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Quando se observa o surto de candidaturas semanais, parece que estamos num teatro de enganos onde um actor finge representar com toda a seriedade em frente a um espelho.
Como o País está de perfeita saúde, as Presidenciais têm uma súbita aceleração. Parece uma corrida de automóveis gigantes com pilotos mínimos e sem uma ideia para Portugal. Correm para a primeira fila mediática para ficarem na fotografia, pois assim se mede a importância das candidaturas e a dimensão dos candidatos.
Toda esta movimentação não está a pensar nos problemas do País, mas sim e sobretudo no posicionamento inicial das forças partidárias no pequeno xadrez da pequena política. Portugal em plena pandemia, os portugueses em vésperas de entrar na zona cinzenta onde todos os riscos aumentam, e os protagonistas partidários ou independentes ou indiferentes ou inconscientes “avançam” para candidaturas tácticas e oportunistas aproveitando o vácuo político.
Quando se observa o surto de candidaturas semanais, parece que estamos num teatro de enganos onde um actor finge representar com toda a seriedade em frente a um espelho. O palco está cheio de espelhos. Os portugueses assistem indiferentes na perspectiva do regresso à escola. Ficamos todos à espera da “propagação comunitária intensa”.
À Direita, é verdade que o candidato que não se cansa de gritar “Chega!”, já se tinha posicionado na grelha do hospício. O lobo vestido de lobo promete arrasar tudo e todos, garante fazer recuar para a frente o País 150 anos e criar a Utopia nos limites da Europa. Nada de imigrantes, nada de modernices, nada de democracia, muita ordem, muito respeito, castrações químicas em prol da Nação e pena de morte em estabelecimento especializado e credenciado pelo Estado. Sobre a realidade do mundo paira a nuvem da irrealidade, ao melhor estilo do que se pratica lá fora entre o Populismo e uma dispersa Direita Radical. Observar o candidato é observar uma figura em convulsão num barco de papel no meio de uma tempestade em pleno copo de água.
Mas a Esquerda que é séria e leva sempre tudo a sério, vê na figura em convulsão uma ameaça que promete capitalizar o descontentamento, o ressentimento das massas pouco esclarecidas e menos instruídas. Este reflexo político tanto pode ser visto como um apelo à responsabilidade cívica e democrática, como pode ser interpretado como o sintoma visível de uma má consciência relativamente ao estado do País e à condição dos portugueses. Os portugueses devem estar agradecidos.
Na base desta circulação demente, surge no Largo do Carmo a candidatura do Bloco. A protagonista é a mesma de há 5 anos, o apelo democrático é o mesmo de há 5 anos, mas a causa agora é ser a “voz da esquerda”, a causa é “dar voz à gente sem medo”, na edificação de uma candidatura “republicana, laica e socialista”.
Convém sublinhar que estão a decorrer negociações entre o PS e o Bloco para a celebração de uma nova convergência que pretende levar o País à Esquerda com os dinheiros de Bruxelas. A recessão do vazio de ideias e de sentimentos já está à vista e recomenda-se.
Na mesma circulação demente, surge na Casa da Imprensa a candidatura de uma militante do PS, mas que não é a candidatura oficial do PS. No fundo, o propósito da candidatura pretende estabelecer a diferença clássica na política portuguesa entre o socialismo radical e aquilo que a candidata reclama ser o “socialismo democrático”. A voz desta candidatura será a voz livre de compromissos, de interesses, de cedências que matam, a voz daqueles que só perdem quando desistem de lutar. No fundo, estamos perante a candidatura de uma ecologia da alma.
Importante sublinhar que na voz das duas candidatas está a sombra de Mário Soares, a tentativa de captar a nostalgia à Esquerda de um líder histórico e carismático. Mas a imagem de Mário Soares é como a evocação de um santo, a imagem pode passar, mas falta a visão, a autonomia, a intuição política de um homem que sempre soube o que queria para Portugal. As duas candidatas sabem o que querem para as suas carreiras políticas, sabem o que pretendem para os propósitos partidários, preenchem a vaga de um calendário parado à espera de uma derrota exemplar sempre transformada em vitória moral.
O que falta neste cenário são os gigantes que dominam o destino da fauna política primitiva – o Presidente da República e o Primeiro-Ministro. Vamos ser claros, vamos ser directos, e dizer que o Primeiro-Ministro está sedento de um voto Presidencial à Direita. Que importa que a “direita do PS” se incomode, que importa que a “esquerda do PS” se revolte, no cálculo utilitário do Primeiro-Ministro a decisão está tomada. E que não haja ilusões relativamente à tolerância do Secretário-Geral do PS. O Primeiro-Ministro gosta de dar o que não é dele, adora prometer o que não lhe pertence e só perdoa aqueles que não o desafiaram ou ofenderam. Todos parecem esquecer que o Primeiro-Ministro pratica uma espécie de “maquiavelismo republicano” que tem uma longa e prestigiante prática no PS histórico e no PS contemporâneo.
Neste duplo movimento em pinça, o Primeiro-Ministro assegura a colaboração da Esquerda e o beneplácito da Direita. Não poderá nunca desculpar-se com a pandemia social e económica, pois teve tempo e espaço para escolher os aliados. Nesta fábula dos animais, o PSD é um peixe que ri não se sabe bem de quê. Quanto ao PCP, é um elefante que pisou a orelha e está caído a 5 metros da extinção.
Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico
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