“Custo satisfatório”? BCP pagou mais que espanhóis e italianos para emitir dívida
O banco liderado por Nuno Amado foi ao mercado obter 300 milhões de euros a um custo que diz ser "satisfatório". Mas, em comparação com outros bancos europeus, o custo foi elevado.
O Banco Comercial Português (BCP) foi ao mercado para captar 300 milhões de euros através da emissão de títulos de dívida subordinada, a primeira realizada por um banco português desde que o país saiu do programa de assistência. Nesta operação, o banco liderado por Nuno Amado atraiu muitos investidores, acabando por pagar aquilo que, diz, foi um “custo satisfatório”. Mas, comparando com operações semelhantes realizadas por bancos espanhóis e italianos, este custo é elevado.
“A emissão, no montante de 300 milhões de euros, tem um prazo de dez anos, com opção de reembolso antecipado pelo banco no final do quinto ano, e uma taxa de juro de 4,5%, ao ano, durante os primeiros cinco anos (correspondente a um spread de 4,267% [426 pontos base] sobre a taxa midswap de cinco anos, o qual, para a fixação da taxa de juro para os remanescentes cinco anos, se aplicará sobre a taxa midswap em vigor no início desse período)”, lê-se no comunicado que o BCP enviou à CMVM.
Quando a operação chegou ao mercado, as ofertas apontavam para uma taxa que variava entre 4,75% e 5%, mas acabou por baixar. Ainda assim, os investidores acabaram por exigir à instituição portuguesa um spread bem mais elevado do que o pago por outras instituições do sul da Europa. O CaixaBank abriu este mercado para os bancos espanhóis em julho com uma operação idêntica (11 anos), mas em que colocou mil milhões de euros. O spread? Cerca de 240 pontos base. A taxa é de 2,75%.
Se face ao banco que agora é dono do BPI o spread exigido pelos investidores foi quase o dobro, quando se compara a emissão realizada pela instituição liderada por Nuno Amado com a do Intesa Sanpaolo, realizada mais recentemente, o diferencial é ainda maior. O banco italiano colocou 723 milhões de euros numa emissão a sete anos, embora com um cupão variável — indexado à Euribor a 3 meses –, que apresenta um prémio implícito de 190 pontos.
Preço do boicote?
O BCP, tal como a CGD quando realizou a emissão de dívida de elevada subordinação (com uma taxa de 10,75%), pagou um prémio elevado em comparação com outras instituições europeias nesta operação. Apesar de ter conseguido atrair uma procura três vezes superior à oferta — os investidores apresentaram ordens superiores a 900 milhões de euros — o montante foi reduzido: 300 milhões de euros.
É que tal como na emissão feita pela CGD, também nesta houve boicote por parte de grandes fundos internacionais. Os grandes investidores, como é o caso da Pimco e da BlackRock, decidiram não participar nesta operação. A explicação está no dinheiro perdido por estes investidores nas obrigações do Novo Banco que passaram para o BES. Ao ECO, fontes do mercado disseram que “até que se encontre uma solução, estes investidores não participarão em futuras tentativas de instituições nacionais de se financiarem nos mercados”.
Entre os que decidiram participar, houve muitos investidores britânicos, alguns gestores de fundos, mas o peso dos especuladores foi elevado. Os hedge funds arrebataram 37% do montante global da emissão. Estes investidores tendem a comprar e vender rapidamente, contrariamente ao que fazem outros investidores de longo prazo. É por isso que neste momento já há vendas no mercado, com os títulos a serem transacionados abaixo do preço de compra (100).
Impacto da emissão?
“Com a conclusão desta operação o BCP voltou a aceder ao mercado de financiamento de investidores institucionais. O banco diversifica assim a sua base de financiamento.” É assim que os analistas do CaixaBI olham para a emissão do banco liderado por Nuno Amado.
"Para além do impacto em termos da posição de liquidez do banco, esta emissão permitirá ao BCP aumentar a eficiência da sua estrutura de capital por via do aumento do capital Tier 2.”
Para os analistas, o impacto é positivo. “Para além do impacto em termos da posição de liquidez do banco, esta emissão permitirá ao BCP aumentar a eficiência da sua estrutura de capital por via do aumento do capital Tier 2”. Ou seja, há um reforço dos rácios de capital.
Até ao final de setembro, o BCP reportou um rácio de capital CET1 de 11,7%, totalmente implementado, e de 13,2%, faseado. Já o rácio total ficou nos 12,7% e nos 14,2%, respetivamente.
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