Vitacress prevê aumentar a faturação para 45 milhões de euros em 2024 e prepara-se para investir num terreno para expandir a área de produção. Espanha e Inglaterra são os principais mercados lá fora.
A Vitacress, o negócio agroalimentar do grupo RAR, prevê fechar 2024 com um aumento de cinco milhões na sua faturação, para os 45 milhões de euros, mostrando-se otimista para o negócio das refeições preparadas em Portugal. Com 15% das vendas no exterior, Carlos Vicente, diretor-geral da Vitacress Portugal, admite que a empresa podia vender mais lá fora e que aumentar a área de produção para crescer em Espanha e Inglaterra.
“O nosso foco é o mercado português. Exportamos o produto em excesso. A nossa prioridade quando há limitações de produtividade no campo é sempre o mercado português. Só havendo produtividade suficiente para ambos os mercados é que externalizamos os mercados“, explica Carlos Vicente, em entrevista ao ECO. Segundo o diretor-geral da Vitacress Portugal, o “crescimento para o mercado de exportação em 2023 foi inferior a 2022, mas foi uma redução em função da prioridade” da empresa, face aos problemas de produção que a empresa enfrentou nos primeiros meses do ano e que a forçou a recorrer a parceiros.
A chuva em demasia no primeiro trimestre de 2023 e a seca nos restantes meses do ano no sul do país, em especial no sudoeste alentejano e no Algarve, afetou a produção da Vitacress. Nestes casos, a empresa especializada na venda de saladas prontas a comer tem um backup. “Quando não temos capacidade de produção nas nossas quintas, recorremos a parceiras de há muitos anos e com quem partilhamos todas as boas práticas e exigências de auditoria”.
Apesar destes problemas, o negócio durante o ano passado “desenvolveu-se bastante bem”. “Fechámos o ano com 40 milhões de euros de vendas, com performances muito interessantes, especialmente na área das refeições prontas e das ervas aromáticas“, refere o responsável.
“Temos crescido uma média de 4% nos últimos quatro anos. A nossa faturação é composta pelo mercado português e de exportação”, aponta Carlos Vicente, que antecipa duplicar o crescimento da faturação – 8% – em 2024 e quer continuar a crescer nas áreas core – saladas mistas e vegetais lavados prontos a consumir, ervas aromáticas e batatas – e dedicar-se mais ao crescimento na área de Espanha e na exportação para Inglaterra.
Com 15% da faturação gerada em Inglaterra, Espanha e “pontualmente” noutros mercados, como França e Alemanha, o diretor-geral da Vitacress detalha que as perspetivas para o negócio das saladas e ervas aromáticas prontas a consumir apresenta um potencial de grande crescimento tanto em Portugal, como na Europa. Líder no segmento de marca de refeições prontas para consumir, a Vitacress apresenta taxas de crescimento acima de 30% e 40% neste segmento.
Com 340 hectares de produção, 30 dos quais dedicados à produção biológica, a Vitacress quer aumentar o espaço de cultivo para reforçar as vendas para o estrangeiro. “Estamos interessados em expandir a nossa área em Portugal e estamos ativamente a trabalhar nesse projeto“, garante o líder da Vitacress Portugal.
“O nosso fator limitante é a capacidade produtiva. Cultivar as nossas culturas exige muito know-how, muita atenção e muita consistência. Não conseguimos fazer um aumento de capacidade instantaneamente, demora certos anos para avançarmos com essa nossa capacidade. Poderíamos exportar muito mais para Inglaterra e até para países mais próximos, como França e a própria Espanha“, admite.
Segundo Carlos Vicente, a empresa está ativamente a analisar oportunidades de compra, mas há um conjunto rígido de critérios a cumprir e que limitam a aquisição. “O cultivo de folhas baby leaf é muito específico. É necessário ter uma certa tipologia de solos, ter terrenos planos. A proximidade da costa é um fator importante porque permite cultivar a céu aberto, que é outra filosofia que temos”, enumera, acrescentando que “as folhas quando são cultivadas a céu aberto são folhas mais crocantes, mais resistentes, mais saborosas”. “Isso restringe-nos praticamente à costa portuguesa”, completa.
O nosso fator limitante é a capacidade produtiva. Não conseguimos fazer um aumento de capacidade instantaneamente, demora certos anos para avançarmos com essa nossa capacidade. Poderíamos exportar muito mais para Inglaterra e até para países mais próximos, como França e a própria Espanha.
Um conjunto de requisitos que diz colocar “algumas restrições na procura e depois exige certos ensaios”, que demoram um a dois anos. O gestor nota que este é “um trabalho muito minucioso, que requer algum fôlego de investimento e que requer cautela”.
No caso concreto dos produtos biológicos, Carlos Vicente destaca que é um segmento que está a crescer muito no centro da Europa, muito mais do que em Portugal, e onde foi uma das primeiras empresas a investir”. Contudo, também aqui há que ter tempo até obter resultados.
“Temos 30 hectares atribuídos a este setor. Até uma terra se converter para biológico tem de se esperar cinco anos e depois pode ser certificada por uma entidade autónoma. Tudo isto tem um certo prazo e não podemos ativar e desativar a nossa exportação como noutros setores“, nota.
Investimento de 30 milhões em Inglaterra
Criada em 1951, em Hampshire, no Reino Unido, a Vitacress foi comprada em 2008 pelo Grupo RAR, que detém também a Colep (embalagens), passando então a ser uma empresa 100% portuguesa. Contudo, Inglaterra continua a ser uma parte relevante do negócio. “É o mercado que nós fornecemos com vendas em grandes volumes”, explica Carlos Vicente.
A empresa detém quintas próprias e duas fábricas (lavagem e embalamento para saladas e ervas aromáticas) no Reino Unido, onde gerou uma faturação de 150 milhões de euros no ano passado. O Reino Unido continua, assim, a ser um mercado prioritário para o grupo, que realizou recentemente um investimento de 30 milhões de euros na fábrica de saladas.
O investimento na fábrica de saladas [no Reino Unido] vem com uma triplicação da capacidade produtiva e uma renovação completa da maquinaria.
“Este investimento [no Reino Unido] é para dar oportunidade a novos contratos com os clientes que temos e tem perspetiva de crescimento acentuado nos próximos anos. O investimento na fábrica de saladas vem com uma triplicação da capacidade produtiva e uma renovação completa da maquinaria“, explica o responsável.
Como explica Carlos Vicente, o negócio da Vitacress está dividido em três unidades: Portugal, Reino Unido ervas aromáticas e Reino Unido saladas. Já em Espanha trabalha com a própria marca: o produto é lavado e embalado diretamente na sede da empresa e exportado para os retalhistas e grossistas no país vizinho.
Neutralidade carbónica em 2040
Num segmento fortemente afetado pelas alterações climáticas, a Vitacress tem vindo a tomar medidas para lidar com estas mudanças e realizar poupanças ao nível da gestão da água. Só nos últimos três anos, a empresa diz ter investido cerca de 700 mil euros para melhorar o consumo e a autonomia de água.
“Conseguimos reduzir em quase 40% o consumo de água por hectare, resultante de melhorias nos nossos sistemas de rega, da gestão e do armazenamento da água nas nossas quintas, gestão das próprias sementes e tipologias de folhas com menor consumo de água, reaproveitamento de águas residuais das quintas e da lavagem da nossa fábrica”, indica Carlos Vicente. Além disso, a empresa está a implementar um sistema de filtragem de água que é usada na lavagem das folhas, para reaproveitar 100% da água gasta para lavar as folhas na rega das folhas no campo.
Segundo Carlos Vicente, a empresa definiu nove pilares na área da sustentabilidade, que têm a ver com o consumo da água, a qualidade da água que sai das quintas, o desperdício alimentar, o plástico que é usado nas embalagens ou as emissões de CO2. O objetivo da Vitacress é alcançar a neutralidade carbónica até 2040, isto é, uma década antes da própria meta da União Europeia.
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Vitacress expande área de cultivo para aumentar exportação para Inglaterra, Espanha e França
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