É uma forma de desconectarem do ritmo acelerado e de se aproximarem da natureza, aproveitando para descontrair. Além disso, as atividades ao ar livre são mais importantes do que nunca nos escritórios.
Tomate, alface, couve, espinafre, cebola, alho-francês e ervilhas. Estas são as sete espécies cultivadas na horta da Natixis. Os colaboradores da empresa podem fazer uma pausa do trabalho, subir ao terraço do edifício e meter as mãos na terra. Um momento de descontração, que serve para desconectar do ritmo acelerado do dia-a-dia e conectar com a natureza. O objetivo da empresa foi tornar o espaço de trabalho mais verde e mais ligado à natureza.
“Começámos com as três equipas que deram origem ao conceito e, após um workshop de formação, teórica e prática, este grupo de colaboradores organizou-se em equipas, de forma a garantir que todos os departamentos estavam representados”, explica Nádia Leal Cruz, communication & marketing manager da Natixis. Posteriormente, cada departamento, através do seu embaixador, foi “recrutando” outros voluntários e organizando-se para cuidar dos 26 canteiros. “Criou-se um grande espírito de comunidade e de competição saudável, em prol de um bem comum”, continua.
Atualmente há mais de 65 colaboradores voluntários na horta da Natixis e o número tem vindo a crescer todos os meses, bem como o número de hortas instaladas pela Noocity, a empresa parceira que torna possível ter um pouco do campo e da agricultura em pleno centro das cidades. Apesar de, inicialmente, o principal cliente da Noocity ser o individual, desde o ano anterior que passou a ser o corporativo, com especial relevância para o setor tecnológico e hoteleiro. “Começámos por vender apenas a horta, mas atualmente vendemos o programa ‘Liga-te à Terra’, que inclui a instalação da horta e todo um programa de atividades para colaboradores”, conta o CEO e cofundador da Noocity, José Ruivo.
"Acreditamos que o escritório terá uma função mais social do que nunca, será um local para as pessoas se encontrarem, antes de ser um local de trabalho.”
Importância dos espaços exteriores nos escritórios pós-pandemia
Tal como as pausas para um café na copa ou os encontros nos corredores, os colaboradores podem utilizar a horta para as refeições, momentos de trabalho colaborativo, eventos internos ou workshops sobre jardinagem e agricultura. Nos escritórios do futuro, os espaços ao ar livre são elementos fundamentais para as empresas. A Noocity tem sentido que, com a pandemia da Covid-19, a procura aumentou, pois as organizações privilegiam, mais do que nunca, espaços abertos, ao ar livre, que incentivem a colaboração, as relações humanas e o team building.
“As empresas estão atentas e a pensar em como será o regresso aos escritórios e à normalidade. Acreditamos que o escritório terá uma função mais social do que nunca, será um local para as pessoas se encontrarem, antes de ser um local de trabalho”, considera José Ruivo. “As hortas permitem trabalhar as equipas do ponto de vista das relações humanas muito bem. As pessoas saem para a rua, estão juntas e conseguem criar laços muito fortes. Numa lógica de team building é realmente muito impactante”, acrescenta.
Ainda que este espaço já estivesse presente na Natixis muito antes da pandemia, a empresa considera que “depois da experiência de isolamento e clausura que temos experienciado desde o ano passado, este tipo de espaço e de atividades ganha ainda mais importância”. E o retorno não podia ser mais atual e necessário dado o atual contexto. “Entregamos qualidade de vida no trabalho, proporcionando momentos de relaxamento, prazer e ligação à natureza, mas também um propósito comum, o impacto direto na comunidade à nossa volta, através da solidariedade dos nossos colaboradores. O principal retorno é, de facto, o fortalecimento da nossa cultura”, refere Nádia Leal Cruz, explicando que 100% dos vegetais que os colaboradores cultivam são doados a instituições de solidariedade.
"Depois da experiência de isolamento e clausura que temos experienciado desde o ano passado, este tipo de espaço e de atividades ganha ainda mais importância.”
Já a Microsoft instalou a sua horta urbana em março de 2020, no rooftop do edifício Virtual Lisbon no Parque das Nações. Ocupa 36 metros quadrados e conta já com 105 voluntários, que verificam os níveis de água, removem as ervas daninhas, colhem e plantam. Tal como na Natixis, o objetivo desta iniciativa foi criar momentos de partilha diferentes, seja a partilha de receitas através do Microsoft Teams ou a promoção das hortas biológicas. “A horta acaba por ser uma ponte entre os vários colegas, ao mesmo tempo que os liga à natureza. A própria pandemia parece também ter despertado a consciência para como uma horta biológica é sinónimo de saúde através do que comem. Os colaboradores sentem que podem ser agentes ativos da mudança”, diz Rita Piçarra, CFO da Microsoft Portugal.
Ainda que a instalação tenha coincidido com o início da pandemia, a tecnológica diz que “nada foi em vão”. “Há orgulho em afirmar que nada foi desperdiçado ou deixado ao acaso. E, para tal, a criação de um grupo no Microsoft Teams com os voluntários foi fundamental, para manter o dinamismo e interesse dos envolvidos. Neste, partilhamos fotografias e descrição das atividades realizadas em cada visita pela Noocity e incentivamos aqueles que podem a criar uma horta em casa. Os produtos colhidos são deixados na cozinha para que os colaboradores os possam ir buscar e foi também feita uma grande doação à Junta de Freguesia do Parque das Nações e à Re-food, para distribuir por quem mais necessita, num total de cerca de 50 quilos de legumes”, conta.
“Todos precisamos de nos reinventar, mesmo no nosso local de trabalho”
A Porto Business School (PBS) é uma das empresas que avançou já em plena pandemia com a criação de uma horta no centro da cidade. Depois de projetos para reduzir o papel, retirar garrafas de plástico da cafetaria, colocar fontes de água espalhadas pela escola e disponibilizar postos de carregamento rápido para carros elétricos no parque de estacionamento, a PBS quis construir aquela que será a maior horta corporativa do país. Para Gonçalo Guerra, director of support units da PBS, a atividade ao ar livre tem um “caráter libertador” que considera fundamental, sobretudo porque as pessoas passam demasiado tempo fechadas em escritórios, abdicando, muitas vezes, de tempo em família e tempo para elas próprias.
"Nas organizações, para termos ambientes laborais saudáveis e sinceros, é necessário criar momentos de libertação e de criatividade.”
“Os escritórios são, muitas vezes, a nossa primeira casa, mas nem sempre são os sítios onde gostaríamos de passar grande parte do nosso tempo. A criação de espaços que nos permitam ser criativos é importante. Todos precisamos de nos reinventar, mesmo no nosso local de trabalho”, considera.
“Quando somos pequenos, temos necessidade de pintar, desenhar, rabiscar, e grande parte das atividades que se praticam em criança são, justamente, atividades que implicam diversão e criatividade. Nas organizações, para termos ambientes laborais saudáveis e sinceros, é necessário criar momentos de libertação e de criatividade. Momentos em que, para além dos nossos cargos, temos outros interesses e gostamos de aproveitar de forma diferente os nossos momentos de lazer, como estar ao ar livre, andar de bicicleta, correr na montanha ou colher os nossos alimentos diretamente da horta”, acrescenta.
Na PBS, a horta foi instalada durante o mês de abril e o entusiasmo à volta deste projeto é enorme. “Prevemos plantar tomates, alfaces, pepinos, espinafres, aromáticas, entre outros alimentos. Pretendemos criar cabazes que possam ser vendidos a um preço simbólico aos colaboradores da PBS, bem como incluir a Cerger neste desafio e utilizar parte destes legumes na preparação das refeições servidas na cafetaria e restaurante da escola”, conta Gonçalo Guerra à Pessoas, acrescentando que a doação de alimentos está também nos planos da escola.
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Escritórios mais verdes e ligados à natureza. Aqui os colaboradores cuidam da horta durante as pausas
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