Christine Lagarde andava com uma lista de 20 mulheres no bolso. Sabe porquê?
A diretora do FMI esteve no encontro anual do Fórum Económico Mundial a falar sobre igualdade de géneros.
Quando era ministra das Finanças de França, Christine Lagarde questionava frequentemente os grandes empresários sobre a composição dos seus conselhos de administração. A resposta era sempre a mesma: “Adorava ter uma mulher no conselho de administração, mas não consigo encontrá-las e as que conheço já estão ocupadas”. Lagarde levava a mão ao bolso e tirava um papel com uma lista de 20 mulheres que sabia serem “totalmente competentes” e estarem “prontas para servir nos conselhos de administração”. Quando a recomendação vinha da ministra das Finanças, era difícil recusar.
A história foi contada pela atual diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI) durante o encontro anual do Fórum Económico Mundial, que decorre até dia 20 em Davos, na Suíça. Lagarde participava num painel que desconstruía os papéis atribuídos a cada género e lamentou a demora em todo o processo de luta pela igualdade de géneros.
Lagarde, à frente do FMI desde 2011, é uma das mulheres mais poderosas do mundo, mas nem por isso deixa de passar pelas mesmas experiências que todas as outras. “Quando estamos numa reunião da administração, e um membro da administração que é mulher toma a palavra, adivinhem? Os homens começam a distanciar-se fisicamente. Observem a linguagem corporal. É óbvio. Começam a olhar para um papel, para o lado”, contou Lagarde. A solução, defende, passa por quem está no poder tomar as rédeas. “Se vocês forem o presidente, devem chamar a atenção. Diga que alguém está a falar e deviam ouvir. Temos de desconstruir a forma como agimos”.
"As dificuldades económicas não são favoráveis à tolerância, a criar espaço, a encorajar à inclusão necessária para que as mulheres participem nas decisões económicas num nível igual ao dos homens.”
No fundo, este é um problema que se conhece há demasiado tempo e que está por resolver há tempo de mais. “Estamos a falar sobre partir o teto de vidro desde que me lembro. E não está a acontecer à velocidade a que deveria”. Lagarde reconhece que tem havido melhorias nas últimas duas décadas mas salienta que, nos últimos anos, “esse processo abrandou”. A razão? A crise financeira.
“As dificuldades económicas não são favoráveis à tolerância, a criar espaço, a encorajar à inclusão necessária para que as mulheres participem nas decisões económicas num nível igual ao dos homens”, avaliou. Por isto mesmo, “desde 2008, vimos um abrandamento do processo através do qual as lacunas são fechadas”.
"É preciso comprometer algumas coisas para responder às necessidades legítimas daquelas que foram excluídas por muitos anos. Isto sem criar novas exclusões mais à frente.”
Sobre as quotas de género — assunto sempre polémico e medida que será agora implementado nas empresas portuguesas — Christine Lagarde reconheceu que o modelo não é perfeito, mas defendeu-o. “É muito difícil admitir que as quotas são necessárias. Mas há departamentos em que a disparidade é tão grande que, a determinada altura, para atingirmos os objetivos, devíamos contratar apenas mulheres, e está tudo bem com isso”, afirmou.
Nessa altura, há o outro lado: “Haverá homens talentosos a perguntar: e eu? Estou a fazer o meu melhor e a cumprir com tudo o que esperam de mim e, no entanto, não me dão a oportunidade”. A diretora do FMI reconhece que esta “nem sempre é uma tarefa fácil”. É, aliás, uma tarefa é preciso “comprometer algumas coisas para responder às necessidades legítimas daquelas que foram excluídas por muitos anos”. E fazer isso “sem criar novas exclusões mais à frente, porque, no fim, queremos homens e mulheres a contribuírem para o desenvolvimento económico”.
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