Dez respostas sobre a nova emissão de obrigações de retalho

As Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) têm conquistado muitos pequenos investidores. Vem aí uma nova emissão destes títulos. Fique a conhecer todos os detalhes.

As Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) foram lançadas no ano passado. De imediato, foram um sucesso. O Estado aproveitou-se desse êxito para fazer três emissões, obtendo mais de três mil milhões de euros com este novo produto de poupança de médio prazo. Agora, vai fazer uma nova operação. Conheça todos os detalhes.

1. Quando pode subscrever esta nova emissão?

A nova emissão de OTRV já tem datas. O período de subscrição arranca às 8h30 do dia 27 de março de 2017, sendo que os investidores terão depois até às 15h00 do dia 7 de abril para colocarem a ordem de subscrição — cada investidor apenas poderá ter associada uma ordem de subscrição. Estas ordens, podem, no entanto, ser revogadas ou alteradas até às 15h00 do dia 4 de abril de 2017.

2. Onde é que pode subscrever?

O Estado coloca os seus produtos de poupança, os certificados de aforro e os Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM) tanto online como através da rede de balcões dos CTT. Contudo, isso não acontece no caso das OTRV. Estes títulos de dívida pública só estão disponíveis para subscrição através dos balcões dos bancos.

3. Qual o mínimo de investimento?

O valor mínimo de investimento é de 1.000 euros, correspondentes a uma OTRV. O montante máximo que pode investir-se é de um milhão de euros, equivalente a 1.000 OTRV, sendo que o Estado pretende obter 500 milhões de euros através desta nova emissão de OTRV. Mas pode emitir mais… A operação tem um “valor nominal global inicial de até 500 milhões de euros, o qual poderá ser aumentado, por opção do emitente, até ao dia 31 de março de 2017, inclusive, sendo que em caso de exercício desta opção será divulgada uma comunicação para o efeito até à referida data, inclusive”, refere o IGCP.

4. E se a procura superar a oferta?

Se acontecer como nas anteriores emissões, o valor pretendido pelo Estado deverá ser superado — tem sido grande o apetite dos pequenos investidores por estes títulos. Está aberta a porta a aumentar o valor da oferta, mas se mesmo assim a procura superar a oferta haverá lugar a rateio. As regras estão definidas: atribuição de 20 títulos (ou menos, se tiver solicitado menos); atribuição de um título do remanescente por ordem de entrada das ordens; e atribuição sucessiva de mais um título após aplicação dos critérios anterior. E, se não houver títulos suficientes para todos, é feito um sorteio.

5. Qual é o prazo do investimento?

Tal como nas três operações anteriores, também nesta o prazo de investimento é de cinco anos. A maturidade da emissão é atingida em abril de 2022 — ainda que o investidor possa, no mercado, desfazer-se dos títulos antecipadamente. O IGCP explica que estas OTRV pretendem “promover a aplicação da poupança de médio e longo prazo dos aforradores em títulos de dívida com características idênticas às Obrigações do Tesouro, embora com remuneração variável”.

6. Qual a taxa oferecida?

As OTRV, nesta quarta emissão destes títulos, contam com “uma taxa de juro variável e igual à Euribor 6 meses acrescida de 1,90%″, refere a agência liderada por Cristina Casalinho. O prémio de 1,9% é o mais baixo das três emissões realizadas pelo IGCP no ano passado, o ano de estreia deste instrumento de financiamento de médio prazo destinado a pequenos aforradores. Compara com a taxa de 2% na emissão de novembro, com a de 2,05% em agosto, e a de 2,2%, em abril.

7. É um juro atrativo?

O juro oferecido aos investidores, apesar de ser inferior ao apresentado nas anteriores emissões de OTRV, está em linha com o mercado secundário da dívida portuguesa a cinco anos: 1,87%. Contudo, antes de investir deve considerar as remunerações oferecidas por outros produtos, nomeadamente do Estado. Os depósitos, o produto preferido dos portugueses, estão a dar taxas muito baixas — a média está no nível mais baixo de sempre: 0,33% –, e o mesmo acontece com os certificados de aforro que rendem apenas 0,671%. Já os CTPM continuam a ser atrativos. A taxa anual nominal bruta é de 2,25%, se mantidos durante os cinco anos. Rendem mais do que estas OTRV.

8. Quando são pagos os juros?

Se os Certificados de Aforro pagam juros de três em três meses, os CTPM só pagam de ano a ano. E as OTRV? Neste caso, o pagamento de juros é feito semestralmente, postecipadamente, estando já definidos os dias em que vão ser feitos esses pagamentos. O IGCP revela que o pagamento vai acontecer a 12 de abril e 12 de outubro de cada ano, durante os cinco anos.

9. E tenho de pagar alguma coisa?

“Além do preço de subscrição, poderão existir despesas associadas à recolha das ordens de subscrição e à custódia, bem como
comissões sobre o pagamento de juros e o reembolso de capital”, refere o IGCP. E estas comissões podem ser pesadas, pelo que deve consultar o seu intermediário financeiro para pedir uma simulação. Regra geral, investimentos de baixo valor acabam por não compensar — pode mesmo perder dinheiro. Com um investimento de 5.000 euros já será possível obter juros suficientes para liquidar as despesas.

10. É seguro como os depósitos?

As OTRV não são seguras como os depósitos, que estão protegidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. As OTRV são títulos de dívida pública, logo são um investimento que tem risco. Em primeiro lugar, há o risco de liquidez já que as OTRV são negociadas em bolsa, sendo que quem necessitar do dinheiro antes dos cinco anos, vendendo no mercado, fica sujeito a vender os títulos por um valor inferior ao inicial. Além disso, há também o risco do emitente, o Estado. Em caso de incumprimento, ou reestruturação da dívida, os detentores destes títulos são afetados.

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Carlos Costa: “A supervisão mudou radicalmente”

O governador do Banco de Portugal responde a duas audições seguidas, para dar explicações sobre a sua atuação na caso do Grupo Espírito Santo.

Carlos Costa vai sentar-se outra vez no Parlamento. Pouco mais de dois anos depois da comissão parlamentar de inquérito ao universo Espírito Santo, o governador do Banco de Portugal volta a ter de responder sobre a sua atuação no caso do Grupo Espírito Santo (GES), depois de uma reportagem da SIC ter colocado em causa a regulação que foi feita — ou aquela que não foi feita — antes da derrocada do GES, no verão de 2014.

Desta vez, Carlos Costa vai ter de responder a duas audições seguidas. Na primeira, vai ser questionado sobre as medidas tomadas no âmbito do processo de resolução do Banco Espírito Santo (BES), bem como sobre a situação atual do Novo Banco. A segunda foi pedida pelo próprio governador, para “prestar contas sobre a atuação do banco central, defender a sua reputação e proteger a confiança do público na eficácia e na diligência da supervisão bancária acerca da resolução do BES”.

Em ambas, o governador do Banco de Portugal terá muito que explicar. Algumas serão já perguntas muitas vezes repetidas. Por exemplo, por que não retirou a idoneidade a Salgado mais cedo? Outras poderão trazer informações novas. Porque é que colocou na gaveta um relatório do BPI que dava conta da situação financeira do BES, entregue ao regulador mais de um ano antes da resolução do banco? Aqui, poderá recordar algumas das respostas que Carlos Costa ainda não deu.

Por agora, acompanhe o nosso liveblog para ler as explicações do governador.

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BCP dispara e puxa o PSI-20 para melhor sessão do mês

  • ECO
  • 23 Março 2017

A sessão desta quinta-feira na bolsa de Lisboa chegou ao fim no verde, a acompanhar a tendência internacional, impulsionada pela subida de quase 5% do BCP.

Lá fora, as várias bolsas chegaram ao final desta quinta-feira no verde. Lisboa não foi exceção. O PSI-20 fechou a valorizar 1,04%, para os 4.667,63 pontos, apoiado pelo disparo dos títulos do BCP.

O índice PSI-20 acumulou a quinta sessão de ganhos nas últimas seis, conseguindo a melhor subida desde o início do mês. O BCP foi a cotada com o melhor desempenho da sessão no índice bolsista nacional, com as suas ações a valorizarem 4,9%, para os 17,35 cêntimos, a cotação mais elevada desde que foi anunciado o aumento de capital de 1.300 milhões de euros, a 9 de janeiro. Isto depois do anúncio do reinício da cobertura da parte dos analistas do CaixaBI, que conferiram ao banco liderado por Nuno Amado um preço-alvo de 0,25 euros por cada ação. Ou seja, atribuíram um potencial de valorização de 51%, o que entusiasmou e muito os investidores.

No vermelho ficou, mais uma vez, uma das novas cotadas. O pior desempenho do dia foi o da Ibersol, dona de cadeias como o KFC, a Pizza Hut ou o Burger King, que desvalorizou 2,01% para os 14,60 euros. Já a Novabase, a outra estreante no índice, conseguiu terminar no verde, a subir 0,70% para os 3,02 euros.

O dia foi tão positivo na praça lisboeta porque a maioria das cotadas terminou bem. Destaque para os CTT, que cresceram 1,57% para os 4,86 euros, para a Nos, que subiu 1,20% para os 4,98 euros, e para as energéticas. A EDP Renováveis chegou ao final da sessão a cotar 6,19 euros, e a Galp Energia a cotar 13,52 euros, mesmo com o petróleo a continuar a desvalorizar.

A queda do petróleo mantém a tendência que já vem do princípio da semana, quando o Governo norte-americano anunciou que as reservas petrolíferas do país estavam muito bem abastecidas, e isso lançou os valores da matéria-prima em queda a nível global. No final da sessão de Lisboa, o WTI, negociado em Nova Iorque, estava nos 47,85 dólares por barril, enquanto o Brent, em Londres, estava nos 50,68 dólares por barril.

Lá fora, o Stoxx Europe 600, que contabiliza as seiscentas maiores empresas à escala europeia, estava nos 376,96 pontos, alcançados com uma subida de 0,79%.

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No Reino De Dornes

  • ECO + Via Verde
  • 23 Março 2017

Banhada pelas águas do Zêzere, Dornes é considerada uma das mais belas vilas de Portugal e das suas ruas emanam histórias que remetem para o tempo dos Templários. Vamos até lá?

A 10 km de Ferreira do Zêzere, seguindo por uma estrada de curvas e contracurvas, por pinhal e eucaliptal, Dornes começa a espreitar por entre as árvores.

As pequenas casas lideradas por uma torre ancestral destacam-se no meio de um cenário natural deslumbrante, característico das encostas e margens do Zêzere.

Naquela língua de terra que entra albufeira adentro, a vida corre lenta. Durante a semana, as lojas e cafés estão fechados, com anúncios à porta dando conta que, entre outubro e maio, apenas abrem às sextas, sábados, domingos e feriados, altura em que os visitantes aparecem.

Fora isso, o silêncio reina na vila, apenas quebrado pelas águas do Zêzere a baterem suavemente nos cascos do barcos ancorados no cais, o piar dos pássaros e o som das abelhas, que por esta altura começam a dar sinal de uma primavera que se aproxima.

A Igreja e a Torre de Dornes

Conhecer Dornes pode levar 30 minutos ou uma hora, tudo depende se quer demorar-se junto às margens do rio, apreciando as suas curvas, ou percorrendo as pequenas ruas, reparando em todos os detalhes, como a pequena fonte, datada de 1989, com a imagem de Nossa Senhora do Pranto de Dornes.

Aliás, não são poucas as referências à santa padroeira da vila, sobre a qual se conta uma lenda que remonta à altura da Rainha Santa Isabel.

No núcleo da vila destaca-se a Igreja Matriz de Dornes, com origem no século XIII, cuja escadaria também apresenta um painel de azulejo azul alusivo a Nossa Senhora do Pranto. Destaque ainda para o brasão de D. Gonçalo de Sousa e a inscrição que remete para 1453.

Ao lado, outra recordação de outros tempos da história portuguesa. A torre em forma pentagonal é uma das principais imagens da vila. Terá sido construída pelo Templários, como posto de vigia e defesa do Zêzere, ainda durante a Reconquista Cristã, juntando-se assim a outras estruturas militares defensivas do género, como o Castelo de Almourol.

Hoje, já não existe necessidade de defesa do Zêzere. Pelo contrário, o rio está de águas abertas para quem o quer conhecer. Seja debruçado no varandim em frente à Torre de Dornes, seja através de uma viagem de barco com início no cais mesmo abaixo.

Deixe-se encantar pela região e conheça também a Casa do Adro a cerca de 10 km de Dornes, o local ideal para ficar alojado durante a visita.

Boa viagem!

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Ou as companhias aéreas saem do Reino Unido antes do Brexit, ou perdem rotas

  • ECO
  • 23 Março 2017

O medo da perda de postos de trabalho e de rotas de circulação leva várias companhias aéreas britânicas a considerarem deixar o Reino Unido.

Com o Brexit cada vez mais próximo, várias companhias aéreas que operam no Reino Unido começam a considerar alternativas para onde possam deslocar as suas bases e procurar garantir que a maioria dos acionistas continua a pertencer e a reger-se pelas regras da União Europeia (UE).

Vários membros da UE já avisaram certas companhias, como a easyJet e a Ryanair, de que têm de deslocar as suas sedes para fora do Reino Unido ou vender parte das suas ações a investidores de países da UE se quiserem continuar a voar dentro do espaço europeu depois do Brexit.

Mas esta pressão pode ter o efeito contrário e levar a que as companhias britânicas surjam com as suas próprias leis, o que deixaria as companhias da UE perante uma concorrência desleal e escolhas ainda mais difíceis, como um potencial enfraquecimento no investimento no Reino Unido no curto prazo. Por outro lado, algumas podem querer estabelecer, no médio e longo prazo, as suas próprias filiais no Reino Unido, para conseguirem continuar a operar no país e a manter-se a par da concorrência.

No caso da EasyJet, por exemplo, as suas rotas na Europa são tão importantes para o seu modelo de negócio que esta pressão pode muito bem incentivar a empresa a investir fora do Reino Unido para manter a sua quota do mercado europeu. Como explica o The Guardian, estas companhias poderão vir a ter de forçar o afastamento dos investidores britânicos para poderem atrair os de nacionalidades de países que continuem a pertencer à UE.

Vários oficiais da UE já deixaram clara, nas várias reuniões que decorreram com as diversas companhias aéreas, a necessidade de manter regras rígidas e acabar com a “negação sobre as consequências de o Reino Unido sair do Bloco” que parecem pairar entre estas empresas, com algumas a manterem a esperança de que a Comissão Europeia seja flexível com as suas leis e mantenha os acordos vigentes.

Thomas van der Wijngaart, perito de aviação na Clyde & Co, disse ao The Guardian que pode haver consequências económicas severas para o Reino Unido se as companhias aéreas deslocarem as suas estruturas operativas e financeiras para fora do país, em prol de criar uma presença mais forte no continente. “Pode acontecer que as companhias decidam ter voos ‘domésticos’ [dentro do continente] operadas sob a sua nova licença, o que provavelmente levaria à redução do número de postos de trabalho no Reino Unido”.

Como a easyJet e a Ryanair estão a preparar-se para descolar

A easyJet está a criar uma companhia para operar na UE — cujo anúncio oficial deve acontecer já nas próximas semanas — para conseguir obter um certificado de voo dentro da UE. No entanto, a companhia insiste que a sede e os escritórios serão localizados no Reino Unido. Atualmente, são acionistas de países da UE que detêm 84% da companhia, mas a percentagem deverá baixar para os 49% depois do Brexit, devido ao aumento das ações detidas por Stelios Haji-loannou, que tem dupla nacionalidade britânica e cipriota, e cujas ações vão ser classificadas como europeias e não britânicas. O Financial Times já divulgou que as ações são atualmente classificadas como britânicas para irem de encontro às leis restritivas de propriedade da companhia, que terão de mudar depois do Brexit.

Já a Ryanair, que tem a sua casa-mãe na Irlanda, não vai ter de se deslocar e 60% das suas ações já são detidas por cidadãos europeus. Ainda assim, também esta percentagem vai baixar, para os 40%, quando os investidores britânicos forem excluídos da companhia, tornando assim essencial ganhar mais investidores europeus para se manter de acordo com a legislação vigente. Michael O’Leary, CEO da Ryanair, já veio condenar o “otimismo ligeiramente louco” do Governo britânico em relação ao Brexit.

Outro porta-voz da empresa irlandesa acrescentou: “Apesar de parecer que estamos a encaminhar-nos para um Brexit muito árduo, ainda há muita incerteza quanto ao que o processo realmente vai implicar. Esta incerteza vai continuar a representar um desafio para os nossos negócios durante os anos financeiros de 2017 e 2018”.

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Economist: Nova investigação à Sonangol é “publicidade negativa” para Anagola

  • Lusa
  • 23 Março 2017

A unidade de análise da revista "The Economist" diz que a abertura de uma investigação à Sonangol aumenta a perceção de que Angola é um dos países mais corruptos do mundo.

A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou hoje que a abertura de uma investigação ao pagamento de 350 milhões de dólares à Sonangol pela petrolífera Cobalt aumenta a perceção de que Angola é um dos países mais corruptos do mundo.

“As ações da SEC [regulador norte-americano dos mercados financeiros] e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos criaram uma publicidade negativa significativa para Angola, e aumentaram a perceção de que o país é um dos mais corruptos no mundo”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista The Economist, num comentário a que a Lusa teve acesso.

Lembrando que Angola está em 164º lugar num ‘ranking’ de 176 países analisados sobre a corrupção, feito pela Transparência Internacional, os analistas dizem que “a potencial abertura de uma nova investigação envolvendo a Sonangol vai fazer pouco para ajudar a empresa a melhorar a sua imagem global”. Por outro lado, concluem, a notícia é também negativa para a empresa e para a sua presidente, Isabel dos Santos: “Representa um desafio significativo à reputação da nova presidente, a bilionária filha do Presidente e, nos meses anteriores às eleições legislativas, pode ser problemático para os antigos executivos da Sonangol que saíram da empresa, mas continuam entre os principais membros do partido no poder”, escreve a EIU.

A SEC, equivalente à portuguesa Comissão do Mercado e Valores Mobiliários (CMVM), está a investigar o pagamento de um ‘bónus de assinatura’ pelo contrato de exploração do Bloco 20, em dezembro de 2011. A entrega de um ‘bónus de assinatura’ é uma prática comum na indústria petrolífera, representa um pagamento ao Governo do país onde as empresas vão explorar os recursos naturais e é frequentemente criticado pelas organizações internacionais por nem sempre o destinatário das verbas ser identificado de forma transparente.

O contrato, segundo disse a Cobalt à Bloomberg na semana passada, obrigava as duas petrolíferas a fazerem contribuições sociais para a Sonangol, incluindo para o centro de pesquisa, que, segundo a Organização Não-Governamental Global Witness, recebeu 350 milhões de dólares em 2014. Num comunicado divulgado, esta ONG afirma “não ter conseguido confirmar que o centro realmente existe”. Um porta-voz da BP comentou à Bloomberg que a Sonangol informou a petrolífera de que o centro de tecnologia está ainda em “fase de planeamento”. O Bloco 20 é detido em 40% pela Cobalt e a Sonangol e a BP detêm, cada uma, 30%, de acordo com o site da BP.

Esta não é a primeira vez que a SEC investiga as operações da Cobalt em Angola: em fevereiro, as autoridades norte-americanas arquivaram uma investigação de cinco anos sobre a acusação de que os parceiros angolanos da Cobalt eram figuras de topo da hierarquia política angolana.

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CE quer critérios comuns de solvabilidade para empresas

Atualmente o direito europeu já permite a livre circulação de bens e capitais, mas a Comissão Juncker quer desbravar os obstáculos. Vem aí agilidade para as empresas e para os consumidores.

A Comissão Europeia está neste momento a avançar com um plano de ação para remover os obstáculos enfrentado pelos consumidores europeus. O objetivo é agilizar o funcionamento do mercado único de serviços financeiros ao consumidor, facilitando por exemplo algo tão básico como criar uma conta bancária num dos Estados-membros. As mudanças vão ocorrer também do lado das empresas: a Comissão Juncker quer uniformizar os critérios de solvabilidade das empresas, facilitando o intercâmbio de dados de registo de crédito entre países.

Este ambicioso plano de ação apresenta medidas específicas que irão gradualmente aprofundar o nosso mercado único e ter um impacto real na vida dos cidadãos europeus“, argumentou esta quinta-feira o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo Emprego, Crescimento, Investimento e Competitividade, Jyrki Katainen. A vontade da Comissão Europeia é fortalecer a União dos Mercados de Capitais, aumentando a competição entre empresas e a facilidade de acesso aos serviços pelos consumidores.

“Os consumidores e as empresas da União deveriam poder tirar pleno partido de um mercado verdadeiramente único dos serviços financeiros”, considerou o vice-presidente pela Estabilidade Financeira, Valdis Dombrovskis, referindo que “os consumidores devem ter acesso aos melhores produtos disponíveis em toda a UE e não apenas no seu próprio país”. Atualmente, segundo a Comissão Europeia, apenas 7 % dos consumidores compram serviços financeiros noutro Estado‑membro.

Atualmente o direito europeu já permite a livre circulação de bens e capitais, mas estes últimos têm ainda “demasiados obstáculos”. As dificuldades surgem na hora de abrir uma conta bancária, mas também na aquisição de um seguro automóvel ou no acesso a um crédito num dos 27 Estados-membros. O principal objetivo do plano de ação lançado é melhorar os produtos, dando maior possibilidade de escolha aos consumidores europeus, mas também a sua proteção e acesso à informação. Eis alguns exemplos dados pela Comissão:

  • Fazer com que os condutores possam transferir mais facilmente a sua bonificação por ausência de sinistros (bonus/malus) para o estrangeiro;
  • Reduzir as taxas das transações transfronteiras que envolvam moedas que não o euro;
  • Introduzir maior transparência nos preços dos seguros aquando do aluguer de automóveis;
  • Acompanhar as práticas dos prestadores de serviços digitais para decidir se as regras para a venda de serviços financeiros à distância, como por exemplo em linha ou por telefone, devem ser atualizadas;

Isto implica mudanças diretas e indiretas para as empresas que se movimentem no mercado único europeu. Em causa estão mudanças como a uniformização dos critérios de solvibilidade, mas também os avanços tecnológicos e as novas possibilidades para aproximar o serviço ao cliente. A CE quer cooperar com o setor privado “a fim de estudar a forma como poderão utilizar a identificação eletrónica e ter confiança nos serviços para a verificação da identidade dos clientes”. O objetivo crucial é a expansão: a CE quer “reduzir os obstáculos jurídicos e regulamentares com que se confrontam as empresas que pretendem expandir a sua atividade no estrangeiro.”

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CGD: Os casos que marcaram a audição de Armando Vara

A "pressão" de Sócrates, Vale do Lobo, a OPA da Sonae à PT. A audição de Vara foi marcada por uma série de polémicas. Saiba o que se disse na última audição antes da interrupção dos trabalhos.

A audição de Armando Vara na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi a última antes de os trabalho serem interrompidos até ao início do mês de maio. Durante a sessão de perguntas e respostas dos deputados ao ex-administrador do banco público, voltaram à tona muitas das polémicas que têm marcado frequentemente a agenda desta comissão. Desde a “pressão” que Sócrates exerceu na CGD, a projetos como Vale do Lobo ou La Seda até à chamada “guerra” no BCP. Fique a conhecer as principais polémicas desta audição.

Sócrates: Não falou ou não se lembra?

Quando foi a vez de Luís Campos e Cunha ir ao Parlamento falar sobre a gestão da CGD, o antigo ministro das Finanças revelou que, desde que assumiu funções no Governo Sócrates, o primeiro-ministro o pressionou para demitir a administração da CGD. E que tinham sido sugeridos os nomes de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. Mas afinal Vara falou, ou não, com alguém do Governo sobre o banco público? Foi com esta pergunta que começou uma das polémicas nesta audição. “Não sei o que é que o faz pensar que falei com ele.” Foi assim que Vara respondeu a João Almeida, deputado do CDS — o partido que pediu de forma potestativa esta audição.

Mas, logo a seguir, o ex-administrador disse “não me lembro de ter falado com Sócrates sobre a CGD”, em resposta a Hugo Soares, do PSD. Afinal, não falou ou não se lembra? Perguntaram. “Respondi ‘não’ a João Almeida e respondi ‘não’ a Hugo Soares” e “tenho a certeza de que nunca falei com ele [Sócrates]”, diz Armando Vara. “Na minha memória não está nada da Caixa com o engenheiro Sócrates”, acrescentou. Mas esta resposta não satisfez o deputado social-democrata, que pediu o envio das respostas para o Ministério Público.

Armando Vara na Comissão de inquérito à CGD.Paula Nunes/ECO

Vale do Lobo e La Seda: eram ou não PIN?

Os projetos Vale do Lobo e La Seda têm sido um tema recorrente na CPI à gestão da Caixa. Estas apostas foram feitas porque, de acordo com Vara, eram importantes para a Caixa. Relevantes ao ponto de terem o carimbo de Projetos de Interesse Nacional (PIN)? “Vale de Lobo Não. La Seda… não tenho a certeza”, diz Vara. Mas João Almeida confirma: o projeto espanhol também era PIN.

Mas estes projetos levaram a CGD a registar imparidades elevadas, uma vez que os empréstimos cedidos não foram devolvidos. Segundo o deputado centrista, “azar dos azares, não só os projetos acumulam imparidades, com os gestores respondem agora por uma série de questões. Isso é uma coincidência?”, pergunta. No caso de Vale do Lobo ainda há esperança, realça Vara, dizendo que a Caixa ainda vai conseguir recuperar o dinheiro neste projeto, porque os ativos estão sempre valorizar.

O ex-gestor esclarece também que até 2013, o projeto de Vale do Lobo pagou à CGD cerca de 100 milhões do total do empréstimo que tinha sido concedido, explica. “Foi um dossiê bem pensado, que fizemos questão que ficasse só com a Caixa quando havia outros bancos interessados”.

No resort Vale do Lobo, a Caixa colocou 197 milhões em empréstimos e, enquanto acionista, investiu cerca de 30 milhões. E os promotores? Cerca de dez milhões de euros, diz Vara. Já sobre a La Seda, a postura foi a mesma: “se a Caixa se envolveu foi porque era viável”.

Armando Vara na Comissão de inquérito à CGD.Paula Nunes/ECO

CGD participou na “guerra” no BCP?

Não, disse Armando Vara aos deputados. “A Caixa não participou na guerra no banco privado. Conseguimos — Vara foi vice-presidente do BCP — que os acionistas estivessem unidos no apoio à administração [liderada, à data, por Paulo Teixeira Pinto]. E a forma como votaram, foi a prova de que estávamos a fazer um trabalho sério”, defendeu na CPI.

Vara esclareceu que a ida para o BCP “foi um grande desafio” e não um “golpe do Governo” para dominar o banco privado, como foi dito na altura. Esta polémica também ganhou força quando Carlos Santos Ferreira foi à comissão. Na altura, o ex-presidente da Caixa disse que passou vários anos a ouvir falar do “assalto ao BCP” e lamentou não se ter explicado logo. O mesmo presidente (ainda da CGD na altura) que convidou Vara para ir para o BCP, como explicou o ex-administrador. “Santos Ferreira disse: Eu vou para este cargo [presidente do conselho de administração] e preciso que me acompanhe.”

Ainda sobre o BCP, Miguel Tiago quis explicações sobre a intervenção ou tratamento dado no interior da Caixa no caso do financiamento de acionistas ou potenciais acionistas do BCP, aceitando como colateral as próprias ações que estavam a ser adquiridas. Armando Vara explicou que “chegámos rapidamente à conclusão que a participação” da Caixa no BCP “não fazia sentido”. Mas decidiram não reduzir para menos de 2% — participação qualificada — a pedido do então presidente do BCP, Teixeira Pinto.

“Ele entendia que a participação da Caixa era como um seguro de vida para qualquer tentativa de OPA. Era um sinal para qualquer banco exterior não se atrever.” Foi esta, segundo Vara, a justificação do BCP.

Armando Vara na Comissão de inquérito à CGD.Paula Nunes/ECO

OPA à PT. Afinal o que é que aconteceu?

Quando a Sonae lançou a oferta pública de aquisição (OPA) à Portugal Telecom em 2006, Armando Vara era o administrador que representava a CGD na operadora. Esta operação acabou por ser chumbada pelos acionistas da PT. Mas afinal o que aconteceu? Esta foi uma das questões colocadas pelos vários partidos, da esquerda à direita.

Moisés Ferreira disse que o Banco Espírito Santo “usava a PT como ‘porquinho mealheiro’”. Por isso, era importante perceber se a posição da Caixa na OPA foi por ordem do Governo ou não. Relembra que Santos Ferreira disse que a Caixa não existia para defender posições estratégicas, mas para fazer dinheiro. Sobre isto, Vara disse que a decisão foi tomada pela Caixa. E que no período em que esteve no banco público foi quando “houve menos intervenção” no banco.

Por isso, a OPA da Sonae à PT não avançou porque as consultoras disseram na altura que a oferta não atingiu o valor pretendido, afirmou Vara. E não por pressão do Governo.

Armando Vara na Comissão de inquérito à CGD.Paula Nunes/ECO

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BE: as causas da dívida não estão “nos preguiçosos do sul”

  • Margarida Peixoto
  • 23 Março 2017

A pedido do PCP, os deputados à Assembleia da República discutiram a dívida pública portuguesa. A esquerda diz que é insustentável, o Governo diz que fará tudo para garantir a sustentabilidade.

Como é que se explica que Portugal tenha uma dívida pública de mais de 241 mil milhões de euros, o equivalente a mais de 130% do PIB? Para Mariana Mortágua, deputada do BE, as causas da dívida “estão muito mais nos problemas da banca, na recessão económica e nas PPP do que nos preguiçosos do sul”. No debate de urgência sobre a dívida pública, que decorreu esta quinta-feira na Assembleia da República a pedido do PCP, as acusações de responsabilidade dominaram a discussão.

As posições antes do debate já eram conhecidas. Depois do debate, manteve-se tudo na mesma: PCP e BE garantem que a dívida pública não é sustentável e Paulo Sá, deputado comunista, frisou que o problema “não pode ser varrido para baixo do tapete”. Para os partidos mais à esquerda, não há outra solução para libertar o país dos encargos anuais de mais de oito mil milhões de euros, que comprometem a capacidade de crescimento económico, se não uma renegociação dura da dívida.

"Ao longo destes 16 meses, o PCP foi analisando com o Governo o problema da dívida. As divergências sobre a solução para este problema mantêm-se.”

Paulo Sá

Deputado do PCP

Para saber do que estamos a falar, o ECO radiografou a dívida pública portuguesa. Pode ver os resultados aqui.

Já do lado do PS e do Governo, embora a gravidade do problema seja reconhecida, prefere-se optar uma reestruturação suave: a substituição progressiva de dívida mais cara por dívida mais barata, ao mesmo tempo que se mantém uma política de consolidação orçamental. Foi esta a promessa deixada pelo secretário de Estado do Tesouro, Álvaro Novo, mas que para o PCP não passa de uma “micro-solução”. Paulo Sá foi claro: “Ao longo destes 16 meses, o PCP foi analisando com o Governo o problema da dívida. As divergências sobre a solução para este problema mantêm-se.”

Álvaro Novo foi garantindo ao longo do debate que o Executivo apostará em três pilares de sustentabilidade: consolidação orçamental, crescimento económico e gestão do financiamento.

"O Governo está a jogar à lotaria.”

Inês Domingos

Deputada do PSD

Pela direita, PSD e CDS concentraram-se na responsabilização do Governo pelo aumento da dívida pública verificado em 2016 — por causa do financiamento necessário para recapitalizar a Caixa Geral de Depósitos, o rácio subiu face a 2015 — e criticaram as medidas de política que têm vindo a ser tomadas, defendendo que têm conduzido ao aumento dos juros exigidos à República por parte dos investidores. “O Governo está a jogar à lotaria”, acusou a deputada do PSD Inês Domingos.

Tanto os social-democratas, como os centristas, notaram que os juros da emissão da Caixa Geral de Depósitos, fixados esta quinta-feira nos 10,75%, ficaram acima das expectativas. Álvaro Novo argumentou que há que “comparar o que é comparável” e garantiu que os juros ficaram abaixo dos obtidos pelo Banco Popular, que até um rating superior ao da Caixa.

 

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PS demarca-se de comissão eventual para a dívida proposta pelo PCP

  • Lusa
  • 23 Março 2017

Sentido de voto só deverá ficar definido hoje, ao final da tarde, após o debate de urgência requerido pelo PCP sobre dívida pública. Mas "está praticamente afastada" uma posição favorável à comissão.

O PS deverá inviabilizar na sexta-feira, no parlamento, a proposta do PCP para a criação de uma comissão eventual sobre endividamento público e externo nacional, alegando que a Comissão de Orçamento e Finanças tem já essa missão.

Fonte da direção da bancada socialista disse à agência Lusa que o sentido de voto apenas deverá ficar definido hoje, ao final da tarde, após o debate de urgência requerido pelo PCP sobre dívida pública, mas uma posição favorável em relação a essa iniciativa legislativa dos comunistas “está praticamente afastada”.

O deputado independente do PS, Paulo Trigo Pereira, referiu à agência Lusa que desconhece ainda os termos exatos em que o PCP propõe a constituição de uma comissão eventual sobre a questão da dívida.

Defendeu, no entanto, que a Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças tem já o mandato de acompanhar a evolução da dívida e que, por outro lado, pela parte do PS, a análise referente ao endividamento público e externo do país “está feita”.

Ou seja, no limite, como adiantou um membro da direção da bancada socialista, o PS apenas admite que se equacione a possibilidade de a Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças criar um grupo de trabalho específico para o acompanhamento da questão da dívida.

Em conferência de imprensa, na passada terça-feira, o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, defendeu que o problema do endividamento público e externo do país coloca Portugal numa situação de dependência externa muito significativa e sobretudo com dificuldades em dar resposta a problemas económicos como o apoio aos setores produtivos”.

João Oliveira justificou a proposta do PCP com a necessidade de se dar “um tratamento institucional”, ao nível da Assembleia da República, a um “dos constrangimentos centrais que se colocam ao país”.

Na sequência dos acordos para a formação do atual Executivo, no final de 2015, o PS formou um grupo de trabalho com o Bloco de Esquerda sobre o peso da dívida na economia portuguesa.

Esse grupo de trabalho – do qual fazem parte João Galamba e Paulo Trigo Pereira pelo lado dos socialistas, e Francisco Louçã e Pedro Filipe Soares do lado do Bloco de Esquerda – prepara-se já para elaborar o relatório final.

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Radiografia da dívida: Portugal deve quanto e a quem

  • Marta Santos Silva e Margarida Peixoto
  • 23 Março 2017

O país em raio-X: afinal quanto é que Portugal deve, a quem, e a que custo? E quando vai ter de pagar tudo isto? A história por detrás dos 241,1 mil milhões de euros que Portugal deve.

A dívida pública não é um número, são vários, e pode ser difícil ver através da opacidade do economês para perceber aquilo que interessa: quanto deve o Estado português, a quem deve, e quando tem de pagar? No dia em que se realiza o debate de urgência requerido pelo PCP sobre dívida pública, pusemos Portugal numa máquina de raio-X para ver aquilo que está para lá dos números. Aqui está o esqueleto.

Para começar, o total. Segundo o Boletim Estatístico de fevereiro do Banco de Portugal, a dívida total de Portugal em dezembro de 2016 fixava-se nos 241,1 mil milhões de euros. Esta é a dívida bruta, calculada de acordo com a ótica de Maastricht, que é a mais relevante para a Comissão Europeia e a que é seguida pelos investidores.

Considerada relativamente às estimativas do Governo para o PIB de 2016, já que o valor final só será conhecido esta sexta-feira, a dívida bruta representou no ano passado 130,1% do PIB, o que constitui um aumento em relação aos 129% registados um ano antes. Sempre que este rácio ultrapassa os 120% do PIB, justifica-se um sinal de alerta. Os 120% são uma espécie de patamar psicológico, para lá do qual as dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida se adensam.

Evolução da dívida pública

Valores em milhares de milhões de euros. Fonte: Banco de Portugal.

Para além da dívida bruta, em Portugal tem-se dado também importância à dívida líquida de depósitos — isto é, quanto é que Portugal deve descontando os milhões que tem parados no banco (está quase tudo no Banco de Portugal para evitar o risco). Este rácio ganhou destaque durante o Governo de Pedro Passos Coelho, quando o então Executivo PSD/CDS-PP alargou a almofada de liquidez para sair do programa de resgate da troika com uma rede de segurança, mas sem ter de recorrer a nenhum programa cautelar das instituições europeias.

Ou seja, em vez de manter apenas uma pequena almofada acumulada em depósitos — que todos os Estados têm e serve para gerir a tesouraria pública — Portugal aumentou estrategicamente esse montante para evitar ser obrigado a ir ao mercado refinanciar dívida, caso as condições fiquem mais adversas. Quanto maior é esta almofada, mais tempo o país aguenta sem ter de pedir financiamento aos investidores.

Com mais ou menos oscilações na dimensão desta almofada de liquidez, a estratégia foi mantida pelo atual Executivo de António Costa. Mas tudo tem um custo: o país endividou-se para ir buscar aquele dinheiro e os juros que arrecada não chegam para cobrir esse custo. Está por isso a pagar para ter dinheiro reservado no banco.

Como mostram os dados do Banco de Portugal, em dezembro a almofada de liquidez era de 17,3 mil milhões de euros. A dívida líquida de depósitos fixou-se nos 223,8 mil milhões, o que representa uma diminuição dos 121,6% do PIB registados em dezembro de 2015 para 117,3% um ano depois.

A quem é que Portugal deve dinheiro?

Para uma análise mais fina, vale a pena consultar os dados da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), que é quem gere a dívida da República e faz o papel de “banco das Administrações Públicas”. Os números não são apurados exatamente na mesma ótica do que os do Banco de Portugal, mas a diferença entre os dados não é significativa face à dimensão dos números.

Assim, segundo o Boletim Mensal de fevereiro, que apresenta já os dados referentes a janeiro de 2017, Portugal deve 67,8 mil milhões à troika: FMI e mecanismos europeus de financiamento dos Estados, o FEEF e o MEEF.

O país deve menos ao FMI (16,2 mil milhões contra 51,6 mil milhões de euros que são devidos à Europa) porque tem antecipado o reembolso à instituição liderada por Christine Lagarde. A fatia da dívida que está nas mãos da troika corresponde a menos de um terço da dívida total portuguesa calculada pelo IGCP: 28,4%.

Dados de janeiro de 2017, antes da cobertura cambial.
Fonte: IGCP

O IGCP também dá conta de quanto Portugal deve em diferentes tipos de dívida excluindo a emitida no âmbito do Programa de Ajustamento, com algumas particularidades interessantes. Por exemplo, a dívida não transacionável — que inclui os Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro, muitos dos quais estão nas mãos de particulares — representa cerca de 32 mil milhões de euros. Aos mercados, Portugal deve 131,2 mil milhões de euros, a maior parte em Obrigações do Tesouro (OT). Mas parte deste montante foi comprado pelo próprio BCE, como forma de fazer descer o preço do financiamento.

Vejamos: quem são os investidores que compram a dívida portuguesa? Uma apresentação do IGCP deste ano permite ver como o perfil do investidor tem evoluído, referindo-se especificamente aos títulos a dez anos. Em 2010, dois anos depois do estalar da crise do subprime e antes da chegada da troika a Portugal, muitos eram gestores de bens, bancos e fundos de pensões e seguradoras, um perfil que mudara radicalmente em 2013. Em plena crise económico-financeira, os bancos, fundos de pensões e instituições oficiais deram lugar a hedge funds, fundos altamente especulativos.

Dados de 2016. Fonte: IGCPRaquel Sá Martins

Mais três anos volvidos, em 2016, porém, o perfil voltou a mudar radicalmente. A presença dos hedge funds diminuiu, já que o programa de compras do Banco Central Europeu fez com que estes fundos tivessem a vida dificultada: torna-se difícil ganhar com a especulação quando o BCE tem de comprar sempre grandes quantidades de títulos, reduzindo assim os juros. Essa baixa de juros também ajudou Portugal a conseguir atrair bancos novamente para o seu grupo de investidores, uma confiança renovada que trouxe de volta as seguradoras e fundos de pensões. O BCE, por sua vez, detinha quase 26 mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro, no final de fevereiro deste ano.

Onde estão os investidores?

A apresentação do IGCP também permite constituir o perfil geográfico dos investidores nos títulos a dez anos. Em 2016, a maior parcela desses investidores — quase um quarto do total — tinha origem no Reino Unido. Seguiam-se-lhe a América do Norte e, em conjunto, Alemanha, Áustria e Suíça, para completar o pódio das regiões que detinham mais dívida portuguesa.

Dados de 2016. Fonte: IGCPRaquel Sá Martins

Logo a seguir ficam os investidores portugueses e os espanhóis. Com valores mais pequenos encontramos França, os países nórdicos, o resto da União Europeia e ainda uma pequena parcela de outros. A diferença é marcada em relação a 2010, quando os investidores franceses tinham a maior parcela de dívida portuguesa, e a 2013, quando a Ásia esteve na sua posição mais favorável.

Quando vai Portugal ter de pagar… e a que custo?

Em 2011, o Estado português financiou-se a juros de 5,7%, em média. Desde então, o custo de financiamento do país foi descendo até 2016, quando voltou a subir ligeiramente para os 2,5% exigidos pela dívida emitida nesse ano. Em 2016, os juros médios de toda a dívida direta portuguesa, tanto a emitida nesse ano como a anterior que ainda falta pagar, eram de 3,2%. Este ano, os juros têm ficado mais altos — Portugal já chegou a emitir Obrigações do Tesouro com juro superior ao patamar dos 4%.

Se olharmos para os juros dos empréstimos do Programa de Ajustamento, uma coisa se torna clara: os juros cobrados pelo FMI, que geram encargos com a dívida de 4,5%, bastante mais altos do que os das autoridades europeias, que não ultrapassam os 2,7%. E, por enquanto, continuam mais elevados do que a média do preço do financiamento que a República portuguesa tem conseguido no mercado.

Resultado? Portugal escolhe reembolsar antecipadamente o FMI, em vez de se limitar a pagar os empréstimos nos prazos devidos, para poupar dinheiro nos encargos — substitui dívida mais cara, por dívida mais barata. Uma situação com que a Comissão Europeia já manifestou desagrado, visto que os juros mais altos cobrados pelo FMI incentivam a que o pagamento dos empréstimos das autoridades europeias fique em segundo plano, o que deixa a maior parte do risco em Bruxelas.

Mas quando vai Portugal ter de pagar as dívidas que tem atualmente? O boletim de fevereiro do IGCP traz um calendário que permite avaliar esses prazos.

Valores em milhares de milhões de euros.
Fonte: IGCP
Raquel Sá Martins

No que toca às dívidas contraídas com os empréstimos do Programa de Ajustamento, enquanto o último pagamento ao FMI será, se tudo correr como planeado, em 2022, Portugal continuará a pagar os empréstimos europeus até 2042. A maior parte da dívida de médio e longo prazo que não está relacionada com este Programa de Ajustamento, porém, deverá ser paga antes de 2025, sendo mais raros os empréstimos com prazos mais longos do que esses.

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CGD: Passos considera “elevadíssimo” preço da emissão e acusa Costa de “passar a culpa”

  • Lusa
  • 23 Março 2017

"O que é intolerável é que o primeiro-ministro entenda dizer que este preço que vamos pagar, que é elevadíssimo, resulta do Governo anterior ter iludido os problemas da banca", criticou Passos.

O líder do PSD considerou que o país vai pagar “um preço elevadíssimo” pela emissão obrigacionista de hoje da Caixa Geral de Depósitos (CGD), e acusou o primeiro-ministro de querer “passar a culpa” para o anterior Governo.

Numa conferência sobre Cultura e Património, organizada pelo grupo parlamentar do PSD, Pedro Passos Coelho aproveitou para se referir à emigração obrigacionista de hoje do banco público.

O que é intolerável é que o primeiro-ministro entenda dizer que este preço que vamos pagar, que é elevadíssimo, resulta, imaginem, do Governo anterior ter iludido os problemas da banca“, criticou Passos Coelho.

O líder do PSD acusou António Costa de querer “passar a culpa” para o Executivo PSD/CDS que chefiou e concretizou: “É dele a decisão de fazer uma emissão obrigacionista perpétua em que vai pagar quase 11% de juros para que isto não tenha impacto no défice e para que o Governo possa dizer que a operação foi um sucesso, mas a culpa tem de ser minha, não é dele, que tomou a decisão”.

Passos Coelho salientou que não coloca em causa a importância da recapitalização da CGD nem que esta operação deva ser feita sem ter impacto no défice, mas considerou que a emissão de hoje não pode ser considerada um sucesso, tendo em conta que o Estado e os contribuintes nunca verão a Caixa devolver 11% em lucros.

“Mas os fundos que financiaram a emissão e obrigações feita hoje vão receber sempre quase 11% de juros sobre o dinheiro que vão emprestar”, alertou, dizendo que “fazer sucessos à custa do dinheiro dos outros é fácil”.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) emitiu hoje 500 milhões de euros de dívida perpétua junto de investidores institucionais, a uma taxa de juro de 10,75%, segundo fontes ligadas ao processo citadas pela agência Bloomberg.

Em comunicado ao mercado, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) dá conta que o lançamento da emissão ocorreu hoje, pelas 9:00, tinha um intervalo inicial de preço anunciado, entre os 11 e os 11,5%, e que tinha “em consideração os referenciais recebidos nos contactos com os investidores.

O primeiro-ministro, António Costa, tinha afirmado hoje de manhã que Portugal está a pagar “uma fatura pesada” por ter adiado a resolução dos problemas do setor financeiro e considerado que ultrapassar esta questão é essencial para o financiamento da economia.

É uma atitude que não prestigia aqueles que a tomam e os que exercem a política desta maneira”, respondeu Passos Coelho, dizendo que esta atitude do primeiro-ministro se estende a outras áreas da governação, como a cultura ou a saúde.

Prometendo voltar a falar da Caixa ainda hoje — dia em que o PSD tem um Conselho Nacional — Passos salientou que a CGD “é um banco público e foi um banco público durante todo o tempo em que PSD e CDS estiveram no Governo”, dizendo que o anterior Executivo “fez muito pela saúde financeira” da Caixa, nomeadamente criando provisões para muitos “créditos mal atribuídos” no passado.

“Virem aqueles que mandaram ou que foram cúmplices da atribuição desses maus créditos responsabilizar o Governo que chefiei por não ter limpo a porcaria toda que eles fizeram e dizer que por isso é que vão passar a pagar 11% aos financiadores da Caixa para futuro é a total falta de vergonha”, acusou.

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