Like & Dislike: Disfuncionalidade cognitiva temporária
Todos sentimos um certo embaraço quando Ricardo Mourinho Félix, a representar Portugal, foi conversar com Jeroen Dijsselbloem.
Quando se candidatou a deputado pelo PS, suscitou curiosidade por parte da imprensa por ser primo de José Mourinho, o atual treinador do Manchester United. Ainda era candidato a deputado, e os espanhóis do diário ABC davam conta da chegada do “El Mourinho de los socialistas portugueses” à política portuguesa.
O próprio nunca enjeitou as comparações, muito pelo contrário, até as incentivou. Quando chegou disse que queria dar o seu contributo “na área económica” e “não ser o special two”.
Chegou a secretário de Estado das Finanças, mas cedo percebeu-se que não era o special one, nem o special two, nem o special three. Quando deu nas vistas, não ficou propriamente bem na fotografia.
Foi o caso do triste episódio no Parlamento, em novembro, quando se estava a discutir a banca e Ricardo Mourinho Félix vira-se para um vice-presidente da bancada social-democrata e diz: “Ou o deputado Leitão Amaro tem um profundo desconhecimento do RGIC [Regime Geral das Instituições de Crédito] ou uma disfuncionalidade cognitiva temporária”.
O episódio naturalmente levou à exaltação dos ânimos na Assembleia da República e o secretário de Estado foi imediatamente aconselhado a pedir desculpas, e fê-lo: ” Não foi minha intenção ofender ninguém, se ofendi peço desculpa por isso”.
Exigir um pedido de desculpas. Esta era precisamente a missão que o secretário de Estado levava, na semana passada, ao Eurogrupo, que se realizou em Malta, e que iria ser chefiado por Jeroen Dijsselbloem, o tal holandês que sugeriu que os países do sul da Europa gastavam o dinheiro em copos e mulheres.
É difícil descrever a forma atabalhoada, tímida, acanhada e desajeitada com que Mourinho Félix encarou Jeroen Dijsselbloem. Mais vale ver o vídeo.
Depois desta breve conversa, ficámos mais tarde a saber que não só Jeroen Dijsselbloem não pediu desculpas, como continua a fazer alarde do facto de ninguém na reunião do Eurogrupo, nem mesmo Mourinho Félix, ter pedido a sua demissão.
Houve aqui uma disfuncionalidade temporária qualquer no Governo. O primeiro-ministro António Costa exigiu, e bem, a demissão do presidente do Eurogrupo, e chamou-o de “racista, xenófobo e sexista”. O seu representante na reunião do Eurogrupo nem sequer coloca a questão da demissão em cima da mesa?
Quando Mourinho Félix chegou à política portuguesa foram perguntar a José Mourinho sobre o seu primo. Ao que o special one respondeu: “Somos primos, mas isso não significa que sejamos muito íntimos ou que compartilhemos ideais políticos.”
Quando os portugueses viram o vídeo de Mourinho Félix frente a Jeroen Dijsselbloem, além de um certo embaraço, a todos apeteceu repetir a frase de José Mourinho: “É o nosso secretário de Estado, mas isso não significa que sejamos muito íntimos.”
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