Tecnológica Inetum conta fechar negócio até ao fim do ano e recrutar mais 200 pessoas. Objetivo é ter valências em Salesforce e Microsoft e atingir 2.200 colaboradores, diz o CEO, Pedro Gomes Santos.
A tecnológica Inetum, que emprega cerca de 2.000 pessoas em Portugal, vai voltar às aquisições. A empresa especializada tecnologias SAP, Microsoft ou Salesforce tem um alvo “em análise avançada” e conta fechar o negócio no curto prazo, disse, em entrevista ao ECO, o CEO, Pedro Gomes Santos.
O gestor, que veio da América Latina em outubro para liderar a subsidiária portuguesa do grupo Inetum, revela que tem 200 vagas de trabalho para os centros de Lisboa, Porto, Covilhã e Bragança, mas admite que tem reduzido o tamanho das equipas alocadas a cada projeto devido à Inteligência Artificial (IA).
Fez em julho três anos desde que a sociedade de private equity Bain Capital adquiriu o grupo Inetum. O que vos trouxe este investidor?
Como qualquer fundo de investimento, procura a valorização da marca, tem o seu prazo e depois vende ou faz um IPO. Não tenho detalhes sobre o objetivo exato da Bain. O que sei, dado o histórico, é que procura sempre deixar o negócio saudável e um exit que beneficie o futuro comprador.
Na primeira fase, quando a Bain chegou aqui, reestruturou e criou o perímetro da oferta. O grupo vinha de 16-17 anos com mais de 70 aquisições. Havia uma simultaneidade de ofertas, inclusive coisas que já não interessavam vender. Então, definiu três áreas: Soluções (SAP, Microsoft, ServiceNow e dados), Tecnologias (gestão de infraestruturas, cibersegurança, contratos de outsourcing) e Consultoria. Foi nessa fase que fizemos o carve-out [venda] da componente de software.
Numa segunda instância, alinhou as ofertas e criou as bases para que crescessem. Estamos na terceira fase. O que vai acontecer agora? Aceleração do negócio com aquisições. Eventualmente, investir mais a fundo em Tecnologias. Para o próximo ano espero a aceleração em Soluções, voltar a focar em Tecnologias e a Consultoria continuará a ser área de suporte.
Em Portugal estão a analisar aquisições?
É uma das vias que estamos a analisar, comprar uma ou duas empresas em Portugal, no caso concreto com [especialização em software] Salesforce e Microsoft para acelerarmos o crescimento. Temos algumas empresas identificadas. Por vezes, sai mais barato do que criar o talento desde raiz, principalmente quando há negócio que já está ganho.
Há alguma empresa na frente?
Não lhe posso adiantar muito, mas há uma empresa que está em análise avançada e que é possível que, no curto prazo, se possa concretizar. Até ao final do ano, mas ao nível de grupo, de onde partem as decisões, não temos expectativa de fechar nada antes do último trimestre.
No ano passado, tinham quatro empresas no radar. Esses negócios caíram ou não foram divulgados?
Um ainda está sinalizado e os outros caíram por uma questão de análise financeira dos negócios em si. Eram dentro destas áreas: dados, Salesforce, Microsoft e também SAP.
Pensámos diversificar um bocadinho a nossa oferta de SAP, porque não temos a marca setor público. É um setor diferente de atender, porque carece de referências próprias e experiência em contabilidade pública. Então pensámos fazer uma aquisição direcionada nesse sentido. Há a possibilidade de uma aquisição ibérica, em Espanha, que nos traga outro tipo de componentes de infraestruturas e cibersegurança.

E têm planos de contratação para este ano?
Este ano já contratámos aproximadamente 400 pessoas. O plano é recrutar 200 pessoas. Se for possível mais. Se eu cobrisse as 200 pessoas, tinha 600 contratadas [em 2025]. O que é que pode fazer variar esta dinâmica? O negócio internacional. Por exemplo, ganhámos agora um em França, cujo cliente é confidencial, que passa por colocar o talento todo em Portugal. Estamos a falar de 80-90 pessoas para tecnologia Salesforce.
Também temos uma grande retenção de talento. No ano passado, a rotação voluntária foi abaixo dos 15%, o que não é muito normal no setor.
Tipicamente, o nosso setor cresce 3% acima do crescimento da economia, sendo que estamos a passar uma situação estranha por tudo o que está a acontecer à volta da IA. Apesar de ser uma oportunidade para outros setores, pode afetar a dinâmica laboral da tecnologia e dos postos de trabalho num futuro não a muito longo prazo.
Já substituíram pessoas por IA?
Não substituímos pessoas. Iniciámos projetos com outra dinâmica. Quando estimamos o esforço de um projeto novo, já incluímos as ferramentas de IA e os automatismos. Isso faz com que uma equipa que antes tinha 30 consultores dilui-se.
Em áreas de backoffice (compras, finanças…) ainda não substituímos o que seria expectável substituir.
Segundo a Accenture, as empresas estão a voltar ao nearshoring e onshoring pela necessidade de soberania digital. Denotam o mesmo protecionismo?
Sim. O caso do BNP Paribas é paradigmático, porque tem um centro na Índia e um nas Filipinas e está a adotar essa estratégia, a tentar mover a maioria das coisas para Portugal pela soberania digital e proteção de dados, que querem que fique na Zona Euro. É um benefício para Portugal.
Na Inetum também temos parte do nosso serviço para clientes baseado no Brasil, onde estão cerca de 200 pessoas a fazer offshoring e há muitos clientes reticentes. Alguns deles põem-nos essa barreira, porque não querem que a informação saia da Europa e obrigam-nos a que os recursos estejam em Portugal. Qual é o risco que vejo? Limitação de recursos.
Se começarmos a criar estas barreiras à extensão da capacidade fora da Europa, sendo Portugal um país muito atrativo em custo e talento, podemos colapsar no talento disponível versus procura de talento. A que é que pode levar? Incrementos de salários das pessoas, o que nos tira a competitividade do ponto de vista de custo.
Ou seja, um desafio para a tesouraria da empresa.
Obviamente que é bom para as pessoas e para a sua carreira, mas é um desafio principalmente para a variável determinante para Portugal ser um hub tecnológico para a Europa: competitividade de preço versus talento disponível.
As línguas que falamos são muito boas para o atendimento na Europa. Temos uma barreira linguística quase nula. Aqui o risco é incrementar de tal maneira que podemos colapsar e começar quase uma guerra de talento.
Como aconteceu na pandemia…
Isso verifica-se no nosso caso. A Inetum tem quatro centros de serviços em Portugal: Lisboa, Porto, Covilhã e Bragança. Antes da pandemia, Covilhã e Bragança tinham um preço significativamente mais baixo e o Porto era mais baixo do que Lisboa. Hoje já não é assim.
As pessoas estarem em Bragança ou na Covilhã acaba por ser um bocadinho mais baixo, mas está mais equilibrado. Continuamos a apostar nessas regiões, não tanto pelo preço, mas pela relação que temos com as universidades e diversificamos a fonte do talento.

Esteve à frente de mercados na América Latina e em outubro chegou à liderança da Inetum Portugal. Que diferenças sente entre os mercados?
A minha carreira profissional começou na Alemanha, tive responsabilidades ao nível da Europa em Inglaterra e também uma experiência curta em África, mas os últimos 12 anos foram na América Latina, principalmente no Peru e na Colômbia, onde residi. Vou falar dessa experiência.
O que vejo são dinâmicas de mercado muito parecidas. Se calhar uma aceleração da transformação digital maior na América Latina, porque está mais atrás e quer recuperar terreno de um défice.
Na Europa, com países mais desenvolvidos, temos esse processo mais adiantado. Lá as empresas têm um bocadinho mais de ousadia do que no mercado português.
Arriscam mais na tecnologia?
Arriscam mais, se tiver em conta as variáveis que tomamos em consideração nos processos de decisão, nomeadamente o talento disponível, a maturidade da tecnologia que estamos a escolher (neste caso, os nossos clientes)… De resto, os desafios são os mesmos: há falta de talento – até se tem vindo a agudizar – e as circunstâncias são parecidas motivadas pela compra dos serviços que fazem desde fora.
Portugal é um centro muito apetecível (quiçá o mais apetecível da Europa) para prestar serviços para fora, enquanto nearshore, e o mesmo acontece na Colômbia e no Peru, dois centros preferenciais para os Estados Unidos de prestação de serviços de tecnologia.
Na Inetum essa é uma realidade. Em Portugal temos cerca de 500 pessoas que fazem serviços para o resto da Europa, principalmente França, Suíça e Bélgica. É um desafio manter essas pessoas na empresa, porque a concorrência no mercado local acelerou com os centros de serviço que a concorrência e os nossos próprios clientes têm implementado em Portugal.
Por exemplo?
O BNP Paribas, um banco francês que veio, timidamente, montar um centro de serviço em Portugal e hoje tem mais de 11 mil pessoas a trabalhar para a França. E vai continuar a crescer, porque é um país seguro, onde há talento (e barato) e está dentro da Zona Euro. Temos mais de 200 pessoas no BNP. A Natixis, que está no Porto, também.
Também vão trabalhar para o novo escritório da Natixis em Lisboa? Já foram contactados para este projeto do grupo BPCE?
Ainda não. Nós temos uma proximidade à Natixis que é feita em França, na mesma abordagem com o BNP. A relação começa sempre em França e depois beneficiamos dela para começarmos a trabalhar localmente. Ainda não tivemos essa proximidade aqui em Portugal, mas esperamos ter nos próximos meses. Os serviços são os mesmos que prestamos para o grupo Crédit Agricole, através da KLx, que está no Parque das Nações.
Em Portugal, o nosso cliente-bandeira é a EDP, onde temos mais de 100 pessoas a trabalhar nas aplicações de backoffice, que assenta em tecnologia SAP. Estamos a tentar alargar esta relação, nos próximos anos, através de outras áreas, como a componente ISU da SAP e entrar em Salesforce (CRM) e dados. Creio que vamos conseguir fazer essa extensão.
A nível internacional, o grupo faturou 2,4 mil milhões de euros em 2024. E a Inetum Portugal?
Foram 122 milhões de euros com uma margem de 7%. Este ano estabelecemos uma meta de 12% de crescimento no volume de negócios e margem de 10%. Aparentemente, os números indicam-nos que iremos conseguir.
Talvez tenha ficado por atingir o objetivo da internacionalização, porque a dinâmica ainda não está a funcionar como queríamos e o mercado português não tem a dimensão que deveria para uma empresa com a nossa dimensão. Estamos a trabalhar com os países do grupo Inetum (França, Suíça e Bélgica) para nos ajudarem.
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