A pandemia de covid-19 provocou vários efeitos económicos em Portugal. Eis alguns pontos essenciais da quebra da atividade no país.
A pandemia de covid-19 provocou vários efeitos económicos em Portugal, desde a previsão da maior recessão em tempos de democracia para o ano de 2020, até à quase paralisação de alguns setores da atividade económica. O “Grande Confinamento”, como lhe chamou o Fundo Monetário Internacional (FMI), levou à previsão sem precedentes de uma queda de 3% da economia mundial, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.
Eis alguns pontos essenciais da quebra da atividade económica em Portugal:
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Recessão e desemprego
Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020. Já a Comissão Europeia estima uma contração da economia de 6,8%, menos grave do que a média europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8% do PIB, abaixo da média da UE (6,1%) e da zona euro (6,3%).
O Banco de Portugal, numa previsão feita ainda em 26 de março, projetou uma recessão de 3,7% (cenário base) a 5,7% (cenário adverso), com as respetivas taxas de desemprego nos 10,1% ou 11,7% no final do ano.
Os números do Governo ainda não são conhecidos, mas o presidente do PSD, Rui Rio, disse na terça-feira, após um encontro em São Bento com alguns membros do executivo, entre os quais o ministro das Finanças, Mário Centeno, que o Governo espera uma recessão de 7% em 2020. Em 7 de maio, Mário Centeno estimou, em entrevista à RTP, que a taxa de desemprego nacional no final de 2020 deverá ficar “ligeiramente abaixo” de 10%.
O Governo apresentará projeções macroeconómicas para 2020 e para os próximos anos aquando da apresentação do Orçamento Suplementar, que deverá dar entrada na Assembleia da República no dia 09 ou 12 de junho, segundo informação dada à Lusa por fonte do gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, e deverá ser debatido no dia 19 de junho.
Entretanto, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou na sexta-feira os números definitivos do PIB do primeiro trimestre, tendo sido registada uma queda de 2,3% em termos homólogos e 3,8% em cadeia.
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Empresas paralisadas
Segundo dados de sexta-feira, as vendas do comércio a retalho caíram 21,6% em abril, face ao mesmo mês de 2019, uma descida principalmente nas vendas de produtos não alimentares, segundo o INE. De acordo com os últimos dados do inquérito conjunto do Banco de Portugal (BdP) e do INE, de 19 de maio, na primeira quinzena de maio a proporção de empresas em funcionamento aumentou para 90%, face aos 84% na quinzena anterior.
Em abril, a atividade económica registou uma “forte contração” agravando-se face a março, com os indicadores de clima económico e de confiança dos consumidores a atingirem mínimos desde novembro e maio de 2013, respetivamente, segundo o INE.
O mesmo indicador tinha registado uma “forte redução” em março, com os indicadores de clima económico e de confiança dos consumidores a atingirem mínimos desde dezembro de 2014 e fevereiro de 2016, respetivamente.
No inquérito conjunto do BdP e INE, mas de 5 de maio, os respondentes reportaram que 58% das empresas tinham os seus funcionários em regime de teletrabalho na última semana de abril, descendo este número para 54% na primeira quinzena de maio.
Em 18 de maio, a CIP – Confederação Empresarial de Portugal afirmava que na semana anterior 47% das empresas estavam parcial ou totalmente encerradas, e em 25 de maio um inquérito desta confederação patronal dava conta de que mais de 40% das empresas pretendem suspender ou cancelar totalmente todos os investimentos previstos para este ano e 82% prevê recorrer a instrumentos de capitalização.
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Pagamentos afundam
Entre 19 de março e 20 de abril, as compras pagas com cartão bancário caíram em média 56 milhões de euros por dia, de acordo com dados do BdP. O BdP adiantou que, entre 19 de março e 20 de abril de 2020, o montante de compras com cartão reduziu-se em 46% face ao valor que seria previsto numa situação de normalidade, sem pandemia, numa média de menos 56 milhões de euros por dia.
Nos dias anteriores ao encerramento das escolas, entre 11 e 13 de março, houve mesmo um aumento das compras, o que estará relacionado com os consumidores estarem a abastecer a despensa face à perspetiva de quarentena, e o domingo de Páscoa (12 de abril) foi o dia em que houve maior quebra de compras com cartão face ao previsto, de cerca de 75%.
No dia 14 de abril, a SIBS, que gere a rede Multibanco, sinalizava que as compras nos setores de super e hipermercados, pequena distribuição alimentar, bebidas e tabaco e farmácias e parafarmácias atingiram, na semana da Páscoa, os 70% do total das compras realizadas pelos portugueses em lojas físicas.
Na semana entre 20 e 26 de abril, verificou-se o valor mais alto das anteriores cinco semanas, de acordo com a SIBS e, já em maio, com a abertura da restauração, o volume de compras aumentou 10% no dia 18 face à segunda-feira anterior. Na terça-feira, a SIBS adiantou que as compras em loja dos portugueses aumentaram 12% entre 18 e 24 de maio, a segunda maior subida desde o início do desconfinamento, para uma média equivalente a três quartos do período pré-pandemia.
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Alojamento e restauração
Na sexta-feira, o INE divulgou que os hóspedes em alojamento turístico terão recuado 97,1% e as dormidas terão diminuído 96,7% em abril face ao mês homólogo do ano passado, numa “interrupção quase total da atividade” do setor devido à pandemia.
No mesmo dia, o INE também sinalizou que mais de 78% dos alojamentos turísticos em Portugal registaram cancelamentos de reservas agendadas entre março e agosto, destacando-se os cancelamentos na Madeira e Açores devido às “medidas mais restritivas à mobilidade” em vigor.
Na segunda-feira o BdP anunciou que em abril a restauração perdeu 354,4 milhões de euros face ao valor transacionado com cartão no mesmo mês do ano passado, mas logo com o início da pandemia em Portugal ‘soaram os alarmes’ neste setor da economia.
No dia 12 de março, em entrevista à Lusa, a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, afirmou que metade das empresas de alojamento registavam já quebras de ocupação superiores a 40%, percentagem que também se aplicava às empresas da restauração.
Em 20 de março foi a vez de o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Raul Martins, estimar que metade dos hotéis estariam encerrados na semana seguinte, apontando ainda para perdas de 30% na faturação até ao final do ano. Dez dias depois, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, estimou que “mais de 90% das empresas” iriam ter “vendas zero” em abril e maio.
Já em abril, no dia 3, o presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT), Rodrigo Pinto Barros, disse que 95% do setor hoteleiro, incluindo ‘hostels’ e alojamentos locais, tinham fechado devido à pandemia, mas os números da AHRESP apontavam para os 75% de empresas encerradas no setor.
No dia 8, o setor hoteleiro previu uma perda de receitas entre os 1,28 mil milhões de euros e os 1,44 mil milhões de euros entre 1 de março e 30 de junho, segundo um inquérito da AHP, representando uma deterioração face à estimativa de perda de 500 a 800 milhões num inquérito anterior.
Em março, as dormidas em alojamento turístico terão recuado 58,7% e os hóspedes terão diminuído 62,3% face ao mesmo mês do ano anterior, segundo o INE.
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Vendas de carros param
Se em março a ACAP – Associação Automóvel de Portugal já tinha registado uma queda de 57% dos veículos matriculado face ao mesmo mês do ano passado, devido aos efeitos da pandemia, em abril o ‘tombo’ para o setor automóvel foi ainda maior, de 84,6%, uma “queda histórica”. “Nem em fevereiro de 2012, em plena crise financeira internacional, com uma descida histórica de 52,3%, o mercado caiu tanto num único mês como no passado mês de março (-56,6%) e em abril de 2020 (-84,6%)”, referiu a associação em comunicado.
Também na produção de automóveis se fizeram notar os efeitos da pandemia, com os números da ACAP a apontarem para uma quebra de 46,1% em março e de 95,7% em abril, também face aos mesmos meses de 2019. O tráfego nas autoestradas também diminuiu drasticamente, com o Ministério das Infraestruturas e da Habitação a calcular uma quebra de 75%, em média, nos dias anteriores a 23 de março.
O tráfego na rede da Associação Portuguesa das Sociedades Concessionárias de Autoestradas ou Pontes com Portagens (APCAP) cedeu 11% no primeiro trimestre, para 12.951 veículos por dia, também impactado pela pandemia.
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Aviação e ferrovia
A NAV Portugal, responsável pela gestão do espaço aéreo, anunciou que geriu menos 24,3 mil voos em março, uma quebra de 36% face ao mesmo mês de 2019, tendo esse valor diminuído para 4.018 voos em abril, o que corresponde a uma quebra de 94% face ao mesmo mês do ano passado. Os aeroportos nacionais estiveram fechados a voos comerciais durante o período da Páscoa, dos mais críticos durante a pandemia.
A quebra da aviação em Portugal está também associada à transportadora aérea nacional, a TAP, que viu a sua operação de mais de 3.000 voos semanais ser diminuída, durante o mês de abril, para cinco ligações semanais entre Lisboa e as regiões autónomas da Madeira e Açores.
O atual plano de retoma de rotas foi alvo de observações e críticas por parte de vários protagonistas de quase todos os quadrantes políticos devido à centralidade da operação em Lisboa, e a companhia aérea garantiu entretanto que iria “ajustar” o plano de retoma de rotas anunciado, garantindo que este ficará “subordinado aos constrangimentos legais” à mobilidade.
Já a CP – Comboios de Portugal estava a perder quatro milhões de euros por semana, de acordo com palavras do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, no parlamento, no dia 29 de abril. O ministro disse que, relativamente à ferrovia, registou-se uma “queda na procura de cerca de 90% na CP, nas áreas urbanas de 70%”, acrescentando que o “ajustamento que se fez na oferta [da CP] foi de 30%”.
Ao longo da pandemia, a CP foi ajustando a sua operação, suprimindo, numa primeira fase, 350 ligações diárias a partir de 18 de março, reduzindo o tráfego de longo curso e ajustando turnos para ter menos trabalhadores ao labor em simultâneo. A circulação de longo curso foi ainda suspensa no período da Páscoa e do fim de semana prolongado do 1.º de Maio.
Entretanto, com o fim do estado de emergência, foram repostos os serviços urbanos de Lisboa, Porto e Coimbra, bem como Regionais e Interregionais. As ligações ferroviárias a Espanha (Lisboa – Madrid e Porto – Vigo) e França (Lisboa – Hendaye) também foram suspensas devido ao fecho de fronteiras.
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Do PIB aos pagamentos ou hotéis. As quebras que a pandemia causou na economia
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