Há petróleo em Lisboa
Cada cêntimo que se gasta em marketing e comunicação no turismo é bem gasto para bem da nossa economia.
Não, ainda não concessionaram aquela área do Tejo onde em tempos morou esse grande monumento nacional chamado Tollan para Sousa Cintra prospectar petróleo. Também não jorra ouro negro de cada buraco de obra semeada, umas úteis e bonitas, outras completamente desnecessárias, em cada esquina de Lisboa.
O petróleo de Lisboa e de Portugal é o turismo. Cada cêntimo que se gasta neste sector em marketing e comunicação é bem gasto para bem da nossa economia. Em cada turista um amigo, que depois traz outro amigo também, poderia cantar Zeca Afonso.
Há anos atrás, o universo mediático ouvia falar de “verde”, ecologia e sustentabilidade e era a moda que proliferava. Porque a agenda mediática tem temas que se impõem quase por efeito de carneirada. Depois, foi o empreendedorismo e a competitividade internacional das empresas portuguesas que marcou e ainda continua a perdurar. Agora, e bem, é o turismo que mexe como tema de moda porque é um dos pólos decisivos para a nossa economia e afirmação internacional, onde não há jornal e revista no mundo que não mencione o nosso País e a nossa capital como local a conhecer e desfrutar.
O turismo é bom para Lisboa. Se não houvesse turismo a nossa economia ressentia-se. O que seria da nossa restauração e hotelaria sem um Aeroporto Humberto Delgado que já é pequeno para as encomendas das companhias aéreas que dão gás a essa crescente procura pelo destino da moda que é Lisboa e, naturalmente, Portugal?
Segundo o estudo apresentado esta semana pela ATL (Associação de Turismo de Lisboa), são 8,4 mil milhões de euros e mais de 150 mil postos de trabalho gerados pelo impacto dos que nos visitam. São números tão evidentes que só quem está de mal com a vida, ou por querelas partidárias que não me interessam minimamente, não vê.
Mas há uma variável nesta equação para este casamento ter sucesso, é que não se podem esquecer os lisboetas que aqui vivem. Não se pode mudar a cara de uma cidade só para se agradar aos turistas, até porque quando isso acontecesse, e se a descaracterizassem, os próprios turistas deixavam de gostar dela.
Fernando Medina escrevia ontem na sua coluna do Correio da Manhã que o desafio para o desenvolvimento do turismo em Lisboa é manter o «valor da autenticidade e da identidade da cidade». Desejo ardentemente que assim seja e que não se adultere a cultura e a essência de uma das mais belas cidades da Europa, transformando-a num parque de diversões sem alma, vendida com facilidade para um consumo imediato. Porque o petróleo, a riqueza súbita, por vezes traz um novo-riquismo que mata a raiz das tradições. E Lisboa não é a Walt Disney World nem qualquer capital recheada de néons.
A reputação de Lisboa e Portugal é fantástica lá fora, fruto de campanhas bem gizadas. Mas são os portugueses e os lisboetas, cá dentro, que vivem o País e a sua cidade. Os turistas não vivem os nossos problemas diários. Todos sabemos como temos uma tendência endémica para desvalorizarmos o que é nosso e criticar muitas vezes o que nos faz bem.
Se calhar, por herança do nosso fado, caímos mais no pessimismo, melancolia e tristeza e parece que estamos revoltados contra tudo, e qualquer vírgula por osmose se torna um enorme ponto de interrogação ou exclamação. Mas é tempo de se derrubarem os muros contra o turismo. Sabemos receber bem, gostamos que nos visitem e precisamos deste petróleo. As carpideiras do costume que arranjem outro tema para se entreter.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.
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