, de acordo com os analistas.
Jens Peter Sørensen lembra que recentemente o BPCE — que acabou de comprar o Novobanco — realizou uma emissão de defence bonds no valor de 750 milhões de euros e numa operação que registou uma procura superior a 2,8 mil milhões junto de mais de 140 investidores – quase quatro vezes mais do que a oferta.
Paulo Rosa salienta que emissões conjuntas da UE tendem a gerar forte procura junto dos investidores porque “oferecem maior segurança e liquidez do que obrigações nacionais isoladas”. Foi o que aconteceu nas operações de financiamento realizadas ao abrigo do NextGenerationEU, que “mostrou que os investidores acolhem bem este tipo de instrumento europeu”.
“No caso das defence bonds, o interesse seria reforçado pelo caráter específico da emissão e pela perceção de que a UE está a agir de forma coesa perante riscos de segurança, o que transmite confiança adicional aos mercados”, salienta o economista-chefe do Banco Carregosa.