Isabel dos Santos mudou de opinião no BPI. Porquê?
A empresária angolana viabilizou agora o que tinha rejeitado há meses, o sucesso da OPA do Caixabank sobre o BPI. O segredo está no preço. E Isabel dos Santos é uma das vencedoras.
Isabel dos Santos, detentora através da Santoro de 18,6% do capital do BPI, acabou por ser decisiva na desblindagem dos estatutos do banco liderado por Fernando Ulrich. Mas o que terá levado a empresária, que sempre fora contra o fim do blindagem dos estatutos, tendo mesmo inviabilizado a primeira oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo CaixaBank (detentor de 45% do BPI), em fevereiro de 2015, a mudar de opinião?
Controlo do BFA e preço
Acima de tudo, o controlo do BFA, viabilizado através da proposta que a administração do BPI apresentou através de carta enviada para Angola, na véspera da assembleia geral de 21 de setembro, e que consiste na venda de 2% do BFA à Unitel — empresa controlada por Isabel dos Santos — por 28 milhões de euros, em troca do pressuposto da desblindagem dos estatutos. O preço é considerado quase simbólico por fontes próximas ao BPI. De resto, Isabel dos Santos tinha, em janeiro deste ano, proposto ao BPI a compra de 10% do banco angolano pelo preço de 140 milhões de euros — exatamente o mesmo valor por que Isabel dos Santos adquire agora os 2% — operação rejeitada por Santos Silva e Ulrich.
Fernando Ulrich alegava, na altura, que o conselho de administração “analisou os vários aspetos e considerou que esta não era uma boa solução para a situação que o BPI tem para resolver”. Ulrich referia-se às exigências do Banco Central Europeu (BCE) que implicavam a redução da concentração de riscos ao estado angolano.
Mas as críticas não se ficam pela questão do preço. É que, com os 2% que a Unitel — caso aceite a proposta e, tudo indica que sim –, irá assume o controlo do BFA. A Unitel detém 49,9% do BFA e o BPI 50,1%. Fontes próximas ao processo adiantam “como é que alguém transmite o controlo com a venda de 2%? O preço parece mais um preço de chantagem do que um preço de controlo”.
A proposta da Unitel, de comprar 10% do BFA, surgia como resposta à proposta feita pelo BPI de avançar com um projeto de cisão simples das suas operações em África, com destaque para as participações detidas no BFA e no moçambicano Banco Comercial e de Investimentos (BCI).
Mas não foi só Isabel dos Santos a mudar de opinião. O próprio BPI abdicou do projeto de cisão e acabou por “entregar” o controlo do BFA, aparentemente contra vontade. Talvez por isso, Santos Silva, chairman do BPI, quando questionado na conferência de imprensa após a a assembleia geral de acionistas em que foi aprovada a desblindagem, diria, a propósito da proposta de venda dos 2% do BFA: “A vida muda”. De resto, a pressão exercida pelo BCE nas últimas semanas não pode também ser esquecida. Santos Silva diria, a este propósito, que “o BPI não tinha alternativa em Angola que não fosse desconsolidar o banco. O BCE entendia que não podemos ter responsabilidade na gestão do BFA. O BCE foi claríssimo que [o assunto] teria que ser resolvido hoje e esse assunto ficou resolvido”.
Realização de mais valias
Mas este não é o único argumento a favor da troca de opinião empresária: fonte próxima da empresária adiantou ao ECO que Isabel dos Santos estará numa fase em que está ‘mais vendedora’ e em que pretende realizar mais-valias. A mesma fonte adianta que a empresária “não parece disposta a querer injetar mais capital no BPI, o que com base nas novas exigências regulatórias, um acionista de um banco tem que estar sempre preparado para fazer”.
Linha de crédito do CaixaBank a Angola
Os espanhóis do CaixaBank, o maior acionista do BPI, e que mantinham um braço de ferro com Isabel dos Santos devido à desblindagem dos estatutos da instituição, concederam uma linha de crédito de 400 milhões de euros ao Estado angolano, segundo um despacho de 16 de agosto, assinado pelo Presidente de Angola. O timing da operação levantou algumas especulações e a própria Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) terá feito diligências no sentido de perceber se essa operação envolve o BPI no âmbito da OPA dos catalães sobre o banco português. Fontes próximas ao processo asseguraram ao ECO que “o CaixaBank já terá respondido tendo negado a concessão dessa linha de crédito”. Mas, no mercado, a ideia de que a operação teria influência sobre a decisão de Isabel dos Santos permaneceu.
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