China acusa EUA de repressão à Huawei
A China instou hoje os Estados Unidos a "pararem com a infundada repressão" contra a Huawei, após a justiça norte-americana ter acusado a empresa de constituir uma ameaça à segurança.
A China instou esta terça-feira os Estados Unidos a “pararem com a infundada repressão” contra a Huawei, após a justiça norte-americana ter acusado a gigante chinesa das telecomunicações de constituir uma ameaça à sua segurança nacional.
Em comunicado emitido na véspera de nova ronda de negociações comerciais entre Pequim e Washington, o Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros acusou as autoridades norte-americanas de “mobilizarem o poder estatal para ofuscar” algumas empresas chinesas, “numa tentativa de suprimir operações justas”.
A mesma nota considera existir “forte motivação e manipulação política” nos processos movidos contra a empresa.
Na segunda-feira, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou criminalmente a Huawei de usurpar segredos comerciais, incluindo tentar roubar um robô usado num laboratório da T-Mobile para testar smartphones, e de violar sanções comerciais e obstruir a justiça.
As acusações surgem numa altura em que Pequim e Washington tentam pôr fim a disputas comerciais que ameaçam a economia mundial.
Washington aumentou já as taxas alfandegárias sobre 250 mil milhões de dólares de bens chineses, visando conter as ambições tecnológicas de Pequim, mas responsáveis dos dois países vão reunir-se esta semana para prosseguir as negociações.
“Pedimos veementemente aos Estados Unidos que parem com a injusta punição contra empresas chinesas, incluindo a Huawei, e que tratem as empresas chinesas de forma justa”, lê-se no comunicado emitido pelo Ministério.
Na mesma nota, o Governo chinês promete “defender firmemente” as empresas chinesas, mas não dá nenhuma indicação sobre como responderá às acusações contra a Huawei nos EUA.
A firma chinesa negou, entretanto, ter cometido qualquer infração nos EUA.
Em comunicado, a Huawei Technologies Ltd. afirma que pediu para discutir a investigação com os promotores norte-americanos, após a prisão da sua diretora financeira, Meng Wanzhou, no Canadá, em dezembro passado, mas que o pedido foi rejeitado.
Meng foi detida em Vancouver, a pedido dos EUA, por suspeita de que o grupo chinês das telecomunicações tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.
A empresa observou que as alegações sobre a usurpação de segredos comerciais foram já objeto de uma ação civil nos Estados Unidos, que foi, entretanto, resolvida.
“A empresa nega ter cometido, ou que uma sua subsidiária ou afiliada tenha cometido, qualquer das violações da lei dos EUA, de que é acusada”, lê-se no comunicado.
Os EUA formalizaram, entretanto, o pedido de extradição de Meng, alegando que a Huawei fez negócios no Irão através de uma empresa de Hong Kong, e que assim enganou os bancos dos EUA, fazendo-os acreditar que as duas empresas não estavam relacionadas.
Meng foi libertada sob fiança, em Vancouver, e o seu caso deve voltar ao tribunal na terça-feira, enquanto aguarda o início do processo de extradição.
Esta sequência de casos envolvendo a Huawei pode ensombrar a próxima rodada de negociações entre os EUA e a China, que arranca na quarta-feira, em Washington.
No início de dezembro, os Presidentes dos EUA e da China, Donald Trump e Xi Jinping, respetivamente, concordaram uma trégua de 90 dias, para encontrar uma solução para as disputas comerciais.
Caso as negociações falhem, Trump promete avançar com mais taxas alfandegárias, uma perspetiva que enerva os mercados financeiros, face à possibilidade de um abalo nas cadeias globais de produção.
As acusações criminais de segunda-feira “certamente não são um sinal propício para as tensões comerciais entre os EUA e a China e podem dificultar as perspetivas de um acordo parcial nas próximas semanas”, afirmou Eswar Prasad, professor de economia e especialista sobre assuntos da China, na Cornell University.
A Huawei ilustra as principais queixas de Washington contra as políticas industriais da China.
Os EUA querem “mudanças estruturais” na política chinesa para o setor tecnológico, mais acesso ao mercado ou melhor proteção da propriedade intelectual e o fim da ciberespionagem sobre segredos comerciais de firmas norte-americanas.
Trump exige ainda que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes atores em atividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas.
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