A Festa do Avante é uma afirmação de poder, é um jogo estratégico que procura a vantagem de um posicionamento político a explorar no futuro próximo.

A Festa do Avante é um jamboree anual onde o passado se encontra com a ideia de futuro que transita sempre do ano anterior. Na realidade, a Festa é um Comício Político, um Festival de Verão, um evento para Angariação de Fundos. O Comício Político é o ritual supremo de uma ortodoxia política a tocar o delírio, a nostalgia do passado, as palavras gastas que evocam a Utopia nesta margem do Mundo. O Festival de Verão tem a porta aberta para todas as melodias e para todas as expressões da Música do Mundo, um acontecimento global onde a pluralidade dos sons reforça sempre o mesmo lado da mensagem política.

A Angariação de Fundos tem a sofisticação e o secretismo de uma Oferta Pública de Aquisição, vulgo OPA, uma espécie de aumento de capital em cenário festivo e progressista. Sendo tudo e o seu contrário, Comício, Festival, Finanças, a Festa do Avante é passível de toda a manipulação política, uma alquimia de sinais e de sons em que o PCP é exímio a explorar para satisfação das massas e “irritação das elites”. Mesmo quando o PCP é uma “elite revolucionária” em que o controle e domínio das massas é o negócio central exercido em regime de Monopólio.

No universo paralelo do PCP, parece que não existe pandemia. Embora uma pandemia seja um fenómeno social com uma dimensão médica, para o PCP não há lugar para as consequências e complexidades da problemática associada à saúde pública, pois no grande circo da política existem valores mais importantes como a afirmação litúrgica e simplista de uma Ideologia. Neste sentido, o PCP, através do sintoma Festa do Avante, exibe as cores de um espectro neurótico e a agitação típica de uma psicose. A neurose vem da negação dos riscos associados às multidões no novo universo covid.

A psicose vem da sobrevalorização de toda e qualquer crítica política, como se uma palavra de crítica representasse a extinção do PCP. O Partido parece desenquadrado da vivência democrática, interna e externa, e refugia-se num silêncio ensurdecedor que não é mais do que a mais pura expressão de um insuportável Autoritarismo. O Partido das Massas, o Partido da Classe Operária, não tem qualquer vestígio de escrúpulo em transformar a Festa do Avante num laboratório social em que o Povo é exibido como Mercadoria Ideológica na versão vermelha da Exposição do Mundo Português.

Através da insistência na realização da Festa do Avante, como se a não realização do evento fosse uma ameaça existencial e um acto de censura, o PCP revela a face volátil de um óbvio Populismo de Esquerda. A Festa é um instrumento político que tem como estratégia a construção e o reforço de uma fronteira política entre as Forças do Progresso e as Forças da Reacção, denunciando a existência de dois Mundos, sublinhando a exploração dos Dominados e a prepotência dos Dominadores.

Assumindo a pose de uma Oposição à Estrutura Política Dominante, explorando as circunstâncias de uma conjuntura de incerteza e de crise na saúde pública que nega e que não reconhece, o PCP pretende afirmar a autonomia de uma ligação privilegiada e exclusiva com uma camada da população esquecida pelo desenvolvimento e excluída do progresso social e material. A estratégia Populista à Esquerda tem como destinatário o PS e o Governo, sobretudo quando o silêncio do Governo assume os contornos de uma cumplicidade política a ser utilizada nas negociações para a Grande Coligação Progressista que o Primeiro-Ministro pretende para a Modernização de Portugal.

Este Populismo de Esquerda não disfarça a demagogia, o calculismo, a prepotência de uma força política que se julga moralmente superior e politicamente indispensável. A Festa do Avante é uma afirmação de poder, é um jogo estratégico que procura a vantagem de um posicionamento político a explorar no futuro próximo. Com a impunidade de um Partido de Vanguarda, o PCP imprime uma lógica de chantagem política para pressionar tudo e todos em função dos seus objectivos políticos de curto prazo. O Partido do Povo, o Partido dos que menos têm e dos que menos podem, arrisca a saúde pública num comércio político absolutamente intolerável.

Neste ponto não há qualquer diferença entre um Comício de Trump na América e a Festa do Avante em Portugal. É a mesma lógica divisionista, é o mesmo ódio tribal, é a mesma postura de confronto político, é o mesmo oportunismo que encontra na crise de saúde pública uma espécie de “surpresa divina” ou “determinismo histórico”. Mas é sobretudo a lógica destrutiva de que a crise pandémica é uma oportunidade política a explorar, é um novo horizonte político a rasgar, seja contra o pântano do establishment, seja na construção de uma Utopia, qualquer Utopia, pois o desespero de um projecto político ultrapassado pela História necessita do oxigénio da ilusão e da miopia que acompanha a mentira.

Existe uma teoria psicológica que afirma que as ideologias políticas derivam de uma resposta evolutiva com o propósito de evitar e extinguir as ameaças patogénicas externas à comunidade. O PCP pertence a uma outra categoria, a categoria das ideologias políticas que nascem das convicções de um grupo e que definem a sua identidade política através de uma pureza ideológica acima do Mundo. À distância, a Festa do Avante confunde-se com um acampamento Viking.

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Camarada Kovid

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