A Huawei está sob pressão dos EUA, e respondeu no maior evento do mundo, em Barcelona. "O 5G está on", e a transparência está em todos os discursos. Portugal "é um país de sorte" para a empresa.
O Mobile World Congress (MWC) deste ano é diferente de todos os outros. Continua a ser o centro do mundo na tecnologia e comunicações, apareceram os novos smartphones dobráveis, mas, mais do que uma montra para o anúncio dos gadgets de última geração, é um congresso político, uma batalha entre a Huawei e o governo dos EUA. E para já, a empresa chinesa está a ganhar… pelo menos em Barcelona.
Toda a estratégia da Huawei para este evento, o mais importante da indústria, foi centrado na resposta às pressões dos EUA que, até ao último momento, tentarem impedir a presença da empresa chinesa e, não conseguindo, enviaram uma comitiva especialmente preocupada em convencer os operadores europeus a não realizarem acordos com a Huawei. Do que se viu, não estão a consegui-lo: Uma das empresas a aparecer de braço dado com os chineses na apresentação das virtudes da rede 5G – que começa agora a ser implementada na Europa – é a Vodafone. “Este não é o sítio para fazer política”, afirmou o presidente da Huawei Europa, num encontro restrito com uma vintena de jornalistas internacionais.
Antes, logo no dia zero do evento de Barcelona, a Huawei realizou um encontro exclusivo – controlado ao pormenor com clientes e parceiros – para mostrar a sua estratégia de desenvolvimento da rede de 5G, precisamente um dos pontos críticos neste conflito público e notório com o presidente americano, por causa do tema da segurança e das chamadas “back doors” que, garantem os chineses, não existem. E a Huawei trouxe parceiros internacionais para mostrar que a rede 5G já aí está, alguns dos quais… americanos.
A Vodafone, a Intel e a Sunrise foram três dos parceiros que apareceram ao lado da Huawei no ‘dia zero’, e com a apresentação de projetos que já estão em curso. Santiago Tenorio, da Vodafone Espanha, ensaiou mesmo uma ligação de telemóvel em 5G, enquanto um gestor da Sunrise, uma operadora suíça, revelou os projetos que já estão em curso para levar o 5G a uma plena aplicação já em março.
Neste primeiro evento fechado, o discurso dos gestores chineses, esse, foi cuidadoso, sem entrar em política, mas a assinalar o que consideram ser o início de uma nova era. “Este momento tem um sabor especial. O 5G está ‘on fire”, afirmou Ryan Ding, da Huawei. E anuncia que durante este ano, haverá 60 redes comerciais de 5G no mundo, 50 smartphones estarão preparados para usar esta rede e haverá 50 leilões de espectro. Foi sobretudo uma apresentação técnica, sem entrar na discussão política. Com uma exceção: Quando Adrian Scrase, da 3GPP (um grupo global que define standards das redes móveis), enunciou as cinco perguntas essenciais sobre a rede 5G, uma das quais sobre segurança, precisamente o risco apontado pelos americanos (por causa de uma risco de acesso do governo chinês aos dados dos utilizadores dos EUA. A resposta de Scrase foi clara: A rede 5G é mais segura do que a de 4G, mas é preciso garantir uma forma de implementação rigorosa e de acordo com standards, que ainda não estão definidos.
Ficou a ‘deixa’ para o primeiro dia da conferência, e para o encontro com o presidente executivo da Huawei Europa, Vincent Pang, um gestor que já tem mais de uma década na Europa. Aqui, o objetivo foi mesmo responder as críticas dos americanos, e com humor à mistura. Quando um jornalista do New York Times pediu um comentário sobre a presença de uma comitiva dos EUA na feira de Barcelona e as reuniões marcadas com operadores, a resposta foi: “Em primeiro lugar, diria ‘bem-vindos a Barcelona’. É, definitivamente, bom para a economia local”. Depois, mais a sério, criticou os americanos pela estratégia: “Em segundo lugar, penso que escolheram o local errado para falarem sobre política. Esta conferência é para falar sobre inovação, tecnologia, standards, cooperação e ecossistemas. Compreendemos o desafio sobre a segurança em termos técnicos”, acrescentou Pang.
Vincent Pang rejeita a ideia de que a Huawei cometeu erros que explicam o “issue” com os EUA, e que já tiveram seguimento em países como a Austrália, por exemplo. Mas admite que podem fazer mais, e reconhece que talvez tenham subvalorizado as dúvidas relacionadas com a cibersegurança e as questões associadas ao que, na indústria, se desgina por “back doors”, ou seja, acessos indevidos às redes. Por isso, explica o gestor, abriram um centro de desenvolvimento de cibersegurança em Bona (a sede europeia da Huawei é na Alemanha), outro no Reino Unido (é um grande mercado para a companhia, e já está a trabalhar com os três operadores na rede de 5G) e, em março, vai abrir um novo centro em Bruxelas (cidade onde está o poder político da União Europeia). Aliás, Pang garantiu mais do que uma vez que, independentemente do que vier a suceder, a Huawei vai continuar a investir na Europa.
“Transparência” é, talvez, a palavra que mais se ouve nos encontros de alto nível da Huawei. É a resposta às dúvidas suscitadas pelos americanos. Vicent Pang insiste: “Queremos ser mais transparentes e mais abertos, queremos trabalhar com os nossos parceiros, com os operadores, com as empresas, com os clientes, com os governos”. A avaliar pela resposta que se vê em Barcelona, e pelas visitas a um dos três stands da Huawei nesta feira gigantesca, que ocupa oito pavilhões e, por comparação, corresponde a mais ou menos o dobro do que é o Web Summit em Lisboa, a mensagem está a passar.
Em Portugal, o contexto político internacional é visto com cuidado, mas, ao mesmo tempo, com o conforto do que tem sido a relação do maior fornecedor de equipamentos e redes do mundo no mercado português. “Portugal é o nosso país da sorte”, confidencia Tony Linf ao ECO. O gestor que está há poucas semanas em Lisboa, oriundo da Suíça e, antes, de seis anos em Marrocos, antecipa um ano de 2019 a ganhar negócios nas três divisões da empresa: Consumo, redes e, a mais recente, o segmento empresarial, liderado por Bruno Santo.
A reação dos operadores portugueses parceiros da Huawei às discussões internacionais sobre os riscos associados à segurança das redes da companhia chinesa são positivas. Por isso, Tony Li mostra-se confiante sobre o desenvolvimento dos negócios e, particularmente, o trabalho da empresa na rede de 5G, ainda em processo de lançamento. “Em Portugal temos um bom ambiente de trabalho que advém de vários aspetos: o entendimento e a avaliação da segurança em Portugal pelo Governo e as agências regulatórias, a relação com os operadores e, depois, o investimento dos portugueses na tecnologia e na inovação”.
Em Portugal temos um bom ambiente de trabalho que advém de vários aspetos: o entendimento e a avaliação da segurança em Portugal pelo Governo e as agências regulatórias, a relação com os operadores e, depois, o investimento dos portugueses na tecnologia e na inovação.
Tony Li alerta, agora, para as dúvidas que ainda existem em relação ao leilão que o Estado vai fazer das licenças de 5G. Porquê? O valor do concurso vai determinar, depois, a capacidade de investimento dos operadores e, em última análise, o preço dos serviços aos consumidores.
As condições de partida para a rede 5G em Portugal têm um enquadramento diferente da de outros países: A cobertura já existente da rede de fibra. Por isso, Tony Li aponta para as vantagens do 5G nos telemóveis e, depois, na indústria, pela rapidez e eficiência. Ou, como dizia Luís Alveirinho, o CTO da Altice Portugal, também presente na conferência, o 5G permitirá uma qualidade de rede “seamless” (equiparada) entre a que existe dentro de casa e a exterior. Falta (ainda) saber a que preço.
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