João Vieira de Almeida foi distinguido pelo Financial Times como uma das 20 personalidades mais marcantes da advocacia a nível global. Mas qual é a história por detrás do sucesso?
- Retrato é uma rubrica do ECO na qual, durante o mês de agosto, é publicado diariamente o perfil de uma personalidade que se distinguiu no último ano, em Portugal
João Vieira de Almeida é um dos mais conceituados advogados portugueses e não só em Portugal. Também lá fora o seu talento foi recentemente reconhecido pelo jornal Financial Times, que o distinguiu como uma das 20 personalidades mais marcantes da advocacia, a nível internacional, nas últimas duas décadas. Um reconhecimento que o advogado considera que dá um “especial gozo”, mas que acaba por ser uma “sensação fugaz”.
“É sempre bom vermos o nosso esforço reconhecido e, quando se trata do Financial Times – que não é permeável a modas ou pressões –, dá um especial gozo. Mas é uma sensação fugaz. Não corro atrás de prémios ou reconhecimentos, nem deixo que me definam. E tenho bem clara a noção de que sozinho não teria alcançado nada“, assume o senior partner da Vieira de Almeida (VdA).
Foi num evento da publicação britânica que soube que tinha sido considerado um dos 20 líderes mais relevantes do setor nos últimos 20 anos e confessa que ficou “surpreendido” e “feliz em partes iguais”. “Neste plano do reconhecimento público, dificilmente poderia desejar melhor”, acrescenta.

Com uma carreira de quase 30 anos, o senior partner da VdA partilha quatro conselhos – os “quatro P’s” – com os jovens advogados que queiram alcançar um reconhecimento semelhante: planeamento, perseverança, paixão e pessoas.
Segundo João Vieira de Almeida, não existe progresso nem crescimento sem “risco, curiosidade e inovação”, que são mais eficazes “em cima de um bom planeamento”. No que concerne à perseverança, defende que devem ser resilientes e focados, “sem serem obsessivos”. “Ser adaptável, sem ser condescendente. Ter autoconfiança, sem perder a humildade. E ser persistente, mas nunca teimoso. A estratégia não está cravada na pedra, os valores, sim“, assume.
Sobre o terceiro “P’s”, o da paixão, assume que a advocacia não é um emprego, mas antes dar o “melhor sempre, todos os dias, a cada cliente, a cada caso, a cada causa”. Por fim, relativamente às pessoas, deixa o conselho: “na profissão, como na vida, o que importa mesmo são as pessoas. Quanto melhor tratarmos, entendermos e incluirmos os outros, mais longe chegaremos“.
Conselhos de quem tem vindo a ser distinguido por várias vezes ao longo da sua carreira, como European Managing Partner of the Year, pelo The Lawyer em 2018 e 2019; Lawyer of the Year, Best Lawyers – Mergers and Acquisitions Law em 2021; e Lawyer of the Year, Best Lawyers – Corporate Law em 2017, entre muitos outros prémios.
Da Faculdade de Letras a managing partner da VdA
O lugar de destaque que João Vieira de Almeida ocupa atualmente, tendo sido considerado pelo Jornal de Negócios como o 39.º mais poderoso do país em 2025, foi fruto de muito esforço, trabalho e com foco nas “pessoas”.
Sem nunca sentir pressão por parte do seu pai, Vasco Vieira de Almeida, que fundou a VdA, o atual senior partner do escritório optou inicialmente por não seguir as “pisadas” da família e frequentou o curso de História da Faculdade de Letras. Mas, um ano depois, “desencantou-se” tanto com a faculdade como com o curso e entrou em Direito, onde se licenciou na Universidade Católica, em 1985.

Desde então, sempre integrou a empresa da família, tendo o próprio assumido ser “inevitável” que assim fosse. Uma coisa é certa: confessa ser um “privilegiado” por ter tido o seu pai a fundar um escritório como a VdA. “A VdA nasceu desse escritório e mantém os valores e a cultura de exigência, espírito de equipa e cidadania que o meu pai lhe imprimiu. Nada teria sido possível sem ele“, assegura.
Dez anos depois, em 1996, assumiu o cargo de managing partner. Durante cerca de 26 anos a liderar a VdA, João Vieira de Almeida considera que o caminho fez-se com “pessoas espetaculares”. Questionado sobre que estratégias de liderança e inovação implementou na VdA que o fez ter um papel pioneiro e de destaque no mercado, o advogado é assertivo: “uma inquietação permanente, a convicção inabalável de que “nenhum de nós é melhor do que todos nós”, e não nos levarmos demasiado a sério”.
Numa entrevista ao Profiler Podcast, em 2024, assumiu também que uma das características que contribuíram para ser destacado com um bom líder é o “facto de gostar de pessoas e a dinâmica de funcionamento com as pessoas”.

O advogado tem ao longo da sua carreira se dedicado ao setor de Corporate e M&A, tendo assessorado muitas das operações mais relevantes em Portugal.
Em 2022, deixa o cargo de managing partner e passa a senior partner, presidindo ao Conselho de Administração, com responsabilidade pelo desenvolvimento estratégico, gestão do partnership e particular foco na defesa e promoção da Cultura e Sustentabilidade.
Da depressão ao cume das montanhas
Mas toda a “escalada” profissional, levou-o a momentos menos bons pessoalmente. Em 2022, no “Labirinto – Conversas sobre saúde mental” do Observador, confessou que passou por uma depressão no início dos anos de 2010. Apesar de sublinhar que sempre teve uma preocupação com a saúde mental, assumiu que sempre viveu com um “stress enorme” e com muito trabalho.
Chegava ao escritório e nas primeiras duas horas estava a chorar.
“Chegava ao escritório e nas primeiras duas horas estava a chorar”, admitiu o advogado na altura. Assim, um dia uma “gota” caiu e fez “transbordar o copo”, uma metáfora que utilizou, e ainda apercebeu-se que precisava de ajuda, revelando que chorava “desalmadamente” e sentia uma “vazio enorme”.
Mas até nos momentos mais “escuros” e “sem rumo” na vida, há sempre espaço para um novo começo e foi aí que surgiram as montanhas na vida de João Vieira de Almeida. Nesse momento de depressão, o advogado revelou que ligou a uma amigo médico a confidenciar que precisava de parar e que ia para Oxford tirar um curso, mas esse amigo intercetou e disse “vais mas é para a montanha”. E assim nasceu a paixão pelo montanhismo.
A primeira montanha que subiu foi o monte Kilimanjaro, na Tanzânia, e desde então, tem-se desafiado a subir várias montanhas pelo mundo. Mas, todos os anos, volta a fazer a subida ao ponto mais alto de África, ao Kilimanjaro, e leva um grupo de pessoas diferentes a subir 5.895 metros de altura.

Segundo João Vieira de Almeida, subir montanhas é uma “experiência única” e “transformadora”, considerando uma “metáfora para a vida”. “A montanha tira o melhor das pessoas”, considera.
Uma das lições que retira das subidas que faz é a humildade, de aprender a relativizar os problemas e a ideia básica de que atingir o cume da montanha é apenas um “momento“. Esse momento é uma metáfora para o sucesso e alegrias da vida, que continuam a ser um momento resultado de um processo. “Quando chegam lá [ao cume] é a cereja no topo do bolo, mas tal como na montanha é preciso descer, pôr os pés no chão”, nota.
Ciente da saúde mental, este tema tem sido central na firma, tendo o escritório vários programas de bem-estar, entre massagens, aulas de fitness e ioga, programas para deixar de fumar.
30 anos depois do início da sua vida profissional, assume que a VdA é uma firma “totalmente independente e apartidária”, mas “com uma intervenção social muito significativa, que entendemos ser nossa responsabilidade individual e coletiva, e que exercemos diretamente e em parceria com a Fundação Vasco Vieira de Almeida e a VdA Academia”.
Questionado sobre como gostaria de ser relembrado, o advogado sublinha: “como um dos que deu um contributo para afirmar a moderna advocacia portuguesa nos planos nacional e internacional”.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
João Vieira de Almeida, o advogado que sobe montanhas e é destacado pelo Financial Times
{{ noCommentsLabel }}