Sejam bem-vindos à revolução dos pagamentos. O culpado é o Buy Now Pay Later
Espera-nos um futuro de significativa disrupção, no qual cabe às instituições financeiras incentivar, mais do que nunca, a literacia financeira,
Estamos a atravessar uma verdadeira revolução dos pagamentos.
Permita-me o/a leitor/a começar a reflexão com esta breve afirmação que recentemente retive após uma reunião de negócios. Business as usual, pensava eu, até algum intervir com uma observação brilhante que colocou a evolução do ecossistema dos pagamentos. Se considerarmos um intervalo de 50 anos – cinco décadas do 25 de abril e cinco décadas da mais antiga instituição financeira a trabalhar naquilo que chamamos o mercado de acquiring, a UNICRE – facilmente concluímos que avançámos significativamente, em consonância com o desenvolvimento tecnológico da própria sociedade.
No entanto, e quando se poderia, por segundos, pensar que dificilmente mais poderia ser feito, eis que a constante capacidade de inovar do ser humano nos mostra o contrário. Mas o que tem a ver isto com a uma “revolução dos pagamentos”?! A resposta surge da conjugação de diversos fatores tecnológicos, económicos e sociais, que estão a transformar a forma como negócios e consumidores interagem financeiramente. No centro desta transformação está o surgimento ou maturação de soluções como o Buy Now Pay Later (BNPL), as carteiras digitais, os criptoativos (ou criptomoedas), entre outros. Estes avanços digitais refletem uma mudança estrutural no tecido financeiro global e abrem a porta a uma nova era de conveniência, flexibilidade e acessibilidade.
A ascensão das fintechs e a aceleração da digitalização (alavancada pela pandemia) estão entre as principais tendências que sustentam esta revolução. A digitalização dos serviços financeiros está a simplificar o processo de pagamento, eliminando barreiras físicas e burocráticas, e a criar um ecossistema mais fluído, onde a confiança e a agilidade são essenciais. Adicionalmente, as novas gerações de consumidores têm uma expectativa diferente em relação aos serviços financeiros, privilegiando a rapidez e a praticidade, e, portanto, a necessidade crescente de adaptar e adotar soluções que respondam a estas emergentes necessidades torna-se uma prioridade.
Para hoje, trago para reflexão uma das inovações que tem vindo a ganhar expressão no setor a nível nacional e, já com maior avanço, a nível internacional. Falo do Buy Now Pay Later, que tem vindo a crescer exponencialmente nos últimos anos. De acordo com um relatório da Research And Markets, espera-se que os pagamentos com recurso ao BNPL aumentem 15.2% em 2024. Para as empresas, isto implica uma necessidade de constante adaptação a esta nova oferta, cada vez mais procurada pelos consumidores.
A personalização está na ordem do dia, pelo que as instituições financeiras necessitam de reformular as suas estratégias e investir em inovação, por forma a continuar a acompanhar as novas tendências. No caso do BNPL, este modelo de pagamentos já demonstrou o seu impacto ao aumentar as taxas de conversão e lealdade do cliente cada vez mais digital. Prova disso são os números do The Global Payments Report que destacam um aumento da procura dos consumidores por soluções BNPL em 2023 e que, entre 2022 e 2023, revelam um crescimento de 18% nos valores de transação globais com este modelo, alcançando 5% das despesas globais em comércio eletrónico, o equivalente a quase 290 mil milhões de euros. Espera-se uma taxa de crescimento anual composta de 9% até 2027.
A nível local, a evidência demonstra, de igual forma, que a tendência BNPL tem obtido um crescimento consistente, sustentado por uma alteração nos comportamentos de consumo, na medida em que os portugueses procuram cada vez mais métodos de pagamento que simplifiquem aquela que no jargão corporativo denominamos por customer journey. Mais uma vez, a personalização é chave neste contexto, uma vez que a hipersegmentação dos perfis de consumo faz emergir um conjunto alargado de necessidades consoante o tipo de consumidor com o qual estamos a interagir. E é neste caminho que acredito que a revolução dos pagamentos se vai continuar a desenrolar nos próximos anos: aliando a evolução tecnológica às emergentes necessidades de consumo, dando espaço para o setor financeiro consolidar o poder dos pagamentos digitais. Neste contexto, recomendo vivamente ao/à leitor/a explorar o conceito de POWER+ framework proposto pela financeira americana J.P. Morgan, que traça as principais tendências que irão marcar a modernização do mercado dos pagamentos nos próximos anos, dividindo-as em cinco grandes áreas: Plataformas (com o surgimento das super apps); Online (com a consolidação do e-commerce); Wallets (onde se incluem as carteiras digitais, mas as futuras criptomoedas reguladas pelos bancos centrais); os Serviços Incorporados (como o Buy Now, Pay Later, ou Banking-as-a-Service); e os Pagamentos em Tempo Real.
Espera-nos, portanto, um futuro de significativa disrupção, no qual cabe às instituições financeiras incentivar, mais do que nunca, a literacia financeira, e garantir que estas soluções são utilizadas de forma responsável e cumpridora. O equilíbrio entre a acessibilidade e a sustentabilidade financeira é essencial para evitar que os benefícios da inovação financeira sejam anulados. Assim, o setor financeiro deve adotar uma abordagem proativa, promovendo práticas que permitam aos consumidores tomar decisões informadas e gerir as suas finanças de forma saudável a longo prazo.
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