Pedro Nuno Santos, um “agent provocateur”
O PS, com ataque à classe média, a tibieza do politicamente correcto e um discurso extremado é um contribuidor do ressurgimento do populismo.
A física, tal como a física quântica, manifestam-se diariamente no quotidiano individual, social e político. Pensamentos, comportamentos, opções e decisões são disso exemplo.
Uma das leis da física que mais pode ser aplicada na política é a terceira lei de Newton – Actioni contrariam semper et aequalem esse reactionem: sine corporum duorum actiones in se mutuo semper esse aequales et in partes contrarias dirigi – da qual referirei apenas a primeira parte (toda acção tem sempre uma reacção oposta e de igual intensidade).
Explico o meu ponto através duma analogia à existência de estados de “equilíbrio termodinâmico”, assumindo como postulado axiomático a existência de estados de equilíbrio no espectro político. Isto verifica-se na prática – existem partidos da extrema-esquerda e da extrema-direita, da esquerda e da direita, do centro-esquerda e do centro-direita e do centro – embora um estado de desequilíbrio seja a condição mais comum, particularmente no que respeita à representação parlamentar.
Portugal é um exemplo disso. Apesar de tendencialmente a esquerda estar mais representada, a distribuição partidária pode ser vista como equilibrada. A dissolução do Movimento Independente para a Reconstrução Nacional/Partido da Direita Portuguesa (MIRN/PDP – 1979) e a fundação do Bloco de Esquerda (BE – 1999) provocou desequilíbrios. O reequilíbrio só aconteceu com o Chega em 2019.
A extrema-esquerda está representada na Assembleia da República (AR) desde 1975. O PCP pode ter retirado as expressões “conquista do poder pelo proletariado” e “ditadura do proletariado” do seu programa político. Porém, as ideias de Marx e de Lenine, assim como a apetência pela sociedade soviética, permanecem inalteradas. Em 1999, outra forma de extremismo – trotskismo – entrou na AR com o BE. Ora, aqui chegados, devemos pensar na razão para o aparecimento do Chega. Tendo decorrido 40 anos desde o fim do MIRN/PDP, partido que nunca teve representação parlamentar, que originou o surgimento do Chega? E porquê só em 2019?
Há outros factores, obviamente, mas o grande responsável pelo aparecer do Chega é o PS. Foi precisamente quando o PS rompeu a linha sanitária de Mário Soares à extrema-esquerda que tudo se “precipitou”. Pode parecer estranho, mas a leitura é muito simples. Com o acto de validação e de normalização da extrema-esquerda, o PS provocou uma reacção oposta e de igual intensidade. O Chega é uma reacção à Geringonça. Que explicação há para que não tenha aparecido nenhum partido semelhante entre 1999 e 2015? Durante esses 16 anos, o PCP e BE foram iguais a si próprios, agentes de polarização social através do extremar e do radicalizar da política. Só passaram a ter outra preponderância política com o acordo de apoio parlamentar ao PS.
É aqui que entra Pedro Nuno Santos. Tendo perdido as eleições, António Costa foi incapaz de resistir e o preço para ser poder foi validar o extremismo político do PCP e BE. Sem surpresa, Pedro Nuno Santos, que já defendia acordos com a extrema-esquerda desde a Juventude Socialista (JS), foi um entusiasta da ideia.
Os socialistas, que já esquecerem as lições de Mário Soares, deviam aprender mais com a História. Hoje, tal como no passado, quer o ataque à classe média, quer a tibieza do politicamente correcto, quer o discurso extremado, estão a potenciar o ressurgimento das tendências totalitárias e dos populismos.
Não sei se os socialistas tem noção do que causaram, mas o seu contributo para a polarização social e política pelo inflamar do discurso político é indesmentível. O discurso do PS ficou mais extremado desde a geringonça. Talvez “agent provocateur” seja exagero, mas é inegável que Pedro Nuno Santos é um contribuidor líquido do radicalismo e do populismo. Pedro Nuno Santos fomenta e alimenta-se do populismo. O futuro não se augura pacífico.
Mas há mais a referir. Há quem diga que só quem não faz nada é que não comete erros e que é necessário aprender com os erros. Após ouvirem o discurso de Pedro Nuno Santos como candidato a líder do PS, acham que ele aprendeu alguma coisa com os erros que cometeu?
Em 2017, durante a governação da Geringonça, Pedro Nuno Santos, o interlocutor do PS com o PCP e BE, afirmou que “em matérias estruturantes vamos procurar o PSD e o CDS”, acrescentando, com o que desplante que o caracteriza, que a “direita não sabe como funciona a economia”. Ao ouvir isto fiquei estupefacto. A economia não é uma matéria estruturante para Pedro Nuno Santos?
Em 2023, Pedro Nuno Santos voltou a repetir a lengalenga que expressa desde a JS: acordos com partidos de ideologias totalitárias. Naturalmente, também já veio dizer que não põe de parte conversar com o PSD para acordos de regime. Perante isto, sendo evidente que tanto a substância como o conteúdo discursivo não se alteraram, que aprendeu Pedro Nuno Santos durante estes anos?
O que Pedro Nuno Santos faz é servir-se dos partidos (e das pessoas). Daquele(s) que lhe for mais conveniente conforme as circunstâncias. Pisca o olho ao PCP e ao BE para eventualmente governar. Porém, quanto estão em causa questões de regime, estes já foram antecipadamente dispensados. E aí, só aí, pisca o olho ao PSD.
Que tipo de acordos é possível fazer com alguém assim?
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