Quotas de género na tecnologia. Um primeiro passo, ou o equivalente a eleger Trump?
A cofundadora da Affectiva e o fundador da Moon Express partilharam com o Web Summit os seus argumentos.
Foi um dos debates mais acesos do Web Summit. De um lado, Rana Kaliouby, cofundadora da Affectiva. Do outro, Naveen Jain, fundador da Moon Express. A primeira defendeu a implementação de quotas de género nas empresas de tecnologia, o segundo opôs.
Primeiro, a evidência: há muito poucas mulheres no setor da tecnologia, apesar de grande parte dos produtos ser feito para elas. São a maioria da comunidade gamer, são as maiores consumidores de social media e são elas quem mais tomam as decisões de compra.
Segundo, aquilo em que ambos os oradores estavam de acordo: a diversidade é boa, é necessária e tem de ser posta em prática.
E terceiro, aquilo em que estiveram em desacordo: as quotas de género.
A contida Rana Kaliouby abriu a conversa com os argumentos a favor. “A diversidade importa por um rol de razões, incluindo benefícios económicos“, começou por dizer. E exemplificou: “As empresas que têm mais de 30% dos cargos de liderança ocupados por mulheres têm receitas 15% mais elevadas do que os concorrentes sem diversidade”.
"A diversidade de géneros não tem a ver com ser simpático. Tem a ver com fazer o que está certo.”
Seja como for, sublinhou, não se deve lutar pela diversidade porque beneficia as empresas. “A diversidade de géneros não tem a ver com ser simpático e picar o ponto”. Tem a ver com o quê? “Fazer o que está certo”.
E como, mesmo com boas intenções, poucos têm feito o que está certo, “as quotas permitem construir um plano para que isto seja possível”. Mas “são só o primeiro passo de um plano muito mais extenso”, alertou.
Acabaram os cinco minutos de Rana Kaliouby.
"Implementar quotas é saber que um sistema político está completamente podre, saber que é preciso uma mudança e eleger o Trump.”
É a vez de um muito estridente Naveen Jain. “Toda a gente aqui concorda que precisamos de mais mulheres na tecnologia. Eu concordo com isso porque quero que a minha filha trabalhe onde quiser. Mas implementar quotas é como saber que um sistema político está completamente podre, saber que é preciso uma mudança e eleger o Trump para alcançar essa mudança”.
O problema, sublinhou, é a cultura. “A diversidade é a chave para o sucesso, precisamos de mulheres como precisamos de imigrantes, de formas diferentes de pensar. O que importa é como pensamos”. Mas no fim, disse, “quero que a minha filha trabalhe numa empresa não porque é uma mulher mas porque é a melhor pessoa para a empresa”.
Naveen Jain reforçou dizendo que não olha para pessoas, mas para ideias. Se a melhor ideia for de um homem branco, é ele que será escolhido. Se for de uma mulher ou um não-branco, serão ambos. E se ambas todas as ideias forem boas, serão todos contratados pela sua empresa.
Rana Kaliouby contra-atacou. É que “não ver” género ou cor da pele é precisamente a razão que obriga a que estes debates ainda sejam feitos, e ignorar que um homem branco tem mais probabilidade de ser contratado do qualquer outra pessoa que se candidate a uma empresa tecnológica (ou qualquer outra, já agora), disse a empreendedora.
Naveen Jain defendeu-se e recuou um passo, desta vez para dizer que o que é preciso “combater a raiz do problema, o preconceito das pessoas, através da educação”.
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