Dívida dispara em trimestre de aumento de lucros nas cotadas do PSI

Num trimestre em que os lucros, EBITDA e receitas voltaram a subir, as cotadas do PSI registaram um agravamento significativo da dívida, acentuado uma tendência que perdura desde o final de 2021.

As maiores cotadas portuguesas voltaram a registar um trimestre de resultados globalmente positivos, o que foi premiado pelo mercado, com o PSI a registar valorizações acentuadas em abril (5,3%) e maio (4,7%) que atiraram o índice português para o nível mais elevado desde junho de 2014.

Embora as variações tenham sido modestas, os principais indicadores da demonstração de resultados das empresas do PSI evoluíram de forma favorável nos primeiros três meses do ano, dando seguimento aos valores recorde registados nos últimos três anos. Esta dinâmica positiva nos resultados das maiores empresas portuguesas terá uma quota-parte significativa no desempenho da bolsa nacional, que este ano já acumula uma valorização próxima de 10%.

Os números agregados das 14 cotadas do PSI que publicaram os números do primeiro trimestre mostram que as receitas aumentaram 3,1% para 23.552 milhões de euros e o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) subiu 2,6% para 4.368,9 milhões de euros. A Ibersol e a Greenvolt só anunciam as contas nos próximos dias, sendo que os volumes reduzidos destas duas companhias não vão influenciar os números globais do PSI.

Os resultados líquidos conjuntos aumentaram de forma mais acentuada, com um crescimento de 9,2% para 1.364,2 milhões de euros. Uma evolução que compensa a queda significativa registada no quarto trimestre (-14%) e compara com um trimestre em que os lucros já tinham mais do que duplicado (+114% no primeiro trimestre de 2023).

Com as receitas a crescerem em linha com os resultados operacionais, a margem das empresas do PSI estabilizou face ao período homólogo. O peso do EBITDA nas receitas situou-se em 18,6% no primeiro trimestre, igualando o registado nos primeiros três meses do ano passado. Contudo, comparando com o registado nos dois trimestres anteriores a descida foi significativa (20,3% no terceiro trimestre e 22,4% no quarto trimestre).

Dívida sobe 40% mas alavancagem estabiliza

Nos indicadores do balanço os números das maiores cotadas portuguesas são menos favoráveis. Embora a evolução não represente ainda motivos para alarme, demonstra uma evolução de agravamento da dívida que tem sido constante desde o final de 2021, invertendo uma tendência de alívio que foi registada nos anos anteriores.

As cotadas do PSI chegaram a março de 2024 com uma dívida líquida consolidada de 36.283 milhões de euros, o que representa um agravamento de 9,3% face ao final de 2023 e o nível mais elevado desde (pelo menos) 2010. A subida em apenas três meses é bastante substancial, acentuando o agravamento verificado nos últimos dois anos.

As empresas fecharam 2023 com uma dívida líquida de 33.211 milhões de euros, uma subida de 18% face ao ano anterior. Em 2022 já tinham subido 8,6%, depois de no final de 2021 terem atingido o nível mais baixo desde (pelo menos) 2010. Assim, no espaço de pouco mais de dois anos, o endividamento das cotadas do PSI agravou-se em 39,6%, num total de mais de 10 mil milhões de euros. Repartindo por períodos, o aumento superou 3 mil milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, ficou perto de 5 mil milhões de euros em 2023 e acima de 2 mil milhões de euros em 2022.

Apesar de ser evidente o agravamento do endividamento das cotadas portuguesas, a deterioração da alavancagem é menos pronunciada e longe de atingir níveis preocupantes. O rácio que mede a relação entre a dívida líquida e os resultados operacionais (EBITDA) deteriorou-se em março para 2,1 vezes, contra 1,9 vezes no final de 2023 e 1,7 vezes em 2022.

Comparando com 2021, altura em que a dívida era 10 mil milhões de euros inferior, o rácio é muito semelhante, mostrando que o agravamento do endividamento tem sido acompanhado por uma melhoria equivalente da atividade operacional das empresas. Esta tendência de desalavancagem tem sido quase constante desde o início da década passada, quando eram necessários quase quatro anos de EBITDA para cobrir a dívida.

A queda do rácio acelerou durante o período de ajustamento da economia portuguesa que se seguiu ao pedido de assistência externa. Baixou da fasquia das três vezes em 2015 e esteve em 2022 e 2023 abaixo de duas vezes. No primeiro trimestre deste ano regressou acima deste patamar, mas ainda assim num nível que demonstra uma boa saúde financeira global das cotadas portuguesas.

Aquisições impulsionam dívida

O agravamento em mais de 3 mil milhões de euros do valor global da dívida das cotadas do PSI no primeiro trimestre é explicado pela evolução registada em quatro empresas envolvidas em operações de aquisições, mostrando que a evolução é justificada por fatores saudáveis e não uma degradação dos indicadores financeiros.

Jerónimo Martins (+486 milhões de euros), EDP (+598 milhões), Sonae (+911 milhões) e EDP Renováveis (+933 milhões) foram as empresas que registaram o maior aumento da dívida, sendo que entre estas só a EDP baixou o EBITDA no trimestre. A companhia liderada por Cláudia Azevedo quase triplicou a dívida em três meses, mas esta corresponde a apenas 1,4 vezes o EBITDA, levando a Sonae a salientar que mantém uma “confortável posição financeira”.

Durante o primeiro trimestre, a Sonae assegurou o controlo do retalhista do setor de produtos para animais de estimação Musti, num investimento total 700 milhões de euros. Já no segundo trimestre, a companhia gastou 160,5 milhões de euros na aquisição da BCF Life Sciences, pelo que é provável que a dívida líquida continue a aumentar em 2024.

A Navigator foi das empresas do PSI que mais baixou o endividamento no primeiro trimestre, mas a tendência deverá inverter-se no segundo trimestre depois de ter concretizado a aquisição da britânica Accrol por mais de 150 milhões de euros. O valor da dívida da EDP e EDP Renováveis é bastante volátil devido à estratégia de rotação de ativos das duas companhias. A Jerónimo Martins tem efetuado aquisições pontuais, mas tem a ambição de crescer no mercado do leste europeu. O rácio dívida/EBITDA de 1,16 vezes dá espaço para esta estratégia.

A Mota-Engil foi a cotada do PSI que mais aumentou o EBITDA no primeiro trimestre, surgindo depois duas das cotadas que mais agravaram o valor da dívida. A Sonae e a Jerónimo Martins aumentaram o EBITDA em mais de dois dígitos, com as duas retalhistas a conseguirem também uma subida acima de 10% nas receitas, uma evolução que nenhuma empresa do PSI conseguiu repetir.

Nas cotadas de variações negativas destacaram-se os CTT e a Nos como as únicas com quebras de dois dígitos nos EBITDA. As duas cotadas do Grupo EDP foram as únicas do índice a baixarem as receitas em mais de 10%, sendo que ambas conseguiram uma melhoria das margens.

No que aos lucros diz respeito, a EDP regressou ao primeiro lugar das cotadas com resultados líquidos mais elevados (354 milhões de euros), surgindo a Galp Energia muito de perto após um crescimento forte no primeiro trimestre (34,9%). O BCP consolidou o último lugar do pódio num trimestre em que a Jerónimo Martins ficou abaixo dos 100 milhões de euros devido a uma dotação inicial de 40 milhões de euros da nova Fundação Jerónimo Martins.

A Nos (94,3%) e a Mota-Engil (53,8%) destacam-se pelas evoluções mais acentuadas nos lucros, enquanto as quedas mais fortes foram protagonizadas pelos CTT (-54%) e REN (71,1%). A empresa que gere as redes de energia em Portugal registou um lucro mais reduzido entre toda as cotadas do PSI, penalizada pelo agravamento dos resultados financeiros.

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