Nuno Garoupa receia que se esteja a querer fazer uma nacionalização encapotada. O risco é criar-se um problema também na Santa Casa, que não tem vocação de banqueiro.
No decorrer na conversa sobre a banca, chegou o tema da entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do Montepio Geral. Nuno Garoupa nesta sua entrevista ao ECO, diz que se esta solução for para a frente pelo menos sabe-se quem foram os responsáveis por ela.
Recentemente assistimos a informações, ainda não confirmadas, ou pelo menos o processo no seu todo ainda não é conhecido, da possibilidade da Santa Casa da Misericórdia entrar no capital do Montepio. O que é que pensa disso?
Acho um disparate. Porque a Santa Casa da Misericórdia não tem vocação de banqueiro. A sua atividade é bem defendida no espaço económico português, não devia ter nada a ver com atividades de natureza bancária. Espero que isto não seja uma solução apressada para uma nacionalização. Isto é, como não podemos envolver a Caixa Geral de Depósitos ou ter o Estado diretamente a nacionalizar o Montepio, usamos uma espécie de veículo, que já existe, e que tem recursos para salvar o Montepio. Se isto é a lógica de curto prazo, é uma bola de neve. Estamos só a empurrar o problema…
"Pela génese da Santa Casa da Misericórdia, pelo papel que tem na sociedade portuguesa, não tem vocação para fazer de banqueiro. ”
Quais são os riscos?
O risco é não resolver os problemas de capitalização do Montepio. E caso estes problemas acabem por ser maiores do que aqueles que nós sabemos publicamente, então passa a haver um problema no Montepio e na Santa Casa da Misericórdia, o que será evidentemente mais complicado. Mais uma vez lamentamos que o processo não tenha a transparência que devia ter. Mas pela génese da Santa Casa da Misericórdia, pelo papel que tem na sociedade portuguesa, não tem vocação para fazer de banqueiro. Opções alternativas que foram conversadas e parece que recusadas, como as Caixas Agrícolas: percebo que não possa ser do interesse das Caixas Agrícolas. Mas do ponto de vista processual já veria uma luz ao fundo do túnel, porque são instituições com vocação nesta área.
E é mais um caso em que não descobrimos responsáveis?
Desta vez e graças a vários jornalistas económicos e alguns dos artigos publicados no ECO, ficamos a saber quem são os responsáveis se a Santa Casa entrar no capital do Montepio: o Governador do Banco de Portugal, o Ministro das Finanças e evidentemente quem é responsável pela Santa Casa da Misericórdia. Espero que daqui a uns anos, se houver problemas, se lembrem quem eram estas três pessoas e peçam responsabilidades. Deste ponto de vista o jornalismo também pode ganhar alguma coisa da experiência dos últimos dez anos. Não vale a pena perder muito tempo a discutir futurologia porque os adeptos desta solução vão achar que esta é uma boa solução, por razões que até podem estar suficientemente documentadas. Terão os números e os modelos que apoiam esta solução, mas acho que o papel do jornalismo vai simplesmente deixar claro quem são as pessoas que tomaram a decisão e quem são as pessoas que entenderam que isto era uma boa solução.
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Santa Casa no Montepio? “É um disparate”
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