Portugal entre os países europeus que menos poupam. Famílias com poucos incentivos
O país apresenta uma taxa de poupança abaixo da média da Zona Euro desde que há registo. João Loureiro, da Universidade do Porto, justifica a situação com taxas de juro pouco atrativas nos depósitos.
O país é o quarto dentro do quadro da União Europeia com uma taxa de poupança face ao rendimento disponível mais baixo, com 5,79% registados em 2016, segundo dados do Eurostat. Uma possível explicação poderá estar nas baixas taxas de juro das aplicações a prazo, que desincentivam as famílias a economizar.
O pódio dos países da Zona Euro menos poupam em 2016 (para os quais existem dados disponíveis) é ocupado pela Lituânia (-0,48%), pela Letónia (2,66%) e pelo Reino Unido (5,16%). Do outro lado está Luxemburgo enquanto o país que mais poupa, seguindo-se a Suécia e a Alemanha, com 20,44%, 18,15% e 17,11% respetivamente. A média da Zona Euro fica-se pelos 12,12%.
A taxa de poupança face ao rendimento disponível da Zona Euro em 2016
Fonte: Eurostat
A situação portuguesa não é de agora, pelo que a disparidade entre o país e a Zona Euro tem vindo a registar-se, pelo menos desde 2000, como se pode ver no gráfico abaixo. Embora a acompanhar as tendências de evolução no bloco de países aderentes à moeda única, o país apresentou um fosso ainda maior na taxa de poupança a partir de 2014, após o pico da crise económico-financeira.
Portugal e Zona Euro: duas realidades de poupança diferentes desde 2000
Fonte: Eurostat
A culpa é das taxas de juro
Para João Loureiro, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, o grande fator explicativo deste posicionamento de Portugal face ao contexto europeu são as baixas taxas de juro reais. Com taxas de juro a poucas décimas acima dos 0% e abaixo da taxa de inflação, o professor admite, em declarações ao ECO, haver uma ausência de “incentivos para poupar”.
A taxa de remuneração de depósitos a prazo nunca foi tão baixa. De acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal, em agosto, a taxa de juro média oferecida pelos bancos nas novas aplicações em depósitos a prazo foi de 0,24%, um mínimo histórico. Em termos reais, colocar dinheiro nestas aplicações significa um retorno negativo. As previsões do Governo no Orçamento de Estado para 2018 estimam que este ano a inflação atinja 1,2%. Relativamente ao próximo ano as estimativas apontam para os 1,4%.
Outro aspeto salientado prende-se com as “expectativas” das famílias” que, de acordo com João Loureiro, “são melhores”. Com maior otimismo, poderá haver mais consumo entre os agregados familiares e, consequentemente, uma menor poupança. Ainda assim, segundo dados do INE, tanto as despesas de consumo como o rendimento disponível aumentaram 0,9% no segundo trimestre de 2017. Quer isto dizer que, as famílias portuguesas consomem mais, mas ainda o fazem dentro das suas possibilidades, sem recorrer ao endividamento.
O ECO está, ao longo desta semana, a realizar um conjunto de trabalhos sobre a poupança, no âmbito do Dia Mundial da Poupança. Pode acompanhar estes artigos aqui.
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