Qual será a forma mais eficiente de aquecer a sua casa? Quanto custam os equipamentos e a energia que os alimenta? A Deco dá vários conselhos para se manter quente sem surpresas na conta de energia.
Ao sétimo dia de 2021, e com as temperaturas muito baixas que se fazem sentir na região de Lisboa a não facilitarem o contexto de teletrabalho da família nos arredores da cidade (apesar das janelas isolantes instaladas há vários anos), Susana deixou a filha na escola e rumou a uma superfície comercial onde investiu cerca de 50 euros num aquecedor a óleo com 2.500 watts de potência para aquecer uma das divisões de casa, onde passa os dias a trabalhar.
Já na véspera tinha ido a uma outra loja, onde estes equipamentos estavam esgotados. Desta vez, conseguiu comprar um. O aquecedor não vem com certificado energético, nem informação sobre o seu consumo de eletricidade, mas Susana sabe que muito provavelmente a fatura da luz vai disparar. É o preço a pagar pelo conforto térmico da habitação, num país onde cerca de 20% das pessoas assume viver em pobreza energética.
Mas qual será a melhor forma, e a mais eficiente, de aquecer a casa? Quanto custam os equipamentos e a energia que os alimenta? Em Portugal, as formas de aquecer a casa no inverno são das mais variadas: desde a convencional lareira a lenha (aberta ou em recuperador), a salamanda a pellets, o tal aquecedor a óleo, aquecimento central a gás natural, ar condicionado, hotspot com botija de gás butano, aquecedores cerâmicos de parede que vão libertando calor lentamente, entre muitos outros.
Ar condicionado e salamandra a pellets são dos que mais custam no início, mas por ano pesam menos de 25 euros na conta da eletricidade se forem usados como aquecimento seis vezes por dia durante seis meses, mostram as contas mais recentes da Deco. Ainda por cima são amigos do ambiente e só emitem 24 quilos de CO2 por ano, no caso de ar condicionado. Se optar por um emissor de calor, a fatura será de mais 309 euros anuais e 318 quilos de CO2. Com um convector de calor são 232 euros a mais na fatura e com um termoventilador a conta soma mais 95 euros ao ano.
De acordo com um estudo da Deco, uma parte significativa da população portuguesa continua a utilizar soluções para aquecimento do ambiente doméstico que não são ainda baseadas em energias renováveis: é o caso do gás natural e dos abastecimentos de eletricidade cujo mix energético tenha ainda presença de fontes fósseis, como o carvão e o gás.
Os aquecedores elétricos portáteis são os preferidos e são usados por 41% da população. “O preço acessível e a facilidade de instalação faz com que cerca de 1,7 milhões de famílias os adquira nas mais variadas formas: termoventiladores, radiadores a óleo, etc. Contudo, o que se poupa na compra reflete-se mais tarde na fatura da energia”, diz a Deco.
Por ano são vendidos mais de meio milhão de aquecedores elétricos em Portugal. A associação ambientalista Zero alerta que o seu preço baixo, na casa dos 20 euros, “é completamente superado pelo elevado consumo de energia que aumenta as contas de eletricidade, algo que os consumidores podem não perceber ao fazerem a sua compra”. Ou seja, converter eletricidade em calor “através de uma resistência é, de longe, a maneira menos eficiente de usar energia para produzir calor de conforto. Tal contribui para picos significativos de procura de eletricidade no inverno, exigindo sobredimensionar as redes elétricas com centrais térmicas flexíveis e poluentes que queimam combustíveis fósseis”, defendem, exigindo que sejam incluídos equipamentos que devem ter uma etiqueta energética.
O preço acessível e a facilidade de instalação faz com que cerca de 1,7 milhões de famílias os adquira nas mais variadas formas: termoventiladores, radiadores a óleo, etc. Contudo, o que se poupa na compra reflete-se mais tarde na fatura da energia
Tipos de energia e os seus preços
A segunda opção é a lareira aberta (18%), sendo que 9% têm recuperadores de calor para melhorar o conforto térmico da casa. O aquecimento central está presente em 11% dos lares. Contudo, cerca de 14% declararam não terem qualquer tipo de sistema de aquecimento, sendo que à volta de 250 mil casas nesta situação estão nos grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto.
O estudo da Deco conclui ainda que mais de dois terços dos edifícios são anteriores a 1991 e, por isso, podem não incorporar as mais modernas técnicas de construção, o que conduz a níveis de isolamento térmico inadequados e à presença de portas e janelas energeticamente ineficientes. A localização da casa, por exemplo, é um fator de peso no funcionamento global do sistema de aquecimento. “É bem diferente viver no norte do país, onde os invernos são mais rigorosos, de viver no sul, onde a temperatura é mais amena. Ter um apartamento ou uma moradia é também um elemento importante. Em regra, as vivendas têm áreas e tipologias maiores e, por isso, as necessidades energéticas podem ser distintas”, sublinha a Deco.
A fonte de energia disponível na zona da habitação é outro aspeto importante a ter em conta: nem todas apresentam uma cobertura nacional total (o gás natural é apenas acessível a cerca de 22% da população, com foco nos grandes centros urbanos), ou podem não ser aproveitáveis (por exemplo, numa moradia com fraca exposição solar).
Quantos aos preços da energia, são muito variáveis. O preço final da eletricidade é muito penalizado pelos impostos e pelos custos económicos de interesse geral (CIEG), varia do mercado regulado (em 2021 as tarifas reguladas caíram 0,6%, com o IVA a descer também) para o mercado livre e, dentro do livre, de empresa para empresa, conforme as políticas de preços de cada uma.
Já o gás, no mercado regulado os preços do gás natural caíram 4,6% a partir de junho, sendo que no mercado liberalizado cada comercializador tem liberdade para definir as suas tarifas. O gás de botija (usados nos hotspots, por exemplo) continua a ser o mais caro de todos, com uma botija de 13kg de gás butano a custar, em média, cerca de 25 euros em novembro de 2022, de acordo com a ERSE.
Quanto custam os aquecedores domésticos?
Apesar de não serem os mais amigos do ambiente, dentro dos aquecedores portáteis, a Deco recomenda os termoventiladores e os convectores, os únicos capazes de garantir uma boa estabilidade da temperatura. “São baratos, rápidos a aquecer, permitem aquecer várias divisões, são fáceis de transportar e arrumar e podem ser silenciosos”, diz a defesa do consumidor.
Faça as contas ao tamanho da sua casa e conte com 1.000 watts por cada 10 a 15 metros quadrados. Numa sala de 30 m2, por exemplo, opte por um aparelho de 2.000 a 2.500 watts. Para um aquecimento mais eficiente, evite deixar o equipamento a funcionar durante longos períodos. “Caso sinta que a temperatura começa a ser excessiva, desligue ou reduza a regulação do termóstato de modo a que o aparelho pare ou se desligue. Além de obter maior conforto, poupa eletricidade”, recomenda a Deco.
Para a defesa do consumidor, no inverno, a temperatura de conforto situa-se entre os 20 a 22 graus, algo difícil de controlar pela escassez de termóstatos digitais e a imprecisão dos modelos mecânicos, que dificultam a regulação.
Outros conselhos da Deco passam por: preferir modelos com painel digital para regular a temperatura; fechar portas e janelas e verificar se estão bem calafetadas; usar cortinados pesados para conservar o calor; colocar tapetes e carpetes para isolar a casa do frio; nos dias e horas de sol, deixar os raios entrar.
Faça as contas ao tamanho da sua casa e conte com 1000 watts por cada 10 a 15 metros quadrados. Numa sala de 30 m2, por exemplo, opte por um aparelho de 2000 a 2500 watts. Para um aquecimento mais eficiente, evite deixar o equipamento a funcionar durante longos períodos
Tipos de aquecedores recomendados pela Deco
Entre os termoventiladores, existem os modelos tradicionais, com uma resistência elétrica em contacto com o ar, e os cerâmicos, nos quais a resistência está num elemento cerâmico. “Os nossos testes mostram que os modelos convencionais são mais eficazes na transferência de calor do que os cerâmicos. Estes demoram mais tempo a aquecer o ar, consomem mais eletricidade e são mais ruidosos”, refere a Deco, acrescentando: “Não recomendamos os radiadores a óleo, os aparelhos de halogéneo e os termoventiladores de parede. Todos demoram a aquecer o espaço e não permitem uma regulação adequada da temperatura”.
Nas casas com um elevado nível de isolamento térmico e com a contratação da tarifa bi-horária, a Deco considera que os emissores de calor podem ser uma solução porque permitem controlar a temperatura da divisão de forma muito satisfatória e podem acumular calor durante a noite, quando está em vigor a tarifa de eletricidade mais baixa (nas horas de vazio), e libertá-lo mais tarde, quando a tarifa é mais elevada (horas de cheio).
Tipos de aquecedores não recomendados pela Deco
“Contudo, para tal acontecer, é fundamental que a casa esteja bem isolada, com poucas ou nenhumas perdas. Caso contrário, o calor perde-se. Face ao atual panorama da construção nacional, ao tempo que demoram a aquecer uma divisão e ao custo elevado de alguns equipamentos, não os recomendamos”, remata a Deco.
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