Mais de metade dos carros novos já são eletrificados, mas António Coutinho alerta que a frota automóvel continua muito envelhecida. Só com a ajuda dos governos será possível cumprir as metas da UE.
A MCoutinho, liderada por António Coutinho, fechou 2023 com uma faturação de quase 500 milhões de euros e mais de 15.500 carros vendidos. Concluída a integração dos dois concessionários adquiridos em Coimbra e em Leiria com 138 funcionários, o grupo prevê continuar a crescer em 2024 e vai manter-se atento a eventuais oportunidades de aquisição. Com a venda de elétricos a acelerar, António Coutinho alerta que ainda há uma discrepância entre o que é a capacidade financeira das famílias e as metas europeias para o setor.
2023 foi um ano de forte crescimento para a MCoutinho. No ano em que fechou mais uma importante aquisição, desta vez no Centro do país, após ter expandido a sua presença para Lisboa em 2021, o Grupo de Marco de Canaveses fechou o ano passado com uma faturação de 476 milhões de euros, acima dos 355 milhões registados em 2022 e dos 264 milhões em 2021, com a empresa a manter uma tendência de crescimento acima de 30%.
Em entrevista ao ECO, António Coutinho traça um “balanço extremamente positivo” de 2023, um ano que considera “desafiante, com a compra de uma unidade [a aquisição da Bomcar, concessionária das marcas automóveis BMW, Mini e MG em Coimbra e Leiria] e integração de 150 pessoas”. “Um processo perfeitamente integrado”, que manteve as mesmas equipas, à exceção da direção. Após esta aquisição e a abertura do novo concessionário em Penafiel, com 50 pessoas e um investimento de sete milhões de euros, a MCoutinho conta hoje com mais de 1.300 pessoas.
Olhando para 2024, o CEO da MCoutinho realça que o orçamento da empresa para o ano prevê “continuar a crescer e alcançar uma faturação de 550 milhões de euros“.
O Grupo liderado por António Coutinho, que começou como “umgrupo mais do Norte e hoje tem cobertura nacional”, tem realizado importantes investimentos ao longo dos últimos anos, que têm acelerado o crescimento das receitas da empresa e reforçado a cobertura no país, com presença nos distritos de Bragança, Vila Real, Porto, Aveiro, Coimbra, Viseu, Leiria e Lisboa e 90 pontos de venda. E o objetivo é continuar a aumentar esta presença.
Estamos a olhar para as oportunidades e se nos surgirem oportunidades estaremos disponíveis para continuar a crescer.
“Temos de estar onde os nossos clientes querem que possamos estar. Não temos uma ambição de crescer por crescer. Se surgirem oportunidades vamos olhar para essas oportunidades e ponderar sobre essas oportunidades. Além das regiões, é muito importante as marcas que essas regiões possam aportar e dentro desse campo podemos analisar [essas oportunidades]”, explica.
“Estamos a olhar para as oportunidades e se nos surgirem oportunidades estaremos disponíveis para continuar a crescer“, conclui. António Coutinho refere ainda que tem optado pelo crescimento via aquisições devido ao facto destas operações serem “mais volumosas e [o crescimento] mais rápido”.
Apesar da preferência para crescer via aquisições, o grupo fez um importante investimento este ano, em Penafiel, através da abertura do novo concessionário oficial e oficina autorizada da marca alemã Mercedes-Benz, num investimento de sete milhões de euros. “É uma região que conhecemos bastante bem e que não estava coberta pela marca”, justifica António Coutinho.
A estratégia do grupo passa por continuar a crescer nas marcas premium. Atualmente, a MCoutinho tem uma representatividade de 10% das vendas da marca BMW nos seus concessionários, após as aquisições realizadas no Centro no país. Já na Land Rover e Jaguar, o grupo tem um peso de 15 a 16% e na Mercedes de 3%.
“O grupo definiu uma estratégia em que gostaria de ter nas marcas generalistas, no mínimo, 10% de representatividade de cada marca sobre o peso do país e de 5% nas marcas premium, detalha o líder da MCoutinho.
Sem ajudas, famílias não conseguem comprar carro
Com o negócio do setor automóvel a atravessar uma grande transformação, que está a ser acelerada pela regulação na Europa – a União Europeia quer acabar com a venda de carros novos a combustíveis fósseis já em 2035 -, António Coutinho alerta para as dificuldades que esta exigência aporta.
As marcas estão a preparar-se para esta mudança, não sei é se os clientes têm a capacidade financeira para comprarem esses automóveis.
“As marcas estão a preparar-se para esta mudança, não sei é se os clientes têm a capacidade financeira” para suportar a compra de carros elétricos, aponta António Coutinho, lembrando que a frota automóvel existente em Portugal ainda é muito envelhecida. O responsável alerta que “o abate vai ser um processo para tirar os carros que não são ambientalmente sustentáveis” e vai ser importante “ver o que o Estado vai poder dar para os clientes poderem comprar essas viaturas” mais sustentáveis.
Para o CEO da MCoutinho, “os preços dos elétricos vão ter de continuar a baixar, para ficarem mais acessíveis“. Mesmo assim, “é preciso haver uma intervenção do Estado”. “As marcas estão a fazer o seu trabalho, é importante que os Estados façam também esse trabalho para que os clientes possam comprar esses carros. Senão vamos ter algo disfuncional, entre o que se está a oferecer e a capacidade dos clientes poderem comprar os automóveis”, remata.
Vendas a diesel pesam menos de 8%
Depois de um 2023 marcado pela reposição de stocks, com muitos clientes à espera para receberem os seus carros encomendados em 2022, António Coutinho reconhece que “o primeiro trimestre de 2023 e deste ano são muito diferentes”. “2023 foi feita a reposição de stocks e agora as carteiras de clientes são menores“, realça o empresário, notando que já se sente o impacto da inflação e das taxas de juro mais elevadas, com impacto no rendimento disponível das famílias.
“A conjuntura económica – inflação e taxas de juro – baixou o poder de compra das pessoas. Hoje em dia fazem compras diferenciadas. Muitas vezes adiam um pouco mais [a compra de automóvel]”, explica. Por outro lado, “as pessoas têm uma preocupação ambiental muito grande. Adiam para comprarem o que querem”, ou seja, um veículo menos poluente, seja um carro totalmente elétrico ou híbrido.
As vendas de elétricos e híbridos têm vindo a aumentar nos últimos anos. De acordo com os dados do primeiro trimestre da venda de carros, os automóveis novos a gasolina e diesel representam menos de metade das vendas. Os carros a diesel pesam apenas 7 a 8% das vendas de automóveis novos, com as marcas a deixarem de produzir.
Cerca de 18% das vendas de carros novos são puramente elétricos. Quando se juntam carros híbridos e a gás, o peso destes veículos supera os 50%.
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“É preciso intervenção do Estado para que os clientes possam comprar carros elétricos”, diz CEO da MCoutinho
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