Reabilitar, construir de raiz ou comprar casas a privados? Câmaras dão tudo para aproveitar PRR na habitação

A pouco mais de um ano do fim do prazo para terminar as casas pagas pelo PRR, já se sabe que muito dinheiro ficará por gastar. No terreno acelera-se com vários veículos, e apesar do IHRU.

Só construindo de raiz é possível responder à elevada procura que municípios como Oeiras verificam. No novo edifício do Alto da Montanha, o autarca mostra ao ECO/Local Online o resultado de um investimento de 200 mil euros por apartamento novo, valor que beneficia do IVA reduzido a 6%.Hugo Amaral/ECO

A falta de casas em vários pontos do país levou as autarquias a meter mãos à obra com dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), procurando velejar no vendaval de milhões que a “bazuca” trouxe ao país. Uns constroem de raiz, outros escolhem reabilitar os centros das cidades, e também há quem compre casas e até prédios usados.

Isaltino Morais, presidente da câmara de Oeiras, é um dos mais vocais defensores da necessidade de construir de raiz, tendo candidatado 748 apartamentos ao PRR, dos quais 64 acabam de receber os seus primeiros residentes, inquilinos com rendas abaixo dos 500 euros nos 32 apartamentos T2 e inferior a 600 euros noutros tantos T3. Nesta mesma urbanização a ser erguida em Carnaxide, os privados praticam preços de venda em planta acima dos 300 mil euros por um T1.

Na ponta oposta da Área Metropolitana de Lisboa, em Vila Franca de Xira, a ordem é para reabilitar. “Quando foi da negociação do PRR, o Estado português considerou que a habitação era prioritária. A verdade é que são os autarcas que estão a assumir essa responsabilidade da construção e da reabilitação”, diz Fernando Ferreira, presidente do município ribatejano. “No fundo, estamos a trabalhar para os objetivos que o Governo estabeleceu”.

Para comprar um prédio degradado, paga-se 1600 euros por metro quadrado, o que é incompatível com habitação pública, e depois a construção ou reconstrução ainda sai mais cara do que fazer habitação nova.

Isaltino Morais

Presidente da Câmara Municipal de Oeiras

Construir novo ou reabilitar é uma discussão com intervenientes convictos de um e outro lados. Se Oeiras não privilegia a recuperação de edificado antigo (embora tenha um par de edifícios onde fez esse trabalho), devido ao preço dos edifícios devolutos no concelho, outros, como Vila Franca de Xira, viram-se precisamente para aí.

Isaltino Morais nota que em Oeiras, “para comprar um prédio degradado, paga-se 1600 euros por metro quadrado, o que é incompatível com habitação pública, e depois a construção ou reconstrução ainda sai mais cara do que fazer habitação nova”, assegura.

Posição contrária tem Fernando Ferreira, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira. Admitindo que em “reabilitações absolutamente de raiz, com cuidados suplementares, o custo normalmente é maior” — sobretudo quando, como sucedeu em Vila Franca de Xira, os trabalhos encontram património arqueológico, neste caso um caminho romano desconhecido até agora –, o autarca defende o modelo para o centro das cidades, como forma de dar o exemplo à sociedade, dinamizar a vida social e económica, ao reavivar um imóvel emparedado, e chamar habitantes ao centro.

A reabilitação de edifícios em Vila Franca de Xira verifica-se, por exemplo, em dois edifícios a que o autarca conduz o ECO/Local Online, a escassas centenas de metros dos paços do concelho. Em execução tem 34,5 milhões de euros — dos quais cerca de 32 milhões do PRR e o restante da responsabilidade da câmara –, repartidos entre 54 fogos, uns em prédios que serão totalmente reabilitados, outros que estão devolutos e necessitam de obras.

Face aos 1.900 euros por metro quadrado da construção camarária nova em Oeiras, a adjudicação das obras de reconstrução na parte oposta da Área Metropolitana de Lisboa está a ser feita a um valor médio de 2.000 euros por metro quadrado, explica o presidente de Vila Franca de Xira.

Neste caso, o município ribatejano vale-se de património próprio devoluto e de outro que estava na esfera do Estado central. Os imóveis do Estado chegam por via do IHRU, do exército, institutos públicos e da Estamo. “Não chegam todos da mesma maneira e isso é uma das razões pelas quais também não foi fácil arrancar com os projetos todos na mesma altura, porque o património foi chegando”, diz Fernando Ferreira, ciente de que o país não aproveitará todo o dinheiro do PRR destinado à habitação. Como possível exceção identifica apenas “reabilitações de frações que já são habitacionais e estavam devolutas”.

Quando foi da negociação do PRR, o Estado português considerou que a habitação era prioritária. A verdade é que são os autarcas que estão a assumir essa responsabilidade da construção e da reabilitação.

Fernando Ferreira

Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

As verbas do PRR para as autarquias não se ficaram pelas câmaras e pelo menos num caso ficaram ao dispor das juntas de freguesia. Em Benfica, Lisboa, o acesso ao fundo europeu está a ser utilizado para aquisição de edificado existente, sejam prédios inteiros, sejam frações autónomas ao longo da freguesia.

Ricardo Marques, presidente da junta, apostou em ir ao mercado comprar apartamentos à venda. A estratégia já permitiu amealhar 80 apartamentos, num total de 182 fogos que o PRR permitirá juntar à habitação pública da freguesia — e, por extensão, da cidade. Deste número, mais de 100 estão em prédios adquiridos para reabilitação. Dezenas de outros apartamentos foram inviabilizados pela inoperância do IHRU, lamenta o autarca.

Em Lisboa, o preço máximo para aquisição de imóveis pelas autarquias está fixado acima dos 4.100 euros por metro quadrado, mas a junta fechou negócios na casa dos 3.000 a 3.300 euros por metro quadrado. “Se uma casa necessitasse de obras, o valor de compra tinha que ser inferior, porque tínhamos de encaixar no modelo de negócio. Se não tivesse obras e fosse chave na mão, obviamente que, não havendo um investimento de obra por parte do erário público, o valor de compra seria superior”, explica Ricardo Marques.

A junta candidatou 272 apartamentos, em diferentes metodologias, uns em construção de raiz com compra de terrenos, outros em compra de edifícios para reabilitação e outros em compra de apartamentos para reabilitação e também chave na mão, com obras feitas”, explica o autarca de Benfica ao ECO/local Online. Comum a todas estas habitações é o destino ao mercado de arrendamento.

Estes 272 fogos “equivaliam, grosso modo, a 1170 novos fregueses. Na prática, recuperava-se metade dos 2000 a 2200 cidadãos moradores perdidos em Benfica na última década”, diz. A negociação com os privados não excedeu os seis meses, período em que foi fechado negócio com esses 272 apartamentos.

Benfica é um caso excecional de uma junta de freguesia a investir na construção e aquisição de casas para habitação municipal. Recebido o aval para se candidatar a fundos do PRR, adquiriu seis edifícios, entre os quais este no Calhariz de Benfica, onde surgirão oito novos apartamentos, prontos a entregar dentro de dois meses.

Contudo, e só desde outubro, a falta de resposta do IHRU na validação da aquisição com o dinheiro do PRR obrigou a junta a travar a compra de quase meia centena de casas que tinha acordado adquirir a privados — as quais, de acordo com a Lei, teriam benefícios fiscais em sede de mais-valias.

Não querendo aguardar mais pela conclusão do negócio, os privados acabaram por comercializar o seu apartamento no mercado imobiliário convencional. “Em todo o processo, foi sempre muito difícil a capacidade de resposta do IHRU na avaliação das candidaturas“.

“Muitos proprietários não estão para esperar. Obviamente, deixamos que os proprietários avancem com a venda no mercado normal, porque nós nem sequer temos resposta do IHRU”. Perdida na ineficácia do IHRU ficou, por exemplo, a oportunidade de adquirir três prédios para reabilitação.

No período de execução do PRR, 46 apartamentos já estão entregues aos novos inquilinos e outros 22 serão atribuídos este ano — mediante um sorteio da responsabilidade do Executivo de Carlos Moedas. Prestes a arrancar está um prédio de 50 apartamentos construído de raiz num terreno comprado à Câmara Municipal de Lisboa por cerca de 1,8 milhoes de euros, montante proveniente do PRR.

Ricardo Marques assegura ao ECO/Local Online que os trabalhos deste novo edifício e entrega das chaves aos inquilinos ocorrerão antes do final do prazo da execução do PRR, em junho de 2026. Para tal, a construção será feita com tecnologia modular. Esta tecnologia já foi empregue na residência universitária recentemente inaugurada em Benfica, um edifício de quatro pisos que em onze meses estava pronto para albergar 120 estudantes.

Privados chamados à construção em solo rústico e à reabilitação

Enquanto caminhamos pela zona mais antiga de Vila Franca, guiados pelo presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Ferreira leva-nos a dois edifícios municipais em obra e nota que “boa parte do património era do Estado central e estava aqui abandonado nos centros das nossas vilas. O PRR foi essencial para se poder avançar para este trabalho”, diz.

“Apostamos muito em reabilitação de imóveis nos centros antigos das nossas localidades, porque o município tinha alguns imóveis nessa situação, degradados ou abandonados. E o Estado também tinha alguns edifícios no centro das nossas cidades e vilas e, portanto, a prioridade foi para a reabilitação desses edifícios”.

“Em Vila Franca, mesmo na cidade, a aposta tem sido na reabilitação de edifícios que estão devolutos ou em ruína, mas também na reabilitação da habitação municipal que precisava de ser recolocada no mercado”, especifica.

Das 1073 frações de habitação camarária, haverá uma evolução para 1300, conta.

Fernando Ferreira defende a reabilitação como forma de levar vida a edifícios que, degradados, escoam a vitalidade dos centros das cidades.Hugo Amaral/ECO

A câmara ribatejana aguarda pelos privados também para o arrendamento acessível, modelo que Oeiras pratica no edifício inaugurado na semana passada em Carnaxide e que Benfica também está a promover.

O modelo de arrendamento acessível difere da habitação social pelos valores praticados.

Já no que toca à renda acessível, Oeiras e Benfica têm uma realidade de valores não muito distinta. No edifício da nova zona de construção para classe média/alta no Alto da Montanha, em Carnaxide, os T2 camarários ficam abaixo dos 500 euros e os T3 abaixo dos 600 euros. Em Benfica, as mais de 40 casas entregues pela junta de freguesia têm um valor médio de 412 euros, num máximo de 610 euros cobrado por um T4 para uma família alargada.

Quando as posses dos cidadãos são mais precárias, a resposta vem pela renda social, que em Oeiras significa, no parque de milhares de casas, valores entre nove e 300 euros. Isaltino Morais diz que precisa de 4.000 casas para responder à procura. A autarquia ribatejana tem mais de 500 pessoas carenciadas em espera para habitação, muitas delas empurradas para esta condição pelo aumento das rendas no mercado livre, a quebra dos contratos pelos senhorios, o desemprego e a a dinâmica familiar com divórcios, descreve Fernando Ferreira. Em Vila Franca de Xira, os valores de renda social são tão exíguos que, nas contas da autarquia, seria necessário mais de um século para que estas rendas paguem os 40% que o Governo pretende imputar aos municípios na construção dos próximos edifícios de habitação pública a serem candidatados a fundos europeusao contrário do PRR, o programa PT2030 não pagará as obras a 100%, mas porventura a apenas 60%, aventou já o ministro das Infraestrutras e Habitação, Miguel Pinto Luz.

“O que o Governo tem dito é que isso não tem problema nenhum, porque esses 40% vão ser compensados pelas rendas recebidas pelos munícipes, uma vez que quem vai receber as rendas são os municípios, não é o governo. Este é o raciocínio. Ora, a renda média aqui em Vila Franca de Xira são 50 euros. Fizemos as contas: para compensar os 40%, estamos a falar de um período de retorno de 130 anos“. O autarca socialista deixa já o aviso ao Governo que venha, a partir de maio, a desenvolver soluções para mais habitação pública: “não é viável que o projeto seja desenvolvido desta maneira”.

A aquisição de apartamentos já construídos, opção mais consistente da freguesia de Benfica, foi seguida pontualmente em Vila Franca de Xira. Ali, vários edifícios construídos por uma antiga cooperativa, Promocasa, de que o Estado era credor, foram comprados ao próprio Estado central pela câmara, com verba do PRR.

Optámos por aproveitar o PRR para resolver alguns problemas, aliás, em articulação com o IHRU, para adquirir o que é um património em vários bairros que foi na altura construído pelo PER, mas não pelo município, por uma cooperativa de habitação, que entretanto entrou em insolvência. O património estava numa massa falida que corria o risco de ser vendido a um privado com as pessoas lá dentro”, diz Fernando Ferreira. “Estamos a falar de 129 famílias”.

Ao todo, o município pagou cerca de quatro milhões de euros, o que lhe permitiu amealhar património a uma média de 30 mil euros por apartamento, ainda que sujeito a investimento adicional na reabilitação (num dos prédios, os elevadores estavam parados), com financiamento proveniente do PRR.

Em Vila Franca de Xira, o custo médio de recuperação de edifícios está situado nos 2.000 euros por metro quadrado, diz o presidente da autarquiaHugo Amaral/ECO

Uma diferença de 300% ao passar a rua

Na ótica de autarcas como Isaltino Morais, a escassez de construção nova contribuiu para uma situação de stress habitacional que já está a fazer ressurgir bairros clandestinos, absolutamente sem condições de habitação, à volta de Lisboa. A realidade estatística comprova, pelo menos, a enorme quebra na construção de novos fogos em Portugal a partir da primeira década deste século.

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Na urbanização Alto da Montanha, em Carnaxide, com dezenas de edifícios a serem erguidos, o prédio camarário, com casas para arrendamento acessível, é indistinto dos demais. “A arquitetura não tem estigma”, diz ao ECO/Local Online Isaltino Morais, numa visita ao edifício antes da chegada dos novos inquilinos. Cada um dos 64 fogos, divididos entre T2 e T3, custou à câmara uma média de 200 mil euros, num total de 12,8 milhões de euros, dos quais 12,2 pagos pelo PRR. Numa construção privada, a este valor haveria que juntar 17 pontos percentuais extra de IVA (mais de 30 mil euros adicionais), já que a habitação municipal beneficia de imposto a 6%, contra os 23% da construção particular, o preço do terreno e o lucro do promotor. Talvez por isso, do outro lado da rua deste edifício os T2 superem o dobro deste valor.

Mesmo com um custo de 200 mil euros para um T2 (com IVA a 6%), a fração poderia ficar 15% mais barata, assegura Isaltino: “se tirar o estacionamento e o comércio não fica a mais de 170 mil euros”. As infraestruturas, a garagem e a loja são, note-se, despesa excluída pelas regras do PRR.

“Posso encurtar nas áreas, aquela sala não precisava de ter aquele tamanho, aquela varanda poderia estar fechada”, vai descrevendo ao longo da visita guiada ao edifício. Porta blindada, janelas de alumínio com vidro térmico duplo, varandas, áreas amplas (decorrentes da imposição legal para qualquer construção nova de espaço para circulação de residentes em cadeira de rodas) são características comuns a mais dois edifícios em fase final de construção em Linda-a-Velha, aos quais Isaltino Morais guia igualmente o ECO/Local Online.

O valor da construção é exponencial. Não se vai fazer construção a preços moderados num terreno que custa 600 ou 700 euros. O problema hoje não é falta de casas, não se constroem é casas para a classe média. Os promotores imobiliários não encontram terrenos compatíveis para esse efeito.

Isaltino Morais

Presidente da Câmara Municipal de Oeiras

Sob o prédio do Alto da Montanha está um terreno que já foi rústico e que chegou à posse da câmara por contrapartida do urbanizador. A preço de mercado, o lote superaria facilmente os 500 euros por metro quadrado. A construção no prédio camarário inaugurado a 13 de março (que Isaltino destaca como o primeiro do país com verbas PRR a estrear) custou 1900 euros por metro quadrado, enquanto “do outro lado da rua é vendido a cinco ou seis mil”, diz o edil.

“O valor da construção é exponencial. Não se vai fazer construção a preços moderados num terreno que custa 600 ou 700 euros. O problema hoje não é falta de casas, não se constroem é casas para a classe média. Os promotores imobiliários não encontram terrenos compatíveis para esse efeito”, diz o autarca, defensor da construção de raiz, para o que tem defendido aguerridamente a possibilidade de transformação de solos rústicos em urbanos, ao abrigo da nova Lei dos solos. “Podemos fazer bairros com 150 ou 200 apartamentos, faz todo o sentido”, considera, assegurando que só permitirá novas urbanizações em espaço contíguo com atual zona urbana. “Vão-se fazer infraestruturas nova para quê? Se temos um terreno intersticial que é rústico, é o primeiro a ocupar, porque já tem infraestruturas”.

A resolução do problema da habitação é o maior fator de combate à pobreza. Somos o segundo município mais rico do país, justamente porque acabámos com certas assimetrias que havia aqui. Isto era uma chaga de barracas, um dormitório de Lisboa, hoje é uma nova centralidade”, descreve Isaltino.

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Spinumviva & Co. 5 temas que vão dominar a campanha eleitoral

A menos de dois meses das legislativas antecipadas, o ECO analisa cinco dos temas 'quentes' que vão dominar um debate que Marcelo quer "sereno, digno e elevado", entre outras qualidades ambiciosas.

“Um debate eleitoral claro, frontal, esclarecedor, mas sereno, digno, elevado, tolerante, respeitador da diferença e do pluralismo”. O pedido feito pelo Presidente da República na mensagem em que confirmou a convocação de eleições antecipadas legislativas para 18 de maio acarreta um grau de exigência que poderá ser difícil os partidos políticos satisfazerem, especialmente numa campanha que resulta de um período de crise e polarização provocado pelo tema da empresa familiar do primeiro-ministro Luís Montenegro, a Spinumviva.

Marcelo reconheceu que “é inevitável que o tema da crise ocupe parte desse debate, em particular nas primeiras semanas” e que esse debate “pode e deve pesar, e pesar bem, os sinais e os riscos para a Democracia, de situações de confronto em que não é possível haver consensos, nem que parcial seja, porque se trata de conduzir a becos, de natureza pessoal e ética, que não têm saída, que não sejam as eleições”.

Mas o Presidente da República sublinhou também que seria “um desperdício imperdoável não discutir aquilo que tanto preocupa no dia-a-dia dos portugueses”. Desde a economia à corrupção, elencou 16 “problemas concretos” que têm que ser discutidos por quem quer liderar o Governo.

Nem todos os temas são estanques. Marcelo desdobrou, por exemplo, economia, emprego, salários, rendimentos e inflação. Para ajudar a navegar uma campanha que se prevê complexa, o ECO analisa aqui cinco temas centrais que deverão dominar o debate. Nota ainda para alguns tópicos que são importantes, mas que tendo em conta os discursos públicos das últimas semanas, poderão ficar ligeiramente à margem do debate central: a despesa na área da Defesa, o apoio à Ucrânia e os problemas na educação.

Spinumviva: como gerir uma crise?

Tal como Marcelo sublinhou, é um tema inevitável, mas não é simples nem linear, obrigando os dois principais partidos a gerir o assunto com cuidado. Se, por um lado, Luís Montenegro quererá usar a campanha para limpar a imagem, reiterando que não cometeu irregularidades, por outro, Pedro Nuno Santos irá repetir que não só o primeiro-ministro as cometeu, pior ainda, tentou escondê-las a todo custo.

A intensidade do debate deverá variar consoante as novidades sobre o comportamento de Montenegro na Spinumviva, partam elas da comunicação social, da Procuradoria Geral da República (e a sua “averiguação preventiva”) ou das variações nas sondagens. PSD e PS terão de dosear o uso de acusações cruzadas de vitimização e culpabilidade, respetivamente, podendo optar também por proteger os líderes, por vezes deixando essas acusações para outros dirigentes.

Não será o nosso foco, mas também não fugiremos a isso quando naturalmente isso for assunto.

Alexendra Leitão

Líder parlamentar do PS

Essa gestão terá de equilibrar também o foco nos outros temas na campanha. Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS, garantiu aos jornalistas no sábado que o partido “vai seguramente pôr políticas públicas na campanha”, mas questionada, esclareceu que “naturalmente não nos podemos esquecer como chegámos aqui, porque é que neste momento vamos a eleições”.

“Vamos a eleições porque houve uma moção de confiança que o Governo coloca para se furtar a uma Comissão Parlamentar de Inquérito e que tem um motivo, portanto é normal que esse motivo seja trazido para as eleições”, sublinhou Leitão. “Não será o nosso foco, mas também não fugiremos a isso quando naturalmente isso for assunto”.

O Chega tem estado na linha da frente na manutenção da atenção na polémica sobre a empresa familiar de Montenegro e certamente não irá abrandar essa estratégia na campanha. O partido de extrema-direita apresentou a primeira moção de censura, foi firme na rejeição da moção de confiança e aproveitou os debates para acusar os partidos do arco da governação de conluio.

Cada vez mais focado no tema da corrupção (e menos na imigração, ver abaixo), o Chega aliás já iniciou a pré-campanha com um cartaz de rua no qual a acompanhar a frase “50 anos de corrupção” colocou uma fotografia de Luís Montenegro ao lado de uma de José Sócrates, numa clara tentativa de colar PSD e PS à mesma imagem.

Cartaz Chega, março 2025
Cartaz Chega, Lisboa, março 2025 Foto: Hugo AmaralHugo Amaral/ECO

 

A Iniciativa Liberal terá de continuar a gerir com algum cuidado a posição de ter criticado o comportamento de Luís Montenegro e ao mesmo tempo votado a favor da moção de confiança ao Governo. Livre, Bloco, PCP e PAN não têm esse problema, devendo tentar aproveitar ao máximo a fragilidade de Montenegro no campo da transparência.

Economia: anda por si?

Durante uma visita à Bolsa de Turismo de Lisboa, este domingo, Marcelo mostrou-se tranquilo em relação ao desempenho da economia no período eleitoral. “Encontrei sempre um espírito muito sereno e otimista, quer dizer que a atividade económica anda por si, independentemente daquilo que são os fenómenos naturais em democracia“, disse, desdramatizando a situação.

O ministro das Finanças já afastara quaisquer implicações para a economia resultante da queda do Governo com um claríssimo “não, de maneira nenhuma” na ressaca do chumbo da moção de confiança. Joaquim Miranda Sarmento adiantou que o bom desempenho em 2024 se irá traduzir num crescimento “próximo dos 2,5%” este ano.

Os economistas consultados pelo ECO concordam. A crise política “não é um bom sinal”, mas as contas públicas equilibradas, a ausência de reformas profundas e a política de bloco central de PSD e PS vão atenuar o impacto na economia, sublinham. É difícil negar que a economia portuguesa esteja saudável neste momento, pelo menos comparativamente, portanto a estratégia principal dos dois partidos deverá ser tentar colher os créditos desse diagnóstico positivo.

O Governo deverá destacar o quarto trimestre de 2024, que vê como “francamente positivo”, com o maior crescimento em cadeia da união europeia com 1,5%, o terceiro maior crescimento em variação homologa com 2,9% e que “isso significa o efeito carry over para 2025 de 1,4%”. Aos olhos do PS, no entanto, esse carry over já vem do passado, dos tempos da governação socialista quando, salientou Pedro Nuno Santos depois da reunião com Marcelo, na quinta-feira, “a economia crescia muito mais”.

Nenhum debate sobre a economia em Portugal pode escapar ao tema da carga fiscal. Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos vão querer ficar com os louros dos alívios fiscais inscritos no Orçamento de Estado para 2025, especialmente a redução em um ponto percentual da taxa de IRC para 16%, a atualização dos escalões do IRS e o alargamento do IRS Jovem. A narrativa social-democrata irá ser de ter conseguido aprovar esses benefícios para os portugueses, a dos socialistas a de os ter deixado passar ao viabilizar o OE.

Quanto ao próximo Orçamento do Estado, para 2026, os economistas ouvidos pelo ECO dizem que “há tempo” para o preparar, não se prevendo grandes alterações no que os dois principais partidos devem propor, nem grandes divergências entre as propostas.

Com o país vindo a registar um superávite orçamental de 0,3% do PIB este ano e a dívida pública a continuar a trajetória descendente para fixar-se nos 93,3%, a economia portuguesa tem “resiliência” para suportar uma crise política, dizem as agências de rating DBRS, Standard & Poor’s e Fitch, embora esta última tenha alertado que a instabilidade relacionada com as eleições pode impedir a execução do PRR, o que pode, por sua vez, “atrasar projetos críticos”, com consequências negativas para o crescimento.

Do lado dos restantes partidos as principais críticas devem ser as mesmas que têm feito nos últimos meses, que as políticas económicas de PSD e PS são praticamente idênticas, que o crescimento e as mexidas nos impostos afetam apenas alguns privilegiados, que os salários não sobem o suficiente para as famílias poderem lidar com a inflação, uma combinação que resulta na desigualdade social e na fuga de jovens para fora do país.

Habitação: crise sem fim?

O evento já estaria programado mas demonstra como o Governo tem tentado mostrar trabalho (e resultados) na luta para atenuar a crise da habitação. A 13 de março, na manhã a seguir ao chumbo da moção de confiança, Luís Montenegro presidiu à inauguração do programa habitacional Alto da Montanha, no município de Oeiras, um edifício com 64 habitações de renda acessível com um custo estimado de 9,5 milhões de euros.

O primeiro-ministro aproveitou o evento para defender os benefícios da nova lei dos solos e salientar que o problema da habitação tem de se resolver através dos investimentos públicos, mas também dos investimentos privados. Vincou que, se estava prevista a construção de 26 mil habitações através do PRR, o Governo decidiu passar para 59 mil novas casas públicas.

Para Montenegro é possível, através de políticas públicas, “condicionar o mercado e os promotores imobiliários“, devendo o Estado “dar incentivos aos que são capazes de construir e colocar no mercado habitação a custos mais acessíveis”, mas sem intervenção excessiva no mercado. “Estamos a fazer a intervenção que é necessária para modelar os preços”.

Montenegro deverá também repetidamente salientar medidas emblemáticas como isenção de IMT e Imposto de Selo na compra das primeiras casas pelos jovens até aos 35 anos para poderem suportar os elevados preços. Também a garantia pública para os jovens será tema de debate, até porque tem tido bastante procura e ajudado a manter os preços altos.

Mas os preços, apesar dos esforços do Governo, não param de subir. Segundo dados do Confidencial Imobiliário, em fevereiro deste ano os preços da habitação em Portugal Continental sofreram um aumento de 13,6%, quando comparado com o mesmo mês de 2024. E a tendência deverá continuar. A agência de notação financeira DBRS considerou esta segunda-feira que a dinâmica positiva da economia portuguesa, associada à forte procura — que não é acompanhada por nova construção –, o interesse estrangeiro e o ambiente de taxas de juro mais baixas vão continuar a suportar os preços das casas.

A ilustrar o impacto desses dados, diariamente surgem notícias sobre o aumento do número de barracas ou o uso ilegal de edifícios, por exemplo o caso divulgado na quarta-feira sobre um ex-colégio em Massamá que alojava dezenas de famílias, alguma a pagar 500 euros por um quarto.

O tema será, portanto, um dos mais ‘quentes’ na campanha. Pedro Nuno Santos tem criticado o Governo por ‘esquecer’ que a classe média também é afetada pela crise. “O problema da habitação em Portugal, infelizmente, hoje não é um problema apenas das famílias carenciadas, o problema da habitação é um problema da classe média, dos filhos da classe média, e é por isso que não só nós temos que promover a construção privada e cooperativa, mas o Estado tem que assumir também a sua responsabilidade de construir para a classe média, como acontece em muitos países europeus”, defendeu, a 17 de fevereiro, numa visita a um conjunto habitacional em Almada, uma obra cuja primeira pedra tinha sido lançada por si em 2019, então como ministro das Infraestruturas.

Mas é precisamente aí que poderá residir o problema para a estratégia eleitoral do sobre este tema. Por mais que tentem demonstrar que os esforços do Governo têm sido insuficientes para atenuar a crise, os socialistas dificilmente poderão escapar a críticas sobre a tardia reação ao escalar dos preços e da escassez de habitação durante os oito anos no poder até 2023. Além de lançar críticas sobre as políticas (ou escassez delas) do Governo cessante e as do seu antecessor, os outros partidos da oposição deverão repetir de forma geral as propostas das últimas eleições, que incluem mais construção, redução de impostos ou controlo da especulação.

Saúde: como cortar a espera?

Pode ser um dos calcanhares de Aquiles da curta governação da AD e, portanto, um tema especialmente quente da campanha, além obviamente de ser um campo de preocupação central no dia-a-dia dos portugueses.

Demissões em hospitais-chave como o Amadora-Sintra, milhares de utentes sem médico de família e, sobretudo, as longas esperas nas urgências ofuscaram o plano apresentado pelo Governo em maio para reduzir listas de espera, melhorar cuidados materno-infantis e primários. A morte de 11 pessoas em dia de paralisação de trabalhadores de emergência aumentou as críticas à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, eventualmente a governante mais fragilizada da equipa de Montenegro.

INEMLusa

Do lado dos socialistas, neste campo também terão de se defender das fraquezas com que deixaram o SNS. Mas Pedro Nuno Santos já tem, e está a usar, uma arma de contra-ataque: a aprovação pelo Governo, a 7 de março, de parcerias público-privadas (PPP) em cinco hospitais.

Na resolução publicada esta segunda-feira em Diário da República, o Executivo justificou a decisão de avançar com PPP com a diminuição da qualidade dos serviços médicos nos hospitais de Braga, Vila Franca de Xira e Loures e com as “graves falhas” no Amadora-Sintra e Garcia de Orta. No dia seguinte, Pedro Nuno Santos visitou o Hospital de Sintra e garantiu que os problemas do SNS não se resolvem entregando à gestão aos privados, atirando ainda que o anúncio das PPP “é uma forma de a senhora ministra e o primeiro-ministro assumirem a incompetência na gestão do SNS”.

A par destas críticas, os restantes partidos dificilmente se desviarão muito das propostas que apresentaram nas eleições do ano passado, até porque a situação não se alterou de forma significativa. O Bloco sugeriu “reformar” o SNS, o Chega “modernizar”, o Livre “reorganizar” e a CDU “aumentar”, enquanto a IL quer um “novo sistema de saúde que integre os setores público, privado e social”.

Imigração: fechar ou encostar as portas?

Cerca de dois meses após a tomada de posse, o Governo de Montenegro aprovou o Plano de Ação para as Migrações, para corrigir “os graves problemas nas regras de entrada em Portugal, resolver a incapacidade operacional da AIMA e assegurar a operacionalidade dos sistemas de controlo das fronteiras”. Além do processo de entrada, outro eixo fundamental passa por atuar na integração dos imigrantes, para que esta seja efetiva e funcione.

Esses “graves problemas”, segundo o Governo, resultaram da forma irresponsável como os socialistas geriram a imigração, incluindo o desastroso fecho do SEF. Em entrevista ao Expresso, em janeiro, Pedro Nuno Santos admitiu que a gestão da imigração feita pelos socialistas não foi perfeita e que se opõe ao regresso do regime das manifestações de interesse que o Governo AD eliminou com o plano.

No mês seguinte, o PS levou ao Parlamento uma iniciativa para melhorar e acrescentar vias adicionais para a regularização, sem se tratar de recuperar a manifestação de interesses. Apesar dos apelos dos socialistas sobre diálogo nesta matéria, o Governo manteve-se firme nas medidas tomadas.

AIMALusa

Montenegro tem voltado de forma repetida ao tema da imigração, numa posição que ficou plasmada numa frase proferida em outubro: Portugal está aberto a receber imigrantes, mas sem “portas escancaradas”. A posição do primeiro-ministro é claramente uma tática de entrar com força num assunto que durante anos foi dominado pelo Chega. Nesta nova configuração das posições dos partidos sobre o tema, o impacto positivo e negativo da imigração e as medidas para a regular serão sem dúvida alvo de discussão acesa nas semanas até 18 de maio.

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Abstenção nas legislativas arrisca subir face ao cansaço dos eleitores e casos do Chega. Campanha será decisiva

A afluência deverá ser menor face a 2024 pelo desgaste do eleitorado e fragilização do partido de Ventura, mas maior do que a de anos anteriores. Tudo vai depender do calor da disputa na rua.

A afluência às urnas nas próximas eleições antecipadas, de 18 de maio, não deverá repetir o feito das legislativas de 2024, que alcançou uma taxa de participação de 59,84%, o valor mais alto desde 1995. A abstenção, que tinha caído para 40,16%, poderá subir face ao desgaste do eleitorado e a fragilização do Chega, mas o pulso da campanha e a combatividade dos seus protagonistas na rua serão decisivos para a mobilização eleitoral, concluem quatro politólogos consultados pelo ECO.

Já o resultado será semelhante ao de há um ano: dificilmente haverá uma maioria absoluta no Parlamento e a instabilidade governativa deverá manter-se, alertam os especialistas em Ciência Política, André Azevedo Alves, Hugo Ferrinho Lopes, Paula Espírito Santo e Bruno Costa.

“Poderá ser difícil manter os elevados níveis de participação das últimas legislativas, visto que haverá alguma saturação do eleitorado face à repetição de eleições em tão curto espaço de tempo. Mas vai depender essencialmente do grau em que a campanha seja mais ou menos mobilizadora para os vários segmentos do eleitorado“, afirma André Azevedo Alves, professor de Ciência Política da Universidade Católica Portuguesa.

Hugo Ferrinho Lopes considera igualmente que ” abstenção pode aumentar”. “Esta será a quarta eleição legislativa em Portugal em apenas cinco anos e meio. Em setembro/outubro, teremos as eleições autárquicas e, em janeiro, as presidenciais. Estudos científicos sugerem que um número elevado de eleições pode gerar o fenómeno da fadiga eleitoral, ou seja, uma tendência para a abstenção, que se pode perpetuar em eleições subsequentes”, segundo a análise do investigador de doutoramento do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Alinhando pelo mesmo diapasão, Paula Espírito Santo perspetiva que “a afluência não seja tão elevada como em 2024”. “Nessas eleições, houve a participação dos chamados eleitores inconstantes, designadamente porque se viram atraídos pela novidade do Chega, e as suas expectativas podem não ter sido concretizadas face à governação, o que pode desmobilizar o eleitorado por via da desilusão e deceção”, conclui a professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa (ISCSP).

“O Chega é um epifenómeno, cresceu muito rapidamente, de forma exponencial e não há um histórico para saber se se irá manter. Mas, dado que houve situações bastante mediatizadas que fragilizaram o Chega ligados à pedofilia e a questões de transparência, este eleitorado também pode desmobilizar-se”, acrescenta a politóloga.

Paula Espírito Santo referia-se designadamente ao caso do deputado dos Açores do Chega, Miguel Arruda, que foi constituído arguido por suspeita de roubo de malas de viagem no aeroporto de Lisboa. Entretanto o parlamentar desfiliou-se do partido e passou a parlamentar não inscrito. Pedro Pessanha, deputado e presidente da distrital de Lisboa, está a ser investigado pelo Ministério Pública de Cascais, na sequência de uma denúncia por violação de uma menor.

Competição apertada ajudou em 2024

Tal como a professora do ISCSP, Bruno Costa considera que “a participação não será tão elevada face a 2024 por causa de um certo cansaço do eleitorado com eleições num tão curto espaço de tempo e também por causa de um desligamento de um eleitorado de 30/40 anos que se sentiu motivado a votar pela primeira vez no Chega, mas que tradicionalmente é abstencionista”.

“A questão é saber se esse eleitorado continua motivado face a um Chega que também contribuiu para a crise política”, ao ter apresentado uma moção de censura, que acabou chumbada e depois votou contra a moção de confiança do Governo, “e tendo em conta os casos com que tem estado a braços com a Justiça”, sinalizou o professor de Ciência Política da Universidade da Beira Interior.

A explicar a diminuição da abstenção “nas legislativas de 2022 e 2024”, estarão dois fatores, na ótica de Hugo Ferrinho Lopes: “Alargamento da oferta de partidos com assento parlamentar e, nas últimas eleições, de 2024, competição apertada pelo primeiro lugar”.

Assim, e apesar do desgaste do eleitorado, com novas legislativas num espaço de pouco mais de um ano, o calor da campanha, a disputa entre as várias forças políticas e a possibilidade de mudança de ciclo político poderão manter elevado o nível de afluência às urnas. “Caso a eleição seja muito competitiva, como se prevê, isso pode atenuar a fadiga eleitoral”, assinala Ferrinho Lopes.

“Na literatura e na investigação políticas, temos três teorias que ajudam a compreender a participação eleitoral: quanto mais competitiva for a eleição, quanto maior for a disputa, como se verificou em 2024, e quanto mais incertos forem os resultados, como em 2024, maior será a participação eleitoral”, esclarece Bruno Costa.

Para além disso, acrescenta, “a possibilidade de mudança de ciclo político, que pode levar o PS ao poder, ou, pelo contrário, a validação e reforço do atual Governo” de Luís Montenegro, “também pode levar a uma maior participação”.

Por isso, “a campanha será muito importante”, aponta André Azevedo Alves. “Mais do que para alterar o sentido e voto, as campanhas servem para tentar mobilizar as bases eleitorais. Quem for melhor sucedido nesse esforço de mobilização terá potencialmente os melhores resultados”, vinca.

Instabilidade à vista

Independentemente do nível de abstenção e dos resultados eleitorais, a posição dos quatro politólogos é unânime: a instabilidade governativa deverá manter-se. “Uma maioria absoluta parece um desfecho improvável. E, assim sendo, é de esperar que a instabilidade possa continuar”, conclui André Azevedo Alves.

Do mesmo modo, Hugo Ferrinho Lopes acredita que “a probabilidade de se alcançar uma estabilidade parlamentar significativa é baixa”. “É improvável que um partido consiga, isoladamente, alcançar uma maioria absoluta ou que qualquer bloco (seja de esquerda ou de direita) a obtenha, devido à representação do Chega, partido com o qual todos os outros partidos se recusam a estabelecer acordos. É previsível que o cenário de instabilidade parlamentar continue”, reforça. Paula Espírito Santo e Bruno Costa partilham o mesmo sentimento. Ambos consideram que “a instabilidade irá manter-se”.

As últimas eleições legislativas, de 2024, foram convocadas na sequência da demissão do então primeiro-ministro António Costa, que tinha nas mãos uma maioria absoluta socialista no Parlamento. A decisão foi tomada depois de um comunicado da Procuradoria-Geral da República que envolveu o nome de António Costa num inquérito relacionado com suspeitas em torno de projetos de exploração de lítio e negócios de hidrogénio.

O socialista, agora aos comandos do Conselho Europeu, ainda tentou evitar a ida às urnas, sugerindo outros nomes, como o de Mário Centeno, para chefiar um novo Executivo PS, mas o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recusou e dissolveu a Assembleia da República.

Dos mais de 10,8 milhões de eleitores inscritos, em território nacional e no estrangeiro, cerca de 6,5 milhões decidiram votar, elevando a taxa de participação para 59,84%, a mais alta desde 1995.

A coligação da Aliança Democrática (AD), formada por PSD, CDS e PPM, obteve pouco mais de 28% dos votos, elegendo 80 deputados, 78 do PSD e dois do CDS; o PS ficou em segundo lugar, taco a taco com a AD, com 28%, e alcançou 78 cadeiras no Parlamento. E o Chega afirmou-se como terceira força política, conseguindo, pela primeira vez, 18,07% dos boletins, o que lhe permitiu eleger 50 deputados.

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PGR impõe restrições às entrevistas dos procuradores

Amadeu Guerra pede aos magistrados para que sejam "evitadas referências a entidades terceiras, nomeadamente com juízos de valor negativos" em entrevistas a meios de comunicação social.

O Procurador-Geral da República está a impor restrições às entrevistas dos procuradores. O ECO convidou Ana Carla Almeida, a procuradora-geral adjunta especialista no Ministério Público em fundos europeus, para participar no ECO dos Fundos, o podcast quinzenal do ECO sobre fundos europeus. Mas Amadeu Guerra condicionou a sua intervenção e a responsável declinou o convite.

Em causa está a “autorização condicionada” que o PGR Amadeu Guerra deu a Ana Carla Almeida, justificou a responsável.

“Autorizo o pedido formulado”, respondeu o PGR à magistrada quando esta solicitou autorização para participar no podcast. Contudo, “deve ter-se em atenção que devem ser evitadas referências a entidades terceiras, nomeadamente com juízos de valor negativos, nomeadamente antes de nos ser dado conhecimento dos factos negativos a que se faz referência”, alertou Amadeu Guerra.

Deve ter-se em atenção que devem ser evitadas referências a entidades terceiras, nomeadamente com juízos de valor negativos, nomeadamente antes de nos ser dado conhecimento dos factos negativos a que se faz referência.

Amadeu Guerra

Procurador-Geral da República

Perante este alerta, a procuradora-geral adjunta decidiu declinar o convite. “Considerando que não posso ter prévio conhecimento do teor de todas as perguntas que me viessem a ser endereçadas e que nunca faltaria com a verdade e o rigor na formalização das respetivas respostas, vejo como impossível dar ao Exmo. Senhor Procurador-Geral da República prévio conhecimento de eventuais juízos negativos sobre quaisquer entidades que viessem a surgir no decurso da entrevista”, explicou a ECO a responsável que é membro da Comissão de Auditoria e Controlo do Plano de Recuperação e Resiliência, encarregue de produzir relatórios sobre cada um dos pedidos de desembolso da bazuca. O mais recente foi publicado em dezembro do ano passado e era referente ao quinto pedido de pagamento do PRR.

Ana Carla Almeida que está também à frente do think tank criado em 2020 pela então PGR, Lucília Gago, para ajudar a definir estratégias de prevenção e combate a fraudes no âmbito do PRR tem sido uma voz crítica quanto à falta de estratégia e recursos para fiscalizar a aplicação da bazuca europeia.

Mas a polémica mais recente foi mesmo com a Inspeção Geral de Finanças (IGF) por impedir o acesso a documentos fundamentais para avaliar se existem indícios de crime, mas também por não ter “concluído qualquer auditoria” aos sistemas de controlo interno do PRR entre a apresentação do terceiro e quarto pedidos de pagamento, em outubro de 2023, e a apresentação do quinto pedido em julho de 2024.

Ana Carla Mendes de Almeida, no relatório de acompanhamento do Ministério Público na Comissão de Auditoria e Controlo (CAC) do PRR, relativo ao quinto pedido de pagamento, acusou a IGF de “obstaculizar” o trabalho do Ministério Público na prevenção criminal, por não ter tido acesso a toda a documentação solicitada.

Em julho de 2024, Ana Carla Almeida pediu a António Ferreira dos Santos documentos “considerados relevantes”: relatórios de auditorias concluídas e projetos de relatórios de auditorias em curso, constantes do sumário de auditoria, a cargo de entidades como a IGF, o Tribunal de Contas, a DG ECFIN e o Tribunal de Contas europeu, “eventuais respostas das entidades auditadas em sede de contraditório”, as atas de reuniões da CAC em falta, a quinta análise sistemática da AD&C no contexto da prevenção do duplo financiamento e relatórios de avaliação de resultados e de impactos do PRR elaborados nos últimos 12 meses.

Mas não recebeu toda a documentação e voltou a insistir por duas vezes nesse mesmo mês e no seguinte. A IGF negou o acesso “à maioria dos documentos solicitados” por considerar estarem “fora do âmbito das competências da CAC” e por não ter “qualquer comunicação ou documento” do Tribunal de Contas “dirigido à IGF ou à CAC sobre” eventuais projetos de relatórios de auditorias do mesmo. Na altura, contactado pelo ECO, o Ministério das Finanças rejeitou que a IGF tenha sonegado qualquer documento ao Ministério Público.

O relatório referente ao sexto pedido de pagamento, que foi submetido a Bruxelas a 15 de novembro, deverá ser publicado em breve, ainda que, Bruxelas só vai analisar o cumprimento das metas e marcos deste pedido depois de concluído o processo de reprogramação do PRR. O Executivo estava consciente que nem todos os investimentos estavam cumpridos, mas no exercício de reprogramação os mesmo iam ser retirados do PRR – porque não ficariam prontos a tempo – para serem posteriormente assegurados por outras fontes de financiamento como empréstimos do Banco Europeu de Investimentos, o Portugal 2030 e o Orçamento do Estado.

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Vem aí a “via verde” para contratar imigrantes. Veja como vai funcionar

Protocolo prevê decisão final de concessão de visto no prazo de 20 dias após atendimento no posto consular, mas fixa uma série de obrigações para as empresas, da formação ao "alojamento adequado".

O Governo quis pôr um ponto final à “entrada sem regras” de imigrantes no país, mas, para garantir que as empresas têm os trabalhadores de que necessitam, tem estado a negociar uma “via verde” para agilizar a atribuição de vistos aos estrangeiros que sejam recrutados. O protocolo ainda em discussão prevê que as empresas terão de cumprir uma série de obrigações, como dar formação e garantir “alojamento adequado”.

Depois de duas reuniões e quase um mês de silêncio, o Governo enviou no início de março aos representantes dos patrões a proposta de protocolo de cooperação para a migração laboral.

O objetivo, lê-se no documento a que o ECO teve acesso, é “implementar um procedimento expedito de análise e decisão de pedidos de visto para cidadãos estrangeiros com a finalidade de exercício de atividade profissional”.

Isto uma vez que o Governo reconhece que “a imigração laboral desempenha um papel fundamental no desenvolvimento económico de Portugal“.

“Ao longo dos anos, os imigrantes têm contribuído significativamente para vários setores da economia portuguesa, trazendo consigo uma variedade de competências, experiências e conhecimento que enriquecem o mercado de trabalho e impulsionam o crescimento do país”, lê-se na proposta de protocolo, que assinala, além disso, que “uma parte relevante” da mão-de-obra de setores como a agricultura e o turismo provém do estrangeiro.

E como vai funcionar essa “via verde”? O processo terá cinco passos.

Como vai funcionar “via verde”?

1. Entidade empresarial pede agendamento para apresentação de pedido de visto e envia documentação à DGACCP;
2. DGACCP remete processo para o posto consular correspondente;
3. Posto consular agenda atendimento;
4. AIMA e UCFE emitem pareceres;
5. Postos consulares tomam decisão e, “sendo a mesma favorável, procedem à aposição das vinhetas de visto nos passaportes”.

Primeiro, a entidade empresarial terá de reunir toda a documentação necessária para o efeito e enviar, por email, para a Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP), o pedido individual ou grupal de agendamento para apresentação do pedido de visto.

Caberá, então, à DGCACCP remeter o processo para o posto consular correspondente, no prazo de dois dias, assegurando o agendamento prioritário.

Entretanto, a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) e Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros do Sistema de Segurança Interna (UCFE) terão de emitir pareceres para a concessão dos vistos em causa, sendo que o primeiro desses órgãos deverá ter um prazo de três dias, enquanto o segundo disporá de até cinco dias.

Com os pareceres emitidos, os postos consulares tomam a decisão derradeira. “A decisão final de concessão de visto deverá ocorrer no prazo de 20 dias a partir do dia do atendimento do requerente no posto consular, desde que se encontrem cumpridos os requisitos legais para a emissão dos vistos”, detalha a proposta de protocolo enviada pelo Governo.

A decisão final de concessão de visto deverá ocorrer no prazo de 20 dias a partir do dia do atendimento do requerente no posto consular.

Em troca deste processo mais expedito, os empregadores terão, porém, de cumprir uma série de obrigações. Antes de mais, ficarão responsáveis por “recolher, agregar e apresentar cópias de toda a documentação“.

Caberá aos empregadores também entregar à DGACCP, juntamente com o pedido de agendamento, a lista de cidadãos estrangeiros recrutados, com nomes, datas de nascimento, números e validade dos documentos de viagem, nacionalidades, países de residência e endereços de email.

Além disso, terão de emitir e subscrever um termo de responsabilidade, através do qual assumem o cumprimento de dois critérios: a existência do contrato de trabalho que está subjacente ao pedido de visto (a proposta não fixa a natureza desse vínculo, pelo que pode não ser permanente) e a existência e validade da cobertura de seguros de saúde e viagem, “de acordo com a legislação em vigor relativamente ao tipo de vista em causa”.

Recrutamento ético. Que obrigações para empresas?
1. Garantir contrato de trabalho válido;
2. Oferecer oportunidades de formação profissional e de aprendizagem da língua portuguesa (IEFP pode apoiar);
3. Assegurar acesso a alojamento adequado.

Por outro lado, as empresas terão de respeitar um compromisso de recrutamento ético, o que significa garantir um contrato de trabalho válido, assegurar oportunidades de formação profissional e de aprendizagem de língua portuguesa “no território nacional ou de origem” — esta formação deve ser ajustada às funções a desempenhar e “pode ter em conta as obrigações legais” (as 40 horas previstas no Código do Trabalho) –, bem como proporcionar “acesso a alojamento adequado“.

No que diz respeito à habitação — um dos pontos mais críticos na negociação entre o Governo e as confederações empresariais –, a proposta esclarece que o envolvimento da entidade empregadora pode ter “diferentes modalidades“, mas não identifica quais. Além disso, o empregador terá de fazer um plano que “confirme a existência ou eventual reforço do alojamento disponível na região em que o trabalho é prestado, de modo que o recrutamento não agrave a pressão habitacional na região”.

Outras das obrigações dos empregadores é “recusar e prevenir práticas relacionadas com exploração laboral, tráfico de seres humanos ou outras que possam lesar os direitos dos trabalhadores recrutados”.

A proposta prevê ainda que as confederações terão de assegurar que as empresas que recrutem imigrantes “dispõem de meios para garantir” estes compromissos.

As entidades empresariais subscritoras asseguram que, as próprias ou as respetivas associadas que empregam os trabalhadores estrangeiros recrutados, dispõem dos meios para garantir os compromissos elencados.

Importa realçar que, além das confederações empresariais, podem também ter acesso a esta “via verde” as associações empresariais com, pelo menos, 30 associados, cujo volume de negócios seja, pelo menos, 250 milhões de euros, ou empresas com, pelo menos, 150 trabalhadores, 25 milhões de euros de volume de negócio, declaração de não dívida à Segurança Social e ao Fisco, e código de certidão permanente válida.

É de destacar também que, perante o incumprimento dos compromissos mencionados, a entidade empresarial pode ser expulsa do protocolo.

Por outro lado, a proposta prevê que a AIMA possa suspender essa “via verde”, por “motivos relevantes de segurança ou de dificuldades sérias na pressão sobre a capacidade de resposta de serviços públicos essenciais“.

História remonta ao verão de 2024. Assinatura em breve?

O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, intervém durante o briefing de conclusão após a reunião do Conselho de Ministros, no Campus XXI em Lisboa.TIAGO PETINGA/LUSA

A criação da “via verde” para a contratação de imigrantes por empresas portuguesas remonta ao verão do ano passado, quando o Governo decidiu apertar as regras de entrada no país, acabando, nomeadamente, com as manifestações de interesse.

Em contrapartida, ficou, portanto, prevista, nomeadamente, a criação destes “canais tipo via verde” para as confederações e associações empresariais verem agilizada a emissão de vistos.

Ao longo deste processo, o Governo já cedeu nalguns pontos. Por exemplo, já não se exige que a “via verde” seja usada apenas para contratos permanentes e deixou-se cair a exigência de responsabilização das entidades pelos “meios de subsistência dos cidadãos estrangeiros em território nacional”.

De resto, chegou a ser noticiado que a assinatura estaria a ser preparada para 15 de março. Tal acabou por não se concretizar, mas as fontes ouvidas pelo ECO antecipam que poderá acontecer em breve.

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Tempestade na energia trava lucros das cotadas da bolsa em 2024

Resultados das empresas do PSI caíram em 2024 após três exercícios recordes, penalizados pelo prejuízo de 550 milhões da EDP Renováveis, com impacto nas contas reportadas pela casa-mãe.

Depois de terem ultrapassado pela primeira vez na história a fasquia de cinco mil milhões de lucros em 2023, as cotadas do PSI viram a sua rentabilidade cair pela primeira vez em quatro anos. Uma evolução em grande parte determinada pelos prejuízos da EDP Renováveis, que, de um contributo positivo de mais de 300 milhões de euros, passou a prejuízos de 556 milhões.

As cotadas do índice de referência PSI — falta apenas conhecer as contas da Ibersol, cuja data de divulgação ainda não é conhecida — fecharam o último ano com um resultado líquido de 4.224,2 milhões de euros, menos 21,6% que os 5.386,8 milhões reportados em 2023. Esta queda marca uma inversão na tendência de recuperação de resultados que as empresas da bolsa apresentavam desde 2021, o ano pós-pandemia da covid-19.

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Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

Esta quebra dos resultados surpreendeu os analistas, que apontavam para mais um exercício com ganhos de rentabilidade para as empresas da bolsa lisboeta. O consenso de estimativas compilado pela Reuters antecipava que as 15 cotadas do PSI tivessem fechado 2024 com lucros de 5,5 mil milhões de euros, o que seria um novo recorde.

O último ano ficou marcado por uma conjuntura económica difícil na Europa, com as maiores economias da região — Alemanha e França — em dificuldades, atrasando a recuperação do produto interno bruto (PIB) da região. Portugal voltou a destacar-se, com uma subida do PIB de 1,9%, o dobro do crescimento europeu. Apesar da dinâmica interna positiva, empresas com atividade em mercados externos foram afetadas pelo abrandamento económico e pelo clima de incerteza internacional, após a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas.

Receitas crescem quase 7%

Apesar da quebra dos resultados, as empresas conseguiram fechar o ano com um crescimento das receitas. O volume de negócios subiu para 89,96 mil milhões de euros, um valor que ficar cerca de 7% acima dos 84,3 mil milhões de euros.

Já o EBITDA (resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) desceu 3% para 15,9 mil milhões de euros, interrompendo uma série de três anos de recordes consecutivos, à semelhança dos lucros.

“É verdade que este exercício foi mais difícil para umas empresas do que para outras”, refere Pedro Barata. O gestor de ações da GNB realça que “houve empresas cujos resultados ficaram um pouco aquém do desejado nomeadamente a EDPR, a Navigator e a Corticeira Amorim, mas em contrapartida houve outras cujos resultados foram bastante interessantes e bem recebidos pelo mercado como por exemplo o BCP, a NOS, a Mota-Engil e a Sonae“.

A EDP Renováveis protagonizou o pior desempenho do exercício e foi uma das principais responsáveis pela quebra dos lucros do PSI. A empresa de energias renováveis, que tem sido pressionada em bolsa pelo regresso de Trump à Casa Branca, uma vez que o republicano tem ameaçado desinvestir em energias renováveis e quer voltar a apostar nos combustíveis fósseis, surpreendeu com prejuízos históricos.

A companhia passou de lucros de 309 milhões de euros, em 2023, a um prejuízo de 556 milhões em 2024, contrariando as expectativas dos analistas, que antecipavam lucros em torno de 274 milhões no acumulado do exercício. A empresa justificou estes números com itens não recorrentes, de 777 milhões de euros, explicados por imparidades relacionadas com os projetos na Colômbia e nos Estados Unidos.

Os prejuízos levaram as ações a afundar perto de 16% após os resultados, tocando num mínimo de 7,97 euros, a cotação mais baixa em seis anos, levando a capitalização bolsista da empresa a encolher 1.533,8 milhões de euros face à última sessão.

Esta verdadeira “tempestade” nas contas da EDP Renováveis também se refletiu diretamente nas contas da EDP, que viu os lucros encolher 151 milhões de euros para 801 milhões de euros no período.

O retalho também viu a sua rentabilidade baixar face ao período homólogo. A Jerónimo Martins reportou esta semana uma quebra dos lucros de 20,8%, ou 157 milhões, para 599 milhões. Já a sua concorrente apresentou um conjunto de resultados que considerou “memorável”, com as receitas a aproximarem-se dos 10 mil milhões de euros e o EBITDA a superar os mil milhões. Ainda assim, os lucros recuaram 37% para 223 milhões. Contudo, excluindo a mais-valia de 168 milhões registada com a venda da participação na dona da SportZone, os lucros subiram 18%.

Nos, Altri e BCP lideram

Ao contrário das cotadas do grupo EDP e da distribuição, a Nos, Altri e o BCP apresentaram fortes crescimentos face a 2023. O banco liderado por Miguel Maya alcançou um lucro histórico de 906,4 milhões de euros em 2024, uma subida de quase 6% em relação ao ano anterior, garantindo o segundo maior resultado da bolsa, apenas superado pelos lucros de 961 milhões da Galp, o segundo maior lucro de sempre da petrolífera.

Com lucros recorde fechou ainda a Nos. A operadora obteve em 2024 “os melhores resultados de sempre”, tendo lucrado 273,1 milhões de euros, um crescimento superior a 50%, se contabilizados os efeitos “não recorrentes”. Graças a eles, este ano, além do dividendo ordinário de 35 cêntimos, a empresa irá propor pagar um dividendo extraordinário de 5 cêntimos por ação.

Já esta quinta-feira, a papeleira Altri informou que mais que duplicou os lucros para 107,2 milhões de euros.

Instabilidade internacional pede cautela

A maioria das empresas mostra-se cautelosamente otimista para 2025, no entanto os gestores reconhecem os desafios e admitem que há muitos riscos, que vão desde a ameaça de uma guerra comercial, à inflação e guerras.

“Para 2025, as expectativas das empresas são bastante diversas, dependendo muito da sua área de negócio e da sua exposição ao mercado internacional. A maioria tem tido um discurso positivo, mas ao mesmo tempo cauteloso fruto da incerteza política internacional e das tarifas que a nova administração americana pretende implementar, sendo natural que as empresas mais expostas ao mercado americano sejam aquelas onde a incerteza face ao futuro próximo seja maior”, considera Pedro Barata.

A maioria [das cotadas] tem tido um discurso positivo, mas ao mesmo tempo cauteloso fruto da incerteza política internacional e das tarifas que a nova administração americana pretende implementar, sendo natural que as empresas mais expostas ao mercado americano sejam aquelas onde a incerteza face ao futuro próximo seja maior.

Pedro Barata

Gestor de ações nacionais da GNB

Uma das empresas que passou uma mensagem positiva foi a Sonae. “Num mundo muito incerto, vemos o mundo com muito otimismo na Sonae”, disse a CEO da Sonae, Cláudia Azevedo. A empresária diz que 2024 “foi um ano recorde, dificilmente replicável tão cedo”, ainda que adiante que a empresa vai continuar a ter um “forte investimento” nos negócios atuais da empresa.

Já José Pina, CEO da Altri, adiantou numa mensagem na apresentação de resultados que “a nossa boa performance foi resultado da continuada eficiência operacional, do enfoque na gestão cuidada dos investimentos, assim como do empenho das nossas equipas, em especial nas oportunidades de inovação”. “Este sucesso, mesmo em tempos de incerteza, dá-nos energia para a criação consistente de oportunidades no futuro”, concluiu.

Mesmo Miguel Stilwell de Andrade, CEO da EDP e da EDP Renováveis, diz que “independentemente da incerteza política, é muito claro para nós que a procura de energia nos EUA deverá registar um bom crescimento ao longo da década”, ressalvou o gestor, revelando-se “cautelosamente otimista” em relação aos Estados Unidos.

“Apesar de desafios de curto prazo no mercado, fundamentais sólidos de crescimento nos mercados chave da EDPR suportam uma estratégia de crescimento de longo prazo lucrativa”, concluiu Stilwell, numa conferência onde justificou os números da empresa de renováveis.

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Trump extingue Departamento de Educação

  • Lusa
  • 20 Março 2025

O Presidente norte-americano tem defendido que o Departamento, equivalente a um ministério, tem promovido "ideologia de esquerda".

O Presidente norte-americano, Donald Trump, assinou esta quinta-feira uma ordem executiva para “eliminar” o Departamento de Educação, a ser executada “o mais rapidamente possível”, apesar de críticas da sociedade civil e oposição.

“Vamos acabar com isto (Departamento de Educação) e acabar com isto o mais possível”, afirmou o Presidente norte-americano pouco antes de assinar o documento numa cerimónia na Casa Branca, em Washington, DC. “Não nos está a fazer bem algum”, defendeu Trump, que tem defendido que o Departamento, equivalente a um ministério, tem promovido “ideologia de esquerda”.

Antes da assinatura, a Casa Branca afirmou que a extinção do Departamento de Educação não implicará o fim de ajudas a alunos carenciados e ao ensino especial, mas sociedade civil e oposição defendem que a medida travará esforços para equilibrar um sistema educativo desigual.

Para Derrick Johnson, presidente da NAACP, uma das principais associações de defesa dos direitos civis dos afro-americanos, “este é um dia sombrio para os milhões de crianças que dependem de financiamento federal para uma educação de qualidade”.

“Incluindo aquelas [crianças] em comunidades pobres e rurais com pais que votaram em Trump”, disse, citado pela agência AP. Os democratas afirmaram que irão agir legalmente contra a ordem presidencial, nos tribunais e no Congresso, e pediram aos republicanos que se juntem a eles.

Bobby Scott, congressista da Virgínia e o principal democrata do Comité de Educação e Força Laboral do Congresso, afirmou que a ordem de Trump é “perigosa e ilegal” e prejudicará desproporcionalmente os estudantes de baixos rendimentos, estudantes de minorias raciais e os portadores de deficiências.

Aos jornalistas, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou antes da cerimónia que continuarão a ser administrados pelo Departamento de Educação os empréstimos estudantis e Pell Grants, bolsas de financiamento de estudos universitários carenciados.

A mesma responsável também confirmou que continuará a ser da competência do departamento o financiamento da educação especial e a ajuda suplementar para crianças de famílias com baixos rendimentos. Sublinhou ainda que a ordem executiva determina que a nova secretária da Educação, Linda McMahon, “reduza significativamente a escala e a dimensão” da instituição.

O Departamento de Educação, criado em 1979 ao abrigo de uma lei aprovada pelo Congresso, não pode ser extinto sem aprovação legislativa, um cenário considerado altamente improvável dada a previsível falta de apoio dos Democratas no Congresso.

Os republicanos criticaram fortemente o Departamento de Educação durante a administração do democrata Joe Biden (2021-2025), em particular as decisões de perdoar empréstimos a estudantes e de alargar às pessoas LGBTI as proteções contra a discriminação sexual na educação.

O fim do Departamento de Educação foi uma promessa de campanha de Trump, que o classificou como “um desperdício”, considerando que está “poluído” pela ideologia liberal.

Ao dar posse a Linda McMahon o Presidente republicano disse que a principal missão desta bilionária, ex-empresária da luta livre, seria “colocar-se no desemprego”, acabando com o Departamento, o que suscitou alarme no setor social quanto à possibilidade de serem extintos os apoios a alunos carenciados.

As escolas e os estabelecimentos de ensino superior têm estado a lidar com a exigência de eliminar os programas de diversidade, sob pena de perderem o financiamento federal. A administração Trump deu-lhes até 28 de fevereiro para cumprirem.

As escolas e os estados já exercem uma autoridade significativamente maior sobre a educação do que o governo federal, que está impedido de influenciar os currículos escolares. Os fundos federais representam cerca de 14% dos orçamentos das escolas públicas.

O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) de Elon Musk, bilionário conselheiro de Trump, já eliminou dezenas de contratos que considerou ideológicos ou fonte de desperdício.

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Regulador rejeita atualizações tarifárias propostas pela ANA

  • Lusa
  • 20 Março 2025

A ANAC rejeitou o aumento, proposto pela ANA, para a taxa de segurança, que atingiria os 1,87 euros por passageiro embarcado, e deu parecer favorável à sua revisão em baixa, para 1,84 euros.

A Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) rejeitou as propostas da concessionária dos aeroportos (ANA) para a atualização de um conjunto de taxas aeroportuárias, tendo optado, por exemplo, por reduzir a taxa de segurança.

Em comunicado divulgado esta quinta-feira, o regulador revela que optou por “rejeitar o aumento inicialmente proposto pela ANA para a taxa de segurança, que atingiria os 1,87 euros por passageiro embarcado, e emitir um parecer favorável à sua revisão em baixa para 1,84 euros, após o ajuste do WACC”, isto é, do custo médio ponderado de capital.

Em 16 dezembro de 2024, a ANAC tinha optado por não aprovar provisoriamente a atualização das taxas aeroportuárias apresentadas pela ANA para os aeroportos do grupo, que inclui além do Humberto Delgado os da Madeira, Açores e Beja.

A decisão tomada agora é sustentada “nas conclusões da auditoria realizada pela ANAC aos custos da ANA associados à taxa de segurança, e após a revisão do custo médio ponderado do capital utilizado no cálculo da referida taxa, conforme determinado pelo regulador”, explica.

A ANAC rejeitou também a modulação proposta pela concessionária no processo de consulta tarifária para a taxa de Passageiros de Mobilidade Reduzida ( PMR), “uma vez que a diferenciação da taxa proposta não se traduzia em qualquer alteração na qualidade e nos serviços prestados” aos passageiros visados.

Nesse sentido, decidiu aprovar o aumento de 0,03 euros na taxa de PMR para 0,72 euros por passageiro embarcado. Na mesma nota, o organismo informa ainda que optou por não aprovar a proposta de modulação da taxa de aterragem em função do CO2 proposta pela ANA, defendendo que “não foi demonstrada a sua conformidade com o princípio da proporcionalidade”.

Por fim, o organismo anunciou que também decidiu não aprovar a proposta de modulação da taxa de aterragem em Ponta Delgada em função da sazonalidade, “uma vez que não foi demonstrada a sua conformidade com os princípios da não discriminação, proporcionalidade e objetividade”.

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Sabseg assina parceria com sindicato de bancários SNQTB

  • ECO Seguros
  • 20 Março 2025

Desta forma, a SNQTB Seguros passa a beneficiar da capacidade operacional e comercial da Sabseg "reforçando a sua posição no mercado segurador". 

A Sabseg firmou uma parceria com o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), garantindo a mediação exclusiva da SNQTB Seguros “reforçando a presença institucional e a capacidade de resposta de ambas as organizações no setor”, refere a corretora de seguros em comunicado.

Miguel Machado, presidente do conselho de administração da SABSEG e Paulo Gonçalves Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários

 

“Com esta colaboração, a Sabseg passa a assumir um papel central na ampliação, diversificação e qualificação da oferta de seguros para os associados do SNQTB”, indica a corretora.

Desta forma, a SNQTB Seguros passa a beneficiar da capacidade operacional e comercial da Sabseg, “reforçando a sua posição no mercado segurador”.

O acordo estabelecido entre as entidades baseia-se em quatro pilares: proximidade e personalização, rapidez e efiência, qualidade e inovação, por último, qualidade e confiança.

“Mais do que um reforço da oferta disponível, esta parceria representa um investimento na proteção e no bem-estar dos associados do SNQTB. A colaboração entre a Sabseg e a SNQTB Seguros fortalece o papel institucional de ambas as entidades”, lê-se no comunicado.

A SNQTB Seguros – Mediação de Seguros é a mediadora constituída pelo SNQTB com o objetivo em negociar seguros dos ramos Vida e Não Vida, em condições vantajosas para os sócios do SNQTB.

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Gasto em defesa antes das eleições “será consensualizado” com PS, garante Montenegro

Primeiro-ministro afirmou que ainda está "a avaliar" se vai flexibilizar as regras orçamentais para gastar em defesa. Assegurou que "qualquer decisão antes das eleições será consensualizada" com o PS.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, garantiu esta quinta-feira que “qualquer decisão” sobre o levantamento da disciplina orçamental para gastar em defesa, antes das eleições antecipadas de 18 de maio, “será consensualizada com o maior partido da oposição”, isto é, com o PS, afirmou, a partir de Bruxelas, no final da reunião do Conselho Europeu.

Para já, o Governo “está ainda a avaliar” se vai ou não acionar essa cláusula de escape, permitida pela Comissão Europeia. “Está tudo em aberto”, sublinhou. Bruxelas propôs a flexibilização das regras orçamentais para o aumento da despesa em defesa durante quatro anos e quer que todos os países ativem a cláusula nacional de escape do Pacto de Estabilidade e Crescimento até ao final de abril.

O objetivo passa por permitir espaço orçamental adicional para os Estados-membros para gastar em defesa em até 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para cada ano de ativação da cláusula de escape nacional, sem que estas verbas contem para o limite do défice de 3% do PIB considerado por Bruxelas para abertura de um Procedimento por Défice Excessivo.

De qualquer forma, Luís Montenegro considera que Portugal não necessita de usar esse instrumento nem de recorrer aos 150 mil milhões de euros em empréstimos que Bruxelas vai disponibilizar. “Não precisávamos disto, porque temos boas condições para ir ao mercado endividarmo-nos e também temos margem para isso, porque temos um superávite e, até atingirmos o limite das regras que se enquadram no pacto de estabilidade e crescimento, ainda temos muita capacidade de endividamento”, defendeu.

Sobre os futuros acordos com outros parceiros mundiais, com vista à diversificação de mercados, e tendo em conta a política protecionista dos EUA, Montenegro mostrou-se preocupado com “pequenas resistências que ainda existem” junto dos Estados-membros da União Europeia.

“Será imperdoável que, após tantos anos de negociações com o Mercosul e com o México, a Europa não seja capaz de rapidamente executar os acordos. Será um caminho difícil de compreender para quem quer ultrapassar uma situação de excessiva de dependência, de pouca capacidade de autonomização de escolha relativamente a questões económicas e estratégicas”, sinalizou.

Por isso, o primeiro-ministro referiu que, “mais uma vez”, instou “os parceiros para poderem ultrapassar as pequenas resistências que ainda existem, para que possam fazer da economia europeia um espaço mais aberto, de maior competitividade, com maiores oportunidades e com mercado alternativos”.

“Para não estarmos excessivamente dependentes dos nossos parceiros internacionais habituais”, reforçou.

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Trabalhadores da CGD querem representação na administração do banco

  • Lusa
  • 20 Março 2025

Em carta ao ministro das Finanças, a Comissão de Trabalhadores da CGD apela à um assento entre os administradores não executivos do banco público.

A Comissão de Trabalhadores (CT) da Caixa Geral de Depósitos (CGD) enviou uma carta ao ministro das Finanças, Miranda Sarmento, a apelar à entrada de trabalhadores, como administradores não executivos, no próximo mandato dos órgãos sociais do banco.

Na carta, a que a Lusa teve acesso, a CT solicita ao ministro “a consideração da aplicação do preceito constitucional regulamentado em Lei do Trabalho, que permite assento aos trabalhadores, na qualidade de administradores não executivos na Administração na CGD para o mandato 2025-2028, cujo processo a CT da CGD tem conhecimento ter sido aberto e estar em curso”.

“Perante as declarações produzidas pelo CEO da CGD sobre as matérias referentes ao mandato em questão à comunicação social no mês de dezembro de 2024, bem como a cessação do mandato precedente, que requer a propositura de novo Conselho de Administração para o banco do Estado, a matéria em epigrafe passou a ser um assunto de importância acrescida e importante para os trabalhadores da CGD”, indicaram.

Na carta, os trabalhadores da CGD disseram que “continuam ser parte da solução e nunca foram nem são força de obstrução ou de bloqueio à gestão indigitada pelo Governo, contudo têm sempre alguns contributos a manifestar e matérias a acompanhar, no que concerne a governação da empresa e aos caminhos que respeitam ao seu futuro, que decorrem da legislação em vigor e da sua qualidade de parte interessada nesse desígnio”.

Segundo a CT, “esta evidente necessidade de participar internamente, como importantes agentes de concórdia e de acréscimo de produtividade e resultados, adicionando à gestão soluções e coesão interna, tal como se verifica e atesta noutros países da União Europeia, sem dúvida contribuem para projetar a CGD no futuro”.

Assim, a Comissão de Trabalhadores da CGD pediu à tutela “uma análise e consequente decisão sobre o assunto contribuindo para o empenho dos trabalhadores e a sua apologia na defesa e sustentabilidade da CGD pública, sendo este importante como catalisador de paz social”.

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Primeira fase do ‘ChaGPT’ Amália concluída no fim de março, avança o Governo

  • ECO
  • 20 Março 2025

Ministérios da Educação e da Juventude esclarecem que não haverá entidades privadas envolvidas no primeiro Modelo de Linguagem em Grande Escala de Portugal.

A versão beta do Amália, o ‘ChatGPT’ português, “estará concluída no final do mês de março”, indica uma nota conjunta do ministério da Educação, Ciência e Inovação e do ministério da Juventude e Modernização, enviada esta quinta-feira às redações. O primeiro Modelo de Linguagem em Grande Escala de língua portuguesa de Portugal (LLM português) vai custar 5,5 milhões de euros, com recurso a fundos do Plano de Recuperação de Resiliência, e durar 18 meses.

No período de desenvolvimento haverá três versões: a beta, no primeiro trimestre de 2025, a versão base, prevista para o terceiro trimestre deste ano, e a versão multimodal, no segundo trimestre de 2026.

Na primeira fase, cujo prazo cumpre o calendário avançado pelo primeiro-ministro na última Web Summit, o Amália terá “capacidade para receber e interpretar instruções em formato de texto e responder com base no conhecimento adquirido, não possuindo ainda conhecimento especializado”.

Face às dúvidas da última semana, sobre os prazos e quem iria desenvolver o modelo LLM, os dois ministérios explicam que nenhum privado está envolvido no projeto. Em novembro de 2024, um primeiro comunicado do ministério da Juventude e Modernização indicava que o Amália seria desenvolvido por um consórcio de centros de investigação públicos, com o contributo de entidades privadas.

Os dois ministérios reiteram que as entidades que estão a “liderar a execução operacional do projeto” são a Agência para a Modernização Administrativa (AMA) e a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), que após os 18 meses do projeto têm de garantir que o Amália está disponível, “em open source, de forma gratuita”.

“Estas são as únicas entidades envolvidas no projeto de desenvolvimento do Amália, não havendo, assim, nenhum envolvimento de entidades privadas”, indica a nota dos ministérios.

À AMA cabe a “gestão da iniciativa” e “assegurar as condições necessárias para a futura disseminação do LLM por todos os seus potenciais utilizadores públicos e privados”. Já a FCT será responsável “por coordenar, junto dos centros de investigação, o treino e desenvolvimento do LLM” e “assegurar a infraestrutura necessária para o treino e alojamento” do modelo.

A FCT, aliás, já celebrou um contrato com a Universidade Nova de Lisboa e com o Instituto Superior Técnico, bem como com a Universidade de Coimbra, Universidade do Porto e Universidade do Minho.

O Governo nomeou ainda, em janeiro, um comité de acompanhamento especializado por quatro peritos em Inteligência Artificial: Arlindo Oliveira, presidente do INESC, Goretti Marreiros, presidente da Associação Portuguesa para Inteligência Artificial, Daniela Braga, em representação do consórcio Accelerat.ai, e Paulo Dimas, em representação do consórcio Center for Responsible AI.

O Amália era a prioridade número da Agenda Nacional de Inteligência Artificial, que já não será apresentada este mês uma vez que o Governo entrou em gestão.

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