Petróleo. Isto da OPEP é a sério?

  • Rita Atalaia
  • 12 Outubro 2016

Há muito ceticismo no mercado em torno do acordo da OPEP. O cartel adiou a sua execução para novembro, o que cria muitas dúvidas entre os investidores. Saiba o que dizem os analistas e os números.

oito anos que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) não chegava a um acordo para reduzir a produção de petróleo. E, apesar de o acordo ter proporcionado uma subida acentuada aos preços da matéria-prima, o movimento pode ser apenas temporário. Porque será que o aumento pode não durar? É simples: ceticismo.

A verdade é que o cartel já tentou várias vezes chegar a acordo, mas ainda não tinha conseguido. Mais precisamente, desde 2008 que os membros da OPEP não tomavam uma decisão unânime em relação aos preços do petróleo. O problema é que a execução do acordo foi adiada para novembro e pode acontecer muita coisa até lá.

O ceticismo em torno do acordo da OPEP explica porque é que o Brent está preso nos 50 dólares por barril. A perceção é de que até os detalhes serem definidos, o acordo preliminar pode elevar o intervalo do preço do petróleo, com uma nova base perto dos 45 dólares por barril

Jasper Lawler

Analista de mercado da CMC Markets

Mesmo que não houvesse ceticismo em relação ao acordo da OPEP – de cortar a produção para um intervalo entre 32,5 milhões e 33 milhões de barris por dia – há quem diga que o corte da produção não será suficientemente grande para que o mercado petrolífero consiga encontrar novamente o equilíbrio.

De acordo com estimativas da Agência Internacional da Energia (AIE), se a OPEP cortar a produção até 200.000 para 33 milhões de barris por dia, isso não será suficiente para colocar a produção em linha com a procura até à segunda metade de 2017.

Outro desafio será definir as quotas por país. Ainda não está claro quem é que vai ter de cortar a produção e que números vão ser usados como referência.

"Tem de haver um acordo sobre as quotas dos países, o que pode ser um desafio. Esta incerteza deve limitar os preços do petróleo no curto prazo. Prevemos que haja mais potencial de subida para os preços no quarto trimestre deste ano e em 2017, graças a um maior equilíbrio da oferta e da procura”

Hans van Cleef e Georgette Boele

Abn Amro

Jogo de espera

Quando é que será que o mercado petrolífero mundial vai regressar ao equilíbrio? Esta é hoje a grande questão. Com os preços do petróleo nos níveis atuais, seria de esperar que a oferta diminuísse e a procura crescesse fortemente. No entanto, está a acontecer exatamente o contrário. O crescimento da procura está a abrandar e a oferta está a aumentar. Assim, as reservas de energia na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico estão a aumentar para níveis nunca antes observados.

A AIE diz que os números, divulgados no relatório sobre o mercado petrolífero, oferecem algumas pistas. A China e a Índia, dois dos países que mais consomem petróleo, estão com dificuldades, o estímulo oferecido pelo petróleo barato está a desaparecer e os receios económicos nos países em desenvolvimento também não ajudaram. A procura acaba por ser penalizada, registando um abrandamento do ritmo de crescimento e adiando o regresso ao equilíbrio do mercado.

Procura não está a colaborar

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Fonte: AIE (valores em milhões de barris por dia)

O gráfico sobre a evolução da procura global por petróleo da OPEP mostra um abrandamento de um máximo de cinco anos no terceiro trimestre de 2015 para um mínimo de quatro anos no mesmo período deste ano. No relatório anterior, a agência previa um ganho de 1,3 milhões de barris por dia em 2016, mas agora está mais pessimista. A AIE diz que a procura vai crescer 1,2 milhões de barris por dia este ano e que registará um aumento semelhante em 2017. A desaceleração do crescimento da OCDE e da China é a principal culpada.

A AIE também revela outro dado preocupante: a produção de petróleo da OPEP tocou um máximo recorde em setembro, injetando 33,64 milhões de barris por dia. E isto vem dificultar ainda mais a tarefa do cartel de reduzir a produção para o intervalo entre 32,5 milhões e 33 milhões de barris por dia.

"Não é claro se o acordo não serve apenas para acalmar o nervosismo de um mercado inquieto durante mais alguns meses (…) é preciso que haja mais discussão, em particular com importantes produtores fora da OPEP, como a Rússia, para não se perder este sentimento otimista”

Morgan Stanley

A OPEP indicou que vai tentar chegar a acordo com importante produtores fora do cartel. A Rússia já deu o seu aval e está disposta a considerar congelar ou mesmo cortar a produção de petróleo em cooperação com a OPEP. O Presidente russo, Vladimir Putin, diz que espera que o cartel consiga chegar a acordo sobre os limites da produção e que a Rússia está preparada para apoiar esta decisão.

Entretanto, o ministro da Energia russo, Alexander Novak, já veio dizer que a Rússia prefere congelar a produção nos atuais níveis recorde do que cortá-la. O país injetou 11,2 milhões de barris por dia até outubro, superando o recorde do mês passado de 11,1 milhões de barris.

"Todos os produtores vão querer aumentar a produção tanto quanto possível para terem uma base mais elevada para a negociação (…) se não for alcançado um acordo em novembro, seguir-se-á certamente uma correção acentuada do preço”

Bjarne Schieldrop

Analista do SEB

Ainda há muitas perguntas por responder: será que o acordo vai mesmo avançar? Se sim, quando será implementado? Será que os países vão respeitar o acordo e como é que isso será controlado? Quais serão as quotas para cada país? Durante quanto tempo é que o acordo ficará em vigor?

Até lá, todos os relatórios, reuniões entre responsáveis e comentários dos países produtores vão ditar a trajetória do mercado petrolífero e dar pistas aos investidores sobre como devem movimentar-se nesta incerteza.

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