Centeno diz que “OE é para todos”. Professores já responderam
Ministro diz que sustentabilidade do OE2019 não pode ser posta em causa. Professores dizem que Centeno não pode ignorar as reivindicações.
Mário Centeno deixa, esta segunda-feira, um aviso aos partidos de esquerda que apoiam o Governo no Parlamento no que diz respeito à contabilização do tempo de serviço dos professores ou a aumentos salariais na Função Pública. O ministro das Finanças recorda que essas medidas não constam no programa de Governo e que o “OE é para todos os portugueses”.
Em entrevista ao Público (acesso condicionado), Mário Centeno diz que o “OE é um exercício complexo e para todos os portugueses”, ou seja, não apenas para uma classe profissional — a dos professores. “Temos, em nome de todos os portugueses, de propor um Orçamento que seja sustentável, que olhe para o futuro e mostre a continuação do caminho que temos vindo a seguir até aqui. Ninguém iria entender que não fizéssemos exatamente isto e, portanto, não gostaria de singularizar num só tópico. Temos um orçamento, repito, que é para todos os portugueses e que tem de ser sustentável”.
Os professores não gostaram do que ouviram e já responderam. Em declarações à TSF, os professores dizem que este é o ultimo Orçamento de Estado do Governo e que este não pode ignorar as reivindicações dos professores. E lembram que o ministro não pode dar mais atenção aos números do que às pessoas. “Estamos de acordo que não se pode pôr e risco o que foi conseguido, mas é preciso ter presente que os trabalhadores da Administração Pública, em matéria de despesas com o pessoal, estamos em valores de 1989”, disse José Abraão, dirigente da FESAP – Federação de Sindicatos da Administração Pública, aos microfones da TSF.
À RTP 3, José Abraão foi ainda mais longe. “O senhor ministro das Finanças há-de refletir sobre a questão”, afirmou, reclamando uma aposta mais robusta na “garantia da qualidade dos serviços públicos” que, disse, “é fundamental”. “Não há necessidade de assustar as pessoas a dizer que vem aí o papão. Não há papão nenhum”, atirou, garantindo haver capacidade para ir mais longe e para reforçar a “negociação coletiva”.
Já Ana Avoila exige que o ministro dê resposta às reivindicações dos sindicatos no próximo Orçamento do Estado. “Este Governo não pode ir por uma linha política em que ano após ando anda com o argumento de que ‘não se pode’. Não se pode, mas pode-se para muitos”, disse a dirigente da Frente Comum, também em declarações à TSF.
Também a Federação Nacional dos Professores (FNE) já reagiu e diz que os professores estão prontos para negociar, mas não prescindem dos direitos. João Dias da Silva, secretário geral da FNE adianta em declarações à Rádio Renascença que “todos temos consciência de que não é possível que essa recuperação seja feita de uma só vez em 2019”. Para o dirigente esta recuperação deve ser “feita de um modo faseado” e garante: As organizações sindicais manifestam essa disponibilidade, para que a recuperação possa ser feita durante um tempo longo que, da parte da FNE, foi já estabelecido que poderia mesmo ultrapassar a próxima legislatura”. Dias da Silva diz ainda que a recuperação total dos anos de serviço deve ser estendida a todas as profissões.
Ainda na entrevista do Público, Centeno socorre-se das sondagens que têm sido feitas para mostrar a importância que os portugueses dão à questão da sustentabilidade orçamental. “As sondagens que têm sido feitas sobre estas matérias mostram a importância que os portugueses dão à questão da sustentabilidade e esse é para mim um ativo insubstituível e que temos de saber traduzir nas decisões que tomamos. Não é possível pôr em causa a sustentabilidade de algo que afeta todos, só por causa de um assunto específico“, afirma o ministro.
Ainda sobre a polémica à volta dos professores, Centeno lembra que “este Governo tomou muitas decisões com incidência sobre a carreira dos professores e a primeira foi assumir a contagem do tempo com o descongelamento.”
“A dinâmica da carreira dos professores e das regras estabelecidas significa que, ao longo deste ano, 46 mil professores vão progredir e embora esse impacto financeiro seja desfasado este ano é de 37 milhões de euros. O OE para 2019 terá uma verba adicional de 107 milhões de euros para fazer face às progressões. Esta aceleração não tem paralelo nas outras carreiras da Administração Pública”, afirma.
Para Centeno é preciso não esquecer que “este Governo é o primeiro, em muitos anos, que respeita na íntegra o estatuto da carreira docente e que tem feito um esforço enorme no aumento do número de docentes”.
De resto, esta segunda-feira, também o Correio da Manhã, dá conta da vontade de Centeno em travar as carreiras na Função Pública. Além da falta de dinheiro, o Governo receia que a cedência aos professores e, posteriormente, às outras 16 carreiras, prejudique os funcionários públicos das carreiras gerais.
BE e PCP pressionam Governo
As declarações do ministro das Finanças parecem uma resposta aos partidos de esquerda que ainda este fim de semana apertaram o cerco ao Executivo de António Costa. O pontapé de saída foi dado por Catarina Martins, em Amarante. A líder bloquista chegou mesmo a pedir a intervenção direta do primeiro-ministro e exigiu ao Governo que cumpra a lei. Catarina Martins recordou ainda que o Orçamento do Estado aprovado pelos bloquistas dizia que as carreiras iam ser descongeladas para todas as profissões. O BE “aprovou um OE que dizia que as carreiras iam ser descongeladas para todas as profissões, incluindo para os professores, contando o tempo de serviço e que, depois, seriam negociados os prazos de como eram descongeladas, por causa do impacto orçamental”.
Já no domingo, fonte oficial do PCP disse à Lusa que “o que esta situação revela é, sobretudo, resultado do protelamento pelo Governo da resposta devida aos professores quanto à contagem do tempo de serviço para efeitos de progressão na carreira”. E tal como o Bloco, também o PCP adianta: “o que se exige é que o Governo cumpra o que a Lei do Orçamento de Estado para 2018 dispõe sobre a matéria”.
(Notícia atualizada às 13h16 com declarações de José Abraão à RTP 3)
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