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“Cisnes negros” lá fora e fim da “instabilidade política” cá dentro. Como 25 CEO antecipam 2025

Os gestores portugueses antecipam mais um ano de elevada turbulência, mas consideram que o país tem trunfos para fazer face ao atual contexto. Estabilidade política deve ser preservada, apelam.

Os gestores de grandes empresas portuguesas, principais sociedades de advogados e consultoras antecipam mais um ano de elevada volatilidade, marcado pela chegada ao poder de Donald Trump e mudanças políticas na Europa, mas também com muitas oportunidades para o país e as empresas.

Incerteza é uma das palavras mais usadas pelos CEO que partilharam com a redação do ECO a sua visão sobre o próximo ano. “O ano de 2025 será muito marcado pela imprevisibilidade, pois há vários cisnes negros que se podem materializar”, vaticina Miguel Maya, CEO do BCP.

Leia aqui na íntegra a opinião de 25 gestores sobre o que esperar em 2025

Uma das preocupações apontadas é o impacto que poderá ter um novo mandato de Donald Trump, que toma posse como Presidente dos EUA no dia 20 de janeiro.

“Se por um lado existe a esperança de que possa existir um recuo na escalada dos conflitos militares, por outro, na esfera económica, um dos principais pontos de interrogação será o impacto das políticas protecionistas, que deverão ganhar maior preponderância com a nova Administração dos EUA”, aponta António Lagartixo, CEO e managing partner da Deloitte.

“Nos EUA, por ser o segundo (e último) mandato de Trump, com maioria em ambas as câmaras, e por estar a escolher uma equipa com mais “outsiders”, podemos esperar uma intervenção mais contundente (em alguns casos despropositada) e imediata em temas estruturais como o comércio internacional, a defesa e a geopolítica internacional (em particular no Médio Oriente, no Sudeste Asiático e certamente na Ucrânia), antecipa Pedro Carvalho, CEO da Generali Tranquilidade.

A situação económica e política europeia continuará a ser desafiante, com o arrefecimento das principais economias e a instabilidade política na Alemanha e em França. Mas também poderá trazer oportunidades.

“Na Europa, será importante analisar o resultado das eleições na Alemanha em fevereiro. Caso seja eleito um governo estável e maioritário, poderemos assistir a uma alteração da regra do limite de dívida, com consequências positivas para a economia regional e também para Portugal“, salienta João Pedro Oliveira e Costa, CEO do Banco BPI.

Christine Lagarde
Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ, espera “um regresso mais musculado das fusões & aquisições” e um aumento do investimento com a descida das taxas de juro pelo BCE.

Depois de descer a taxa de juro dos depósitos para 3%, é esperado que o BCE continue o ciclo de alívio da política monetária, o que ajudará a impulsionar os negócios. “O grande fator de mudança é mesmo o tema da inversão do ciclo de juros, que trará mais dinamismo ao setor empresarial, seja o regresso mais musculado das fusões & aquisições que foram bastante castigadas nos últimos dois anos, seja na concretização de planos de investimento”, destaca Bruno Ferreira, managing partner da PLMJ.

A descida das taxas irá pressionar as margens da banca, algo que não preocupa os responsáveis do setor. “O setor bancário parte de uma situação económica e financeira bastante saudável, apoiada em bons níveis de rentabilidade, solidez de balanço e de capital, bem como em ativos de elevada qualidade”, considera o CEO do Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida.

Portugal pode capitalizar boa imagem internacional

Portugal entra no novo ano com perspetivas positivas para a economia. “A instabilidade política parece, por ora, ultrapassada, e a previsão de crescimento económico na ordem dos 2% poderá vir acompanhada de uma ligeira, mas generalizada, subida dos preços de bens essenciais”, antecipa João Bento, CEO dos CTT.

A necessidade de estabilidade política é salientada por vários gestores. “A conjugação da nova administração norte-americana, com a crise em França e Alemanha, as guerras na Ucrânia e Médio Oriente e a crescente tensão entre EUA e China irão seguramente condicionar a economia mundial e consequentemente a economia nacional, pelo que a estabilidade política em Portugal em 2025 é crucial“, afirma Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil.

Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil considera que “a estabilidade política em Portugal em 2025 é crucial”. ANTÓNIO COTRIM/LUSAANTÓNIO COTRIM/LUSA

Um contexto que o país enfrenta com alguns trunfos. “Portugal está a viver um período positivo, com uma excelente imagem internacional e pode capitalizar se todos trabalharmos nesse sentido. Pessoas, empresários e Governo”, assinala o CEO da Bial, António Portela.

“Em Portugal, antecipa-se um crescimento acima da média europeia e tudo indica que o Governo se manterá em funções durante o próximo ano. As perspetivas inerentes a essa – porventura curta – estabilidade política e a execução do orçamento que conhecemos indiciam que 2025 poderá ser um ano em que Portugal mantém capacidade de atração de investimento internacional”, defende Paula Gomes Freire, managing partner da Vieira de Almeida.

Portugal conhece fatores que contribuem para minorar as incertezas, como sejam o crescimento do PIB, a estabilização do mercado de trabalho e da inflação. O facto de, geograficamente, estar menos exposto às ameaças torna o nosso país mais atrativo para o investimento estrangeiro”, salienta também Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu Advogados.

Esperança na nova Comissão Europeia

Os CEO veem também oportunidades para a Europa, apesar dos desafios colocados pelos EUA e a China, em particular na implementação de medidas recomendadas nos relatórios Draghi e Letta.

“O atual cenário político e regulatório europeu não está a promover a inovação, trava o investimento e não permite que o espaço europeu lidere num mundo cada vez mais tecnológico. No entanto, 2025 ficará marcado por um Parlamento Europeu renovado e uma nova Comissão Europeia, o que poderá trazer uma nova oportunidade para a Europa“, destaca Ana Figueiredo, CEO da Altice, que lembra que “a Presidente von der Leyen comprometeu-se a ‘facilitar a atividade empresarial no mercado único, investir massivamente na competitividade sustentável e (…) colocar a inovação no centro da nossa economia’.

Gestores esperam que a nova Comissão Europeia, que volta a ser liderada por Ursula von der Leyen, traga um ímpeto reformista.

“O próximo ano será também um ano de oportunidades relevantes e fatores de otimismo renovado, incluindo um novo mandato da Comissão Europeia, que definiu já objetivos estratégicos sobre a transição para uma economia verde, o fortalecimento da autonomia digital da Europa e a redução das desigualdades económicas e sociais entre os Estados-membros”, aponta Madalena Cascais Tomé, CEO da SIBS.

Inteligência artificial e cibersegurança são prioridades

A sustentabilidade e a transformação digital continuarão a ser dois pontos centrais na agenda dos gestores.

Um dos elementos mais positivos para 2025 será o avanço contínuo da inteligência artificial (IA), uma tecnologia de uso transversal que está ainda em curva de adoção, e que pode vir a permitir aumentar de forma significativa a produtividade em múltiplos setores, estimular a inovação em áreas como saúde, energia e mobilidade, e criar soluções disruptivas para problemas complexos, impulsionando o progresso económico e social”, sublinha a CEO da SIBS.

“A Inteligência Artificial (IA) continuará a impulsionar a transformação dos modelos de negócio, promovendo a produtividade e a criação de novos produtos e serviços, mas gerando tensões sobre o emprego”, considera Manuela Vaz, CEO da Accenture Portugal, que salienta a importância do “reskilling e upskilling dos colaboradores”.

São sobretudo as competências humanas as mais escassas e mais determinantes num mundo onde o estabelecimento de pontes e relações será cada vez mais relevante. Olharmos o mundo e compreendermos as tendências, de mercado, de crescimento, de setores, ganhando competitividade e afirmando a nossa estratégia”, recomenda António Brochado Correia, presidente da PwC.

A tecnologia não traz apenas oportunidades. “A adaptação à rápida evolução tecnológica continuará a colocar-se como risco, seja pelo investimento significativo que comporta, pelo risco de cibersegurança e pela exigência que implica em termos de formação e atualização das práticas profissionais”, refere Martim Krupenski, managing partner da Morais Leitão.

Apesar da incerteza e conflitos que vão continuar a marcar o mundo em 2025, Miguel Maya está otimista: “Como acredito que a educação tem uma influência relevante na qualidade das escolhas que fazemos estou confiante que a humanidade saberá escolher caminhos de evolução para um mundo mais global, mais diverso e mais equilibrado, caminho esse que será percorrido passo a passo a um ritmo mais lento do que cada um de nós ambicionaria”.

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