Juno, a startup que quer acabar com o Uber sendo gentil
Empresa de transportes norte-americana estabelece uma relação mais próxima com motoristas e clientes.
Dezasseis anos antes de Talmon Marco propor a destruição do império criado pelo CEO da Uber Technologies, Travis Kalanick, os dois homens consideraram por um breve período unir forças para enfrentar um inimigo comum: a Napster. Perto de 2000, cada um deles ajudava a criar uma empresa de partilha de arquivos — a de Marco chamava-se iMesh, e a de Kalanick, Scour.com — e ambos perdiam terreno na corrida para revolucionar a indústria da música. Uma fusão foi proposta. Uma reunião foi agendada. O acordo nunca foi feito.
Marco afirma que mal se lembra do encontro. “Pode ter sido na Califórnia, mas não tenho certeza”, disse ele recentemente. “Foi há muito tempo”. Kalanick também teve dificuldades para se lembrar dos detalhes. Os dois acabaram por voltar a encontrar-se posteriormente no LinkedIn, mas nunca mais falaram. Foi nessa altura que Marco formou uma opinião bastante forte a respeito do que Kalanick fez nesse intervalo de tempo: “Eu acredito que, no fundo, a Uber é realmente perversa”, disse ele.
Muitas pessoas criticam o Uber; poucas têm dinheiro para fazer algo contra a empresa. Em 2014, Marco vendeu a Viber, a companhia israelita de mensagens móveis que criou, por 900 milhões de dólares. Assim, tornou-se de repente um jovem rico com bastante tempo à disposição. Mudou-se para Nova Iorque e dispôs-se a ser o gémeo menos malvado do Uber.
A empresa de Marco chama-se Juno, em homenagem à deusa romana, e qual é o objetivo? Ser praticamente idêntico à Uber, mas com uma diferença: ele tratará melhor seus trabalhadores. Por enquanto, a companhia opera apenas em Nova Iorque, o maior mercado da Uber nos EUA em termos de receita (mas não em relação ao número de trajetos que oferece). Fazer concorrência a uma empresa avaliada em 69 mil milhões que captou mais de 16 mil milhões é, dependendo da perspetiva, uma iniciativa inspiradora ou quixotesca.
A relação da Uber com os seus motoristas tem problemas: a empresa reduziu as tarifas no início do ano e tem pressionando os motoristas a participar no seu serviço de trajeto partilhado, o UberPool, algo que, reclamam, prejudica os seus salários. A companhia tem sido perseguida por ações judiciais, pelo facto de classificar os trabalhadores como contratados, não como funcionários.
A Juno fica com uma comissão menor e tem um plano para distribuir participações na companhia. Marco também tenta ser mais bondoso: costuma responder pessoalmente quando os motoristas comunicam com a empresa para reclamar conflitos com passageiros e convidou alguns a reunir-se com ele para conversar sobre as suas preocupações.
O desafio da Juno é construir um modelo económico alternativo que seja sustentável e também atraente para os motoristas. Uma das ideias é distribuir ações aos motoristas: a proposta é fraca legalmente e, com base em conversas com motoristas, também não funciona como ferramenta de recrutamento. Outra abordagem é oferecer mais estabilidade de renda do que a Uber. Marco disse que a Juno irá, em breve, oferecer empregos a tempo inteiro, se os motoristas desejarem.
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