O xadrez da volatilidade dos preços da energia e o xeque-mate à imprevisibilidade
A ERSE acaba de anunciar outro aumento de tarifas a partir de dia 1 de janeiro de 2024. É importante perceber como funciona a tarifa de eletricidade para poder fazer as melhores escolhas.
A imprevisibilidade das tarifas de eletricidade continua a ser uma constante na vida dos portugueses, com a agravante que a tendência tem sido o aumento da fatura. Neste verdadeiro jogo de xadrez, que é encontrar uma alternativa viável para o bolso das pessoas, importa perceber as regras do tabuleiro para uma escolha consciente e informada, que proteja os peões (todos nós) das surpresas permanentes na fatura de energia.
No início do ano, o Estado alocou 3 mil milhões de euros a um apoio extraordinário da fatura energética dos portugueses. Esse apoio tornou-se, no entanto, insustentável e teve de ser revisto em julho pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), ditando um aumento da tarifa de eletricidade para todos.
Se sentiu um aumento da fatura de eletricidade recentemente prepare-se, pois, o Orçamento Geral para 2024 reduziu substancialmente o apoio e a ERSE acaba de anunciar outro aumento de tarifas a partir de dia 1 de janeiro de 2024. Contudo, nem tudo são más notícias, pois o preço da eletricidade em si tem vindo a estabilizar à volta dos 100 a 120 euros por megawatt hora (MWh), comparado com os valores máximos de 650 euros vividos no início da guerra na Ucrânia.
Esta série de eventos reflete a volatilidade dos preços da eletricidade, bem como, a sua dependência de fatores externos, sejam derivados de uma decisão política ou de uma crise geopolítica (o impacto do conflito israelo-palestiniano ainda está a ser medido, mas irá certamente acrescentar volatilidade ao mercado).
É, portanto, importante perceber como funciona a tarifa de eletricidade para poder fazer as melhores escolhas e proteger-se contra aumentos inesperados. A tarifa de eletricidade é composta por dois componentes: o preço da eletricidade em si e o custo do acesso à infraestrutura de rede. O primeiro componente — a Rainha deste jogo de xadrez — é altamente volátil, variando hora a hora, podendo passar de 100 a 200 euros por MWh, bem como descer para zero, tudo no espaço de um dia. Isso é resultado de uma série de fatores complexos, incluindo o balanço energético de um país, combinado com a importação, produção e consumo de eletricidade em tempo real.
No que diz respeito ao acesso à rede elétrica, os custos são mais previsíveis. As empresas que operam a rede, como a REN e a E-Redes, têm contratos que estabelecem taxas fixas por uso da infraestrutura que proporcionam estabilidade nos custos de acesso à rede. Foi aqui que os consumidores portugueses foram beneficiados até julho, com tarifas subsidiadas ao ponto de serem negativas, ou seja, o utilizador era “pago” por usar a rede de eletricidade. É importante destacar que, embora haja dias em que o preço da eletricidade pode chegar a zero pela produção renovável, o custo mínimo sustentável do acesso às redes não pode ser zero para o consumidor final, pois a infraestrutura precisa de manutenção e investimento contínuo.
Para controlarem esse desequilíbrio de preços constantes, os consumidores podem optar por escolher entre tarifas de eletricidade fixas e variáveis, dependendo das suas comercializadoras, cada uma com os seus riscos e benefícios. A escolha por uma tarifa variável pode ajudar o consumidor a beneficiar de preços baixos, como foi o caso até julho deste ano, no entanto, a
maré pode mudar rapidamente, e a fatura de eletricidade duplicar de valor num curto espaço de tempo. Portanto, se optar por uma tarifa variável, fique atento à volatilidade do mercado de eletricidade. Uma tarifa fixa, em contrapartida, protege da oscilação dos preços de eletricidade, mas não isola do aumento contínuo das tarifas ao longo dos meses e dos anos.
A alternativa que se apresenta para mitigar esses desafios é a energia descentralizada. Através da instalação de painéis fotovoltaicos em casa, os consumidores têm a oportunidade de gerar a sua própria eletricidade o que não só reduz a dependência da rede convencional, como também permite usufruir de eletricidade a um preço significativamente mais económico. A produção descentralizada de energia, baseada em fontes renováveis, reduz também as emissões de gases de efeito estufa, ao diminuir a nossa dependência de mega centrais a combustíveis fósseis, que geram eletricidade para ser consumida a quilómetros e quilómetros de distância.
Tornar-se autossuficiente em energia não só protege o meio ambiente, como também fortalece a economia e promove um futuro mais resiliente para comunidades em todo o mundo.
Em última análise, a proteção contra a volatilidade dos preços da energia não é apenas uma questão de escolha: é uma declaração sobre o futuro que queremos construir. Optar por soluções energéticas descentralizadas para além de beneficiar as nossas finanças, também tem um impacto positivo na saúde do Planeta.
À medida que enfrentamos os desafios das flutuações de preços e da incerteza geopolítica, é bom saber que temos o poder de moldar o nosso caminho para um amanhã mais seguro e sustentável, enquanto fazemos xeque-mate à imprevisibilidade de cada fatura que nos chega.
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