O presidente da STCP diz que o novo modelo de gestão não vai alterar nada na STCP. E acredita que deixa de ser presidente da empresa ainda este mês, com a nomeação dos novos administradores.
Jorge Moreno Delgado, é presidente da Metro do Porto, cargo que acumula com a presidência não executiva da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP). Em entrevista ao ECO, Jorge Delgado diz esperar deixar a presidência da STCP ainda este mês. E sobre a alteração do modelo de gestão da empresa, que vai passar a ser gerida pelas autarquias (Porto, Matosinhos, Maia, Gondomar, Valongo e Vila Nova de Gaia) adianta que “a STCP vai continuar exatamente igual”. E frisa: “É só a mudança de administradores”. Jorge Delgado, espera ainda que não haja greves na STCP, que deitem por terra a confiança que, aos poucos, os clientes têm vindo a recuperar na empresa.
Ainda é presidente da STCP?
Ainda sou presidente da STCP, com todo o gosto, porque é uma empresa de que gosto muito e que foi muito interessante e muito gratificante ter presidido. Estou a dizer “ter”, parece que já passou, mas está mesmo para acontecer, penso que se calhar até ao final do ano deixo de ser presidente da STCP, é o que está previsto e que me parece que vai acontecer.
Se calhar até ao final do ano deixo de ser presidente da STCP, é o que está previsto e que me parece que vai acontecer.
O que é que falta fazer para que a gestão da STCP passe para as autarquias?
Só falta nomear os administradores, não falta mais nada. Nomear os administradores e haver uma mudança de conselho. Penso que, neste momento, estão a ser dados os passos burocratas habituais, Cresaps, etc, que têm de ser feitos.
Mas o novo modelo de gestão já está em curso, ou não?
Aquilo que chama um novo modelo de gestão é só a mudança de administradores com o que isso tem de ‘report’ do que eles têm de fazer a quem os nomeia, quando muito. A STCP vai continuar exatamente igual.
Aquilo que chama um novo modelo de gestão é só a mudança de administradores com o que isso tem de ‘report’ do que eles têm de fazer a quem os nomeia, quando muito. A STCP vai continuar exatamente igual.
Está a dizer que o novo modelo de gestão não altera nada, que vai continuar tudo igual e só mudam as caras?
A STCP vai continuar rigorosamente igual só tem caras novas e, em vez de serem nomeados pelo Estado, são nomeados pelas câmaras. Um dos administradores (o CFO) será nomeado pelo Estado, visto que a empresa se mantém na esfera do Estado e este continua a ser o dono da empresa, sendo quatro nomeados pelas autarquias (dois executivos e dois não executivos). Isto é o que vai mudar. A Câmara do Porto, por ser maioritária, tem direito a escolher o presidente, o que já fez ao escolher Paulo Azevedo. O que muda também é que o novo modelo de gestão tem embebido um contrato onde os municípios se obrigam a pagar um valor em obrigações de serviço público que está estimado para os sete anos de duração do contrato. Esse valor, ao fim de cada ano, vai ser corrigido em função dos valores que se vierem a registar em função dos quilómetros efetuados em cada município. Se no final este valor for agravado, se a necessidade de colocar mais dinheiro da parte dos municípios vier a existir, eles vão fazê-lo até um limite de 10%, se os resultados melhorarem eles também vão pagar menos. É justo.
Se for preciso fazer novos investimentos, quem paga?
Novos investimentos, em princípio, são responsabilidade do Estado.
Se for preciso continuar a renovar a frota…
Não, a renovação da frota faz parte do pacote contratualizado em que os municípios são parte, ou seja, a renda associada ao pagamento dos veículos está incorporada nos custos operacionais.
Portanto, se for preciso continuar a renovar a frota dos veículos dos STCP os municípios são chamados…
Não vão ser.
A frota foi agora renovada com a compra de 188 autocarros.
Estão previstos esses 188 e depois, numa segunda fase, devemos chegar aos 297 autocarros. Isto é que o estava previsto, não foi feito de uma vez só, mas a identificação da necessidade foi feita. No decurso do próximo ano vai ser lançada uma nova candidatura para o restante. O investimento é pago ao longo dos sete anos pelas contas da empresa, entra nos custos operacionais, naquilo a que chamamos os custos rodoviários e, faz parte desta equação.
Como é que está a correr o ano?
O ano de STCP correu bem. É um ano em que se consolidou o número de motoristas — temos 924 motoristas — que nos permite funcionar cumprindo a nossa oferta. Vamos tendo alguns problemas de manutenção pela frota estar muito envelhecida, logo há menos veículos disponíveis. A nossa frota é composta por 447 autocarros. Agora conseguimos chegar a um número efetivo de motoristas que permitiu ir cumprindo a oferta com níveis muito elevados e também ter disponibilidade de material circulante com maior fiabilidade. Também estamos a dotar as equipas técnicas com gente mais nova, com uma série de estágios profissionais. O objetivo é rejuvenescer as pessoas que trabalham na área da manutenção.
Um dos motivos que levou a STCP a perder clientes tem a ver com a confiança. Sente que esse processo está em mudança?
O motivo essencial para a perda de confiança, não tenho dúvida nenhuma, foi a qualidade do serviço, se a pessoa está na paragem e o autocarro que deve passar de 20 em 20 minutos não chega, a pessoa não volta a ir de autocarro e, recuperar essa confiança não é fácil. Os números evidenciam essa melhoria da confiança, mas claro que associado a esta melhoria da qualidade do serviço está também todo o ambiente económico e o facto de termos tido um ambiente de alguma paz social.
Mas houve um plenário a semana passada…
É normal, penso que não tínhamos tido nenhum plenário, desde que estamos em funções. Mas é um plenário depois de termos feito uma proposta de revisão dos acordos de empresa, revisão essa que requer uma aprovação pelo Ministério das Finanças, e depois temos de ser capazes de assinar o novo acordo de empresa com três dos maiores sindicatos.
A STCP tem uma equipa de colaboradores, em particular, naquilo que é manutenção bastante envelhecida e, isso é um problema.
A STCP hoje tem os recursos humanos e materiais adequados a um bom desempenho da empresa?
Neste momento ainda não temos. Mas temos todas as condições para poder ter. Os autocarros, neste momento, ainda não são os adequados mas começam a ser renovados. A STCP tem uma equipa de colaboradores, em particular, naquilo que é manutenção bastante envelhecida e isso é um problema. O rejuvenescimento das equipas de manutenção tem de ser feito.
Mas esse envelhecimento de que fala é um entrave ao crescimento da empresa?
Não é um entrave ao crescimento da empresa, mas é um risco para a manutenção da qualidade do serviço. É algo que nos preocupa, porque sabemos que as pessoas que lá trabalham fazem o melhor que podem e sabem, mas a capacidade física e a idade têm um limite. Estamos com este problema sinalizado na nossa tutela, temos pedidos de autorização para contratação de pessoal, que acreditamos, vão ser autorizados.
Já me disse que não vai mudar nada na STCP, apenas as caras.
E muda este acordo de financiamento do resultado operacional
Mas isso pode ter implicação na atividade corrente da empresa.
Pode ter implicações para melhor. Na medida em que estando os municípios mais próximos da gestão, e sendo os municípios parte ativa da gestão, podem tomar decisões, até porque são eles, ao fim do dia, que autorizam todas as linhas. Os municípios podem tomar decisões de melhoria do serviço que querem prestar aos cidadãos propondo alterações de linhas, aumentos de frequência, aumentos de percurso. Diria que sendo os municípios quem melhor conhece o que se passa no seu território, e tendo eles a capacidade de efetuar alterações, pode vir daí uma melhoria, é isso que se espera da solução que foi encontrada.
A Metro e a STCP têm o mesmo presidente, têm algumas sinergias. Com esta alteração do modelo de gestão, o que é que vai acontecer?
A estrutura de funcionamento da Metro e da STCP são muito diferentes. A Metro tem 80 colaboradores, a STCP tem 1.300. A STCP opera diretamente, a Metro opera através de um operador, temos uma filosofia de funcionamento bastante diferente. Existem algumas sinergias que resultaram de necessidades que uma empresa tem e a outra não tem. Muitas vezes temos necessidade de transporte de uma coisa para aqui e para acolá e pedimos à STCP, há assuntos jurídicos que prestamos à STCP, a comunicação às vezes também é partilhada, mas só a este nível. A nível operacional e financeiro, as empresas estão como sempre estiveram completamente separadas.
Estou em crer que, vindo a nova administração, teremos aqui a relação mais fácil do mundo. Não antevejo daí nada de complicado. Vir sangue novo vai dar nova energia e pode ser bom para todos.
Mas tinham um presidente comum.
É evidente que a existência de um presidente comum, diz-me a minha experiência destes dois anos, torna mais fácil a comunicação, as coisas fluem melhor. Agora, por outro lado, ser presidente destas duas empresas, executivo numa e não executivo noutra, não é uma situação muito fácil e não é bom para a STCP ter um presidente não executivo. Era preciso que existisse um presidente executivo, ainda que eu tenha a maior das sortes com os dois colegas executivos com quem trabalhei estes dois anos e que me deram um sossego absoluto com a sua competência. Era evidente que era uma solução provisória. Faz falta alguém que seja o responsável máximo daquela empresa de forma premente todos os dias. Ainda que estejamos muito perto e que eu tenha, na medida do possível, a maior proatividade, estou sempre limitado, até pela questão legal, naquilo que posso fazer. Mas estou em crer que, vindo a nova administração, teremos aqui a relação mais fácil do mundo. Não antevejo daí nada de complicado. Vir sangue novo vai dar nova energia e pode ser bom para todos.
Falou dos acordos de empresa. Prevê um período de greves?
Não sei, naquilo que depende da empresa, não há nenhuma questão crítica que tenha identificado, se houver questões de fundo eventualmente são questões transversais a todos os setores.
Não espera greves na STCP?
Não as desejo. Acima de tudo, seria muito mau no momento que estamos a viver — com algum crescimento e em que as pessoas estão a ganhar alguma confiança na empresa — virmos agora passar por um momento de incerteza, de incumprimento, de falta de …
Com o plenário já houve perturbação para os utentes…
Claro que houve e temos de viver com isso. Mas não estou à espera que haja perturbações. Se daí vierem decisões que penalizem muito a operacionalidade da empresa, será mau para a empresa, mas os trabalhadores também sabem disso.
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Jorge Delgado: “A STCP vai continuar igual, só tem caras novas”
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