A importância da Biomassa e do biogás para a descarbonização da indústria

As necessidades de energia elétrica podem ser parcialmente supridas por energia renovável, nomeadamente com recurso à utilização de fontes de energia como e vento e o sol. Já no que respeita à energia térmica, em particular a produção de vapor, esta coloca um enorme desafio de descarbonização à indústria para fazer parte deste movimento global de transição energética. Em média, na indústria, o consumo de gás natural representa cerca de 45% do total de energia primária consumida pelo setor.

Em muitas indústrias a utilização de vapor é essencial, estando hoje muito dependente da queima de combustíveis fósseis como o gás natural ou o fuelóleo.

Acontecimentos recentes, como a pandemia e o cenário de guerra na Europa, trouxeram uma pressão enorme ao industrial. O preço das matérias-primas e a volatilidade do mercado, tornaram extraordinariamente complexa a previsão dos custos energéticos da produção. A conjuntura atual obriga a indústria a ser mais eficiente e mais sustentável na gestão das operações para continuar a ser competitiva no mercado em que opera. Adicionalmente, o custo das licenças de emissão de CO2 – um mecanismo externo imposto pelos governos para promover a descarbonização – é outro fator que promove a adoção de tecnologias limpas.

No mercado existem duas fontes de energia que podem auxiliar a indústria que necessita de vapor na sua transição energética para uma economia de baixo carbono: a utilização do recurso natural biomassa e a recuperação de resíduos do processo industrial, bem como a conversão de biomassa em biogás/biometano.

A biomassa, derivada de matéria orgânica como madeira, resíduos agrícolas e culturas energéticas dedicadas, oferece uma fonte confiável e abundante de energia renovável. O biogás, produzido por meio da digestão anaeróbica de resíduos orgânicos, é outra fonte de energia renovável que ganha protagonismo, em particular nas indústrias onde os resíduos resultantes do processo produtivo contêm matéria orgânica.

Em Portugal existem oportunidades únicas para aproveitar a biomassa e o biogás para a produção de vapor. O país tem um clima favorável ao cultivo de biomassa, incluindo culturas energéticas de rápido crescimento, como o eucalipto. A expansão do cultivo dessas culturas energéticas pode criar uma cadeia de abastecimento de biomassa sustentável para a produção de vapor. Além disso, os abundantes resíduos agrícolas de Portugal, como bagaço de azeitona e podas de vinha, podem ser utilizados como matéria-prima para a produção de biogás. A maximização da utilização desses recursos pode contribuir para as metas nacionais de energia renovável.

Apesar do desenvolvimento alcançado na utilização destas fontes de energia, persistem diversas barreiras a superar e que impedem ampla adoção de biomassa e biogás para a produção de vapor na indústria. Nomeadamente, é de ter em contexto o significativo investimento que os sistemas de produção de vapor de biomassa e biogás exigem, tal como a modificação de infraestruturas existentes. Garantir um fornecimento de matéria-prima confiável e consistente é outro desafio, especialmente para centrais a biogás que dependem de fluxos de resíduos orgânicos. Estes são fatores cruciais quando comparados com a produção convencional de vapor baseada em combustível fóssil.

Apesar dos desafios prementes, emerge um futuro de oportunidades para a utilização de biomassa e biogás na produção de vapor para a indústria. Nomeadamente com os avanços que se verificam nas tecnologias de conversão de biomassa, que prometem aumentar sobremaneira a densidade de energia e as propriedades dos combustíveis de biomassa, melhorando a sua adequação para a produção de vapor.

Já a integração com outras fontes de energia renovável, como o solar térmico, pode criar sistemas híbridos que garantem um fornecimento de vapor contínuo e confiável. Esta sinergia pode ainda otimizar a produção de energia e contribuir para um setor industrial mais resiliente e sustentável.

Os esforços de pesquisa e desenvolvimento devem concentrar-se no aumento da eficiência e escalabilidade dos sistemas de produção de vapor de biomassa e biogás para melhorar ainda mais a viabilidade económica e o desempenho ambiental destas tecnologias.