Empresas vão ter de optar entre mercado iraniano ou dos EUA
O embaixador dos EUA na Alemanha afirmou que as empresas alemãs devem cessar as suas atividades no Irão “imediatamente”. Airbus, General Electric, Volkswagen, PSA ou Renault podem ser afetados.
A decisão do Presidente norte-americano de retirar os EUA do acordo sobre o nuclear iraniano e de restabelecer as sanções envolve as empresas deste país, mas também as europeias que recomeçaram a negociar com Teerão.
Além das construtoras aeronáuticas norte-americana Boeing e a europeia Airbus, o conglomerado industrial General Electric e os construtores automóveis alemão Volkswagen e franco-japonês Renault-Nissan poderiam ser afetados, com os dirigentes dos EUA a insistirem para que as empresas europeias obedeçam ao restabelecimento das sanções.
O embaixador dos EUA na Alemanha, por exemplo, afirmou que as empresas alemãs devem cessar as suas atividades no Irão “imediatamente”.
O conselheiro de Donald Trump para a segurança nacional, John Bolton, especificou que o restabelecimento das sanções norte-americanas é efetivo “imediatamente” para os novos contratos e que as empresas já envolvidas no Irão têm alguns meses para “saírem”. Este período de transição, segundo o Departamento do Tesouro norte-americano, pode ir de 90 a 180 dias.
Várias empresas tinham recebido, depois do acordo sobre o programa nuclear iraniano, em 2015, licenças especiais ou a autorização do Departamento do Tesouro para relações comerciais com o Irão. Não obstante, Washington continuava a impor um embargo que interditava aos norte-americanos e a qualquer entidade que utilizasse o sistema financeiro dos EUA a investir no Irão, o que tinha arrefecido o entusiasmo dos bancos e incitado outras empresas à prudência.
Os contratos assinados por Boeing e Airbus são os mais importantes, com Teerão a desejar renovar a sua frota, ao fim de anos de isolamento económico. A Boeing e a Iran Air, a empresa nacional, tinham assim assinado em dezembro de 2016 o seu maior contrato em 40 anos, relativo à aquisição de 80 aparelhos de um valor de 16,6 mil milhões de dólares (14 mil milhões de euros). Mas a entrega dos primeiros aparelhos, prevista para o final de 2018, tinha sido adiada antes do anúncio de Trump, feito na terça-feira.
O construtor norte-americano tinha também realizado um contrato de no montante de três mil milhões de dólares, para a venda de 30 aparelhos 737 MAX à empresa aérea iraniana Aseman, com entrega prevista entre 2022 e 2024.
A Boeing afirmara na altura que estes contratos iriam permitir apoiar “dezenas de milhares” de empregos nos EUA, mas indicou na terça-feira que se conformaria com as decisões da Casa Branca. Por seu lado, a Airbus tinha registado encomendas das companhias aéreas iranianas Iran Air Tour e Zagros Airlines para 100 aviões, entre os quais A320neo, num total estimado de dez mil milhões de dólares.
O construtor europeu tem fábricas nos EUA e um número importante de componentes dos seus aparelhos são produzidos nos EUA, o que o submete imediatamente às sanções norte-americanas.
No seu conjunto, é um golpe duro para a indústria aeronáutica, porque o Irão vai precisar de entre 400 a 500 aviões de linha para a próxima década, estimou uma organização iraniana da aviação.
Para a General Electric, várias das suas filiais instaladas fora dos EUA receberam contratos no montante de dezenas de milhões de dólares para a exploração de reservas de gás e o desenvolvimento de produtos petroquímicos.
A petrolífera francesa Total, associada ao grupo chinês CNPC, assinou um contrato sobre um investimento de cinco mil milhões de dólares para explorar as reservas petrolíferas em South Pars, mas ressalvou que a manutenção deste acordo dependia da posição de Washington sobre o nuclear iraniano.
O grupo automóvel alemão Volkswagen anunciou em 2017 que ia recomeçar a vender viaturas no Irão, uma novidade desde há 17 anos, mas pode agora ser forçado a optar entre os mercados iraniano e norte-americano, que é o segundo mundial e onde tem uma forte implantação.
O francês Renault, que vendeu mais de 160 mil viaturas no Irão no ano passado, também poderia ser afetado, devido à presença nos EUA da Nissan.
O seu compatriota PSA já está bem implantado no Irão, onde tem uma quota de mercado de 30%. Ausente dos EUA desde 1991, a PSA indicou em janeiro procurar lançar um serviço de aluguer de viaturas em uma ou duas cidades norte-americanas, projeto a que deverá agora renunciar.
As companhias aéreas British Airways e Lufthansa, que tinham retomado os voos diretos para Teerão, vão ter de acabar com estas linhas, se quiserem continuar a operar livremente nas rotas transatlânticas.
O mesmo se passa com o grupo hoteleiro francês Accor, que abriu um hotel no Irão em 2015, e os grupos Melia Hotels International, de Espanha, e Rotana Hotels, dos Emirados Árabes Unidos, que tinham anunciado planos para se implantarem no Irão.
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