Não tem onde deixar os filhos? Deixe-os com a ministra
O Governo mandou fechar as escolas nas próximas duas segundas-feiras e os pais que tiverem de faltar ao trabalho, para tomar conta dos filhos, vão perder 7% do salário mensal.
Não é a primeira vez que o Governo dá tolerância de ponto, manda fechar as escolas, e fica à espera que os pais que trabalham no setor privado consigam o dom da ubiquidade de estar a trabalhar, ao mesmo tempo que estão em casa a tomar conta dos filhos.
Da primeira vez arranjou-se uma solução, pelo menos para o colunista do Público João Miguel Tavares. Em 2017, quando o Papa Francisco veio a Portugal, António Costa concedeu tolerância de ponto aos funcionários públicos no dia 12 de maio e, como tal, várias crianças ficaram sem escola.
Muitos pais que não eram funcionários públicos tiveram de ir trabalhar e ficaram sem alguém que tomasse conta dos filhos. Um deles foi João Miguel Tavares que escreveu uma crónica no jornal Público, sugerindo ao primeiro-ministro que fizesse de babysitter aos filhos. Dito e feito.
Três anos volvidos, e por causa dos feriados da Restauração da Independência e da Imaculada Conceição, e também por causa da pandemia, o Governo volta a dar tolerância de ponto nas próximas duas segundas-feiras, fechando as escolas e mandando as crianças para casa. João Miguel Tavares e uns quantos milhares de portugueses não têm novamente onde deixar os miúdos.
O Governo fez um apelo às empresas privadas para também fecharem as portas nesses dois dias de ponte; mas como já contámos aqui no ECO, os empresários estão no meio de uma crise profunda e recusam fechar as portas durante dois dias para não comprometer ainda mais o negócio.
Mesmo que as empresas tivessem boa vontade e quisessem mandar os trabalhadores para casa em teletrabalho, a maioria não iria conseguir. Segundo a OCDE, dois terços dos trabalhos em Portugal são incompatíveis com o teletrabalho.
Aqui chegados, nos próximos dias 30 de novembro e 7 de dezembro, muitos pais e mães deste país terão de sair de casa para trabalhar e não terão onde deixar as crianças. Dir-me-ão que isso já aconteceu em abril quando o Governo mandou fechar as escolas na primeira vaga da pandemia. A diferença é que na altura o Governo fez uma lei que permitia aos pais com filhos até aos 12 anos terem faltas justificadas, além de terem direito a receber dois terços da sua remuneração base, paga em partes iguais pela entidade empregadora e pela Segurança Social.
Apesar de essa lei ainda estar em vigor, — como atestam os advogados ouvidos pelo Jornal de Negócios – o Governo diz ao ECO que ela não se aplica às próximas duas segundas-feiras em que as escolas vão estar encerradas. Ou seja, no meio da pandemia, e de uma crise profunda, o Governo vai obrigar milhares de portugueses a terem de faltar ao trabalho durante dois dias, perdendo 7% do salário mensal, porque não têm onde deixar os filhos. E como se percebe, no meio de uma pandemia com estas características, deixar os filhos com os avós não é propriamente uma opção.
E agora, perante este facto consumado, o que fazer? Deixar os filhos em São Bento para o primeiro-ministro tomar conta não é opção, porque António Costa provavelmente estará novamente a cuidar dos filhos de João Miguel Tavares.
Sobram 18 ministros. De entre todos, imagino, que quem tenha maior disponibilidade de tempo para fazer babysitting aos seus filhos seja a ministra do Trabalho e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho: não antecipa os problemas e não arranja soluções; faz muito pouco para uma ministra com tamanha responsabilidade.
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