China asfixia negócio das torres eólicas em Portugal
Os produtores de torres eólicas são confrontados com preços muito mais baixos da China e pedem à UE uma nova taxa anti-dumping. Empresas apontam para quebra de 20% do volume de negócios.
As empresas produtoras de torres eólicas na Europa, nomeadamente em Portugal, estão em grandes dificuldades por causa da concorrência chinesa, que classificam como “desleal”. Em causa está a perda de 20% do seu volume de negócios só este ano. As empresas de metalomecânica uniram esforços e estão a pressionar Bruxelas para que introduza taxas anti-dumping às importações de torres provenientes da China.
Na génese da crise está precisamente a taxa anti-dumping que Bruxelas criou, em 2016, às importações de chapas de aço provenientes da China e que está agora a ser replicada pela Administração Trump. “Esta tarifa obriga-nos a comprar as chapas de aço mais caras a empresas europeias. O problema é que os chineses ganham ainda mais competitividade, conseguindo colocar no mercado europeu as torres eólicas a preços que não conseguimos bater”, lamenta Carlos Costa, o diretor de operações da Martifer. Em declarações ao ECO, o responsável pela área de metalomecânica lembra que “50% do preço final da torre resulta da chapa de aço”.
Com as chapas de aço 40% mais caras, os custos de produção aumentaram e a procura diminuiu. Os produtores europeus têm sido obrigados a aceitar encomendas abaixo do custo de produção, denuncia a Associação Europeia das Torres Eólicas (EWTA), que tem vindo a fazer lobby em Bruxelas para que, à semelhança da taxa de 40% aplicada às importações de chapas de aço chinesas, seja adotada uma tarifa também às torres completas.
“Os preços estão a baixar muito e as encomendas também”, corrobora ao ECO Adelino Costa Matos, da A. Silva Matos. “Os chineses apresentam propostas imbatíveis no preço. É impossível às empresas portuguesas concorrer em projetos de grandes dimensões já muito próximos do preço de custo e que, pelo volume, acarretam um risco mais significativo”, acrescenta o responsável da A. Silva Matos.
As empresas apontam para quebras de 18 a 20% do seu volume de negócios. A situação só não é mais grave no caso das empresas nacionais porque se dedicam a outras atividades.
“Como é que é possível que uma empresa chinesa consiga apresentar uma proposta para entregar torres eólicas na Alemanha mais competitiva do que uma empresa alemã que ficava apenas a 60 quilómetros do local de instalação das referidas torres?”, questiona Gonçalo Lobo Xavier. O diretor executivo da EWTA, que representa empresas como a Silva Matos, Tegopi ou Martifer, explica ao ECO que a associação está a argumentar em Bruxelas que os chineses estão a violar várias regras do comércio internacional, ao praticar dumping, conceder ajudas de Estado e ajudas à produção.
O responsável sublinha que as empresas europeias, incluindo as portuguesas, estão a apontar “para quebras de 18 a 20% do seu volume de negócios”. “A situação só não é mais grave no caso das empresas nacionais porque se dedicam a outras atividades de metalomecânica e não apenas ao fabrico de torres eólicas”, acrescenta.
“A Martifer fazia 400 torres eólicas por ano, em 2010. Agora fazemos 80”
Carlos Costa, da Martifer, ilustra a dimensão do problema: “Temos uma das linhas de produção parada e já mandámos muita gente embora. A Martifer fazia 400 torres eólicas por ano, em 2010. Agora fazemos 80”, explica. “Só os projetos pequenos ficam cá. Os grandes projetos vão para os chineses, mas também queríamos ter os grandes projetos”, desabafa.
“Os chineses com grandes projetos conseguem tornar os custos mais competitivos porque os encargos com transporte são reduzidos porque enchem barcos inteiros com torres”, explica Adelino Costa Matos. Para o responsável, a solução da Silva Matos tem sido apostar no fabrico de torres de maior valor acrescentado, nomeadamente na vertente offshore, reduzindo a dependência de clientes que fazem compras no mercado asiático. Esta aposta, complementada com clientes da América Latina, permite-lhe escapar à perspetiva de quebra de volume de negócios da empresa este ano.
Com uma capacidade total instalada de 153,7 gigawatts, a produção de energia eólica já ultrapassou o carvão como a segunda fonte de produção de energia mais importante. Mas a nova diretiva europeia sobre as renováveis traça como objetivo que 32% da energia seja produzida por fontes renováveis até 2030. Mas se as coisas se mantiverem como estão “um grande potencial de negócio poderá ser perdido para a Ásia”, alerta da EWTA.
Temos uma das linhas de produção parada e já mandámos muita gente embora. A Martifer fazia 400 torres eólicas por ano, em 2010, agora fazemos 80.
“Não estamos a pedir protecionismo“, garante Gonçalo Lobo Xavier, num contexto em que o mundo está confrontado com uma escalada de medidas protecionistas dos vários blocos comerciais, nomeadamente Estados Unidos e China. “Mas quando olhamos para os preços que algumas empresas asiáticas estão a oferecer ficamos a pensar se não estarão a receber algum tipo de ajuda que cria concorrência desleal às empresas europeias“, sublinha justificando assim o pedido para que a Comissão Europeia investigue o que se está a passar. De acordo com a associação, os países mais afetados são Espanha, França, Dinamarca, Alemanha, República Checa e Portugal.
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