Depois de uma década à frente da BA Glass, período no qual transformou a empresa e triplicou as vendas, Sandra Santos voltou a assumir, este ano, o cargo de CEO noutra grande indústria: a Logoplaste.
- Retrato é uma rubrica do ECO na qual, durante o mês de agosto, é publicado diariamente o perfil de uma personalidade que se distinguiu no último ano, em Portugal
“Nós sonhamos pouco. Queremos pouco. A maior culpa dos empresários é não sonharem. E depois há empresários que não querem ter complexidade, quando as atividades com mais valor acrescentado são também mais complexas. Gerir indústria é mais complexo do que gerir empresas de serviços.” A declaração é de Sandra Santos, em entrevista ao ECO no ano passado, quando já sabia que ia deixar a liderança da BA Glass, ao fim de dez anos. Uma saída que já tinha data marcada: Carlos Moreira da Silva, acionista da gigante sediada em Vila Nova de Gaia, defende que nenhum CEO deve ficar mais de uma década no cargo. Manteve-se como não executiva, mas por pouco tempo. O objetivo sempre foi “manter funções executivas”. Caso não fosse “possível fazê-lo em Portugal”, a gestora admitia fazê-lo fora de Portugal. Mas não foi preciso. Em fevereiro assumiu o cargo de nova CEO da Logoplaste, abrindo um novo ciclo à frente de outra grande indústria.
“Conheço-a há muitos anos e tenho-a em elevadíssima conta. Foi uma pessoa que eu própria escolhi“, disse Filipe de Botton, chairman e acionista da fabricante de embalagens de plástico rígido, em declarações ao ECO. Depois de uma década ao leme da BA Glass, período no qual o volume de negócios passou de 500 milhões para mais de 1,5 mil milhões de euros e, segundo a empresa, promoveu “uma forte transformação e crescimento”, Sandra Santos volta a assumir uma posição de liderança, desta vez a partir de Lisboa, para onde teve que se mudar para assumir as novas funções.
Carlos Moreira da Silva, que soube pela própria sobre o novo desafio da ex-CEO da BA Glass, mostrou-se satisfeito com o facto de Sandra Santos voltar a liderar. “Não é fácil em Portugal. Não há muitos lugares com a função de CEO industrial em empresas com dimensão com o arcabouço da Sandra [Santos]”, reconhece, adiantando que “deixou saudades na BA”. “Tem uma resiliência muito grande e uma grande capacidade de liderar. Consegue envolver as pessoas da sua equipa. É uma pessoa excecional. Tenho enorme apreço por ela, pelo que deu à BA”, sublinha o empresário, ao ECO.
Não é fácil em Portugal. Não há muitos lugares com a função de CEO industrial em empresas com dimensão com o arcabouço da Sandra [Santos].
O acionista da BA Glass recorda o momento em que Sandra Santos — então “muito jovem” — chegou à empresa “recomendada pelo Daniel Bessa”. “Foi uma aluna que se destacou no curso” de Gestão na Faculdade de Economia da Universidade do Porto e Moreira da Silva, então CEO, contratou-a “no mesmo dia”. Assumiu um cargo que à data não existia ainda na empresa, de controlo de gestão, e trabalhou muito de perto do CEO, tendo passado nos anos seguintes por outros cargos.
“Quando já era CFO um dia disse-lhe: Tu tens potencial para ser CEO, mas para isso precisas de ir para uma fábrica. É preciso saber lidar com os engenheiros e isso só se aprende numa fábrica”, conta o empresário. E assim foi. Sandra Santos aceitou o desafio e foi para diretora da fábrica de Avintes, “uma grande fábrica do grupo, que tinha recebido um novo investimento”, onde ficou por dois anos.

“Não tinha os conhecimentos que um diretor de fábrica tem, mas conseguiu do resto da equipa o apoio necessário para fazer uma ótima função. Fez crescer toda a equipa que tinha calibre”, destaca o acionista da BA Glass. “Soube ultrapassar (os desafios) pela sua capacidade de liderança. É uma problem solver“, aplaude. “Mais tarde desafiei-a para ir comigo para Barcelona. Foi com o marido e o filho. Também aí mostrou uma capacidade de liderança num ambiente mais difícil e hostil. Quando voltou foi para ser CEO da BA Glass”, lembra. E por aí ficou nos dez anos definidos, quando saiu para entregar a gestão a Tiago Moreira da Silva, um dos três filhos de Carlos Moreira da Silva. As duas décadas que trabalhou na fabricante de garrafas de vidro, que está presente em sete países, e tem 14 fábricas, dotaram a gestora de conhecimentos na indústria, aos quais se somam à sua capacidade de liderança.
Num momento em que o mundo enfrenta a ameaça das tarifas de Trump, Sandra Santos vai gerir os negócios da fabricante de embalagens de plástico rígido, uma das maiores no mercado americano e na Europa, com cerca de 70 fábricas em 17 países, que faturou cerca de mil milhões de euros em 2024. Uma tarefa que vai encarar com o mesmo profissionalismo que assumiu sempre nas suas funções e sem medo de crescer. “Há empresários que, eles próprios, limitam o crescimento das empresas porque não são os melhores líderes. Uma coisa é ser dono e outra é ser gestor — e alguns limitam-se por isso. E para crescer também é preciso ser capaz de o fazer”, defendeu na mesma entrevista ao ECO.
Trabalhou quatro anos no Banco Espírito Santo (BES), parou para fazer um MBA e em 1999 entrou como controller na BA, que nessa altura faturava perto de 110 milhões de euros e completava a primeira aquisição em Espanha. Pelo meio, foi diretora da fábrica de Avintes e exerceu funções na área financeira, de recursos humanos e supply chain. Enquanto líder da empresa, deixou marcas nas equipas e nas contas. “Estou certo que vai deixar marcas também” na Logoplaste, admite Carlos Moreira da Silva.
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Sandra Santos, a CEO industrial “self-made” que transforma empresas
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