A diretora jurídica da Novabase, Rita Branquinho Lobo, considera que num cenário de incerteza na geopolítica e na era das novas tecnologias, a liderança “empática” torna-se essencial.
Rita Branquinho Lobo, diretora jurídica da Novabase, fez um balanço positivo dos quase 16 anos ao serviço da empresa e afirma que o desafio de deixar os escritórios de advogados teve os “seus frutos”.
Sobre o papel de um in-house, assume que lhes é “constantemente exigida uma capacidade para identificar e avaliar problemas e aplicar rapidamente soluções eficazes”. Num cenário de incerteza na geopolítica e na era das novas tecnologias, defende que a liderança “empática” torna-se essencial para apoiar as pessoas a enfrentarem os desafios.
Licenciou-se em direito em 1996. Onde nasceu o gosto pela área do Direito?
O gosto pelo Direito não foi imediato. Diria que o curso foi uma escolha óbvia para quem, no início dos anos 90 não era grande craque a matemática, pelo que Direito era o curso generalista que nos poderia abrir portas em várias áreas. Quando acabei o curso, motivada por várias séries americanas típicas da época, sabendo que a nossa realidade era bem diferente, o meu pai era juiz e tinha muitos amigos na magistratura, cheguei a pensar em concorrer à PJ, mas nesse ano não abriram concurso e acabei por ingressar no passo seguinte, o estágio para advocacia. O gosto pelo Direito nasceu na vida prática e, interligando com o meu gosto pelas áreas técnicas, surgiu a oportunidade numa empresa de tecnologias – a Novabase – onde consigo misturas as duas áreas, o direito e os sistemas de informação.
Durante vários anos exerceu em sociedades de advogados. Tem saudades das “dinâmicas” dos escritórios?
Os anos que exerci atividade nos escritórios de advogado foram anos importantes de crescimento e aprendizagem. Aprendi a lidar com vários tipos de clientes, várias realidades e indústrias diferentes. Quando optei pelo Direito Laboral, a minha especialidade inicial e que me trouxe à Novabase, sempre olhei para os problemas dos clientes com espírito prático e nessa medida não sei se voltaria para um escritório num sentido tradicional. Entretanto, e como in-house, tenho tido contacto com vários escritórios e advogados individuais, e a forma de trabalho tem mudado quando se encara os clientes e os conselhos são mais pragmáticos e business oriented, uma realidade que há alguns anos não era tão comum.
Quando optei para ingressar numa carreira in-house aceitando o convite da Novabase cheguei a ouvir que estava a optar por uma vida mais calma. No entanto, a dinâmica que encontrei rapidamente afastou esse preconceito. Nos últimos 16 anos não posso dizer que tenha faltado “dinâmica” nem tão pouco que a vida tenha sido calma!
Regressaria a um escritório de advogados?
Se a vida me conduzisse a isso sim, claro, mas diria que não é algo que esteja a ponderar por ora.
Em 2008 integrou a Novabase enquanto advogada sénior. Como foi passar a exercer num ambiente diferente de uma sociedade de advogados?
Na altura que ingressei a Novabase não pensei muito se seria diferente, pensei no desafio de integrar uma equipa pequena, multidisciplinar, quase um escritório dentro da empresa. Tudo se fazia, e faz, na direção jurídica da Novabase, salvo matérias muito específicas. Voltei a relembrar as raízes que acabam por algumas vezes ser relegadas para segundo plano quando estamos em grandes escritórios e temos áreas especializadas. A grande diferença passa pelo facto de não haver “rede” não há o sócio ou o advogado mais velho a quem perguntar se o que estamos a pensar está bem ou mal ou se há outras alternativas. Temos de avaliar, ponderar e decidir com o que temos em mão e nessa medida assumir a responsabilidade.
É nos constantemente exigida uma capacidade para identificar e avaliar problemas e aplicar rapidamente soluções eficazes.
A adaptação foi fácil?
Foi muito fácil, fui muito bem recebida e acolhida. Aliás, logo no primeiro dia fui levada para um evento anual da empresa onde tentei perceber tudo o que se fazia e quem eram as pessoas! Isso sim foi o chamado mergulho de cabeça numa piscina funda! A dificuldade inicial foi perceber o universo do Grupo Novabase e como se movia e quem eram os stakeholders procurando ganhar e ser merecedora da sua confiança. Mas, como disse, fui sempre muito bem acolhida e respeitada, a adaptação foi fácil.
O que diferencia estar como in-house numa empresa face a um escritório de advogados?
Correndo o risco de me repetir, uma das principais diferenças é que não temos uma “rede de segurança”. Não podemos contar com um sócio mais experiente ou um colega mais velho para nos ajudar quando temos dúvidas sobre nossas decisões, nem para verificar se nossas ideias são efetivamente o melhor caminho a seguir. Em vez disso, somos desafiados a analisar, ponderar e decidir com base no que temos à nossa frente. É nos constantemente exigida uma capacidade para identificar e avaliar problemas e aplicar rapidamente soluções eficazes. Nesse processo, assumimos totalmente a responsabilidade e somos chamados e assumi-la em vários contextos.
Por outro lado, um advogado in-house profundamente integrado está mais bem posicionado para compreender as nuances do negócio, permitindo-lhe ser orientado para a solução em vez de se limitar a identificar problemas. Longe vão os dias em que os advogados internos permaneciam nos seus escritórios, ocupando-se apenas de assuntos jurídicos. Atualmente, o advogado colabora em todas as funções empresariais e acrescenta valor para além do mero aconselhamento jurídico.
Desde 2017 que assume o cargo de diretora jurídica da Novabase. Que balanço faz destes quase sete anos?
Não parece que passaram sete anos; foram intensos, repletos de desafios e aprendizagem no desempenho da função, procurando assegurar uma transição suave da anterior liderança e corresponder à confiança que a administração depositou em mim ao nomear-me. Assumi o cargo em 2017, depois de uma grande operação de venda de uma das nossas maiores áreas de negócio, onde houve que assegurar continuidade da equipa e do trabalho, realinhando metodologias, e depois assegurar estabilidade e durante e após a pandemia e face aos novos desafios que uma empresa de tecnologias com negócios internacionais em vários pontos do globo traz. Quase 16 anos de Novabase, dos quais sete como diretora jurídica, acredito que o desafio de deixar os escritórios de advogados e dedicar-me ao in-house teve os seus frutos, e o balanço é totalmente positivo.
As expectativas estão a ser correspondidas?
Sem dúvida!
As minhas expectativas pessoais ao aceitar esta função estão a ser plenamente correspondidas. A transição para um papel in-house trouxe desafios e aprendizagens que superaram as minhas previsões, permitindo-me um crescimento pessoal e profissional notável. Este alinhamento entre as minhas aspirações e a realidade da função que exerço há quase sete anos tem sido uma fonte de grande satisfação e motivação para continuar a evoluir e a contribuir de forma significativa para a empresa.
Longe vão os dias em que os advogados internos permaneciam nos seus escritórios, ocupando-se apenas de assuntos jurídicos. Atualmente, o advogado colabora em todas as funções empresariais e acrescenta valor para além do mero aconselhamento jurídico.
Qual é o maior desafio de liderar uma equipa?
Liderar uma equipa envolve vários desafios, como comunicar de forma eficaz, motivar e resolver conflitos, tomar decisões, gerir o desempenho, adaptar a mudanças, gerir o tempo e desenvolver habilidades. Esses desafios exigem flexibilidade, criatividade e responsabilidade. Num cenário de incerteza na geopolítica e na era das novas tecnologias, a liderança empática torna-se essencial para apoiar as pessoas a enfrentarem os desafios, dando confiança enquanto exploramos novos territórios, como a inteligência artificial e o seu impacto quer no nosso trabalho quer na organização.
Um dos maiores desafios é tomar decisões difíceis e garantir que sejam as melhores para a equipa e a organização, procurando lidar com a pressão e a responsabilidade de escolher o caminho certo. Para superar os desafios, é necessário estabelecer objetivos claros, recolher e dar feedback e apoio constantes. É também preciso estar aberto à melhoria contínua, procurando oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional para toda a equipa. No final, liderar uma equipa podendo ser uma tarefa complexa não deixa de ser muito gratificante!
Que marca pretende deixar na Novabase?
Que os advogados internos não sejam vistos apenas como “juristas” que fornecem aconselhamento jurídico, mas sim como verdadeiros parceiros de negócio, fundamentais, que têm um papel a desempenhar na definição da imagem da empresa, com um impacto positivo na atividade da empresa que ajudam a moldar as relações comerciais, simplesmente em virtude do que fazem e da sua formação como advogados. A sua maior imersão no contexto empresarial permite-lhes ser orientados para a solução e proativos na identificação de riscos e oportunidades.
A título pessoal, sempre que me questionam sobre o legado que pretendo deixar, a resposta surge-me naturalmente, refletindo a minha essência: alegre, ponderada, otimista e pragmática. Gostaria de ser recordada como a pessoa que leva um sorriso e equilíbrio por onde passava. A minha abordagem prática aos problemas sempre me permitiu enfrentar desafios de forma eficaz, enquanto o meu otimismo inabalável me impulsiona a procurar soluções positivas e construtivas. Aspiro a ser lembrada como alguém que não só contribuiu para um ambiente de trabalho mais harmonioso, mas também como alguém que inspirou os outros a cultivarem essa mesma harmonia e positividade.
Qual foi o melhor conselho que lhe deram na sua carreira?
Um dos conselhos mais valiosos que me deram foi para procurar ser e cultivar a capacidade de nos colocarmos nos sapatos dos outros. Ser empática leva-nos a perceber as motivações dos nossos interlocutores, permitindo um melhor diálogo, com pés assentes na terra. Por outro lado, a empatia permite-nos adaptar a nossa comunicação face a cada situação. Ser capaz de simplificar informações complexas para torná-las acessíveis a todos, ser um ouvinte atento e respeitoso, promove uma atmosfera de respeito, criando conexões significativas, fortalecendo as relações profissionais, e pessoais, permitindo-nos tomar decisões mais informadas e construtivas.
Recentemente foi distinguida na VII edição dos Iberian Gold Awards na categoria In-House Counsel of the Year Services & Consultancy. Como encara este tipo de reconhecimentos?
Este tipo de reconhecimento oferece aos profissionais in-house uma plataforma de visibilidade única, que de outra forma poderia permanecer oculta. Ao sermos reconhecidos assim, não só vemos o nosso mérito reconhecido aos olhos do mundo jurídico e empresarial, mas também evidencia a qualidade e o valor dos nossos esforços entre os nossos pares. Este reconhecimento acaba por se refletir positivamente na empresa como um todo, bem como na marca que representamos. Acredito firmemente que tal reconhecimento contribui significativamente para a reputação da marca – um aspeto crucial no ambiente empresarial competitivo de hoje. Além disso, o reconhecimento atua como um poderoso motivador, inspirando a equipa a unir esforços e a trabalhar com um sentido renovado de propósito em busca de uma excelência constante. É um estímulo para continuarmos a elevar os nossos padrões e a atingir novos patamares de sucesso profissional e corporativo.
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“Um in-house profundamente integrado está mais bem posicionado para compreender as nuances do negócio”
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