Perigo e honra de ser advogados*

  • Rita Maltez
  • 29 Agosto 2023

Olho agora para os nossos jovens estagiários, lançados para um mundo onde a única certeza é a de uma selva desconhecida cheia de promessas e de riscos. Serão eles capazes?

O que dizer aos Advogados para quem vou escrever? Os tempos não são bons, mas alguma vez serão? Procurei inspiração numa quantidade de escritos dos nossos maiores e menores, de que tenho uma boa colecção, e com a qual muito aprendo (direito e torto) e me divirto, também com os seus títulos. A busca não me facilitou a tarefa da escrita, antes pelo contrário, impediu-a durante diversas horas, ganhas a ler. Partilho convosco apenas alguns títulos, uma vez que o espaço é exíguo:

“DOIDA NÃO!,,ANTES VÍTIMA” / Desfazendo calumnias / Flagrante Injustiça / Apreciação do monstruoso acórdão do Supremo Tribunal Pleno / EM LEGITIMA DEFEZA. BRADO DE INDIGNAÇÃO A PROPÓSITO DA SENTENÇA PROFERIDA CONTRA JOSÉ CARDOSO VIEIRA DE CASTRO / Perseguição … louca! / Como se apanha por doze contos uma quinta que vale mil! / TENDENCIOSA … NÃO! / O FESTIM DE BALTASAR

Sobre fraudes e irregularidades de vulto, contra o Estado, credores e accionistas, na Companhia do Amboim / JUSTO POR PECADOR / NINGUÉM DIGA DESTA “AGUA” NÃO BEBEREI … / JUSTIÇA! / O CRIME DA RUA 20 DE ABRIL / POR MINHA DAMA, A JUSTIÇA! / Da Liberdade à Cadeia! / UM PARALÍTICO … A GUIAR AUTOMÓVEIS! / UM ERRO JUDICIÁRIO – Perseguição em um processo odiosamente promovido e tumultuariamente preparado por Nunes de Carvalho & Ca.

Covões no Pretório, de esbulhador a litigante de má fé! / Amarrado ao Pelourinho / UM CASO DE FALÊNCIA…MORAL / – A Justiça no ocaso? – Não. Simplesmente um eclipse parcial / A NOVA “FARSA DOS FÍSICOS” / SER advogado É TAMBÉM UMA honra / OSSOS DO OFICIO … ou Do que um Advogado não está livre / Muda de Direcção quem segue em frente e a Direito?? / PERIGO E HONRA DE SER ADVOGADO.”

(transcrevo com a grafia e pontuação originais)

Vendo os nomes dos Advogados, a diversidade e complexidade dos temas destas centenas de opúsculos, cuja publicação era comum ao longo do século XX, ficamos orgulhosos desta história longa e preenchida, mas também temos que sentir a responsabilidade de carregarmos gigantes aos ombros.

Olho agora para os nossos jovens estagiários, lançados para um mundo onde a única certeza é a de uma selva desconhecida cheia de promessas e de riscos. Serão eles capazes? Sentirão eles indignação, raiva, orgulho, gosto, ainda que o que esteja em causa seja apenas a demolição de um pequeno muro ou uma cobrança de 200 euros, tal como os que os antecederam? Claro que sim.

E é isso que temos que preservar e, depois, cultivar, cultivar boas pessoas, humanistas, que saibam distinguir o bem do mal, que leiam muito, que saibam pensar e escrever, desprendidos, e que, se e quando a glória lhes chegar, a recebam com humildade e a devolvam em trabalho dobrados a todos nós, que tanto precisamos de gente simples, séria e honesta.

Este trabalho só cada um de nós pode fazer, pelo exemplo, pela paciência, pela partilha.

*Título de um opúsculo de Manuel João da Palma Carlos, de 1971, opondo-se à decisão judicial que lhe retirou o patrocínio de um Cliente.

  • Rita Maltez
  • Sócia da Pares|Advogados

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