Grupo de Vale de Cambra “embala” investimento industrial de 50 milhões

Três anos depois da cisão operada pela acionista RAR, a Colep Packaging está a construir uma fábrica no México e vai expandir e modernizar as unidades industriais em Portugal, Espanha e Polónia.

A Colep Packaging, fundada há quase 60 anos pelo histórico empresário Ilídio Pinho e que passou pelas mãos de um fundo de George Soros e do Banco Espírito Santo (BES) antes de ser comprada pelo grupo RAR no início do século, tem em carteira um plano de investimentos próximo dos 50 milhões de euros, que inclui a construção de uma fábrica no México e a expansão e modernização das unidades industriais em Portugal, Espanha e Polónia, avança ao ECO o presidente executivo da empresa de Vale de Cambra, Paulo Sousa.

Dois anos depois de ter comprado uma participação de 40% na espanhola ALM Envases, que permitiu à produtora portuguesa entrar no segmento dos aerossóis de alumínio – usados para embalar artigos como desodorizantes, protetores solares, cremes ou espumas para cabelo –, o gestor adianta que, além de estar a “ajudar na profissionalização” desta operação, planeia agora um investimento “essencialmente fabril”, no valor de 15 milhões de euros, para expandir esta unidade industrial localizada a norte de Barcelona, que é a segunda do grupo no país vizinho.

“Temos a perspetiva de fazer crescer este negócio que, quando comprámos, faturava 10 milhões de euros e tinha 45 trabalhadores. Tinha uma dimensão reduzida, mas permitiu-nos entrar num nicho de mercado e com uma tecnologia [impressão digital] que traz uma proposta de valor diferente ao mercado. Com a instalação de mais capacidade, vamos conseguir num breve prazo duplicar as vendas para 20 milhões de euros”, calcula.

Reportagem na Colep Packaging - 09FEV24
Colep Packaging, produtor de embalagens metálicasRicardo Castelo/ECO

em fase mais avançada de construção está a nova fábrica de aerossóis metálicos no México, avaliada em 28 milhões de euros, num investimento dividido (50/50) com o argentino Envases Group, com quem fechou uma joint-venture em outubro. A primeira linha deve estar operacional já este verão; as outras duas previstas nesta primeira fase do projeto vão estar instaladas até ao final do primeiro trimestre de 2025. Paulo Sousa, 48 anos, formado em Gestão na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), fala ainda em “planos para expansões adicionais”, consoante a “recetividade do mercado”.

O CEO da Colep Packaging estima que “este é um negócio para valer 25 milhões de euros a nível de faturação”. Vai abastecer sobretudo o México, mas também clientes na América Central e nos EUA. “São mercados que já servíamos, mas em que alguma presença local podia ter sentido para fazê-lo de forma diferente. Já era nossa intenção alargar-nos geograficamente e esta foi a opção mais natural e com menos risco. Encontrámos um parceiro que estava com a mesma vontade e achámos que a experiência das duas partes pode acrescentar algo”, resume.

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Paulo Sousa, CEO da Colep PackagingRicardo Castelo/ECO

Com a unidade incorporada na Catalunha, e contando já com esta que está a edificar no México (Querétaro), a multinacional portuguesa passa a ter quatro fábricas fora de Portugal. Em Espanha já tinha uma outra unidade, localizada em San Adrián (Navarra), que resultou de uma aquisição realizada em 1996; e tem uma outra na Polónia (Kleszczów), construída de raiz e inaugurada em 2007, que vai passar a trabalhar também a área de tintas e vernizes, além dos aerossóis.

No entanto, é em Vale de Cambra que mantém o principal centro de produção, com cerca de 600 trabalhadores, sendo a única com todo o processo integrado, desde a matéria-prima até ao produto final. É também aqui que fabrica grande parte dos componentes que depois são montados nessas unidades satélites, mais próximas do ponto de venda. “Mandarmos a lata para a Polónia seria transportar ar. Vão os componentes e eles lá juntam-lhe o ar. Temos fábricas de juntar ar no estrangeiro”, ilustra Paulo Sousa.

“Apesar de ser um sítio com mão-de-obra atrativa e uma série de boas condições, Portugal está longe de tudo. Se queremos ser um player europeu, temos de nos aproximar desses mercados”, resume. E têm outras localizações em vista? “Estamos a avaliar os que têm potencial de crescimento e alguns porque os clientes nos estão a pedir. Temos de ver qual a melhor forma de estarmos presente. Este modelo de uma central de produção e depois satélites de montagem resulta em determinadas escalas, noutras pode já não resultar. E depende das tecnologias”, sublinha.

Com capacidade para produzir um milhão de unidades por dia, a Colep Packaging tem igualmente planos para “crescimentos anuais de duplo dígito” em volume nos próximos três anos, em termos orgânicos. Em cima da mesa está um “plano significativo na casa dos 20 a 30 milhões de euros de investimento”, distribuído pelas fábricas portuguesa, espanhola e polaca. Envolverá a introdução de novas tecnologias, a mudança nos processos produtivos e a substituição de equipamentos para aumentar a eficiência e passar a produzir embalagens até 27% mais leves, com vantagens económicas e ambientais.

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Das bolachas Triunfo à separação da “irmã”

No ano passado, a Colep Packaging viu as vendas tropeçarem 14% em termos homólogos, para 128 milhões de euros, e registou um EBITDA de 25 milhões. No último relatório e contas da RAR, em que o grupo nortenho reportou um disparo nos lucros para 34,5 milhões de euros, o presidente da holding, Nuno Macedo Silva, escreveu que a subsidiária “ressentiu-se de um abrandamento da procura na Europa, condicionada pelas limitações dos conflitos instalados, que inibiram o acesso a alguns mercados de leste”.

Criada em 1965 como resultado da emancipação empresarial de Ilídio Pinho face à família, a Colep (abreviatura de Costa Leite e Pinho) começou por fabricar embalagens metálicas para bolachas – o primeiro cliente foi a antiga Triunfo, de Coimbra – e evoluiu depois também para o enchimento dos produtos. Foi só no verão de 2021 que o acionista concretizou a cisão das unidades de negócio. Na sequência dessa operação, a antiga Colep Portugal passou a designar-se Colep Consumer Products, enquanto esta área de embalagens assumiu a designação Colep Packaging.

“O motivo de separação foi mesmo dar mais foco às empresas e elas poderem desenvolver-se de uma forma diferente. (…) Foi uma decisão acertada. Ambas estão a crescer neste momento e têm como visão estratégica abraçar outros negócios. A Colep Packaging já conseguiu: fizemos algumas aquisições, entretanto, e entrámos noutros segmentos de embalagens. Passámos a ser um bocadinho mais flexíveis e rápidos na decisão e na interação com o mercado”, destaca o CEO, um “homem da casa” que assumiu o cargo a 1 de junho de 2021.

A cisão das unidades de negócio de produtos de consumo e de embalagens foi uma decisão acertada. Já fizemos algumas aquisições e entrámos noutros segmentos de embalagens. Passámos a ser um bocadinho mais flexíveis e rápidos na decisão e na interação com o mercado.

Paulo Sousa

CEO da Colep Packaging

Assumindo-se como uma das maiores produtoras europeias de embalagens metálicas e em plástico para a indústria, embala produtos que vão desde o cuidado pessoal ao cuidado da casa (ambientadores, inseticidas ou limpa móveis) até artigos mais técnicos, como os utilizados na indústria automóvel ou na construção, e outros que fornece para a área alimentar – um dos mais conhecidos são as latas para chantili. Dois terços do que fabrica é exportado, sobretudo para países europeus, sendo o restante vendido nos países em que tem as unidades de produção.

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A principal vantagem em manter esta multinacional sediada em Portugal é a atração de mão-de-obra de qualidade. Distante dos centros de decisão dos clientes, diferencia-se pelo “grau de fiabilidade” e pelos “níveis de serviço superiores à média do mercado”, adaptando os modelos de fornecimento às suas cadeias para estar “mais próxima” quando precisam de embalagens para encher os seus produtos. “É por aí que se faz a nossa diferenciação. De resto, temos de nos meter muitas vezes no avião e ir até à Suíça e à Holanda para estar com os clientes”, conclui.

Energia e café entram no plano de inovação

Ao nível da inovação, a Colep Packaging tem atualmente vários projetos em curso para eliminar ou reduzir a utilização do gás como combustível e que envolvem a alteração dos processos industriais para não serem tão termicamente exigentes. Um desses exemplos é o consórcio do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que lidera e tem mais de uma centena de entidades, para a produção de aerossóis em linhas neutras em carbono, usando unicamente energia de fontes renováveis.

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Fábrica da Colep Packaging em Vale de CambraRicardo Castelo/ECO

A já citada redução do peso das embalagens é descrita por José Oliveira, membro da equipa executiva, como “uma primeira etapa”. Ajuda a resolver um problema de pegada ecológica, mas que também é económico, uma vez que em causa está o desenvolvimento de embalagens mais competitivas e eficientes, que utilizam menos materiais.

“Tecnologicamente, os nossos equipamentos estão preparados para a inclusão de material reciclado – neste momento é possível ir até 30% de incorporação nos nossos processos –, mas ele não existe em abundância. Pode ser mais caro do que o material virgem”, salienta o responsável pela inovação na Colep Packaging.

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José Oliveira, membro da equipa executiva e responsável pela área da Inovação na Colep PackagingRicardo Castelo/ECO

Outra ideia em carteira, que está a desenvolver em parceria com o INEGI (Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial), ligado à Universidade do Porto, é a criação de cápsulas unidose de café, metálicas e 100% recicláveis. O projeto Eco-Cápsula, que envolve também a NewCoffee, já gerou duas patentes e está ainda em fase de validação, com o porta-voz do grupo de Vale de Cambra a esperar ter “condições para o industrializar a médio prazo”.

Estimando que todos os anos são produzidas mais de 50 mil milhões de cápsulas de café em todo o mundo e que 75% acabem em aterros, José Oliveira contrapõe que o aço é “muito fácil de extrair” e um material permanente, que pode ser reutilizado. “Depois de validada esta fase, o tempo de execução são dois anos, com montagem de equipamentos, de toda a infraestrutura. E isto se houver negócio. Até lá é criatividade [risos]. Será naturalmente um novo segmento da empresa”, remata o gestor.

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