Confiar numa máquina para fazer um trabalho em áreas delicadas como a da saúde nem sempre é fácil. Aqui é que entram a analítica e a inteligência artificial, explica Luís Graça, do SAS Portugal.
Já é de senso comum que a tecnologia veio ajudar muitas áreas e setores de negócio em todo o mundo, seja pela rapidez com que permite aceder a informação, seja pela capacidade de armazenamento de dados ou até mesmo pelas ferramentas de apoio que fornece.
Mas confiar numa máquina para fazer um trabalho, que anteriormente, era realizado por um humano, nem sempre foi fácil, principalmente em áreas mais delicadas, como a saúde. Ainda assim, a evolução tecnológica foi aumentando a confiança dos utilizadores e, hoje em dia, ciência e tecnologia andam, muitas vezes, de “mãos dadas”.
É aqui que entra o tema da tecnologia analítica e da inteligência artificial, que conseguem, muitas vezes, ajudar na tomada de decisões inteligentes na área da saúde. Recolher dados dos pacientes, observá-los, clarificá-los e perceber padrões normais ou anormais, são algumas das capacidades que a analítica tem e que podem ajudar médicos na interpretação de dados, mas também os pacientes na recuperação das doenças.
Para perceber de que forma os avanços tecnológicos podem ajudar a medicina, o ECO conversou com Luís Graça, Business Development Manager de Saúde do SAS Portugal (empresa especializada em tecnologia analítica e inteligência artificial), que começou logo por dizer que “mais do que olhar para os dados, é importante tirar conclusões relevantes desses dados”.
A missão do SAS é democratizar estes conceitos de inteligência artificial e de analítica avançada a todos os utilizadores, em vez de ser a um grupo de data science.
De forma a explicar o que é que a analítica é capaz de fazer para ajudar na área da saúde, Luís Graça compara o volume de dados a um tsunami: “Hoje em dia temos o tema do big data, que eu costumo chamar de ‘tsunami de dados’ porque, claramente, é uma torrente de dados que, muitas vezes, torna impossível aos humanos fazer uma análise completa, e, basicamente, a tecnologia permite ajudar um bocadinho a ‘mastigar’ este ‘tsunami de dados’ e torná-lo mais percetível”.
“Faz-me lembrar aqueles filmes em que temos um segurança que está a olhar para uma série de ecrãs de vídeo e, muitas vezes, o herói ou o vilão acaba por passar despercebido numa das câmaras, de tão monótono que é olhar para 15 câmaras/ecrãs. Ou seja, imaginemos as imagens como sendo os dados a vir, às tantas não se apercebe que há ali uma anormalidade, que é alguém a passar numa das câmaras. E a tecnologia pode fazer exatamente esse papel, que é olhar para os dados, descobrir comportamentos menos normais e chamar a atenção do humano”, exemplificou o responsável do SAS.
No entanto, apesar de defender o uso da tecnologia na saúde, Luís Graça ressalva que seria apenas para complementar o trabalho do médico e não para o substituir: “Nós vemos o uso desta tecnologia em regime de complementaridade, não em regime de substituição e o ponto aqui (no exemplo dado anteriormente) é tornar mais efetivo o trabalho deste segurança, que está a olhar para 15 câmaras, e fazê-lo aperceber-se daquilo que é relevante”.
Tecnologia SAS apresentada em conferência sobre saúde
Recentemente, o responsável do SAS marcou presença na IDC, Digital Innovation Connection, uma conferência online realizada de 23 a 27 de novembro, onde apresentou algumas ideias e alguns casos práticos de como a analítica tem ajudado na área da saúde.
Temas como a saúde da população, os cuidados de saúde, em geral, e ainda o lado financeiro do setor foram abordados por Luís Graça, a fim de mostrar de que forma a tecnologia podia ajudar cada um deles.
No caso da saúde populacional, o responsável do SAS explicou que já têm alguns casos de estudo neste âmbito, nomeadamente, sobre o tema da adesão à terapêutica e do controlo de prescrição de medicamentos ansiolíticos na população.
Ainda dentro deste tema, Luís Graça deu um exemplo de um caso de estudo do Amsterdam University Medical Center, focado em doentes oncológicos. Aqui o SAS aplicou o método de correlação de múltiplos dados, de várias fontes, desde a parte de imagiologia, mas também outro tipo de informação — análises clínicas, ADN, entre outros. “Isto tudo conjugado com todo o histórico clínico do utente, nomeadamente por via de análises técnicas de text analytics (análise de texto), que permitem ir buscar alguns dados relevantes que, eventualmente, não sejam logo evidentes para o clínico”, explicou.
“A dúvida (no caso de estudo) estava na aplicação de tratamentos com base em fármacos ou cirurgia, ou ainda a combinação das duas, e o tema era a recolha de evidências para perceber qual dos tratamentos era melhor. Mas, mais do que isso, era olhar para cada utente e perceber qual hipótese é que se aplicava melhor a cada um, tendo em conta as suas características, por exemplo, hipertensão, idade, e outros”, acrescentou Luís Graça.
O responsável do SAS ressalvou também a importância da inteligência artificial dentro deste caso. “Obviamente que temos algoritmos de inteligência artificial, neste caso com neural networks, que fazem toda a análise dos nódulos do tumor, mas depois é importante explicar isto em linguagem que seja mais percetível para um clínico, de forma a perceber o porquê daquela identificação, e basicamente é um esforço que o SAS tem feito, nomeadamente, na explicação dos algoritmos machine line”.
Já no caso dos cuidados de saúde, Luís Graça mencionou um estudo de caso realizado na Alemanha, no Robert Koch Institute, pertinente para a fase em que o mundo se encontra, uma vez que trata da otimização de recursos clínicos, neste caso, ventiladores e camas para cuidados intensivos. “O que se fez foi montar uma plataforma analítica que pudesse recolher informação de vários sistemas, muitas vezes sistemas e dados/informação não estruturada, mas que pudesse também, ao mesmo tempo, fazer alguma análise preditiva, em termos de progressão da pandemia, quer por tipologia de pacientes, que fossem críticos ou assintomáticos, e com os respetivos impactos em termos da infraestrutura de suporte”, esclareceu.
Por fim, em relação à forma como a tecnologia pode ajudar no lado financeiro da saúde, Luís Graça voltou a dar um exemplo relacionado com a pandemia: “Este caso de estudo tem a ver com a monitoria da pandemia e com os casos dos utentes contaminados. Isto é feito por pessoal clínico, que acompanha os utentes, basicamente através de questionários, telefonemas, perguntas, processos estes que, muitas vezes, são manuais e lentos, onde a tecnologia e, nomeadamente, a analítica pode ajudar”.
Assim, a solução apresentada pelo SAS, através da analítica, tem uma vertente colaborativa. De acordo com Luís Graça, esta resposta “ajuda neste processo de investigação, quer seja na recolha dos dados, mas também ajuda na deteção de padrões anormais como, por exemplo, dois utentes que estiveram no mesmo local, mas cujo reporte foi feito a dois delegados de saúde pública diferentes, sendo difícil conciliar a informação entre eles”.
O responsável do SAS considera que a solução apresentada tem resultados em termos financeiros, isto porque permite fazer uma análise com maior velocidade e com menor erro. Consegue, por isso, “identificar episódios que, eventualmente, estariam a ser classificados com menor criticidade e também com menor custo”, concluiu.
Benefícios da tecnologia trazem esperança para o futuro
Na conferência da IDC, o responsável do SAS alertou para o facto de que “se espera que cerca de 2 biliões de pessoas em 2050 tenham mais de 50 anos, dado que 30% dos adultos têm mais do que uma doença crónica e também pelo impacto financeiro nos sistemas de saúde”.
No entanto, em conversa com o ECO, e depois de ser questionado sobre a possibilidade da tecnologia analítica reverter a situação, Luís Graça não teve dúvidas na resposta: “Sim! É importante que os médicos consigam recolher evidências do seu trabalho. E, portanto, aí o tema da utilização da analítica é essencial para que um hospital, por exemplo, no final do ano, chegue à conclusão que um determinado tratamento se calhar é pouco eficiente em termos de resultados”.
Há, por isso, a certeza por parte do responsável do SAS de que a utilização da tecnologia analítica e da inteligência artificial trará inúmeros benefícios à área da saúde e reconhece, novamente, que isso só é possível com a preocupação de tornar a interpretação dos dados mais fácil para o pessoal clínico.
"A nossa evolução tecnológica tem sido mais nas vertentes de cloud e também no tema da usabilidade, isto porque, provavelmente, há 15 anos atrás, a utilização das ferramentas SAS estavam muito adiantadas aos data scientists e, hoje em dia, a ideia é, também, aproximar os utilizadores para que, mesmo não sendo especialistas em data science, consigam tirar algumas evidências e compreender alguns comportamentos de dados e afins.”
No entanto, mesmo com todos os aspetos positivos associados à tecnologia, a preocupação com a privacidade dos dados ainda cria alguma desconfiança. Tendo consciência dessa realidade e a pensar no que é melhor para os utilizadores, o SAS criou ferramentas para ajudar no controlo de acesso aos dados. “Há uma dicotomia que acontece muito nestas áreas da saúde (…). Temos de fazer um jogo inteligente entre mais dados e temas de privacidade e, obviamente, regular e governar aquilo de forma a que os dados não sejam utilizados para propósitos que não os adequados”.
Desta forma, ao associar os benefícios da tecnologia à capacidade de proteção de dados, Luís Graça mostrou-se otimista quanto ao que está por vir: “Eu não tenho dúvidas de que temos um futuro otimista. Também não tenho dúvidas de que há aqui alguns desafios, mas eu quero acreditar que o que conseguimos retirar com a analítica é de tal forma tão diferenciador àquilo que temos hoje em dia que todos os intervenientes do ecossistema vão, obviamente, optar pela utilização mais intensiva da analítica”.
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Analítica e inteligência artificial são o futuro da saúde?
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