
Poupar com propósito
Investir não é um luxo, é um ato de responsabilidade. E quanto mais cedo se começar a poupar e a investir com um objetivo, maior será o impacto positivo no futuro de cada um.
Assinalar o Dia Mundial da Poupança é, em Portugal, mais do que um gesto simbólico. É um convite à reflexão sobre como gerimos os nossos recursos e sobre o que significa poupar num tempo de incerteza, mas também sobre como transformar essa poupança em impacto positivo.
Sabemos que a poupança continua a ser um pilar essencial da estabilidade das famílias e da economia. Contudo, num contexto de inflação persistente e de volatilidade nos mercados financeiros, manter o dinheiro “inativo” pode significar perder lentamente o valor conquistado com esforço. Por outro lado, verificamos que em Portugal, após um aumento da taxa de poupança das famílias para 14,2% em 2021, na sequência dos efeitos do confinamento da pandemia da Covid-19, terminámos o 1.º trimestre de 2025 com uma redução para 12,4%.
Segundo um estudo recentemente publicado, mais de 60% dos portugueses continuam sem investir as suas poupanças. Muitos fazem-no por cautela, outros, por falta de informação. Mas o resultado é o mesmo, ou seja, o capital permanece imobilizado, sem contribuir para o crescimento pessoal nem para o desenvolvimento coletivo.
Estes dados levam a uma natural reflexão, sobre o porquê de poupar. No seu sentido mais estrito, é evidente que poupar, por si só, já não basta. A poupança é o primeiro passo, prudente e necessário, mas deve ser acompanhada pela capacidade de rentabilização. É neste ponto que Portugal revela um desafio estrutural.
A rentabilização responsável da poupança exige informação, planeamento e diversificação. Investir não significa especular, mas, sim, colocar os recursos a render, de forma equilibrada e transparente, em instrumentos adequados ao perfil e aos objetivos de cada pessoa. É aqui que a literacia financeira desempenha um papel decisivo. É também aqui, que o papel do sistema financeiro, e dos bancos em particular, assume uma redobrada importância.
A Comissão Europeia tem reforçado esta visão através do debate em torno da União da Poupança e dos Investimentos e da criação de mecanismos que permitam aproximar as famílias dos mercados financeiros e que estimulem uma cultura de investimento de longo prazo com soluções acessíveis e benefícios fiscais.
Para o setor financeiro, este movimento representa uma oportunidade e uma responsabilidade. As instituições bancárias têm um papel determinante no esclarecimento e aconselhamento dos clientes, ajudando-os a compreender as opções disponíveis e a encontrar soluções adequadas às suas necessidades e níveis de risco.
A diversificação, frequentemente evocada e nem sempre praticada, é outra dimensão essencial. Distribuir a poupança por diferentes tipos de investimento permite mitigar riscos e equilibrar rendimentos. É uma estratégia prudente, especialmente relevante em tempos de incerteza. No entanto, continua a ser pouco comum entre os pequenos investidores portugueses, o que evidencia a necessidade de maior sensibilização e acompanhamento. Novamente se destaca o papel do sistema financeiro, e dos bancos, no apoio aos clientes promovendo acessibilidade à informação, de forma fácil e transparente, para tomadas de decisões ponderadas.
Poupar continua a ser um valor profundamente enraizado na sociedade portuguesa. Mas não raras vezes associada a um evento, ou necessidade urgente, e não como um processo continuado e recorrente com um propósito. É uma expressão de responsabilidade individual e de visão de futuro. Mas num mundo em rápida transformação tecnológica, económica e financeira, o desafio é dar um passo além, que é o de transformar a poupança em investimento produtivo e sustentável, canalizando recursos para a economia real, para as empresas e para os projetos que geram inovação e emprego. Esta função macroeconómica da poupança, mantém-se como essencial no funcionamento das economias. E os bancos, mantêm-se como o elo transmissor, que une aforradores (quem detêm os recursos financeiros) e investidores (quem investe e necessita de crédito). E ao fazê-lo, promovem a criação de moeda, a estabilidade financeira e as condições de base para o crescimento económico. Por isso, os bancos são tão especiais no sistema económico moderno.
Neste Dia Mundial da Poupança, vale a pena recordar que o equilíbrio entre a prudência e a ambição financeira é um fator relevante para uma gestão saudável do património. Guardar continua a ser importante, fazer crescer, com segurança e informação, é imperativo.
A poupança é apenas o início do caminho, sendo o investimento, realizado de forma responsável e diversificada, a sua evolução natural. A rentabilização de poupanças contribuirá para um futuro financeiro mais sólido para cada cidadão e para o país como um todo. Promover hábitos de poupança e de investimento de forma consciente e sustentável é essencial para fortalecer a resiliência das famílias e das empresas face à incerteza, e sobretudo como fomento do investimento seja das famílias (por exemplo, na compra de casa), seja nas empresas (reforço da capitalização ou investimento produtivo). As instituições financeiras têm um papel determinante: apoiar, informar e disponibilizar soluções adequadas a cada perfil e objetivo.
Investir não é um luxo, é um ato de responsabilidade. E quanto mais cedo se começar a poupar e a investir com um objetivo, maior será o impacto positivo no futuro de cada um.
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