Os princípios da multiplicação
O sentido de urgência da mudança, a pressão e o peso da responsabilidade de atingir resultados, podem levar os líderes a assumirem comportamentos que podem ter impacto negativo na motivação.
Em momentos de crise e grande incerteza como o que estamos a atravessar, com as organizações a verem-se obrigadas a reinventar a forma como trabalham e como entregam valor aos seus clientes, todos aqueles que têm responsabilidades de liderança de equipas sentem uma enorme pressão de fazer mais e melhor com os recursos ao seu dispor.
Neste contexto, o sentido de urgência da mudança, a pressão e o peso da responsabilidade de atingir resultados, podem levar os líderes a assumirem comportamentos que, em vez de multiplicarem a capacidade de realização e superação das suas equipas, têm um impacto negativo na sua motivação, atrofiam a criatividade necessária para que os seus membros consigam encontrar soluções inovadoras para os desafios que enfrentam e quebram os níveis de confiança na equipa e na organização.
Esta conduta não resulta do caráter questionável ou da falta de escrúpulos do líder que acorda de manhã a pensar como irá tornar a vida da sua equipa miserável. Resulta sim em grande medida, da não interiorização de um conjunto de princípios, identificados no trabalho desenvolvido pela FranklinCovey com Liz Wiseman, autora da obra “Multipliers: How the Best Leaders Make Everyone Smarter”.
O princípio basilar é o Princípio do Potencial, segundo o qual as pessoas são intrinsecamente capazes de fazer coisas extraordinárias. Um líder que confia no potencial, acredita que a equipa tem a capacidade e a competência necessárias para superar os desafios que enfrenta e por isso dá-lhe tempo e espaço para pensar, encontrar soluções e agir, promovendo a autonomia e a criatividade dos seus elementos, assumindo-se deste modo como um multiplicador.
Se pelo contrário não acreditar no potencial e pensar “Eles não são capazes. Sem mim não vão conseguir encontrar soluções”, tenderá a assumir um registo diretivo, controlador, orientado para o micromanaging, que determinará que o limite máximo da capacidade da equipa é o limite do próprio líder, uma vez que não existe espaço para que cada um possa acrescentar valor. Nestes casos o líder assume-se como um redutor da confiança, capacidade, energia da sua equipa.
Para além do Princípio do Potencial, existem quatro outros, cuja interiorização está na base da adoção de um mindset multiplicador de talento e capacidades:
- Princípio da Curiosidade: Quando exploramos o pensamento dos outros, juntos atingimos melhores resultados;
- Princípio da Individualidade – As pessoas querem dar o seu contributo pessoal de forma a serem vistas e valorizadas;
- Princípio da Oportunidade – As pessoas atingem o seu melhor desempenho quando têm espaço para assumir a iniciativa e são encorajadas a superar-se;
- Princípio do Crescimento – As pessoas estão preparadas para desafios e programadas para o crescimento.
Para que estes princípios se materializem na expansão efetiva da capacidade das equipas, os líderes devem ser capazes de fazer perguntas que conduzam à criatividade e à inovação; devem procurar o talento de cada colaborador e criar condições para o colocar ao serviço da equipa e da organização; devem dar tempo e espaço às equipas para pensar, encontrar soluções e inovar na ação e devem ser capazes de lançar desafios que permitam às equipas superar-se e ir além do que pensavam ser capazes de fazer.
Numa altura em que é crítico acrescentar mais valor com os recursos disponíveis, está ao alcance de qualquer líder expandir a capacidade da sua equipa, fazendo melhores perguntas, procurando o talento e valorizando a individualidade de cada um, criando espaço para os outros e lançando melhores desafios às suas equipas.
*João Braz Pereira, FranklinCovey Portugal general manager e head of customer performance development na CEGOC.
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