Neste mundo encantado dos sapatos, cheira a peles e ouve-se o constante burburinho dos negócios. O ECO foi passar um dia na maior feira de calçado do mundo.
No coração da maior feira de calçado do mundo, há, como é natural, um sapato. Um exemplar gigante do tipo masculino derby com cordões encarnados e sola azul marinho. É a partir daí que irradiam os cerca de 1.600 stands das marcas que participam nesta 86ª edição da MICAM, em Milão. Quase uma centena dessas empresas tem assinatura portuguesa.
À entrada, é o leve odor a peles a chamar atenção. A música animada enche os ouvidos dos visitantes, competindo com o ruído dos negócios entusiasmados.
Aliás, é esse o quadro que se repete mais vezes nos dez imensos pavilhões desta feira. Mesas repletas de sapatos, amostras, folhas e computadores à frente dos quais se sentam criadores, agentes e clientes a decidir as tendências da próxima estação.
Não muito longe desse coração com sola escura, no pavilhão dois, o expositor da portuguesa Lemon Jelly borbulha. As suas riscas amarelas são as primeiras a agarrar a atenção. Logo depois, são os produtos coloridos da marca a arrebatar o olhar.
Uma jovem incapaz de falar português cumprimenta os visitantes, mas José Pinto é rápido a esclarecer: “A Lemon Jelly é uma marca 100% portuguesa”.
De camisa branca e ar jovial, o CEO conta ao ECO que foi aqui que nasceu a marca do limão. “Foi esta feira que fez a Lemon Jelly. O primeiro dia em que apresentamos o projeto foi aqui”, conta Pinto.
Corria então o ano de 2012. Agora, seis anos depois, a Lemon Jelly já conta com clientes de todo o mundo, dos Estados Unidos à China, passando até pela Coreia.
“Crescemos muito internacionalmente e o peso de Portugal tornou-se mais relativo, mas não deixa de ser interessante para nós”, realça o empresário, referindo que cerca de 80% da produção é vendida no estrangeiro. Rodeado pelo corrupio, José Pinto explica que muitos desses clientes foram fechados aqui. Este ano, os clientes são maioritariamente asiáticos, adianta.
Quatro pavilhões ao lado, também o stand da Softinos tende a chamar à atenção. A marca que vive sobre o guarda-chuva da conhecida Fly London escolheu apresentar-se com… uma piscina. Sim, uma piscina. E logo cor-de-rosa.
No expositor da marca gerida por João Monteiro, os pés de sapatos trazidos a Milão vivem à beira da “água”, ou melhor, das bolinhas de esferovite. “Já tivemos stands de plasticina, de espuma e temos agora este. Fazemos sempre questão de trazer este lado do macio”, esclarece ao ECO o brand manager.
Monteiro conta que a marca nasceu em 2007 e não segue tendências, mas aposta sempre no “calçado confortável” baseado em peles macias”.
A empresa lusa, que tem como principais mercados a Alemanha e os Estados Unidos, marca presença na MICAM este ano (mais uma vez), apesar de o gestor reconhecer o elevado “preço da participação” e a tendência decrescente do número de visitantes.
Uma filas de stands atrás, pai e filho estão sentados à secretária. Esperam vir a partilhar, até quarta-feira, essa mesa com potenciais clientes interessados na marca que gerem, a Dark Collection.
Na parede da esquerda, há quase uma dezena de relógios prateados, sinal da vocação da empresa lusa. “Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Dinamarca, Espanha”, enumera Pedro Sampaio os principais mercados da companhia. É na Europa que fazem mais negócios, assegura o gestor comercial.
Esta não é a primeira vez que cá marcam presença, mas esta edição parece diferente, como adiantara Monteiro. “Há muitos clientes só a ver; a espreitar. Talvez voltem nos próximos dias”, diz Sampaio. Apesar da incerteza, mantém-se expectante. “Vamos ver”, conclui com tranquilidade.
Nos corredores, a azáfama de visitantes discorre. De Portugal, o contributo para essa atmosfera tem sobretudo sotaque do norte.
Os olheiros, esses, vão continuar a dar corda aos sapatos entre stands como os da Dark Collection, da Lemon Jelly e da Softinos até dia 19 de setembro, ao som das batidas entusiasmadas da música ambiente. Depois, é empacotar os pés desirmanados de sapatos e trocar a MICAM por uma das suas muitas outras irmãs mais pequenas.
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Mesas repletas de sapatos, amostras e promessas de negócio. Um dia na maior feira do calçado do mundo
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