O deputado do PSD António Leitão Amaro diz que todos no seu partido desejavam estar mais perto do PS nas sondagens. E lamenta que Governo esteja "contentíssimo" com resultados económicos medíocres.
António Leitão Amaro diz que Rui Rio tem tido um “caminho trabalhoso” na liderança do PSD e acredita que, apesar da distância face ao PS nas sondagens, os sociais-democratas podem ter mais votos do que os socialistas nas próximas legislativas. Em entrevista ao ECO (a primeira parte da entrevista sobre os grandes devedores da banca foi publicada esta sexta-feira), o deputado do PSD considera que António Costa é um primeiro-ministro sem ambição, “que anda contentíssimo com resultados que são medíocres”. E Mário Centeno mereceu a distinção de melhor ministro das Finanças da Europa? “Tem o mérito de ter conseguido negar a tentação, o impulso e, diria, a essência do PCP, do Bloco e do próprio PS para um agravamento das contas, para o mais tempo e mais dinheiro, mas a estratégia que seguiu é dececionante”.
Rui Rio completa um ano à frente do PSD agora em fevereiro. Que avaliação faz da sua liderança?
Está a fazer o seu caminho. Tem sido um caminho trabalhoso, mas prefiro focar-me no ataque e na resolução dos problemas e dos desafios. Temos um primeiro-ministro que é incompetente na tarefa de proteger os portugueses perante as dificuldades. Há falhas do Estado sucessivas e gritantes. António Costa é um primeiro-ministro sem ambição nenhuma, que anda contentíssimo com resultados que são medíocres na economia e nas finanças. Portugal está a ficar para trás face a todos com quem nos comparamos. Este Governo não tem capacidade reformista. A fórmula nas Finanças é completamente errada: aumentar a carga fiscal para os portugueses que mais precisam e degradar os serviços públicos prestados. E, em cima disto tudo, usou uma técnica de gestão política que não me parece séria porque é assente numa lógica de que não interessa muito o que estamos a fazer, mas interessa gerir o presente, prometer o que for necessário para conseguir o presente, sacrificando o futuro e — usando uma expressão do Presidente da República — prometendo coisas que são impossíveis.
Portanto, temos António Costa — cuja imagem Rui Rio também ajudou a desmascarar — e depois temos Rui Rio, que tenta (nalguns casos com mais eficácia que noutros) marcar diferença, mostrando-se reformista.
Esperava que Rui Rio viesse aproximar o PSD do PS pelo menos naquilo que nos dizem as sondagens?
Não há com certeza nenhum militante do PSD, a começar por Rui Rio, que não desejasse estar mais acima nas sondagens. Mas já faz parte da vida de António Costa, a um ano das eleições, ter sondagens muito melhores que na data. Nas últimas legislativas, a esta distância, António Costa supostamente ia ganhar as eleições. António Costa é esse gestor ilusório do presente. Está sempre a pensar no presente, na sondagem, no voto…
Mas Rui Rio não foi bem recebido inicialmente e até foi criticado pela aproximação ao PS.
Todos nós, no PSD, nos devemos sentir responsáveis em contribuir para que as coisas corram melhor. Se estão a correr não tão bem quanto desejávamos — e o próprio Rui Rio já disse que é preciso fazer mais e ir mais longe –, a responsabilidade é de todos.
Pedro Passos Coelho, como líder do PSD já na oposição, fez propostas públicas e, nalguns casos com votações no Parlamento, para haver reformas em acordo com o PS na área da segurança social, da descentralização, da preparação dos fundos comunitários. Pelo menos, nestas quatro áreas. Rui Rio fez uma escolha de sublinhar e deixar claro aos portugueses para que não houvesse dúvidas que o PSD não é um partido do contra — nunca foi — e que, para reformas estruturais pontuais que se pretendem duradouras, estava disponível para ajudar o país.
O que se gerou à época, e penso que essa perceção já está desfeita, é que algumas pessoas tentaram tirar daí a ideia de que havia uma subalternização ou colagem ao PS. Penso que hoje é mais claro que o que Rui Rio queria dizer é que quer fazer reformas — e há reformas estruturais que é do interesse nacional que sejam feitas com a disponibilidade de todos — e outra coisa é a necessidade de diferenciação. Não tenho dúvida de que não há cá conversa de bloco central. Esse não é o caminho para o país.
"Não há com certeza nenhum militante do PSD, a começar por Rui Rio, que não desejasse estar mais acima nas sondagens.”
Rui Rio atuou bem no caso de José Silvano, depois de ter falado num “banho de ética”?
Desconheço as conversas que eles tiveram. Penso que a vida e o desempenho de Rui Rio como personalidade pública e eleito representante dos portugueses a nível nacional e local durante várias décadas mostram que deve haver exigência de ética e de conduta elevada dos responsáveis políticos. Penso que não há nenhuma situação na vida dele que coloque em causa que ele é uma pessoa séria.
Estamos em ano de eleições. Vê o PSD em posição de conquistar mais votos do que o PS quando as sondagens mostram uma diferença muito grande?
Esse tem de ser o objetivo. Rui Rio falou disso há algumas semanas e disse que se as eleições fossem hoje, o resultado seria um, mas as eleições não são hoje. Já em 2015 aconteceu isto: no início do ano das eleições legislativas, toda a gente pensava que o resultado ia ser um e que António Costa iria ganhar e depois a careca de António Costa foi-se destapando. Na altura como oposição e agora como primeiro-ministro. Tudo bem que exposição de António Costa era diferente porque não era primeiro-ministro e também os resultados não eram tão evidentes. Mas creio que não só o PSD pode ter mais votos que o PS, como o país precisa de uma alternativa a esta forma de governar.
Falou dos resultados económicos fracos, mas em 2019 o Governo vai tentar ter um défice de 0%, que é algo histórico…
Pior seria se não houvesse e se insistissem naquilo que já se mostrou ser um desastre. O facto de Mário Centeno ter contrariado, não só o BE, o PCP e até o PS — e a ele próprio já agora, porque o que previa no cenário macroeconómico era muito superior — é positivo, evidentemente. Agora, continuamos com um das dívidas públicas mais elevadas do mundo. Se formos para outras dimensões importantes, a produtividade caiu nos três primeiros anos do Governo, o excedente externo está a deteriorar-se e a desaparecer, o que foi uma situação dramática para Portugal durante décadas. A poupança está em níveis miseráveis, os piores de sempre.
Um eventual Governo PSD liderado por Rui Rio iria promover uma diminuição dos impostos e um aumento do investimento público?
Rui Rio disse que sim, falou numa redução gradual mas não há dúvida que esse foi um caminho que o PSD de Passos Coelho já propunha. O que é que nós temos PSD versus PS? O PS decidiu aumentar uma rubrica do Orçamento que é a despesa corrente estrutural, o chamado Estado Salarial, os pagamentos que o Estado faz. Mas não para ter mais horas de trabalho. A máquina do Estado está a produzir muito menos horas de trabalho por causa da redução do número de horas de trabalho na Função Pública. Para sustentar este aumento da despesa estrutural o Governo podia ter estourado novamente com o défice. Ainda bem que isso não aconteceu. Mas o que é que foi fazer? Foi aumentar a carga fiscal e reduzir o investimento público e um conjunto de despesas de funcionamento dos serviços públicos.
A alternativa do PSD é sobre como que estas variáveis se casavam: a despesa corrente estrutural era contida, a carga fiscal não só não era agravada como era gradualmente reduzida e e essa redução seria focada nos impostos sobre o rendimento. Dentro da despesa pública aquela que merecia uma prioridade de reforço urgente era a despesa na reposição do stock de capital. Porquê? Porque o stock de capital são os instrumentos com que o Estado salarial serve e funciona de Estado servidor. Nós até temos menos horas de trabalho, menos tempo de pessoas a trabalhar e instrumentos caducos.
Outro dos erros cruciais deste Governo é que está a aproveitar receitas conjunturais para pagar despesas estruturais. E uma das coisas que propusemos no Orçamento como proposta de alteração é que há duas receitas extraordinárias, circunstanciais, a saber, a poupança de juros da dívida pública e os dividendos da Caixa Geral de Depósitos e do Banco de Portugal, alocadas integralmente à redução de dívida pública. Com isso não financiavam a despesa corrente e abatiam a dívida pública e com isso tínhamos poupanças de longo prazo. Mas este não foi o caminho que o Governo quis seguir. Há diferenças muito significativas na forma como se governa o país.
Voltando às eleições, teme o crescimento de movimentos populistas em Portugal?
Há em Portugal características diferentes socioculturais que tornam essas situações historicamente menos típicas. Que não exista um político ou um aspirante a representante dos portugueses que ache que isso não é possível, esse risco existe e está em grande medida nas nossas mãos procurar combater isso. O Presidente da Republica focou-se muito no exemplo que os políticos devem dar. A estrutura ética e de reputação é importantíssima. Focou-se também em não se fazerem promessas irrealistas. E depois, de forma indireta, e o Presidente da República não ligou uma coisa à outra, mas é a essência e a dificuldade central para as democracias ocidentais: é dar a todos uma realidade de prosperidade. Muito do que tem acontecido nos últimos anos foi, por um lado, haver vários grupos nas várias sociedades que ficaram para trás, que foram esquecidos e prejudicados. O que temos é uma estagnação no rendimento, há uma formação de desigualdade e depois há momentos em que se sente que há alguns privilegiados que têm acesso ao sistema e que tiveram benefícios especiais.
"Temos um primeiro-ministro que é incompetente na tarefa de proteger os portugueses perante as dificuldades. Há falhas do Estado sucessivas e gritantes. António Costa um primeiro-ministro sem ambição nenhuma, que anda contentíssimo com resultados que são medíocres na economia e nas finanças. ”
Vê a geringonça com saúde para um eventual novo acordo nas próximas legislativas?
Acho que eles estão cada vez mais iguais. A posição natural deste PS de António Costa é bem à esquerda. Não é uma posição que lhe é estranha. Não sei bem qual é a configuração, não faço futurologia, até porque vai depender muito das consequências dos resultados das eleições, mas espero que isso não aconteça. Espero que percam as eleições.
Mário Centeno mereceu a distinção de melhor ministro das Finanças da Europa?
Se mereceu ou não, isso implica um conhecimento comparativo de todos os ministros das Finanças europeus que eu não tenho. Mas não vou fugir à pergunta sobre o que acho do seu desempenho. Mário Centeno tem o mérito de ter conseguido negar a tentação, o impulso e diria a essência do PCP, do Bloco e do próprio PS para um agravamento das contas, para o mais tempo e mais dinheiro. Mais consolidação orçamental é melhor tendo em conta a situação em que Portugal está. É melhor do que pior.
Agora, há duas coisas que me preocupam: os resultados são poucochinhos e a estratégia foi errada. A pensar na espuma dos dias, as pessoas podem estar satisfeitas. Mas para quem se preocupa com o nosso país num horizonte longo, acho que os resultados e o caminho são dececionantes.
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Leitão Amaro: “Centeno teve mérito de negar a tentação do PCP, BE e PS de agravar as contas, mas resultados são medíocres”
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