Palacetes à venda em Portugal por quatro a 19 milhões de euros. Quem os compra?
Espalhados pelo país há palacetes à venda com valores que variam entre os quatro e os 19 milhões de euros. O ECO foi tentar perceber qual o perfil do investidor interessado neste tipo de imóvel.
Basta uma rápida pesquisa pelas imobiliárias para encontrar vários palacetes e solares de luxo, com um estilo bastante típico de realeza. No entanto, não estão ao alcance de todos os investidores. Espalhados pelo país, há pequenas mansões de luxo com valores que facilmente ultrapassam os dez milhões de euros. Mas quem investe em imóveis dessa dimensão, tendo em conta a situação atual do mercado imobiliário?
Este palacete no Lumiar, anunciado pela imobiliária Quintela e Penalva Real Estate, está à venda por 7,75 milhões de euros, mas está longe de ser um dos mais caros. Integrado nos dois hectares da Quinta de S. Sebastião, esta pequena mansão luxuosa remonta ao século XVIII e está completamente remodelada. Oferece dois quartos, quatro suítes, uma capela e uma zona social com biblioteca, salão de jogos e um enorme jardim com estátuas, fontes e pequenos lagos. Para além disso, no exterior conta ainda com uma casa de caseiro e um pavilhão de caça.
Um pouco mais a Norte, na Póvoa de Lanhoso, para os amantes de vinicultura, a Luximo’s Christie’s tem à venda um pitoresco palacete de tons azulados, inserido na Quinta Vila Beatriz. Com vista para o rio Ave, este imóvel com 12 quartos preserva todas as características nobres de um projeto que remonta ao ano de 1906, desde tetos talhados a paredes pintadas à mão. A vacaria no exterior, o museu rural e as duas marcas de vinho que a propriedade oferece ao comprador, fazem este palacete valer nove milhões de euros. Pelo menos é o que a atual proprietária, neta do primeiro dono, está a pedir.
Carlos Penalva, da Quintela e Penalva Real Estate, conta ao ECO que estamos “num país com imensa história arquitetónica, o que nos permite presentear com palacetes fabulosos todo o nosso país. Dessa forma, essa mesma diversidade de dimensões, épocas, localizações e valores, potenciam a procura aos mais diversos perfis de investidores e nacionalidades“.
Quase dois milhões de euros a mais do que a anterior, é quanto a Luximo’s Christie’s pede pela propriedade na Quinta Vila Beatriz, e os preços não ficam por aqui. A fasquia aumenta cada vez mais mas, quem investe em projetos deste tipo? O diretor da Quintela e Penalva Real Estate revela que “o departamento de investimento tem trabalhado maioritariamente com clientes de nacionalidade chinesa, brasileira, turca, americana, inglesa, francesa e do médio oriente“. “Para estes produtos imobiliários, o mercado internacional é muito mais forte, tendo a Luximo’s Christie’s uma sólida carteira de clientes europeus, com destaque para os britânicos, irlandeses e franceses, mas também clientes de mercados emergentes como a Rússia, os Emirados Árabes Unidos ou Dubai”, revela ao ECO Sofia Alves da Costa, da imobiliária.
É difícil falar em imóveis de luxo adquiridos por investidores estrangeiros sem falar nos vistos gold. Recentemente, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) revelou que, em termos acumulados, desde que começaram a ser atribuídos, o investimento total captado com estes vistos “dourados” ascendeu aos 3,5 mil milhões de euros, dos quais 3,17 mil milhões provêm da compra de bens imóveis. Desde essa data e até janeiro deste ano, foram atribuídos 5.397 vistos gold pelo requisito da aquisição de bens imóveis, em que a China lidera a lista, seguida do Brasil.
Sofia Costa, da Luximo’s Christie’s, explica que “nos últimos anos, vários rankings internacionais colocam Portugal como um dos melhores destinos para investir em imóveis por ser cada vez mais seguro e rentável. Acresce que a relação qualidade/preço do imobiliário português é das melhores da Europa. Estes factos colocam os investidores de olhos postos no mercado imobiliário português“.
De todas as propriedades selecionadas pelo ECO, esta é a mais barata: um palacete na Quinta da Abrigada, em Alenquer, à venda por uns simpáticos 3,9 milhões de euros. Sem nunca sair da casa dos milhões, imóveis deste tipo são frequentemente anunciados pelas imobiliárias, que demoram entre um a dois anos para os vender, segundo diz Carlos Penalva. Presente no mercado português, a alemã Engel & Völkers aconselha este palacete do século XVIII a “investidores estrangeiros que apreciem viver num meio mais rural“, lê-se no anúncio. Com 30 quartos, a maior parte da mansão inserida nesta propriedade de 132 metros quadrados foi reconstruída após o terramoto de 1755.
Recentemente, a Standard & Poor’s antecipou uma escalada, ainda maior, dos preços das casas em Portugal. De acordo com a agência de rating, os preços dos imóveis vão registar uma subida de 8,1% ainda este ano. As estimativas colocam Portugal, a par da Irlanda, no topo da aceleração de preços prevista para este ano, num movimento que atribui ao crescimento da economia nacional, às baixas taxas de juro, à procura dos estrangeiros e à falta de oferta de casas. Ainda assim, o diretor da Quintela e Penalva Real Estate diz ao ECO que “o mercado imobiliário tem demonstrado uma evolução sustentada, com indicadores sólidos a curto e médio prazo“. O ano passado, a imobiliária recebeu uma média de 40 novos clientes por dia, que se iam somando à carteira “forte” de investidores nacionais.
Esta quinta em Lisboa (na fotografia, em baixo), com 8.500 metros quadrados, é tipicamente portuguesa, remontando ao reinado de D. Sebastião. Mas, com uma particularidade: é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa. Está a ser vendida através da imobiliária Sotheby’s International Realty por sete milhões de euros e passou por várias famílias de renome, entre elas a D. Luís de Meneses, a família Palha e a família Van Zeller. No século XX foi, então, adquirida pela câmara que a pretende agora vender.
Neste caso, se falarmos em palacetes na ordem dos milhões de euros, os métodos de pagamento podem variar, conforme explica Carlos Penalva. “Poderão ser pagos a pronto, quando não existe grandes condicionantes, como poderão ser vendidos condicionado a aprovação de projetos, licenças, etc.“. Por sua vez, Patrícia Barão, da JLL, explica que “uma percentagem é paga na assinatura do CPCV e o restante na escritura, podendo haver reforços entre uma data e outra“. Mas, seja qual foi o método escolhido, desde novembro do ano passado que se tornou obrigatório referir explicitamente todos os meios de pagamento utilizados para transacionar imóveis, seja compras ou arrendamentos superiores a 2.500 euros. Esta nova regra, publicada em agosto em Diário da República, visa permitir às autoridades seguir o rasto do dinheiro envolvido com estas transações, evitando assim negócios ilícitos.
Viajando até à mágica vila de Sintra, a imobiliária Fine & Country tem para venda este solar, com 13 quartos, por 15 milhões de euros. Sim, leu bem. Inserido na Quinta de S. Tiago, perto do Palácio de Monserrate e do Palácio de Seteais, este palacete foi mandado construir no século XVI, sob a forma de um mosteiro, lê-se na descrição do anúncio. Sofreu algumas alterações na década de 1960, mas manteve todas as suas características originais até aos dias de hoje. Esta quinta de dez hectares permaneceu na mesma família durante 70 anos e foi considerada Património Mundial da UNESCO. Assim, talvez seja mais fácil de convencer, não?
De acordo com o direto da Quintela e Penalva Real Estate, “tem havido uma tendência em transformar imóveis como estes em condomínios de luxo de habitação ou hotéis”. Da mesma maneira que Sofia Costa, da Luximo’s Christie’s, adianta que “existem também particulares, com forte capacidade financeira que investem a título individual para retirar usufruto da propriedade, para converter o imóvel para fins turísticos ou para realizar o sonho de ter uma casa emblemática e cheia de charme“. Basta uma pesquisa rápida para ver a quantidade de prédios e empreendimentos que são diariamente transformados em habitações de luxo.
Para dar mais força a esta ideia, temos o exemplo desta propriedade vendida pela JLL, que ficou com o imóvel mais caro desta seleção. Este palacete, outrora um mosteiro do século XVI, traz na carteira um aqueduto e vários jardins, numa área total de 19 hectares. “Recebeu a aprovação para a construção de um hotel com 80 quartos, um aparthotel com 20 quartos, um campo de golfe, um clube e 150 moradias familiares”, escreve a imobiliária no anúncio. Tudo isto por um preço de 19 milhões de euros.
Independentemente do preço, normalmente há sempre quem se mostre interessado, ainda que demore entre “seis meses a um ano” para vender um imóvel deste tipo, como indicou Patrícia Barão, da JLL. Relativamente ao futuro do mercado imobiliário, a consultora estima que “2018 seja um ano igualmente dinâmico, onde haverá maior consolidação entre a oferta e a procura e um crescimento menos acentuado do nível de preços”. Uma opinião partilhada pela Luximo’s Christie’s, que sublinha que “as projeções apontam para a valorização contínua dos imóveis em Portugal, a médio e longo prazo, e o investimento em bens imobiliários por parte dos nacionais continua a ser muito atrativo e percecionado como mais seguro face aos produtos financeiros”.
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