A lua, o escorpião e o burro: o Estado da Nação em soundbites
O Governo é mais como a fábula "do velho, do rapaz e do burro", ou como um escorpião? Tem a geringonça no coração, na cabeça, ou nos dois? Os partidos não se pouparam à metáfora neste Estado da Nação.
Entre a preocupação com o Serviço Nacional de Saúde, a greve dos professores e a dívida, os deputados e o primeiro-ministro também arranjaram tempo para trocar metáforas, fábulas, comparações e referências místicas neste debate do Estado da Nação.
Desde a referência à já clássica “vinda do diabo”, que começou por ser sugerida por Pedro Passos Coelho sobre as políticas do Governo com a esquerda, e tem desde então sido relembrada por António Costa com regularidade, até a uma comparação de Fernando Negrão entre a esquerda um escorpião, recorde aqui cinco dos soundbites mais metafóricos do debate desta sexta-feira.
“Geringonça no coração”
Afinal, como é que o primeiro-ministro se sente relativamente ao acordo de incidência parlamentar com a esquerda? Depois da entrevista de Augusto Santos Silva ao Público no qual referiu que um próximo acordo deveria ser mais abrangente, os partidos da esquerda quiseram saber como é que António Costa vê o futuro da solução governativa.
Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, recordou as declarações recentes de Costa em que afirmou que “a geringonça está no coração dos portugueses”, e quis saber: “O coração do primeiro-ministro contempla a geringonça?” A resposta de Costa foi inequívoca: a solução parlamentar de esquerda não lhe está só no “coração”, disse: “A geringonça está não só no nosso coração como na nossa cabeça. Estamos com a mesma determinação com que a começámos a construir com os Verdes, PCP e BE. Com humildade e sem duplicidade”.
“A natureza do escorpião”
Onde a geringonça não está, porém, é no coração de Fernando Negrão. O líder parlamentar do PSD, por sua vez, usou a sua intervenção para assinalar o que considera problemático no Governo de Costa com a ajuda do Bloco, do PCP e dos Verdes, e não poupou as palavras.
A natureza da maioria de esquerda, afirmou, “é a mesma natureza do escorpião: não resiste a fazer mal quando pode e promete fazer bem”.
“O velho, o rapaz e o burro”
Telmo Correia, do CDS-PP, não poupou fábulas na sua intervenção. Referindo as palavras recentes de António Costa ao dizer que o Governo não procura parceiros de coligação qual “Carochinha em busca do João Ratão”.
Para o deputado centrista, a melhor fábula para o Governo não é a da Carochinha, como se apressou a dizer ao primeiro-ministro, mas outra. Falou sobre a fábula do “velho, do rapaz, e do burro”, na qual alguns transeuntes veem o menino montado no burro e o velho caminhando a seu lado, criticam que o jovem monte enquanto o mais idoso caminha, e quando o velho troca de lugar com o rapaz os espectadores criticam que a criança seja forçada a caminhar quando o burro podia levar os dois. No entanto, quando se cruzam com um novo grupo e montam os dois no burro, ouvem a crítica: coitado do animal.
Telmo Correia diz que esta é a fábula que representa o Governo. “Ora cavalga um, ora cavalga outro e no fim acaba tudo pior do que estava antes”. E a “moral da história”, acrescenta, é que “a coisa vai correr mal”.
“Assumir a Lua”
Jerónimo de Sousa também recebeu uma analogia vinda do primeiro-ministro, quando pediu a António Costa que se comprometesse com a geringonça.
Neste caso, Costa disse a Jerónimo de Sousa que enquanto o dirigente do PCP “pode escolher qual é a parte boa da Lua e eximir-se da parte que não gosta”, o primeiro-ministro reconhece que o quadro é mais abrangente. “Eu assumo a Lua em todos os seus ciclos”, disse.
“O santo milagreiro”
Finalmente, António Costa também deixou palavras duras ao PSD. Enquanto Pedro Passos Coelho, quando era dirigente do PSD, “jurava que vinha o diabo”, agora é Rui Rio, o atual líder do partido que não se encontra na Assembleia da República, o que faz referência ao impossível, disse o primeiro-ministro, referindo-se às declarações de Rio que falava num “milagre económico” que seria “aldrabice”. O atual líder do PSD, diz Costa, “exige um milagre”.
“Se nos pedem milagres, podem estar satisfeitos, não somos santos milagreiros, somos um Governo responsável, que assumiu o país com a vontade de resolver os seus problemas estruturais”, afirmou António Costa.
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