Trump pede a empreiteiras que apresentem ideias para a construção do muro

O governo norte-americano quer que as construtoras apresentem propostas de design para o muro que vai separar o México dos Estados Unidos.

Donald Trump fez o primeiro avanço concreto para cumprir a promessa de construir um muro a separar as fronteiras dos Estados Unidos e do México. O presidente norte-americano está à pedir às empreiteiras que apresentem ideias sobre como construir este muro.

Segundo a Bloomberg, o departamento de proteção de fronteiras norte-americano publicou um pedido preliminar de propostas na sexta-feira, detalhando que pretende formalizar este pedido a 6 de março. As autoridades norte-americanas procuram propostas “para o design e construção de vários protótipos de muros nas proximidades da fronteira dos Estados Unidos com o México”.

As propostas deverão ser submetidas até 10 de março. As empreiteiras que passarem a uma segunda fase deverão apresentar novas propostas, já com um orçamento, até 24 de março. “Estão contemplados múltiplos prémios”, refere ainda o pedido do governo norte-americano.

Entre as construtoras que já trabalharam com o governo norte-americano e que poderão agora apresentar propostas, enumera a Bloomberg, contam-se a Bechtel Group, a BL Harbert International e a Caddell Construction.

A intenção de Trump é que o muro se estenda do Golfo do México à costa do Oceano Pacífico, o que prevê que tenha uma extensão de mais de três smil quilómetros. Para já, não há cálculos — pelo menos, que sejam públicos — de quanto custará este muro.

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Governo prepara novos incentivos para responder às empresas fora do atual sistema

  • Lusa
  • 25 Fevereiro 2017

O sistema de incentivos SI2E vai ser "uma experiência totalmente inovadora em matéria de gestão no país", pois, pela primeira vez, vai ser gerido muito perto dos seus utilizadores, diz o Governo.

O Governo está a preparar um novo sistema de incentivos para responder às empresas e projetos que não estão contempladas nos atuais sistemas de incentivos. O anúncio foi feito, na sexta-feira, pelo secretário de Estado do Desenvolvimento e da Coesão

Na sessão de encerramento do Fórum Empresarial de Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, Nelson de Souza sublinhou que, atualmente, faz falta um sistema de incentivos virado para outro segmento empresarial e para outro tipo de projetos não contemplados nos atuais sistemas existentes.

E, neste âmbito, vai ser lançado, provavelmente ainda na primeira quinzena de março, um novo sistema de incentivos: “Vai ser um sistema que vai responder a novas necessidades deste tipo de empresas e projetos que nós dizemos que não estão, neste momento, suficientemente contemplados nos sistemas de incentivos existentes“, adiantou

O governante explicou ainda que o país precisa de projetos e de empresas na base transacionável, mas também precisa de fortalecer a sua base económica e empresarial não transacionável. “Precisamos de um sistema equilibrado. É assim em todo o mundo”, frisou.

Nelson de Souza adiantou que o sistema de incentivos SI2E vai ser “uma experiência totalmente inovadora em matéria de gestão no país”, pois, pela primeira vez, vai ser gerido muito perto dos seus utilizadores.

“Ele [SI2E] vai ser gerido, para projetos abaixo dos 100 mil euros, pelas DLBC (Desenvolvimento Local de Base Comunitária) e, entre os 100 e os 200 mil euros, pelas comunidades intermunicipais (CIM) em coordenação com as CCDR”, sustentou.

Segundo o governante, o essencial da gestão do sistema, a formatação dos avisos de abertura de concursos, as majorações, as análises de projetos e os ajustes às necessidades de cada território, vai ser da responsabilidade daqueles que estão mais perto dos territórios.

“Acreditem que não estamos a fazer isto para ser simpáticos. Entendemos que assim vai ser mais bem gerido do que se fosse gerido na CCDR em articulação com o IAPMEI ou com alguém centralizado em Lisboa“, frisou.

Nelson de Souza sublinhou que o Governo está atentar inovar nesse sentido e adiantou que todo o sistema está a ser preparado com “muito cuidado”, de modo a que “não seja um processo de descentralização que corra mal”.

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BES: Emigrantes lesados protestam hoje em Paris

  • Lusa
  • 25 Fevereiro 2017

O Novo Banco diz que, em breve, vai apresentar uma nova proposta para compensar os emigrantes que perderam dinheiro em aplicações financeiras no BES.

Os emigrantes lesados do Banco Espírito Santo (BES) vão manifestar-se, este sábado, em frente à sede do Novo Banco em Paris, contestando que ainda não tenha sido encontrada uma solução para minorar as perdas sofridas.

Um dos organizadores e promotores do grupo Emigrantes Lesados Unidos, Carlos Costa, disse à Lusa que “não se vê a luz ao fundo do túnel”, que se vai “entrar no terceiro ano” desde a queda do BES e que “o problema está na mesma”.

Relativamente à informação de que o Novo Banco deverá apresentar em breve uma proposta comercial aos emigrantes lesados pelo BES para os tentar compensar pelas perdas sofridas, Carlos Costa afirmou estar “surpreendido” porque “é muito esquisito que essa notícia saia dois ou três dias antes da manifestação“.

“Ninguém recebeu uma proposta. Estamos a aguardar a nova proposta do Novo Banco, se houver proposta. Mantemos a nossa concentração em Paris, que vai ser só à frente do banco porque não tivemos autorização para desfilar até à Embaixada de Portugal”, acrescentou o português, de 49 anos, na organização do protesto, que tem início a partir das 10:30 (hora local).

De acordo com uma carta enviada pela chefe de gabinete de António Costa, Rita Faden, aos deputados do PSD José Cesário, Carlos Gonçalves e Carlos Páscoa – que tinham questionado o primeiro-ministro sobre a situação dos emigrantes lesados pelo BES – o Novo Banco vai apresentar uma “segunda oportunidade aos cerca de 2.600 emigrantes que em 2015 rejeitaram a proposta de solução que foi maioritariamente aceite e que está a ser executada”.

Ainda segundo o executivo, “os perto de 2.000 emigrantes que não foram destinatários de proposta formulada pelo Novo Banco correspondem ao conjunto de titulares de três das apontadas sociedades veículo a que o Novo Banco não conseguiu ainda aplicar e concretizar procedimento similar às demais que foram liquidadas” e “a Administração do Novo Banco fez saber ao Governo que estimava poder em breve ter condições para apresentar a estes cerca de 2.000 emigrantes uma proposta similar à que em 2015 foi apresentada“.

Em janeiro, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) chamou o Novo Banco a participar numa mediação extrajudicial com a AMELP para encontrar um mecanismo que compense os emigrantes que perderam dinheiro com a queda do BES e que não aceitaram a solução comercial proposta pelo Novo Banco em 2015.

Após a resolução do BES, em 4 de agosto de 2014, mais de 10.000 clientes emigrantes (sobretudo de França e Suíça) vieram reclamar um total de 728 milhões de euros, acusando o banco de lhes ter vendido produtos arriscados (ações de sociedades veículo) quando lhes tinha dito que se tratavam de depósitos a prazo para não residentes.

A responsabilidade sobre estes produtos ficou, aquando da resolução do BES, no Novo Banco, que propôs em 2015 aos emigrantes (com os produtos Poupança Plus, Euro Aforro e Top Renda) uma solução comercial, que teve a aceitação de cerca de 6.000 (80% do total) que detinham em conjunto 500 milhões de euros.

No entanto, houve clientes que não aceitaram a solução, por considerarem que não era justa e não se adequava ao seu perfil, e o Novo Banco não fez qualquer proposta a outros milhares de clientes, argumentando que não era possível devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos.

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Governo prepara nova lei contra abuso de offshores

  • ECO
  • 25 Fevereiro 2017

O Governo vai reforçar as normas antiabuso de paraísos fiscais, além de reforçar o pessoal dos serviços centrais de inspeção e de relações internacionais.

O Governo está a preparar novas medidas para regular as transferências para paraísos fiscais, avança o Expresso (acesso pago) na edição deste sábado. O plano está a ser desenhado por Fernando Rocha Andrade, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

O atual governante e o seu antecessor, Paulo Núncio, vão ser ouvidos no Parlamento na próxima semana, para responderem aos deputados sobre as transferências de 10 mil milhões de euros para offshores, notícia avançada pelo Público que tem marcado a agenda política.

Segundo o Expresso, Fernando Rocha Andrade deverá aproveitar a audição no Parlamento para apresentar as novas medidas de combate ao abuso das offshores.

Entre elas, conta-se o reforço das normas antiabuso de paraísos fiscais e o reforço de pessoal dos serviços centrais de inspeção e de relações internacionais. Isto depois de, até à data, o Governo já ter avançado com medidas como o alargamento das competências da Unidade de Grandes Contribuintes aos contribuintes singulares; a aprovação de acordos de troca de informação fiscal pendentes há anos; a transposição da diretiva comunitária de troca de informações na União Europeia; e a adoção de troca de dados CRS a nível mundial.

Venda da PT Portugal movimentou 5,8 mil milhões

Ainda sobre a polémica das offshores, o Jornal Económico dava conta, na sexta-feira, da operação que mais dinheiro movimentou para paraísos fiscais nos últimos anos: a venda da PT Portugal, a dona da Meo, que o grupo francês Altice comprou à operadora brasileira Oi.

Segundo o jornal, este negócio movimentou 5,8 mil milhões de euros, mais de metade dos quase nove mil milhões que saíram de Portugal para offshores no ano de 2015. O Jornal Económico explica que, destes 5,8 mil milhões, 4,9 mil milhões foram recebidos em caixa pela Oi, através de uma transferência para as Bahamas, país tido pelo Ministério das Finanças como um paraíso fiscal.

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Parte da informação enviada pelos bancos desapareceu dentro do fisco

Em causa estão 20 declarações de transferências para offshores, que foram apresentadas pelos bancos mas que não foram fiscalizadas pela Autoridade Tributária.

Os bancos enviaram para a Autoridade Tributária os ficheiros referentes às transferências feitas, entre 2011 e 2014, para paraísos fiscais. Esses ficheiros chegaram completos ao fisco; foi lá, dentro da própria administração fiscal, que desapareceu parte da informação de alguns ficheiros. É isto que justifica que um conjunto de transferências no valor de quase 10 mil milhões de euros não conste das estatísticas do fisco.

A notícia é avançada, este sábado, pelo Público (acesso condicionado), que cita fontes que não quiseram ser identificadas. Em causa estão 20 declarações de transferências para offshores, realizadas entre 2011 e 2014, que foram apresentadas pelas instituições financeiras mas que não foram objeto de qualquer tratamento estatístico nem fiscalizadas pela Autoridade Tributária. Segundo o mesmo jornal, destas 20 declarações com falhas, 12 dizem respeito a transferências realizadas em 2014 e comunicadas ao fisco em 2015.

As discrepâncias começaram a ser detetadas no ano passado, quando Fernando Rocha Andrade, o atual secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, teve conhecimento de um conjunto de transferências feitas por uma só instituição financeira, em 2014, que não tinham sido devidamente tratadas pela Autoridade Tributária.

Impostos ainda podem ser cobrados

Também este sábado, o Dinheiro Vivo dá conta de que uma parte dos 9,8 mil milhões de euros transferidos para offshores ainda poderá ser escrutinada pela Autoridade Tributária. Isto porque, quando estão em causa direitos de liquidação de impostos que decorram de transações com offshores, o prazo de caducidade é de 12 anos.

Não é certo que o Estado tenha perdido receitas fiscais, porque as transferências em causa podem dizer respeito a operações que não são sujeitas a impostos. Mas, estando, o fisco poderá usar o alargamento do prazo de caducidade de quatro para 12 anos, colocado na Lei Geral Tributária em 2012.

Há, contudo, o risco de o prazo já ter caducado em alguns casos. “Relativamente aos prazos de caducidade ou de prescrição já em curso aquando da entrada em vigor dos novos prazos, de 12 anos e de 15 anos, ser-lhes-ão aplicáveis os prazos da nova lei, pelo que o prazo aplicável passará a ser de 12 anos e de 15 anos, mas descontando-se o tempo entretanto já decorrido desde o ano do imposto em causa”, refere o jurista Rogério Fernandes Ferreira ao Dinheiro Vivo.

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Offshores, o paraíso dos banqueiros

Durante anos, bancos como o BCP, o BPN o BPP ou o BES ocultaram dezenas de sociedades sediadas em paraísos fiscais. Para quê? Mascarar contas, canalizar "favores" e pagar prémios milionários.

(Artigo originalmente publicado a 25 de fevereiro)

Ricardo Salgado, Oliveira e Costa, Jardim Gonçalves e João Rendeiro foram responsáveis por alguns dos mais relevantes casos de offshores descobertos em Portugal.Raquel Martins

Ilha de Delos, Grécia, século II a.C. Contam-nos os livros de História que os comerciantes gregos, para fugir aos impostos sobre as mercadorias importadas, armazenavam os produtos nesta ilha, onde o comércio não pagava impostos, nem direitos aduaneiros, nem taxas e taxinhas. Era o princípio, numa versão arcaica e sem a complexidade que hoje existe, do conceito de paraíso fiscal.

O mecanismo evoluiu e começou a assemelhar-se àquilo que é hoje na década de 1920, quando as autoridades britânicas passaram a permitir que uma empresa estabelecesse a sede num local, sem que tivesse, necessariamente, de pagar impostos nesse local. Passaram-se décadas (milénios?) de práticas de fuga ao fisco até governos e entidades reguladoras começarem a apertar o cerco ao abuso das offshores.

Na União Europeia, por exemplo, só depois de ter rebentado o LuxLeaks — o escândalo financeiro que, em novembro de 2014, denunciou as operações levadas a cabo por mais de 300 grandes empresas para fugirem ao pagamento de impostos — é que o Parlamento Europeu criou uma comissão especial para investigar os chamados acordos fiscais. Por cá, o histórico de escândalos com offshores não está tão relacionado com as grandes empresas que procuram países mais vantajosos do ponto de vista fiscal. Os casos existem, claro, mas, quando se diz “offshore” em Portugal, a associação imediata que se faz é outra: bancos.

desde o início deste ano é que as instituições financeiras portuguesas são obrigadas a comunicar ao Banco de Portugal as transferências para offshores de montantes iguais ou superiores a 15 mil euros, ou um conjunto de operações de valor agregado igual ou superior a 15 mil euros que aparentem estar relacionadas entre si. A obrigatoriedade de declarar, todos os anos, estas transferências, uma por uma, já existia. Mas, antes desta norma do regulador, que entrou em vigor a 1 de dezembro de 2016, não estava especificado qual o tipo de transações que tinham de ser declaradas, o que facilitava o contornar das regras.

Essa é uma das razões que ajudam a explicar que bancos tão relevantes para o sistema financeiro português como o BCP, o BPN, o BPP ou o BES tenham conseguido ocultar dezenas de sociedades sediadas em paraísos fiscais, que serviam não só para pagar prémios milionários aos administradores sem que os mesmos fossem fossem tributados, como para mascarar contas e ocultar prejuízos de milhões.

Como conseguiram fazê-lo sem levantar suspeitas, e durante tantos anos? Uma boa parte do sucesso dos esquemas pode explicar-se com as regras de supervisão — ou com a falta delas. Só em 2007, com a implementação do acordo de supervisão bancária Basileia II, é que as autoridades de supervisão, incluindo o Banco de Portugal e o Banco Central Europeu, passaram a poder avaliar diretamente os mecanismos de controlo de capital dos bancos e a impor medidas corretivas quando considerassem que os fundos próprios não eram suficientes.

E é precisamente depois deste aperto da regulação que começa a descobrir-se a maioria das irregularidades nas contas dos bancos — à exceção das offshores do BES, que só no final de 2015 começam a ser questionadas, para serem confirmadas no ano seguinte.

20 + 17 = ?

O BCP inaugurou a lista. Há dois casos distintos de offshores usadas pelo BCP, um investigado em 2002, o outro descoberto anos mais tarde. Mas ambos os escândalos culminam na grande crise do BCP, originada por uma guerra de acionistas, e, em ambos os casos, o objetivo era o mesmo: valorizar artificialmente as ações do banco. Começando pelo princípio.

Em 2002, uma queixa do BPI, que na altura não foi tornada pública, levou o Banco de Portugal a investigar 20 entidades offshore, através das quais vários membros do Conselho Superior do BCP contraíram crédito para comprar ações próprias.

Mais tarde, já em 2007, a guerra de poder dentro do BCP levou Joe Berardo, acionista do banco, a acusar Jardim Gonçalves, fundador e presidente do BCP durante 25 anos, de ter comprado ações próprias para inflacionar a cotação das mesmas. Só depois destas acusações é que o Banco de Portugal veio a descobrir outras 17 offshores, até então desconhecidas, que também serviam para comprar ações próprias, contornando a norma que impedia as empresas de deter mais de 10% de ações próprias. E só nesta altura veio a público informação sobre as primeiras 20 offshores.

Quando o caso explodiu, Vítor Constâncio, então governador do Banco de Portugal, explicou que estas offshores “não estavam explicitadas nas contas do banco” nem “estavam reportadas ao Banco de Portugal”, além de os auditores externos nunca terem feito “qualquer referência a entidades desta natureza”.

O país pestanejou e dois bancos caíram

O caso BCP poderia ter sido o incentivo para apanhar outros a tempo, mas a História lembra-nos que não foi assim que aconteceu. No BPN, foi só graças (mais uma vez) a guerras internas que mais um banqueiro caiu — e que, consequentemente, se aceleraram investigações. Oliveira e Costa abandonou a presidência do grupo SLN/BPN em fevereiro de 2008, numa altura em que alguns acionistas colocavam em causa a sua liderança.

Foi substituído por Miguel Cadilhe, antigo ministro das Finanças, que, pouco tempo depois de chegar ao banco, denunciou crimes financeiros que envolviam três quadros superiores. No centro das “irregularidades” estava a identidade do proprietário do Banco Insular de Cabo Verde, que, veio a saber-se depois, era detido pelo BPN. O banco ocultou este facto através de uma offshore de Gibraltar, detida, por sua vez, por outras duas offshores. Através destas, o BPN conseguiu ocultar perdas entre os 700 e os 800 milhões de euros, que acabaram por levar à sua nacionalização.

Não houve tempo para pestanejar e aconteceu o BPP. O caso era, em vários aspetos, semelhante. João Rendeiro deixa a presidência do BPP depois de lhe ver ser recusado um empréstimo de 750 milhões com garantia estatal. A 1 de dezembro de 2008, alguns dias depois da saída de Rendeiro, o governo de José Sócrates avançava com um financiamento de 450 milhões ao banco, que, como sabemos, acabou por colapsar.

A partir daqui, foi sempre a cair — ou a vir à tona, dependendo da leitura que se faça. João Rendeiro acabou por se ver envolvido em vários processos. Num deles, foi acusado de evasão fiscal no valor de 16,4 milhões de euros, relativos ao pagamento de salários e prémios de gestão que nunca foram declarados. Estes montantes eram pagos através de sociedades offshore criadas pelo BPP mas, como veio a saber-se depois, estas não serviam só para pagar prémios milionários. Serviram, também, para ocultar prejuízos e realizar operações com o próprio grupo.

Entre 2004 e 2008, estas sociedades pagaram um total de 17 milhões de euros aos administradores do grupo. Os prejuízos decorrentes destes pagamentos foram imputados ao BPP Cayman.

O saco mais fundo

E chegamos ao saco azul do já extinto Banco Espírito Santo (BES), que Ricardo Salgado e companhia conseguiram ocultar por mais de duas décadas. A primeira referência à Espírito Santo Enterprises, o veículo financeiro que o Grupo Espírito Santo (GES) usava para pagar despesas que não eram declaradas, surge em novembro de 2014, pelo Público. Na altura, o jornal dava conta de que este veículo já estava no radar do Ministério Público.

Mais tarde, na comissão parlamentar de inquérito ao GES, Ricardo Salgado negou que a Espírito Santo Enterprises funcionasse como “saco azul”, dizendo que servia para pagar serviços partilhados do grupo. A explicação não convenceu as autoridades portuguesas, que suspeitavam de “práticas de crimes”.

Foi preciso chegar a abril de 2016 para se descobrir a ponta do icebergue, com a investigação jornalística Panama Papers, que denuncia o envolvimento de mais de 214 mil offshores em operações financeiras por todo o mundo.

O resto já é história: a ES Enterprises é criada em 1993, nas Ilhas Virgens Britânicas, pelo núcleo duro da família Espírito Santo, para assegurar os pagamentos relacionados com a atividade internacional da… família Espírito Santo. Contudo, a origem desta offshore data de muito antes. Mais precisamente, de 1975, quando os Espírito Santo saíram de Portugal e se espalharam pelo Reino Unido, Suíça Espanha e Brasil. Nesse ano, fundaram a Espírito Santo International (a ESI), que funcionava como holding da área financeira do GES.

Quando regressou a Portugal, a família Espírito Santo manteve a ESI e acrescentou-lhe subholdings: a Espírito Santo Financial Group, a Espírito Santo Resources e a Espírito Santo Financière. Era este conjunto de veículos que assegurava os salários e despesas dos vários membros do clã.

E foi esse papel que a ES Enterprises assumiu em 1993, mudando depois de nome para Enterprises Management Services em 2007. Segundo contaram o Expresso e a TVI, envolvidos nos Panama Papers, terão passado mais de 300 milhões de euros pela ES Enterprises e ainda não são conhecidos todos os destinatários destes pagamentos.

Alguns dos destinatários são conhecidos. Zeinal Bava, por exemplo. Por ordem de Ricardo Salgado, a ES Enterprises transferiu, em 2012, 18,5 milhões de euros para uma conta bancária no estrangeiro detida pelo ex-CEO da Portugal Telecom. O objetivo, segundo explicou Zeinal Bava ao Expresso, seria financiar a aquisição de ações da PT por um grupo de altos quadros da empresa, mas esta operação dependia da privatização total da PT, numa altura em que o Estado ainda detinha uma participação na operadora. Como a privatização não foi concretizada naquele momento, a operação não se realizou e, segundo Zeinal Bava, o dinheiro foi devolvido.

Pelo meio, o saco azul do GES interliga-se com a Operação Marquês, caso em que o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) está a investigar a origem do dinheiro em contas de Carlos Santos Silva, o amigo de José Sócrates. Isto porque, segundo Hélder Bataglia, o empresário luso-angolano que fundou a Escom, as transferências bancárias que estão a ser investigadas na Operação Marquês foram feitas através da ES Enterprises. Em causa estão pagamentos no valor de 12,5 milhões de euros, dinheiro que os investigadores acreditam que terá servido para subornar o então primeiro-ministro, para que aprovasse a nova fase de desenvolvimento do empreendimento de Vale do Lobo.

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Azevedo Pereira desmente Núncio sobre offshores

Núncio afirma que foi a Autoridade Tributária a decidir a não publicação de estatísticas entre 2011 e sobre as transferências para as offshores. Azevedo Pereira desmente o ex-secretário de Estado.

José Azevedo Pereira desmente Paulo Núncio sobre as razões da não divulgação de estatísticas relativas às transferências para as offshores no mandato do governo de coligação. Em nove pontos, o máximo responsável da Autoridade Tributária entre 2007 e julho de 2014 rejeita responsabilidades e atribui ao secretário de Estado a decisão política de manter os dados na gaveta, sem escrutínio público.

“Caso tivesse sido intenção do SEAF, da altura, disponibilizar publicamente a informação produzida, teria tido a possibilidade de, em qualquer momento, ao longo dos quatro anos seguintes (com o ex-Diretor-Geral que escreve estas linhas, ou com qualquer dos que se lhe seguiram) anular o suposto “erro de perceção”, mediante a emissão de uma indicação, formal ou informal, de natureza contrária aquela que na altura foi transmitida à AT”, escreve Azevedo Pereira, em declarações, em primeira mão, ao ECO, e depois passadas para um comunicado.

Quem foi o responsável pela omissão das estatísticas sobre a transferência de contas nacionais para contas em paraísos fiscais entre 2011 e 2015? Paulo Núncio afirmou ao DN que as responsabilidades são da Autoridade Tributária (AT), garantindo que a ordem de publicação dada pelo antecessor, Sérgio Vasques, ainda determinava que a então Direção Geral dos Impostos, atual AT, divulgasse essas informações. “Essa divulgação não estava, assim, dependente de uma aprovação expressa a posteriori do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais [no caso, ele próprio, Paulo Núncio]“. E Núncio conclui: “O despacho de visto não é uma oposição à respetiva divulgação, uma vez que a AT já estava obrigada a publicar a estatística com base no despacho do meu antecessor.”

Não foi o que aconteceu, como se sabe hoje. As estatísticas foram divulgadas pela primeira vez em 2010, e só voltaram a ser públicas já com o atual governo em funções, a primeira vez em abril de 2016 e, depois, no final do ano. Foi entre estas duas divulgações que surgiu a polémica, e as dúvidas, em torno da transferência de dez mil milhões de euros relativa ao período de 2011 a 2014 e, apesar de comunicada pelos bancos ao Fisco, não terá sido tratada para efeitos de controlo e inspeção.

Segundo José Azevedo Pereira, o secretário de Estado recebeu as estatísticas de 2010 e 2011. Os bancos estão obrigados a entregar a declaração 38 sobre as transferências para paraísos fiscais até julho do ano seguinte a que se reportam as operações. O ex-diretor-geral confirma que remeteu para Paulo Núncio os dados de 2010 no final de 2011 e os relativos ao ano de 2011 no final do ano seguinte.

De acordo com o esclarecimento agora conhecido, o secretário de Estado respondeu, com ‘Visto’, às estatísticas de 2010 apenas em 2015 e às de 2011 em meados de 2014. Em ambas as respostas, Núncio terá devolvido à Autoridade Tributária os referidos dados com um ‘Visto’, o que, no entendimento de Azevedo Pereira, não é uma autorização de publicação. “A informação em causa foi preparada de raiz para acomodar a solicitação efetuada pelo SEAF na resposta ao primeiro pedido de publicação, tendo sido remetida à Secretaria de Estado no início de novembro de 2012. No entanto, o SEAF devolveu o processo à AT – em meados de junho de 2014 – apenas com um despacho de “Visto”. Ou seja declarou ter tomado conhecimento dos elementos que lhe foram comunicados mas não autorizou a sua divulgação, tal como lhe foi solicitado”, escreve Azevedo Pereira.

O responsável nota ainda que “um despacho de ‘Visto’, sem qualquer decisão associada, em linguagem corrente da Administração Pública, quer dizer exatamente aquilo que literalmente afirma. Ou seja, a mensagem é, sumariamente, vi e tomei conhecimento daquilo que propõe, mas uma vez que não lhe estou a responder afirmativamente, não o autorizo a proceder como sugere“.

Azevedo Pereira sugere ainda um exercício: “A possibilidade de que a realidade não tivesse sido esta, mas sim a de que a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais sempre tivesse pretendido que a informação fosse disponibilizada e que apenas um mal-entendido se pudesse encontrar na origem do acontecido”. Ou seja, o ex-director-geral de Impostos, “por redução ao absurdo”, sugere que se admita, “por um momento, a possibilidade de que a ausência de publicação das estatísticas em causa tivesse resultado de um mero “erro de perceção” do Diretor-Geral da AT, à data”.

“Neste caso, o problema seria muito fácil de resolver. Bastaria que, logo que foi detetada a ausência de publicação da lista (facto que, naturalmente, ocorreu de imediato), fosse feita uma comunicação no sentido oposto daquela que foi recebida pela AT – ou seja, no sentido de que a informação fosse publicada”. “Naturalmente, estes erros de perceção podem demorar dias, ou, na pior das hipóteses, meses a sanar. Contudo, nunca demoram quatro anos a resolver – ficando inclusivamente sem solução ao longo de todo o período em causa e transitando para o executivo seguinte”, concluiu o Azevedo Pereira.

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Presidente da República aprova diploma que regula OE2017 mas deixa alertas

  • Margarida Peixoto
  • 24 Fevereiro 2017

Diploma abre exceções em matéria de aquisição de bens e serviços que não estavam previstas na lei do Orçamento. Mas também traz novas cativações para gastos com papel e consumíveis.

O Presidente da República promulgou esta sexta-feira o decreto-lei que estabelece as regras de execução do Orçamento do Estado para 2017. Contudo, deixou alertas ao Governo. Desde logo, porque o diploma abre exceções em matéria de aquisição de bens e serviços que não estavam previstas no próprio Orçamento, apurou o ECO.

“Não deixando de mencionar a latitude de normas como os artigos 37.º, 42.º, 63.º e 124.º, a especificidade de normas como as dos artigos 55.ºe 57.º, assim como o aumento de alterações legislativas, o Presidente da República promulgou o Diploma do Governo n.º 23/2017 que estabelece as normas de execução do Orçamento do Estado para 2017”, lê-se na nota publicada esta noite no portal da Presidência da República.

Ao que o ECO apurou, os reparos do Presidente estão relacionados com o facto de o diploma permitir exceções às regras para os serviços adquirirem bens e serviços que não constavam no OE2017. As exceções serão do âmbito da Justiça. Daqui resultam duas consequências negativas: primeiro, a prática legislativa é incorreta. Um decreto-lei não deve ir além de uma lei — e a do Orçamento é de valor reforçado. Segundo, pode abrir a porta a mais despesa.

Além disso, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa também notou “o aumento de alterações legislativas” que resultam do diploma.

Ainda assim, as dúvidas não foram suficientes para questionar a constitucionalidade do diploma, daí que tenha sido promulgado.

Mais cativos, menos recurso a especialistas externos

O diploma do Governo traz também outras novidades. Tal como aconteceu em 2016, acrescenta cativos face à lei do Orçamento. Contudo, desta vez aplicam-se aos gastos com papel, consumíveis de impressoras, entre outros.

Também o recurso a especialistas externos às Administrações Públicas tem agora novas regras. À semelhança do que já tinha sido adiantado pelo Público, o ECO apurou também que antes de contratar fora, os dirigentes têm de fundamentar que não têm condições para executar a tarefa com recursos próprios. Além disso, devem informar os restantes dirigentes dos organismos dentro do mesmo programa orçamental dessa necessidade. Só se ninguém manifestar interesse em desempenhar a tarefa num prazo de dez dias é que o recurso aos especialistas externos pode avançar.

Neste diploma surgem ainda regulamentadas questões relacionadas com o Orçamento Participativo, uma iniciativa que já está no terreno e no âmbito da qual os cidadãos podem sugerir ideias para aplicar um total de três milhões de euros.

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Dow Jones tremeu, mas não caiu. Investidores esperam por Trump

O sentimento dos investidores é de "grande expectativa", numa altura em que aguardam pelo discurso que Donald Trump fará perante o Congresso na próxima semana.

As bolsas norte-americanas fecharam a semana no verde, mas por pouco, numa altura em que os investidores aguardam pelo discurso que Donald Trump fará perante o Congresso na próxima semana. O grande destaque vai para o industrial Dow Jones, que subiu pouco, mas prolongou por mais um dia a série mais longa de ganhos das últimas três décadas.

O S&P encerrou a somar 0,15%, para os 2367,34 pontos, enquanto o Nasdaq subiu 0,17%, para os 5845,30 pontos. Já o Dow Jones avançou uns ligeiros 0,05%, para os 20821,76 pontos, e já soma 11 sessões consecutivas de ganhos. É a série mais longa de ganhos que o índice industrial regista desde 1987.

O sentimento dos mercados é, neste momento, de “grandes expectativas”, apontam os analistas. “A probabilidade de haver percalços legislativos e políticos é muito alta, pelo que se pode esperar alguma volatilidade nos mercados”, aponta à Bloomberg um analista da Russell Investments.

O dia ficou ainda marcado pela queda do petróleo, depois de o departamento de energia norte-americano ter anunciado níveis recorde nas reservas de crude, facto que está a anular o efeito positivo que o corte de produção acordado pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) estava a ter sobre o preço da matéria-prima.

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Houve instruções para o Fisco não vigiar transferências? “Isso é impensável”, diz Passos

  • Margarida Peixoto
  • 24 Fevereiro 2017

Pedro Passos Coelho garantiu que o anterior Governo não deu ordens à Autoridade Tributária para deixar de vigiar as transferências para offshores, entre 2011 e 2014.

Pedro Passos Coelho garantiu esta sexta-feira que o Governo que liderou não deu instruções à Autoridade Tributária para deixar transferir, sem controlo, cerca de dez mil milhões de euros para paraísos fiscais. “Isso é impensável”, disse o ex-primeiro-ministro.

Pela primeira vez, Passos saiu em defesa do seu ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio. “Estar a colocar nesta altura a responsabilidade no Governo anterior é o mesmo que dizer que o Governo terá dado ordens à autoridade fiscal para não atuar. Isso é impensável”, assegurou, em respostas aos jornalistas, à margem de um evento.

Em causa estão 20 declarações de transferência de dinheiro para offshores, num total de dez mil milhões de euros, ocorridas no período entre 2011 e 2014, que não foram vigiadas pela Autoridade Tributária.

O ex-primeiro-ministro do Governo PSD/CDS-PP defendeu que “sem conhecer os factos” não pode “admitir suposições”. E reforçou: “A única coisa a fazer é avaliar, investigar e saber o que se passou”, admitindo mesmo a possibilidade de vir a constituir-se uma comissão de inquérito ao caso das offshores. “Estou tão à vontade nesta matéria que não posso se não incentivar, seja com audições, seja coma comissão de inquérito, o apuramento da verdade”, frisou Passos. Recorde-se que na próxima quarta-feira está agendada a audição do atual secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade e do anterior responsável no cargo, Paulo Núncio.

Passos criticou ainda o primeiro-ministro António Costa pelas declarações que fez no debate quinzenal, que decorreu esta quarta-feira no Parlamento: “O que não pode é o Governo, de forma leviana e indigna”, fazer a “sugestão explícita de que houve essa responsabilidade do Governo [anterior] que deixou voar dez mil milhões, poupando as entidades ricas, quando os portugueses andavam a fazer sacrifícios.”

No debate quinzenal, Passos tinha optado apenas por descartar responsabilidades, garantindo que nunca tomou conhecimento do assunto, enquanto foi primeiro-ministro.

Comissão CGD: “Espero que não se arraste muito”

Sobre os trabalhos da comissão da CGD, que está parada à espera de documentação pedida pelos deputados ao banco público, ao Banco de Portugal e à CMVM, Pedro Passos Coelho disse esperar “que [a situação] não se arraste muito”. Contudo, frisou que até à data, fora as audições no Parlamento, a comissão parlamentar de inquérito “não recebeu qualquer elemento material que permita responder à questão de porque é que a CGD precisa de tanto dinheiro [para a recapitalização]. A CGD recusa-se a dar essa informação, o Governo recusa-se e tivemos de recorrer aos tribunais.”

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Acordo comercial UE-Canadá pode beneficiar energia poluente

  • ECO
  • 24 Fevereiro 2017

O Canadá produz o petróleo vindo das areias betuminosas, altamente poluente, e este pode vir a entrar na Europa e concorrer com a energia renovável.

Ambientalistas e um investigador alertaram esta sexta-feira para os perigos do acordo comercial Europa-Canadá, ao permitir que o petróleo de areia betuminosa, mais poluente que o convencional, concorra com as energias renováveis, pondo em causa esforços contra as alterações climáticas. “Temos a questão do Canadá produzir o petróleo vindo das areias betuminosas, altamente poluente, que poderá entrar na Europa concorrendo com a energia renovável e, depois do CETA [o acordo comercial] aprovado, não iremos conseguir dizer não” àquela forma de energia, defendeu Gil Penha Lopes, da Faculdade de Ciências de Universidade de Lisboa.

“Sem incluir as externalidades que [aquela energia] criou no seu local de origem”, ou seja, sem exigir, por exemplo, que a empresa tenha de reflorestar toda a zona afetada pela sua atividade ou tratar a água que está a contaminar, o preço que chega à Europa seria inferior àquele conseguido com a utilização de energia renovável, explicou à agência Lusa o especialista.

Assim, “não vindo com esse valor associado, é uma competição desleal entre produtos que tendem a resolver o mesmo problema, mas têm impactos completamente diferentes” no ambiente, acrescentou.

O cientista falava à Lusa à margem da conferência “Energia e Alterações Climáticas”, no âmbito dos debates “Olhares da Ciência sobre o acordo comercial UE/Canadá (CETA)”, iniciativa da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, Plataforma Não ao Tratado Transatlântico e Plataforma Transgénicos Fora.

A Zero manifestou preocupação com a possibilidade de serem importadas areias betuminosas para a Europa. “Com base em todos os acordos de que a UE é signatária sobre alterações climáticas e poluição do ar, não deviam ficar ao mesmo nível na diretiva europeia, mas ficaram”, referiu à Lusa Susana Fonseca, da associação ambientalista.

Para a Zero, “as renováveis devem ter prioridade de entrada na rede, devem ser privilegiadas em termos de investimento público e de apoios“, por exemplo, relativamente a outras fontes mais poluentes, e o CETA “abre a porta a que isso seja cada vez mais difícil e possa ser contestado por outras empresas”.

A neutralidade tecnológica, que estipula que todas as tecnologias devem ser tratadas de modo igual, “está num dos artigos (do CETA) e pode dificultar políticas públicas de promoção das renováveis”, explicou.

A melhoria da eficiência dos equipamentos, atendendo à economia circular, que se baseia na reutilização e reciclagem de produtos para conservar os recursos naturais, também fica dificultada, segundo Susana Fonseca, devido aos obstáculos à promoção da reparação de aparelhos elétricos e eletrónicos e a sua reutilização, por exemplo.

Questionado pela Lusa acerca da concorrência que os combustíveis fósseis, nomeadamente o petróleo das areias betuminosas, poderão fazer às energias amigas do ambiente, o presidente da Associação de Energias Renováveis (APREN), António Sá da Costa, que também participou no encontro, disse que “não é o CETA que vai aumentar ou diminuir essa concorrência, vão ser outros fatores”.

As energias fósseis “estão numa altura de recessão e, não é que possamos prescindir totalmente delas, mas o papel vai ser diferente” já que as renováveis são mais sustentáveis e “conseguimos fazer o mesmo com menos recursos energéticos” e agora é uma questão de “ir mais ou menos depressa”, o que “vai depender não desse tipo de acordos, mas de maior consciencialização dos cidadãos”, referiu António Sá da Costa.

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Mais um tombo da Jerónimo, mais um tombo do PSI-20

Depois da apresentação dos resultados anuais, a dona do Pingo Doce tem sido castigada em bolsa. Uma queda que passou fatura à praça nacional.

Mais um tombo da Jerónimo Martins, mais um tombo do PSI-20. A retalhista continua a ser penalizada depois de ter apresentado lucros que, apesar de recorde, ficaram aquém das expectativas dos analistas. E arrastou consigo a bolsa de Lisboa, que fechou em queda pela terceira sessão consecutiva. No resto da Europa, o dia também foi de perdas, motivadas, sobretudo, pela desvalorização do petróleo.

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