
A direita pode governar, se quiser
É evidente que a AD sai chamuscada desta confusão, é indiscutível. A credibilidade do primeiro-ministro é colocada em causa e, como consequência, a do partido e do governo.
Em cinco anos teremos as quartas eleições legislativas e a crise política chegou mais cedo do que esperávamos. Uma crise que ninguém desejava, mas que poderia ter sido evitada. Montenegro podia ter dado melhores explicações ou não ter sequer apresentado a moção de confiança.
O PS, por seu turno, podia ter-se abstido na moção, com a justificação da responsabilidade, da estabilidade e da necessidade de ouvirmos os esclarecimentos consequentes da CPI proposta. Assim, as eleições que, alegadamente, não foram procuradas por ninguém, também não foram impedidas por quem tinha possibilidade de o fazer. Resta ao povo concluir que a responsabilidade é repartida entre aqueles que, na prática, racionalmente decidiram por novo sufrágio.
Foi para centrar atenções neste ponto da responsabilidade que a AD e o governo montaram o circo parlamentar que pudemos ver no dia da votação da moção. O primeiro-ministro disponibilizou-se para prestar os esclarecimentos que Pedro Nuno quisesse ou até para apoiar uma CPI, nos moldes propostos pelo PS, mas até maio (80 dias). Factualmente, o PS não quis. Não questionou Montenegro, não abdicou do prolongamento da comissão. Tornou-se responsável.
É evidente que a AD sai chamuscada desta confusão, é indiscutível. A credibilidade do PM é colocada em causa e, como consequência, a do partido e do governo. Mundo fora, inúmeras foram as vezes em que dúvidas éticas provocaram quedas de governos e fizeram os partidos da oposição crescer.
Neste cenário de incerteza e sondagens contraditórias, se tivesse de usar apenas uma analogia, diria que tanto Montenegro como Pedro Nuno têm granadas na mão – e é bem possível que acabem por explodir com elas. Montenegro diz que não governa se não ganhar e mesmo que ganhe sem maioria é difícil de imaginar, neste panorama, quem lhe dará hipótese de governar. Por outro lado, Pedro Nuno mesmo que ganhe, sem maioria de esquerda, aparecerá um qualquer líder do PSD que disposto a governar com o apoio do Chega, não lhe dará muito tempo em São Bento.
Nas últimas eleições legislativas, AD, IL e Chega obtiveram 51% dos votos. Nas sondagens que têm aparecido, não há variações significativas neste número, o que me leva a inferir que a governabilidade à direita é possível com uma reafetação dos votos. Nestas mesmas últimas eleições, se AD e IL tivessem concorrido coligadas teriam tido mais cinco deputados, um aumento de 5,7% no grupo parlamentar, ficando ainda outros lugares por eleger apenas na margem. Já para não falar do efeito ADN que pode ter hipotecado ao PSD 3 deputados.
Claro que para estes cálculos assumo um resultado de soma nula. É natural que esta coligação pudesse provocar perdas de eleitorado, principalmente dentro da IL, mas também é previsível que se apresentaria aos eleitores como a única força capaz de garantir governabilidade e de poder aspirar a aproximar-se dos 116 deputados, beneficiando de momentum e mais voto útil. A AD beneficiaria do voto urbano da IL, o que em conjunto com a eleição distrital e o método D’Hondt pode anular qualquer perda de votos que a aliança possa provocar em primeira instância.
A coligação seria benéfica para ambos os lados. Para o PSD, pode tornar possível um cenário de estabilidade, beneficiando do sistema eleitoral. Já a IL pode aspirar legitimamente a um aumento de, pelo menos, 50% no grupo parlamentar, passando para 12 deputados. Seria ainda mais benéfica num cenário onde o PS, tentando chegar ao primeiro lugar, aposta numa aliança com o Livre, procurando os mesmos efeitos que uma coligação AD+IL pode gerar à direita.
É, também, evidente que esta coligação estaria dependente de vários ‘ses’. O primeiro passo já foi dado pela IL, ao votar favoravelmente na moção de confiança, onde os seus votos eram indiferentes. Por outro lado, a única forma de conter uma fuga assinalável de votos da IL, neste cenário, é com um mea culpa lúcido e honesto do primeiro-ministro, seguido de esclarecimentos cabais e de uma promessa de que não há mais nada escondido dentro de qualquer armário.
Para além disto, para alcançar o resultado esperado, a capacidade de atração do voto do Chega teria de ser assinalável – 4 ou 5 p.p. face às últimas eleições – o que, para já, parece improvável, mas as eleições europeias mostraram ser possível.
Em suma, a governabilidade e a estabilidade não são objetos de um passado que não voltaremos a encontrar. A maioria de votos à direita prova que pode haver esperança, mesmo num cenário de tanta incerteza e desconhecimento. Neste momento, tudo é ainda muito incerto, pode não passar mesmo de cogitações, mas que seja esta a prova de que está do lado dos líderes partidários encontrar soluções.
Os eleitores não pedem promessas vazias. Exigem ação. Sentem-se, entendam-se e mostrem que governar é mais do que um jogo de cadeiras. Ponham, por uma vez, as divergências de lado e pensem naquilo que vos une: um Portugal mais livre, próspero e competitivo.
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