Editorial

Um Rio alternativo

Rui Rio não tem a obrigação de ganhar as eleições de 2019, tem a obrigação de afirmar uma alternativa a António Costa. Estado de graça? Não há tempo para isso.

Hoje, com o início do congresso do PSD, é o primeiro dia do resto da vida política de Rui Rio. O novo líder do partido não vai ter tempo para estados de graça, porque os ventos sopram de feição a António Costa, depois de dois anos de geringonça a governar para os eleitores e com uma sucessão de medidas a privilegiar o curto prazo.

Rui Rio não tem a obrigação de ganhar as próximas eleições, e pôr já em cima da mesa essa condição como uma exigência para a sua continuidade pós-eleições é no mínimo prematura, uma provocação. Porque herda um partido, ele próprio, dividido e sobretudo crescentemente afastado dos portugueses. Porque António Costa foi hábil a governar à bolina, a aproveitar os ventos internacionais, a cativar o PCP e o BE, e quando escrevo ‘cativar’, quero dizer a atar os dois partidos de extremos à política europeia e até a um certo tipo de austeridade. Por tudo isso, o trabalho de Rio não será fácil. Mas o novo líder do PSD tem a obrigação de afirmar uma agenda reformista, por contraponto ao situacionismo de Costa, tem a obrigação de pôr em cima da mesa uma agenda que liberte os cidadãos e as empresas da intervenção do Estado, tem acima de tudo a obrigação de ser uma alternativa. Mesmo quando estiver disponível para acordos ou para entendimentos com o PS.

Rio vai ter oposição interna, sim, é a vida. Já começou, aliás. Como tiveram os seus antecessores, no governo ou na oposição. A união, como sempre, virá sobretudo do que Rio for capaz de fazer este ano, da expectativa dos militantes de regressarem ao poder.

Durante este fim de semana, Rui Rio vai arrumar a casa, vai escolher a sua equipa, mas vai também mostrar-se ao país depois de um mês de (prudente) silêncio. Será a oportunidade para marcar o tom, e se não vai ter estado de graça, terá o benefício da dúvida. Agora, o tempo político vai acelerar e a primeira das respostas que os militantes e os não-militantes exigirão a Rio é saber o que o separa de Costa. E o pior que o novo líder do PSD pode fazer é deixar que lhe colem a pele de siamês do primeiro-ministro. O percurso de autarca-candidato, ainda por cima, não ajuda. O que disser neste congresso, sobretudo ao país, será analisado à lupa. Especialmente por António Costa. A resposta do primeiro-ministro será também um barómetro do sucesso e da afirmação do novo líder do PSD.

PS: Hoje poderia ser o dia de Pedro Passos Coelho, mas o tempo político é quase tão rápido como o tempo mediático e, no final da sua intervenção, e seguramente de uma manifestação de agradecimento pública e notória dos militantes do PSD e de um longo aplauso de pé, os militantes do PSD fecharão um ciclo no minuto seguinte. Querem pôr estes dois últimos anos na oposição para trás das costas. O partido fica a dever-lhe muito, mas o país também, pelo que fez como primeiro-ministro. Com todos os erros e equívocos cometidos no período da troika, e foram alguns, particularmente no setor financeiro, fez o essencial, tirou o país dessa intervenção externa.

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